David Arioch – Jornalismo Cultural

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Um bate-papo com a escritora Etel Frota

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Foto: Amauri Martineli

Ontem, tive o privilégio de mediar um bate-papo com a escritora Etel Frota, considerada uma das maiores letristas do Brasil. O evento realizado na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley fez parte do Mês da Literatura, realizado pela Secretaria Estadual de Cultura do Paraná. No final de julho, Etel lançou o seu primeiro romance na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

O livro intitulado “O Herói Provisório” conta, misturando realidade e ficção, a história do Incidente de Paranaguá, quando o capitão Joaquim Ferreira Barboza, um herói transformado em bode expiatório, comandou em 1º de julho de 1850 o ataque a um cruzador inglês que perseguia navios brasileiros na Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Mel.

Entre pesquisa e publicação, a obra levou 14 anos para ser concluída. Etel chegou a ter contato com descendentes do capitão. Ainda assim, fez questão de dizer que, como não se trata de um trabalho biográfico, ela prefere que os leitores o encarem como uma ficção inspirada por fatos históricos. “Que a memória de Joaquim Ferreira Barboza possa me absolver”, declarou.

Etel Frota, que despertou o interesse pela literatura aos seis anos quando ganhou o primeiro livro de seu pai, também falou sobre o seu livro de poesia “O Artigo Oitavo”, publicado em 2002, inspirado na obra do icônico poeta Thiago de Mello, autor do clássico “Estatutos do Homem”, que elogiou o trabalho da escritora e contribuiu declamando no CD anexo ao livro.

O romance de Etel Frota vai ser lançado hoje na Livraria da Vila, no Pátio Batel, em Curitiba. O livro já pode ser reservado no site http://www.etelfrota.com.br/o-heroi-provisorio/

 

 

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Escritor paranavaiense terá obra publicada pelo Governo do Paraná

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O livro “Viagens”, de Altair Cirilo dos Santos, será lançado até o final do ano

Altair Cirilo: “Há desde sonetos até poemas concretos”

Anualmente, a Secretaria de Estado da Cultura seleciona 40 livros de autores paranaenses a serem publicados. Este ano, um dos contemplados é o escritor Altair Cirilo dos Santos com a obra “Viagens” que reúne 50 poemas.

Altair Cirilo dos Santos conta que tudo começou no ano passado, quando recebeu apoio da Fundação Cultural para encaminhar sua obra a apreciação da Secretaria de Estado da Cultura. “Deu tudo certo e meu trabalho foi um dos escolhidos. Agradeço muito a Fundação Cultural porque sozinho seria muito difícil conseguir publicar esse livro”, explica.

Altair Cirilo reuniu vários trabalhos em um. A obra consiste em 50 poemas selecionados pelo próprio autor. “Há desde sonetos até poemas concretos. Tentei dar uma unidade ao trabalho, então peguei aqueles que foram premiados nos concursos que participei”, conta o escritor. A obra “Viagens” soma 75 páginas e deve ser publicada até o final deste ano.

Um apanhado do estilo literário de Santos nos mais diversos períodos da sua trajetória como escritor, o livro sintetiza reflexões políticas e rigor formal poético. “É preciso ter um pensamento sobre o que é poesia”, afirma Altair Cirilo que além de poeta também é cronista.

Conhecido por uma escrita heterogênea, o escritor passeia por diversas correntes literárias, influências que ele admite como referências para o surgimento de um estilo sólido e próprio de escrever. “Da prosa e da poesia posso citar Osman Lins, Rubem Fonseca, António Lobo Antunes, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Mário de Andrade e todos os outros modernistas”, exemplifica.

O interesse de Altair Cirilo pela literatura surgiu na escola, quando visitas regulares a biblioteca despertaram o interesse por contos. “Lembro quando li pela primeira vez ‘A Terra dos Meninos Pelados’, de Graciliano Ramos’”, enfatiza. O interesse pelos contos se deu pelo fato de serem histórias curtas, algo atrativo para crianças e adolescentes. “Desde então se passou muito tempo, já faz 30 anos que escrevo. Quando a gente lê bastante o interesse por escrever sempre aparece”, assinala.

