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A megalomania de Frankenstein

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Em 1931, a Universal Pictures lançou a primeira versão cinematográfica de Frankenstein

A criação deveria ser o arquétipo da negação do fim (Foto: Reprodução)

A criação deveria ser o arquétipo da negação do fim (Foto: Reprodução)

Lançado em 1931 pela Universal Pictures, o clássico Frankenstein, do cineasta britânico James Whale, é um filme que gira em torno da ambição do homem em criar vida artificial, o que funciona também como uma crítica sobre a megalomania.

No filme, Henry Frankenstein (Colin Clive) é um ambicioso cientista que tomado por um anormal desejo de poder decide brincar de deus e cria um ser humano. A consequência é uma criatura feita com tecido, carne e órgãos de vários mortos que deveria ser o arquétipo da negação do fim, mas em função das deficiências físicas e psicológicas torna-se um símbolo degenerado da vida post mortem.

No clássico, o monstro é interpretado pelo célebre Boris Karloff (Foto: Reprodução)

No clássico, o monstro é interpretado pelo célebre Boris Karloff (Foto: Reprodução)

Em Frankenstein, o cineasta James Whale conseguiu transportar para o cinema toda a magia inventiva da obra que consagrou a escritora britânica Mary Shelley. A construção de cada personagem, desde Henry Frankenstein ao monstro interpretado pelo antológico Boris Karloff, foi concluída sob influência do cinema expressionista alemão, assim como o cenário que também remete ao romantismo gótico.

Tais referências podem ser observadas na saturação das sombras durante os momentos em que a pouca incidência de luz simboliza o triunfo da escuridão. Cena que ilustra isso é a de Henry Frankenstein e o seu ajudante Fritz (Dwight Frye), extasiados pelo inédito, procurando cadáveres frescos no cemitério, como se fossem deglutidos pelas trevas.

Já se tratando dos personagens, o mais emblemático é o monstro. Inapta a falar, a criatura é impelida a transmitir sensações e emoções por meio de expressões faciais, gestos e grunhidos que embora instintivos transmitem a essência do homem antes do processo civilizatório. Em vários momentos, mesmo privado de sua humanidade e sem saber quem realmente é, a criação de Frankenstein demonstra benevolência e desejo em ajudar, como se manifestasse uma certa consciência de outra vida.

Personagem incorpora a essência humana antes do processo civilizatório (Foto: Reprodução)

Personagem incorpora a essência do homem antes do processo civilizatório (Foto: Reprodução)

A figura do cientista que luta contra as leis naturais da vida também é das mais inesquecíveis, graças ao paradoxo criado por Whale que confunde o espectador sobre quem seria realmente o monstro, criador ou criatura, já que toda criação representa a materialização de um anseio do inventor, mesmo disforme.

O filme considerado um dos maiores clássicos de horror de todos os tempos ainda traz no elenco mais alguns célebres atores dos anos 1930, entre os quais Mae Clarke, John Boles, Edward Van Sloan, Frederick Kerr, Lionel Belmore e Marilyn Harris. A trilha sonora é de Bernhard Kaun. Com um modesto orçamento de 262 mil dólares, Frankenstein arrecadou mais de doze milhões de dólares.

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