David Arioch – Jornalismo Cultural

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Malária matou centenas de pessoas em Paranavaí

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Doença dizimou uma parcela da população nos anos 1940

Proximidade com a mata tornou a população de Paranavaí um alvo fácil (Foto: Francisca Schueroff)

Durante a colonização, a malária foi a doença que mais atingiu a população de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. À época, centenas de pessoas morreram, principalmente crianças.

Nos anos 1940, a Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, se situava no meio da selva, realidade que logo contribuiu para a proliferação da malária entre os moradores do povoado. A enfermidade foi a que mais afetou a população, segundo o pioneiro catarinense Carlos Faber. “A maleita era a doença mais comum na região. O pessoal tinha que buscar remédio lá na Inspetoria de Terras”, relatou Faber em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

Todo mundo sofria com a doença, mas os adultos tinham mais resistência. “Tive uma maleita de rachar o cano. Ainda assim, sobrevivi. Já o meu filho, com a falta de recursos, não conseguiu. Aqui não tinha quase remédios. A gente tinha que buscar em outras cidades”, revelou o paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho.

Era muito fácil contrair malária naquele tempo. Bastava passar o dia na mata que já corria o risco de ser picado pelo mosquito anofelino, transmissor da doença. Os alvos mais fáceis eram os peões que trabalhavam no desmatamento da região. No entanto, é importante frisar que muita gente também contraiu a doença dentro de casa, pois as condições de higiene eram precárias.

Maleita atingiu principalmente os peões que trabalhavam na derrubada de árvores (Foto: Francisca Schueroff)

“O meu sofrimento aqui foi muito grande. Peguei maleita quando tinha 75 quilos. Com a gravidade da doença, cheguei a pesar 40. Juntar a minha pele era como juntar a minha roupa. Estive pra apagar”, contou o pioneiro João Silva Franco que tinha cerca de 40 anos e teve de suportar 43 graus de febre, calafrios, tremedeiras, dores de cabeça, vômitos e hiperidrose (sudorese excessiva).

Certa noite, depois de contrair malária, João Franco chegou em casa a cavalo acompanhado do amigo Salatiel Loureiro, conhecido como Mário. “Estava ventando muito e quando cheguei ao rancho me deitei e depois não consegui levantar”, lembrou.

No amanhecer do dia seguinte, o pioneiro paulista não se lembrou de nada. “Me tiraram de casa e eu nem sei como foi. Acordei mais ou menos umas 11h e só depois me dei conta que estava na cama do farmacêutico João Machado”, enfatizou. A cura da doença, o pioneiro atribui ao farmacêutico e a sua própria natureza. “Sobrevivi porque nasci em terra de mata”, justificou. Machado é considerado um dos primeiros médicos de Paranavaí. Atendeu Palhacinho inúmeras vezes e também salvou muitas vidas.

Estima-se que centenas de moradores de Paranavaí foram vítimas fatais da malária na década de 1940. “Quando isso aconteceu, todos tiveram vontade de ir embora porque não havia condições de se viver aqui”, comentou a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger.

Frases dos pioneiros sobre a doença

José Ferreira de Araújo (Palhacinho)

“Eu peguei essa maleita do Rio Ivaí.”

Palmira Gonçalves Egger

“Os remédios a gente quem preparava. Tinha que correr para não morrer.”

“Tinha um padre que também socorria as pessoas com seu carro.”

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