Santos teve suas primeiras obras publicadas no início dos anos 90, a mais conhecida, segundo o próprio autor, é “Passarim, Passarão”, um livro infantil lançado em 2003 que teve o apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc) e Fundação Cultural. Entre as outras obras estão “Viver Enquanto Amar”, de haicai até sonetos, “As Encruzilhadas”, “Por instantes lembrei de mim” e “Um conto, uma espada e uma sombra”.  “Três das minhas obras podem ser encontradas na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley”, revela Santos.

Altair Cirilo já participou de pelo menos 25 antologias

O escritor Altair Cirilo dos Santos tem poemas e contos publicados em pelo menos 25 antologias. Além disso, coleciona prêmios em concursos literários de todo o Brasil. “Minha primeira vitória foi em Brasília”, lembra sem esconder o sorriso nostálgico. Dentre as grandes conquistas, Altair cita o primeiro lugar na fase nacional da categoria poesia no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) em 2005.

Diariamente, Santos escreve pelo menos um parágrafo. Tal hábito e amor pela literatura permitiu que ao longo dos anos reunisse grande volume de trabalhos inéditos. “Tenho muito material que ainda quero publicar, tanto poemas quanto contos. Penso também em escrever uma novela ou um romance”, declara. Altair Cirilo dos Santos é policial militar, escritor, graduado em letras e direito, além de membro da Academia de Letras e Artes de Paranavaí (A.L.A.P.)

Frase do escritor Altair Cirilo dos Santos

“Quem mexe com arte, sem apoio não é ninguém”

Paranavaí terá “Conversa Entre Amigos” em junho

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Programa literário visa estimular não apenas a leitura, mas também o senso crítico

Dia 11 de junho, às 18h, será realizado mais um encontro do programa de incentivo a leitura Conversa Entre Amigos na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley. O livro a ser discutido é “Terra Vermelha”, do escritor paranaense Domingos Pellegrini. O evento vai contar com a participação do deputado federal Marcelo Almeida, idealizador do programa.

O programa Conversa Entre Amigos é voluntário e gratuito, e visa facilitar o acesso às grandes obras da literatura brasileira e internacional, além de formar uma rede de grupos de discussão. Criado em Curitiba em fevereiro de 2004, o programa já conta com mais de 1,5 mil leitores cadastrados, divididos em grupos por todo o Paraná.

O Conversa Entre Amigos não impõe nenhuma restrição quanto a faixa etária, profissão, crença e origem. Inclusive tal diversidade contribui para o enriquecimento dos debates, segundo o deputado federal Marcelo Almeida, conhecido pelo trabalho que desenvolve em prol da cultura. Almeida é o responsável por disponibilizar gratuitamente livros aos grupos de leitura espalhados pelo Paraná.

Em Paranavaí, o primeiro encontro do programa Conversa Entre Amigos foi em março, quando houve discussão da obra “O Caçador de Pipas”, de Khaled Hosseini. Os encontros são realizados a cada dois meses na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley. “A escolha de cada livro é definida pelo próprio grupo. Atualmente, temos 56 pessoas participando do programa”, revela a assessora de projetos culturais da Fundação Cultural, Ivonete Almeida.

Programa foi criado em Curitiba há seis anos (Foto: Programa Conversa Entre Amigos)

O livro da vez, “Terra Vermelha”, a ser debatido às 18h do dia 11 de junho na Biblioteca Municipal, foi escrito por Domingos Pellegrini que conta a trajetória de um casal de migrantes durante a colonização do Norte do Paraná. A história de José e Tiana, no entanto, é apenas simbólica, pois o que Pellegrini faz com profundidade é traçar reflexões sobre temas atemporais da existência humana. Paixões, valores e conflitos servem de alicerce a obra que se tornou um clássico da literatura brasileira.

