“Alguns nem conheciam dinheiro”
Trabalhadores rurais eram explorados em Paranavaí nos anos 1950
Em publicação alemã, o padre alemão Alberto Foerst revelou que na época da colonização havia tantos trabalhadores rurais ingênuos em Paranavaí, no Noroeste Paranaense, que alguns nem conheciam dinheiro. Muitos estavam acostumados a uma relação de subserviência em que trabalhavam em troca de comida e moradia.
No artigo intitulado “Die Stimme Der Mission”, publicado em outubro de 1954 na revista alemã Karmelstimmen, de Bamberg, no Estado da Baviera, o frei Alberto Foerst abordou, entre outros assuntos, as desigualdades sociais e a exploração do trabalho rural, problemas que já assolavam Paranavaí naquele tempo. Segundo Foerst, na década de 1950, muitos dos que chegavam a Paranavaí para trabalhar vinham das regiões Norte e Nordeste. “Eram pobres, não sabiam ler, escrever e trabalhavam nas fazendas. A maioria era explorada pelos fazendeiros, a quem a terra pertencia. Alguns trabalhadores nem conheciam dinheiro”, confidenciou o padre alemão.
Foerst se surpreendeu durante as missões que empreendeu em Paranavaí ao se deparar com pessoas trabalhando em troca de alimento e um lugar para morar. Eram seres humanos alheios ao seu próprio tempo e realidade, dispersos em um universo que já se alinhava mais às impossibilidades do que a concretização dos sonhos de prosperidade. “Às vezes, faltava até o que comer, mesmo o peão se matando no serviço. Havia muita gente inocente na roça que não sabia o valor do seu trabalho. Os donos das terras os enganavam com facilidade”, relatou o pioneiro Sátiro Dias de Melo.
Caso os trabalhadores reclamassem das condições de trabalho poderiam ser lesados de alguma maneira. Segundo Melo, se o colono decidisse denunciar a situação à polícia, o fazendeiro encontrava meios de “justificar” que o trabalhador estava em débito, inventando dívidas, relatos de prejuízos, entre outras mentiras. “A pessoa não tinha pra onde correr, pois já valia mais a palavra de um rico do que de um pobre”, frisou o pioneiro, acrescentando que ao retornar à fazenda o colono podia ser castigado e depois mandado embora.
Fazendeiros mandavam espancar colonos
Não foram poucos os colonos que caíram nas artimanhas dos latifundiários de Paranavaí durante a colonização. Com a promessa de resolver a situação, o fazendeiro mandava chamar o empregado para conversar. Longe dos colegas de trabalho, a vítima era levada a um celeiro ou algum outro ambiente ermo. Lá, pediam para esperar o patrão.
O colono ficava apreensivo, mas nem tinha ideia do que o aguardava. Pouco tempo depois, retornavam pelo menos dois jagunços em direções diferentes para evitar que o trabalhador rural fugisse. Um deles imobilizava o homem enquanto o outro o açoitava com um rebenque. Quando o colono perdia as forças e caía no chão, ainda era atingido com socos e pontapés, até perder os sentidos e desmaiar.
“Tive amigos e colegas que passaram por isso. Alguns sumiram de Paranavaí e nunca mais voltaram. Muita gente sofreu com toda essa violência”, comentou o pioneiro Sátiro Dias de Melo. Ninguém tinha coragem de denunciar, pois o medo de que algo acontecesse aos familiares era muito grande. O pioneiro confidenciou que determinados proprietários rurais tinham tanto poder que eram capazes de transformar um homicídio em um acidente de trabalho.
Em 1954, Paranavaí já era habitada por uma legião de migrantes miseráveis, pessoas simples, ingênuas e ignorantes. Uma parcela ainda acreditava na chance de ter uma vida melhor. Era o grande sonho dos colonos, segundo Melo. “Esses eram aqueles que viviam no mato e nada sabiam sobre o mundo”, declarou o padre alemão que disse ter enxergado nos colonos de Paranavaí uma candura que até então nunca tinha visto em nenhum outro povo, nem mesmo o europeu.
Contribuição
Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:
David, essa é a parte da memória de meu torrão que mais me queima a alma; tomar conhecimento de que tijolos de sua história local foram cozidos com carne e sangue dos menos esclarecidos, nos fornos do domínio do medo, construídos por facínoras e criminosos que hoje, infelizmente, até nome de rua são. Particularmente posso lhe confessar: já conhecia muito acerca de da origem de minha cidade natal – talvez mais do que alguns imaginam – e agora com seu belo trabalho jornalístico aqui, a cada post seu considero-me muito mais rico em conhecimentos.
Apesar de os fatos demonstrarem que malfeitores sempre tem um fim ao mesmo estilo do qual se conduziram vida afora, no entanto, é mais que tempo de fazer-se JUSTIÇA PLENA a esses colonos humilhados dos quais você fala aí no post, criando-se, por exemplo – sob amplo concurso público – um nome para reparar para sempre aquela iniqüidade chamada Rua Capitão Telmo Ribeiro, sabidamente um deslavado delinquente que se ocultava sob uma patente frouxa para impor-se aos humildes, e não foi a toa que teve o fim que teve em Cornélio Procópio. Tenho para mim que quem sugeriu seu desditoso nome para aquela via pública, das duas uma; ou era (ou é) um desconhecedor da história local, ou muito amigo do tal, e, portanto de sua mesma e abjeta casta.
Desculpe a sinceridade do desabafo, mas mesmo diante de minha sugestão aí acima, ainda acho que DE JUSTIÇA MESMO será substituir-se o nome daquela via por RUA ALCIDES DE SORDI…
Abs
josé roberto balestra
11 Jan 11 at 10:45 pm