David Arioch – Jornalismo Cultural

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Venda de lotes urbanos era lucro garantido

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Imóveis bem localizados não requeriam grande investimento

Colonizadoras já faziam estudos de viabilidade econômica antes de investir em loteamentos (Foto: Acervo da Fundação Cultural)

Na região de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, nas décadas de 1940 e 1950, em função das despesas com benfeitorias, colonizadoras não lucravam com a venda de propriedades rurais, mas sim com a comercialização de lotes urbanos que eram mais valorizados e não requeriam grande investimento.

Para investir nas áreas mais povoadas, as companhias de colonização faziam antes um estudo de viabilidade econômica. A iniciativa ia ao encontro da difícil realidade da época, a de que o progresso não teria como se estender a todas as regiões. Por isso, os primeiros colonizadores estabeleceram prioridades e desistiram de povoar muitas localidades.

Um exemplo foi o trabalho desempenhado pelo pioneiro Carlos Antônio Franchello que mais tarde fundou o município de Querência do Norte. Franchello comprou 15 mil alqueires de terras na região de Paranavaí, no entanto investiu somente em parte das propriedades. As áreas mais ermas, o pioneiro dividiu em lotes de dez alqueires que receberam a denominação de colônia e os vendeu por preços que cobriam as despesas com desmatamento e demarcação.

As colônias eram comercializadas por 30 mil cruzeiros e cada família podia adquirir até quatro, segundo informações do livro “História de Paranavaí”, do escritor Paulo Marcelo Soares da Silva. As companhias de terras consideravam o preço simbólico, pois um pequeno lote em área urbana não custava menos de 20 mil cruzeiros por estar bem situado e contar com uma razoável infraestrutura.

As colônias de Paranavaí eram comercializadas por 30 mil cruzeiros (Foto: Reprodução)

“Algumas companhias tinham boa influência e eram muito espertas, faziam propagandas pelo Brasil afora com promessas de escola, farmácia e comércio. Certos recursos já existiam na cidade ou no povoado antes da companhia aparecer”, afirmou o pioneiro gaúcho João Alegrino de Souza, acrescentando que a mobilização da comunidade fazia a diferença se tratando de progresso. Em contraponto, o pioneiro catarinense José Matias Alencar declarou que havia colonizadoras em Paranavaí que realmente investiam e se empenhavam para levar qualidade de vida à população e não simplesmente lucrar com a venda de terrenos.

Outro fato interessante sobre essa etapa da história local é que apesar da desvalorização dos imóveis rurais se comparado aos urbanos, ainda assim as colonizadoras levavam vantagem nas negociações de propriedades do campo, pois não era firmado nenhum compromisso de investimento em recursos de necessidade básica como captação de água e energia elétrica. Quem comprava uma grande propriedade rural já assumia a responsabilidade pelo desenvolvimento do local, caso quisesse transformá-lo em um núcleo urbano.

“Na maioria das glebas a terra não era cara, mas o problema é que dependendo da localização nem adiantava esperar o progresso. Tem gente que passou a vida toda morando em área rural esperando que o lugar fosse no mínimo transformado em distrito e isso nunca aconteceu”, comentou o pioneiro cearense João Mariano.

Em depoimento no livro “História de Paranavaí”, Carlos Franchello afirmou que os lotes urbanos mais acessíveis da Colônia Paranavaí eram vendidos na Gleba 27-A, atual Querência do Norte, onde um terreno podia ser comprado por 145 cruzeiros ao mês. Nos anos 1950, o objetivo da companhia de terras de Franchello era atrair principalmente agricultores gaúchos e catarinenses, famílias interessadas no solo virgem do Noroeste Paranaense.

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