Entre os livros que o grupo de leitura do programa “Conversa Entre Amigos” de Paranavaí tem disponível para leitura e debate estão: “1808”, de Laurentino Gomes; “O Advogado”, de John Grisham”; “A Distância Entre Nós”; de Thrity Umrigar; “Um Doce Aroma de Morte”, de Guilhermo Arriaga; “A Eternidade e o Desejo”, de Inês Pedrosa; “O Filho Eterno” e “O Fotógrafo”, de “Cristovão Tezza; “O Guardião de Memórias”, de Kim Edwards; “Herdando uma Biblioteca”, de Miguel Sanches Neto; “O Livreiro de Cabul”, de Asne Seierstad; “A Menina que Roubava Livros”, de Markus Zuzak; “Os Meninos da Rua Paulo”, de Ferenc Mólnar; “Rota 66 – A História da Polícia que Mata”, de Caco Barcellos; “Sua Resposta Vale Um Bilhão”, de Vikas Swarup; e “Tocquevilleanas”, de Roberto da Matta.

Saiba Mais

Cada participante tem o prazo de um mês para ler o livro a ser debatido.  Os exemplares estão disponíveis na Fundação Cultural. Para mais informações, ligar para (44) 3902-1128

O amor caboclo do Som da Viola

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Grupo de violeiros já percorreu toda a região divulgando a música sertaneja de raiz

Por onde passa, o Som da Viola emociona o público (Foto: Amauri Martineli)

Por onde passa, o Som da Viola emociona o público (Foto: Amauri Martineli)

Criado em 2002, o Grupo Som da Viola já percorreu toda a região de Paranavaí divulgando a música sertaneja de raiz e despertando em pessoas de todas as idades uma identificação com a essência cabocla.

“Narramos a nostalgia do campo, que está no sangue”. Com essa afirmação, o coordenador do Grupo Som da Viola, Francisco Antônio de Souza, conhecido como Seu Chico, define a temática do grupo composto por 19 membros de 12 a 60 anos.

Conversador e bem-humorado, Seu Chico conta que o grupo surgiu em abril de 2002, quando a música sertaneja de raiz era apreciada por poucos. “Na época, comprei minha primeira viola, mas ainda não tínhamos conhecimento de nada, apenas força de vontade”, lembra e acrescenta que desde o início já contava com a parceria da filha e violeira Érica Coutinho de Souza, do músico Arnaldo dos Santos e do amigo e violeiro Aparecido dos Santos, conhecido como Cido.

O Som da Viola é remanescente de uma oficina idealizada pela Fundação Cultural. De acordo com Seu Chico, as aulas eram voltadas para quem já tocava viola. “Como surgiu uma grande procura decidimos dar oportunidade para quem não sabia nada, até porque o objetivo era despertar mais ainda o interesse pela moda de viola. A ideia foi lapidada debaixo de um pé de sete-copas”, destaca o coordenador.

No começo, o grupo enfrentou inúmeras dificuldades financeiras, pois era preciso arrecadar dinheiro para remunerar o professor de música Arnaldo dos Santos. “A partir de 2004, recebemos uma ajuda da Fundação Cultural para custear as aulas do Arnaldo”, confidencia.

Hoje, já experiente, o Som da Viola empolga muitas plateias ao executar diversos gêneros da música cabocla, como moda de viola, cateretê, guarânia, pagode sertanejo, entre outros. “Já nos apresentamos em toda região de Paranavaí e também fora dela. Certa vez tocamos para mil homens em uma confraternização da Cocari [Cooperativa dos Cafeicultores de Mandaguari]. Depois, no mês seguinte, fomos convidados a nos apresentar para mil mulheres”, destaca Seu Chico em tom de orgulho.

Seu Chico: "“Narramos a nostalgia do campo, que está no sangue” (Foto: Amauri Martineli)

Seu Chico: ““Narramos a nostalgia do campo, que está no sangue” (Foto: Amauri Martineli)

O grupo também tocou em várias edições da Festa do Arroz de Querência do Norte, cidade natal do professor Jair Carvalho que durante muito tempo integrou o Som da Viola. “Ele sempre foi um exemplo. Saía de lá toda semana só pra vir tocar com a gente. Só não continuou quando tivemos de mudar os horários das aulas”, ressalta. Atualmente, por falta de tempo, o grupo tem dispensado alguns convites para tocar em outras cidades.

