David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

O fisiculturista e eu

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Filme canadense mostra como o bodybuilding ajudou a fortalecer uma relação entre pai e filho

Bill Friedman muda de vida através da musculação (Foto: Reprodução)

Lançado em 2007, The Bodybuilder and I é um filme do canadense Bryan Friedman que decide acompanhar a rotina de fisiculturista do próprio pai. A princípio, a ideia do rapaz era registrar o bodybuilding como uma subcultura recheada de esquisitices. Talvez, uma maneira de conseguir a atenção do homem com quem viveu ao longo de 26 anos, mas jamais o conheceu de verdade.

O advogado Bill Friedman, de 59 anos, é um ex-sedentário e ex-viciado em trabalho que após um longo e desgastado casamento é surpreendido por um pedido de divórcio. Bill se torna depressivo, mas renasce com a musculação, colocando-a em primeiro lugar na sua vida. Chega a deixar pra trás uma carreira extremamente lucrativa que lhe garantiu uma mansão, os melhores carros e uma fortuna que proporcionou estabilidade financeira para toda a família.

Após vencer duas importantes competições de bodybuilding da sua faixa etária, Friedman consegue atrair a atenção do filho Bryan. O rapaz então acompanha a jornada do atleta apenas com a intenção de destacar o quão estranho pode ser o bodybuilding como uma subcultura. Sem um profundo ou forte vínculo com o pai, Bryan registra todas as etapas da rotina, desde a hora em que ele acorda até o momento de dormir.

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A rotina do atleta é acompanhada pelo filho Bryan (Foto: Reprodução)

“Meu objetivo era mostrar como somos distantes e também como aquele mundo poderia parecer mais importante pra ele do que a própria família. Era pra ser algo sobre um velho fisiculturista obsessivo quanto aos seus músculos”, conta o cineasta Bryan Friedman que mesmo com uma vida de luxo sempre se sentiu mal pela ausência da figura paterna. Ao contrário do planejado, o filme ganha outro rumo quando o filho ressentido começa a aprender muito sobre o pai.

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Bryan começa a entender o amor do pai pelo bodybuilding (Foto: Reprodução)

The Bodybuilder and I é uma história sobre como a conexão entre pai e filho pode ser algo valoroso, verdadeiro e intenso, independente de tempo. Um filme sincero e bem-humorado que tem um caráter testemunhal sobre as possibilidades dos seres humanos se reencontrarem e tentarem entender o que é importante um para o outro. Com 60 anos, o extrovertido Bill Friedman luta para recuperar o status de campeão mundial da categoria masters, se consolidando como um ícone do bodybuilding canadense.

Após algum tempo, o introspectivo Bryan se torna compreensivo quanto ao amor do pai pela musculação, atividade que disciplinou Bill e lhe deu mais ânimo para viver. É interessante a forma como o filho em alguns momentos do filme deixa claro o preconceito contra o bodybuilding. São cenas que representam com clareza a grande intolerância social que aflige o fisiculturismo em todo o mundo. O espectador pode interpretar que o sucesso de Bill na carreira profissional só foi possível em função de sua natureza pautada pela perseverança e disciplina.

Surge aí de forma subjetiva a ideia de que se alguém tem força de vontade o suficiente para seguir uma rotina intensa de treinos, dieta e outras regras que competem ao bodybuilding, essa mesma pessoa tem as qualidades mais importantes para ser bem sucedida em outras áreas. The Bodybuilder and I, vencedor do Prêmio de Melhor Documentário do Festival Internacional de Documentários do Canadá (Hot Docs) e Atlantic Film Festival, é uma obra de esperança voltada principalmente para pais, filhos e qualquer um que desconheça o poder transformador que possui dentro de si. Dirigido e escrito por Bryan Friedman, o filme é co-produzido pela January Films e National Film Board of Canada.

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