Archive for February, 2015
Arqueólogos noruegueses encontram moedas islâmicas em túmulo viking
No ano passado, de acordo com informações do Museu de História Natural e Arqueologia da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, situada em Trondheim, arqueólogos descobriram na região central da Noruega um túmulo de um viking que faleceu no ano de 950 d.C.. Junto aos restos mortais, encontraram uma espada de alta qualidade, um escudo e uma bolsa de couro com moedas islâmicas.
Os pesquisadores afirmam que as moedas podem estar relacionadas com a chegada dos vikings à Espanha no ano de 800 d.C, quando eles tiveram o primeiro contato com o islamismo. Há também a possibilidade de que as moedas tenham sido compradas.“O escudo tem marcas de combate, claramente de um machado ou espada, mas não sabemos se ele morreu lutando”, explica a arqueóloga Ingrid Ystgaard, do Museu de História Natural e Arqueologia.
Refugiado húngaro criou as maiores obras da Igreja São Sebastião
Em Paranavaí, Bálint Fehérkúti criou as mais importantes obras da Igreja São Sebastião
Entre os anos de 1966 e 1971, depois de escapar de um gúlag, campo de trabalho forçado na União Soviética, o artista plástico húngaro Bálint Fehérkúti viveu em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, e produziu as mais importantes obras da Igreja São Sebastião. Com uma sublime capacidade de transmitir sentimentos pessoais por meio da arte, Fehérkúti despertou admiração e repulsa.
“Na via-crúcis tradicional a cena é muito restrita a cruz e mais duas ou três pessoas. Bálint preferiu fazer diferente. Incluiu mais personagens, alguns como se estivessem dialogando. Foi realmente inovador”, conta frei Filomeno dos Santos após analisar a obra de caráter estético arcaico produzida em argila pelo artista húngaro em 1966.
Em essência, a Via-Sacra de Fehérkúti foi pouco compreendida. Com o passar dos anos, os fiéis se dividiram entre favoráveis e contrários à exposição da obra. Alguns alegavam que mesmo muito bonita não despertava piedade. Outros foram mais intolerantes e intransigentes nas críticas. Em 1990, quando a Via-Sacra começou a se deteriorar, o frei Gentil Lima alegou que não encontraram restauradores habilitados para conservar a estética original, então decidiu substituí-la.
De 1966 a 1971, Fehérkúti produziu as populares esculturas de quatro grandes estátuas de São José, São Sebastião, Maria do Monte Carmelo e Santa Teresa de Lisieux. As estátuas foram finalizadas pelo escultor austríaco Conrado Moser. Para a Ordem do Carmo de Paranavaí, o artista húngaro criou também uma pintura do batismo de Jesus e outra da ressurreição de Cristo. A primeira pode ser vista na capela do batismo e a segunda na cripta embaixo do altar-mor.
Em 2006, durante visita à Paróquia São Sebastião, atual Santuário do Carmo, me surpreendi com a intrigante pintura de “A Última Ceia”, inspirada no afresco de Leonardo da Vinci. A imagem que ocupa uma parede inteira do refeitório foi idealizada pelo húngaro em 1970. Quem observa a pintura com atenção percebe que pouco acima da cabeça de Jesus Cristo há um par de olhos, chifres e um focinho. A primeira pessoa que notou a suposta figuração do demônio foi um padre franciscano que visitou a paróquia em 1990.
Ninguém sabe se a representação foi intencional ou não, já que é muito comum o inconsciente se revelar durante uma prática artística. “Acredito que simboliza a tentação que Judas sofreu em trair Jesus”, interpreta frei Filomeno. Na “Última Ceia” de Bálint, a aparência clássica e hermética dos apóstolos foi substituída por feições mais familiares dos padres alemães que viviam em Paranavaí.
“Na sala de recreação, uma grande pintura com uma vista de Bamberg [cidade de origem de muitos padres que viveram em Paranavaí] testemunha a sua capacidade, assim como a pintura que está no altar da Igreja Nossa Senhora das Graças [situada em Graciosa, distrito de Paranavaí]”, escreveu o frei alemão Alberto Föerst no livro Erinnerungen eines Brasilienmissionars, lançado na Alemanha em 2012.