Onde se apresenta, o Grupo Som da Viola tem um público cativo de pelo menos 50 pessoas. Segundo Seu Chico, o que faz a diferença é saber que cada um dos presentes está ali pelo amor à moda de viola. “São pessoas de todas as idades se emocionando, até chorando ao relembrar do passado no campo ou das histórias que os pais contam”, enfatiza.

Atualmente o grupo discute a possibilidade de lançar um disco com canções autorais. Seu Chico avalia que até o final do ano terão pelo menos 10 músicas prontas. As letras versarão sobre as lembranças da roça e a viola dos antepassados.

Grupo se apresenta pelo menos duas vezes por mês

O Grupo Som da Viola se apresenta em Paranavaí pelo menos duas vezes por mês. “Esse é o número de apresentações que fazemos pela Fundação Cultural, mas sempre vamos além, nos apresentamos com certa frequência”, conta o coordenador do Grupo Som da Viola, Seu Chico.

Quem não conhece o grupo se surpreende com a dedicação. Em setembro de 2002, com poucos meses na ativa, os violeiros se apresentaram no Jardim Morumbi, do alto de um palco improvisado sobre a carroceria de um caminhão. “Estava muito frio, só que valeu a pena. As pessoas ficaram felizes e emocionadas”, afirma Seu Chico.

O grupo contribuiu tanto em despertar o interesse pela música sertaneja de raiz em Paranavaí que o reflexo foi percebido até no comércio. Algumas lojas de instrumentos musicais tiveram de investir mais na compra de violas para atender a demanda. “Nosso grupo realmente ajudou o comércio local. Trouxemos algo diferente a Paranavaí”, pontua Seu Chico sem esconder a satisfação.

Hoje em dia, os encontros do Grupo Som da Viola ocorrem uma vez por semana. Caso alguém tenha interesse em participar do grupo, antes é preciso passar por um processo de acompanhamento. “É uma forma de preparar a pessoa até que ela esteja apta a fazer parte do Som da Viola”, argumenta.

Seu Chico e o sonho de violeiro

Desde os sete anos, o coordenador do Grupo Som da Viola, Francisco Antônio de Souza, conhecido como Seu Chico, sonhava com uma viola. Ele queria musicalizar a própria essência de garoto do campo. “Nasci no mato, então tinha um sentimento caboclo muito forte, algo que carrego até hoje”, afirma o homem que em momento de nostalgia parece reviver o pequeno Francisco, ilhado em um fragmento da infância.

“Minha inspiração pra me tornar violeiro veio do meu tio. Lembro que ele tinha 16 anos quando estávamos sentados na barranca de um rio e ele disse que ainda me daria uma viola. Mais tarde, ele morreu, mas o desejo dele sempre carreguei comigo”, assegura, acrescentando ser de uma família que sempre cultivou estreita relação com a música.

Com o tempo, os compromissos familiares se tornaram cada vez maiores para Francisco. Contudo, o sonho de ser violeiro sempre o acompanhou. “Comprei minha primeira viola aos 50 anos, no dia 8 de abril de 2002. Fiquei feliz porque naquele dia também pude dar uma viola pra minha filha que tinha dez anos e outra para o meu filho que estava com 14”, relembra, acrescentando que sonhos sempre são possíveis, independente da faixa etária e das dificuldades.

Hoje, mesmo morando na cidade, longe da realidade do campo, Seu Chico vive o sonho de violeiro – já compôs diversas canções e escreveu centenas de poemas sobre a viola e a vida no campo. “Em uma edição do Tributo a Tião Carreiro apresentei a minha composição ‘Estilo Tião Carreiro’”, revela em tom de alegria.

Saiba mais

Para entrar em contato com o Grupo Som da Viola, basta ligar para a Fundação Cultural de Paranavaí: (44) 3902-1128

Paranavaí terá mostra de filmes de curta-metragem

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De 23 a 24 de julho será realizada no Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa, a 1ª Mostra de Curtas de Paranavaí que dá visibilidade ao trabalho de artistas audiovisuais brasileiros e estrangeiros, amadores ou profissionais. A inscrição é gratuita e deve ser feita até o dia 15 de junho.

A Mostra de Curtas de Paranavaí foi criada para incentivar a difusão de filmes de curta-metragem que não são exibidos e nem distribuídos em circuito comercial. Além do estímulo a produção audiovisual, o evento vai oferecer ao público um ambiente propício a troca de informações sobre a produção de filmes. A mostra será aberta a pessoas de qualquer parte do mundo, e para participar basta apenas ter produzido algum filme de curta-metragem, independente de origem ou nacionalidade, desde que a obra esteja legendada em português.

Cada participante poderá inscrever quantidade ilimitada de curtas, porém os filmes precisam se enquadrar nas categorias ficção, documentário, animação ou experimental. Os trabalhos devem ter no máximo 20 minutos de duração, os que ultrapassarem esse limite não serão exibidos. Após a Mostra, os filmes irão para a videoteca da Fundação Cultural e serão eventualmente veiculados em eventos culturais e educativos.

Todas as obras devem ser enviadas por conta dos realizadores, isentando a FC de qualquer despesa. A data-limite é 15 de junho. Os filmes que não respeitarem o prazo de envio não serão exibidos. Também vale ressaltar que os participantes devem enviar duas cópias de cada trabalho em DVD e no formato DVD. O evento será aberto a toda comunidade e terá entrada gratuita.

Mais informações

A ficha de inscrição e o regulamento estão disponíveis no seguinte link: http://www.novacultura.com.br/v08/Doc/RegMostraCurtas2010.doc

Os trabalhos devem ser enviados para a Fundação Cultural de Paranavaí, na Rua Guaporé, 2080 – Caixa Postal 511 – CEP 87705-120.

Esculpindo vidas

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Jesus Soares descobriu a identidade artística na figura dos marginalizados

Soares eterniza pessoas com quem se depara no cotidiano (Foto: David Arioch)

Em 1986, quem via o garotinho Jesus Soares esculpindo faces desconhecidas em barrancos, nem imaginava que ele se tornaria um dos grandes nomes das artes plásticas em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, com trabalhos expostos em diversos países da América Latina e Europa.

A relação de Jesus Soares com a arte começou por acaso, aos 11 anos, quando ele e os irmãos Paulo, Gílson e Adauto Soares se divertiam criando os próprios brinquedos e dando novas formas a alguns espaços. O que para a maioria era apenas um cenário ordinário e natural, na perspectiva de Jesus e seus irmãos era um universo de possibilidades de transformação.

“Uma vez vimos a capa de um livro e aquilo nos influenciou a criar algumas faces em barrancos”, conta o artista plástico Jesus Soares. O feito dos quatro irmãos pode ser interpretado como uma peculiar, mas ocasional concepção artística do Monte Rushmore, monumento rochoso situado nos EUA.

À época, ainda crianças, Jesus e os irmãos, que cultivavam uma profunda relação de amizade entre eles, produziam arte sem perceber, perdidos em uma realidade lúdica. “A gente fazia apenas porque gostava, era uma forma de divertimento”, afirma e acrescenta que encarou o próprio trabalho como arte somente a partir de 1998.

Naquele ano a artista Tânia Volpato foi até a residência do artista e se deparou com um presépio. “Quando disse a ela que fui eu quem fiz, a Tânia ficou surpresa, e eu mais ainda porque já tinha feito um monte de peças, mas nunca pensei que fossem arte”,  admite Soares, que se destaca pelo talento em criar esculturas com as mais diversas matérias-primas, como arame, madeira, resina, gesso, sisal e fibra de média densidade (MDF).

Embora já tenha manipulado muitos materiais, Jesus é mais conhecido pelas esculturas em arame, sua marca registrada. “Nessa linha de trabalho, já atendi a Fundação Cultural, Rotary, Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí [Fafipa], Universidade Paranaense [Unipar], Secretaria Municipal de Esportes e Lazer e Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí [Aciap], além de outros”, acrescenta.