Ultrapassando estilos, técnicas e formas, Fehérkúti encontrou na subjetividade da arte um meio de tentar se reencontrar, dialogar consigo mesmo e registrar a própria história, além de materializar em desenhos, pinturas e esculturas as impressões e cicatrizes deixadas pelo passado.
Escultor, pintor e desenhista, Bálint era acima de tudo um artista múltiplo, apto a enfrentar qualquer desafio. Ousado, sabia como se lançar em cada obra de forma implícita e explícita. Não hesitava em apresentar uma perspectiva mais contemporânea e pessoal de tudo. Manipulava os mais diferentes materiais com uma facilidade impressionante.
Surpreendia trabalhando com pinturas em aquarela e têmpera, lápis sobre papel, vitrais, mosaicos e esculturas em pedra, cerâmica e madeira. Padres que conviveram com o artista em Paranavaí confidenciaram que possivelmente as obras retratam o sofrimento de Fehérkúti antes de chegar ao Brasil.
De acordo com o frei Tiago Correia, da Ordem do Carmo, o húngaro fez muitos trabalhos de temática religiosa, envolvendo passagens das sagradas escrituras, imagens de Jesus Cristo e da Virgem Maria. No entanto, há também projetos de mobiliários e muitas pinturas de paisagens e rostos de pessoas comuns. “Sim, Bálint era um artista realmente distinto e polivalente”, registrou Föerst na obra Erinnerungen eines Brasilienmissionars.
Somando-se as obras de grande expressão que podem ser vistas em Paranavaí, Graciosa e no Museu da Abadia de São Geraldo, no Jardim Colombo, em São Paulo, na capital paulista, Bálint deixou um legado de mais de 50 criações históricas e inovadoras. São trabalhos que foram catalogados pela Ordem dos Carmelitas. Em 1951, Fehérkúti participou e se destacou na 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 1968, atraiu muita atenção no XXXIII Salão Paulista de Belas Artes.
Embora tenha passado quase despercebido pela população de Paranavaí, Bálint está entre os maiores nomes da arte húngara contemporânea. Em Budapeste, na Hungria, algumas de suas obras fazem parte dos acervos do Museu de Artes Aplicadas (Iparművészeti Múzeum) e Universidade Húngara de Belas Artes (Magyar Képzőművészeti Egyetem). O trabalho do artista também integra a Biblioteca Europeana, fundada pela União Europeia em 2008.
Fehérkúti foi considerado um inimigo da União Soviética
Bálint Fehérkúti nasceu na Hungria em 5 de novembro de 1923. Nos anos 1940, já atuava como artista plástico, designer de objetos e arquiteto. Com a iminente derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) invadiu a Hungria, aliada dos alemães, e assumiu o controle da capital Budapeste em 13 de fevereiro de 1945.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética começou a perseguir e prender nazistas e simpatizantes até que surgiu um problema operacional. Para a manutenção de cada gulag (campo de concentração), os soviéticos precisavam de pelo menos dois mil prisioneiros. Então muitas vezes a cota não era atingida. Para alcançar a meta, o Exército Vermelho decidiu prender alemães étnicos não nazistas e húngaros nativos, de origem magyar.
“A serviço dos vencedores da Segunda Guerra Mundial, a imprensa mundial virou as costas para os fatos e concordou em divulgar apenas que o Exército Vermelho era formado por libertadores. Nos países ocupados pela União Soviética, quem ousasse dizer o contrário era punido”, garante o pesquisador e professor universitário húngaro Károly Szerencsés, doutor em história da Hungria no século XX pela Universidade Eötvös Loránd, de Budapeste.
Ao longo de anos pesquisando sobre o assunto, o historiador descobriu que a interferência econômica e a destruição patrimonial provocada pelos soviéticos custaram 40% das riquezas da Hungria. “Foi um longo período de pobreza, privação e terror. Temos uma estimativa de que entre 1945 e 1948 até 200 mil mulheres húngaras foram estupradas pelo Exército Vermelho”, revela o professor e escritor estadunidense Peter Kenez, autor do livro Hungary From The Nazis To The Soviets e doutor em história da Rússia e do Leste Europeu pela Universidade Harvard.