Quem conhece o trabalho de Jesus Soares, logo identifica características do realismo surgido no século XIX. É algo que se deve não ao fato do artista seguir tal tendência, mas sim ter descoberto a identidade artística na figura dos marginalizados. Soares tem o dom de eternizar pessoas com quem se depara no cotidiano, aquelas que parecem inexistir socialmente.

Algumas das obras do artista estão em exposição no corredor do Teatro Municipal (Foto: David Arioch)

Algumas das obras do artista estão em exposição no corredor do Teatro Municipal (Foto: David Arioch)

“Pra mim a escolha de um personagem a ser transformado em escultura depende muito do contexto. Além disso, quando me pedem algum trabalho sob encomenda, já me foco no tema, daí faço um esboço levando em conta questões sociais, históricas e econômicas”, revela o artista que encontra na arte de esculpir um exercício de introspecção e reflexão sobre a vida e o mundo.

É impossível mensurar quantas obras Jesus Soares já produziu, mas muitas estão espalhadas pelo Brasil, além das enviadas para exposições na Áustria, Alemanha, República Dominicana e outros países. “Há poucos dias, recebi o convite para enviar peças ao Chile”, enfatiza o artista.

Material embutido de significados

A escolha do material para se trabalhar a confecção de cada peça carrega alguns significados. Um exemplo são três obras criadas pelo artista sob influência de Guernica, pintura de Pablo Picasso. “Foi uma encomenda que me fizeram em Amaporã. Selecionei três personagens do quadro e criei as peças”, conta.

Em uma das obras recheadas de crítica social, é possível ver uma criança no colo da mãe. O bebê em óbito foi idealizado a partir de uma minúscula colher. Levando em conta o contexto da guerra, principalmente os bombardeios alemães a pequena cidade espanhola de Guernica em 1937, Soares usou o talher para destacar uma metáfora; a infância perdida como sobremesa germânica.

O artista plástico, que também trabalha com cenografia em parceria com os irmãos Paulo e Adauto Soares, está sempre atendendo pedidos de novas encomendas. “Pra ter uma ideia, recentemente fiz cenários para a peça ‘As Aves’, do Grupo de Teatro da Unipar, também criei três obras em MDF e ainda preciso entregar mais de 300”, assinala o artista que cobra de R$ 35 a R$ 150 por peças de 35 a 50 centímetros.

Serviço

Para entrar em contato com o artista plástico Jesus Soares, basta ligar para (44) 8806-9585.

Dedicação à música clássica

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Conservatório Nice Braga levou arte erudita a mais de mil pessoas durante 44 anos

Salas de onde ressoavam os pianos Essenfelder e Schwartzmann (Crédito: David Arioch)

É impossível falar de música erudita em Paranavaí sem citar o saudoso Conservatório Nice Braga. Com uma história de 44 anos, a escola que encerrou atividades no final de 2006 formou mais de mil alunos em piano clássico. E mais, se tornou referência no Noroeste do Paraná, principalmente por usar as metodologias dos conservatórios europeus.

Em 1962, o professor Arnoldo Poll entrou em contato com a Prefeitura de Paranavaí e solicitou um terreno para a implantação de uma escola de música. No mesmo ano, o pedido foi atendido e a construção foi concluída em pouco tempo, graças ao empenho da comunidade que trabalhou sem cobrar nada. Assim surgiu o Conservatório Nice Braga que recebeu tal nome em homenagem a mulher do então governador Ney Braga.

Alguns anos depois, ainda na década de 1960, o professor vendeu o conservatório, a título de direito, para Luzia Guina Machado, também falecida, que administrou a escola durante 38 anos, segundo o ex-auxiliar administrativo do Conservatório Nice Braga, Israel Rodrigues, que entrou na escola de música em 1984 para estudar órgão. “A Luzia me convidou para ajudá-la na administração por dez dias. O tempo passou e fiquei 22 anos”, reitera Israel sorrindo.

Entre 1962 e 2003, sob dedos habilidosos os pianos ressoavam pelas imediações da escola de música, fazendo os transeuntes se sentirem imersos em um universo de beleza e sensibilidade. “Não conhecia música clássica, mas sempre que passava lá em frente ficava encantada”, relata a dona de casa Roberta Castelo. As releituras no conservatório incluíam composições como as clássicas sonatas de Beethoven e o primitivismo de Bartók.

Até o final da década de 1990, foram realizados muitos concursos no auditório da escola, segundo a professora de música Neuza Diogo que se matriculou no Conservatório Nice Braga com o objetivo de concluir o curso de piano clássico iniciado em São Paulo. “Em 1962, eu estava no sétimo ano fundamental e quando terminei me convidaram para dar aula”, lembra. O que começou como uma atividade remunerada casual durou 35 anos.

À época, quatro professores lecionavam na escola de música, mas logo foram contratados mais quatro. Segundo Neuza, a procura pelo curso de piano clássico era tão grande que o interessado tinha de reservar uma vaga em novembro para começar a estudar em janeiro. “Pra você ter uma ideia, só eu como professora assinei mais de 800 diplomas de alunos que concluíram estudos de piano. Em Paranavaí, a maioria dos conservatórios que vieram depois foram fundados por professoras que foram minhas alunas”, frisa.

A escola não era referência apenas para a população local. Professores de música de Nova Londrina, Loanda, Querência do Norte, Paraíso do Norte, Terra Rica, Alto Paraná, Nova Esperança, Nova Aliança do Ivaí e muitas outras cidades se formaram no Nice Braga. A qualificação profissional sempre foi o maior objetivo do conservatório que foi comparado às escolas de música da Europa.”Lembro da carta de uma aluna que se mudou para a Alemanha. Ela nos parabenizou pelo curso porque a nossa grade curricular é compatível com a deles. Houve o caso de um rapaz também que vive na Inglaterra e falou a mesma coisa”, enfatiza Rodrigues.

A professora Neuza Diogo admite ser impossível mensurar com precisão o total de alunos que passaram pelo conservatório. “Foram muitos, provavelmente mais de mil. Mas o auge, sem dúvidas, foi em 1968, quando tínhamos mais de 200 alunos. Dávamos aulas de piano, teclado, órgão, violão, violino, balé e jazz”, pontua.

O Silêncio do Nice Braga

Em 2006, o Conservatório Nice Braga perdeu a magia de outros tempos. Com apenas oito alunos matriculados, a impossibilidade de manter a escola aberta crescia a cada dia. Em um passeio pelas pequenas salas do conservatório, tornou-se comum encontrar os belos e bem conservados pianos Essenfelder e Schwartzmann, que antes pareciam ter vida própria e emocionavam os passantes, aposentados, relegados ao ostracismo. Lá fora, até mesmo vizinhos estranharam o silêncio.

O auxiliar-administrativo do Conservatório Nice Braga, Israel Rodrigues, diz acreditar que tudo foi uma consequência natural do desinteresse pela música clássica. Para ele, era como se as pessoas tivessem um bloqueio em relação ao erudito. “Se divulgar que teremos uma audição do gênero, acredite, apenas estudantes de música vão participar. Os demais não se importam”, lamenta. Opinião também dividida pela professora de música Neuza Diogo. “Hoje em dia, os alunos querem apenas o popular”, frisa.

Espaço agora abriga Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado (Crédito: David Arioch)

Espaço agora abriga Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado (Crédito: David Arioch)

Os primeiros sinais de mudanças surgiram na década de 1990, e dez anos depois as dificuldades aumentaram. Segundo Rodrigues, não sobrava mais dinheiro para suprir despesas com manutenção, limpeza e jardinagem. Até 2003, a situação foi contida porque os gastos eram proporcionais ao número de aprendizes. “Até o último momento, tínhamos oito alunos. Mas a situação já era insustentável e o jeito foi fechar a escola”, destaca.

Com o fechamento do Conservatório Nice Braga, o município reassumiu a propriedade e repassou R$ 12 mil aos familiares da ex-diretora Luzia Guina Machado pela realização de benfeitorias ao longo de décadas. Mantido pela Fundação Cultural, hoje o espaço é sede da Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado, onde dezenas de crianças e adolescentes participam gratuitamente de oficinas de música. Além disso, as características originais do imóvel foram mantidas, preservando a história do conservatório.

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