Em pouco tempo, a vida de Bálint Fehérkúti mudou. Ainda muito jovem, o artista foi considerado um inimigo da União Soviética. Perseguido e condenado com base em provas forjadas, o deportaram para um gulag na Sibéria por volta de 1946. “Cidadãos húngaros foram enviados a dois mil campos de prisioneiros. Do total, 64 ficavam na Sibéria. Muitos morreram antes de chegarem ao destino. O número de pessoas que jamais retornaram à Hungria ultrapassa 380 mil”, explica Szerencsés. Os gulags eram considerados colônias corretivas em que os prisioneiros eram escravizados 14 horas por dia em minas, derrubadas de árvores e projetos de construções de canais e ferrovias.
“Tinham de trabalhar sob constante ameaça de fome e execução. As árvores eram cortadas com serrotes ruins e o solo congelado era escavado com picaretas primitivas. Os homens que trabalhavam extraindo carvão ou cobre só podiam usar as mãos. Quem inalava o pó de minério com frequência, logo contraía doenças pulmonares dolorosas”, enfatiza o pesquisador e professor universitário estadunidense Roy Rosenzweig, doutor em história pela Universidade Harvard e autor do projeto Gulag: Many Days, Many Lives, considerado um dos mais ricos trabalhos de pesquisa sobre os campos de concentração da União Soviética.
Inúmeros historiadores defendem que é mais fácil uma pessoa ganhar na loteria hoje do que um prisioneiro escapar de um gulag siberiano. “Eram mal alimentados, espancados e executados por motivos diversos. A cada ano havia uma queda de 10% do total de prisioneiros. Estimamos que de 15 a 30 milhões de pessoas morreram nesses campos de concentração entre 1918 e 1956”, declara Rosenzweig.
Provavelmente, Fehérkúti vivenciou as piores experiências de sua vida em um gulag siberiano. A região tinha a fama de ter as prisões mais aterrorizantes da União Soviética. Era preciso suportar um inverno com duração de nove meses e temperatura média de 50 graus Celsius negativos, chegando a ultrapassar 60 entre os meses de dezembro e janeiro. “Os presos viajavam até lá de trem, mas havia uma época do ano em que o frio era tão intenso que os serviços de transporte eram interrompidos”, frisa Roy Rosenzweig.
Artista fugiu de um gulag na Sibéria e veio para o Brasil
Segundo o pesquisador Károly Szerencsés, aos olhos das autoridades soviéticas, a vida dos prisioneiros não tinha valor algum. “A substituição era rápida porque o sistema podia encontrar mais pessoas para reposição nos campos de trabalho”, comenta. Entre 1949 e 1950, ciente de que não continuaria vivo por muito tempo, Bálint Fehérkúti preparou um plano de fuga e decidiu se arriscar pela primeira vez, mesmo sabendo que caso fosse capturado a pena seria aumentada em pelo menos dez anos.
Supostamente, por sorte ou artifício do destino, conseguiu fugir carregando apenas uma corda. A usou para se amarrar embaixo do trem que o levou até a Sibéria como prisioneiro. Sem poder retornar para casa, vagou pela Europa e se distanciou de países ocupados pelos soviéticos até chegar a Portugal. “De lá, embarcou em um navio com destino ao Brasil. Em São Paulo, Bálint foi acolhido pela comunidade húngara”, relata frei Filomeno dos Santos.
Na capital paulista, Fehérkúti recebeu ajuda e voltou a trabalhar como artista, arquiteto e designer de objetos. Mais tarde, fez amizade com o arquiteto Eugênio Szilágyi e o engenheiro Karl Kögl, imigrantes que deixaram a Hungria no final da Segunda Guerra Mundial, fugindo das perseguições, e vieram para o Brasil.
Em 1960, a convite da Ordem dos Carmelitas, Szilágyi e Kögl aceitaram o desafio de construir em Paranavaí a Igreja São Sebastião. “A pedra fundamental foi colocada no mês de outubro. Demorou cinco anos até que pudéssemos mudar para a nova casa de Deus, projetada de forma ampla e útil”, narra o frei alemão Joaquim Knoblauch no livro “Os 25 Anos dos Carmelitas da Província Germaniae Superioris no Brasil”, escrito em 1976.
Os húngaros projetaram e construíram também o convento. Um ano após a inauguração, padres alemães da Ordem dos Carmelitas de Paranavaí conheceram o trabalho de Bálint Fehérkúti e pediram a Eugênio Szilágyi e Karl Kögl que o trouxessem a Paranavaí. O artista foi além das expectativas, tanto que criou obras para a paróquia local ao longo de cinco anos. Alberto Föerst, que conviveu com Fehérkúti por meses, registrou muitos elogios ao húngaro no livro Erinnerungen eines Brasilienmissionars.
O advogado e escritor paranavaiense Paulo Campos ainda se recorda das poucas vezes em que escalou um muro nas imediações da Igreja São Sebastião para observar Fehérkúti. “Eu era menino e muito curioso. Para mim, aquele artista foi uma figura enigmática e intrigante, ainda mais porque não sabíamos quase nada sobre ele”, confidencia Campos.
Introspectivo e praticamente ostracista, o húngaro passava a maior parte do tempo trabalhando. Raramente era visto fora da Igreja São Sebastião ou do convento. Föerst escreveu que a única fraqueza de Bálint Fehérkúti era o alcoolismo. Bebia para tentar esquecer os traumas da perseguição na Hungria e da vida desumana em um gulag. “Após o fim da Guerra [Segunda Guerra Mundial], ele teve de suportar muitas dificuldades. Isto o marcou a longo prazo”, pondera frei Alberto na obra Erinnerungen eines Brasilienmissionars.
Com o tempo, a dependência alcoólica se tornou o maior obstáculo na vida de Fehérkúti. No dia 30 de março de 1977, em São Paulo, o artista que escapou de um campo de trabalho forçado na Sibéria faleceu com apenas 53 anos em decorrência de problemas de saúde causados pelo alcoolismo.
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O arquiteto Eugênio Szilágyi e o engenheiro Karl Kögl foram os responsáveis pela construção da Embaixada da Hungria no Brasil. Situada em Brasília, foi inaugurada em 21 de agosto de 1972.
A ocupação soviética da Hungria chegou ao fim somente em junho de 1991.
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As dificuldades de ser bancário em Paranavaí nos anos 1950
Segundo Adelchi Ferrari, trabalhar em banco era uma ilusão que inebriava os jovens
Andar bem vestido – com paletó alinhado, sapatos sempre engraxados e cabelos cuidadosamente penteados, ser respeitado pela sociedade e convidado para os eventos sociais mais importantes da cidade era o que motivava muitos jovens a se tornarem bancários nos anos 1950. O perfil de pessoa considerada letrada, informada, articulada e versada em números também agradava aos mais entusiasmados.
Era um privilégio e um grande contraste em um país com uma população de mais de 50% de analfabetos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A imagem de bancário ajudava até mesmo na conquista da simpatia das moças. O status era mais atrativo do que o próprio salário oferecido pelas instituições financeiras, principalmente privadas.
“O banco era o trabalho da época, o sonho dos jovens. Você ingressava como bancário e logo era classificado como alguém da sociedade, pura ilusão. Trabalhava que nem um miserável e não ganhava bem pelo que fazia. O ordenado era ruim. Quero dizer, dava para sobreviver, mas não sobrava”, conta o ex-bancário Adelchi Benedito Ferrari que fez parte da primeira geração de bancários de Paranavaí, no Noroeste do Paraná.
Naquele tempo, o expediente começava bem cedo e terminava só à noite. Sem energia elétrica, o costume era ter sempre uma vela ou lampião ao alcance das mãos. “O rosto chegava a ficar coberto de fuligem. Trabalhei assim por 15 anos. Era normal sair meia-noite do banco. Não esqueço que fui convidado a passar o Natal com a família de um amigo e não pude ir porque tivemos que trabalhar até de madrugada”, explica Ferrari.
O ex-bancário também se recorda do episódio em que o filho do empreendedor Remo Massi chegou ao Banco Noroeste quase no final do expediente. “Rapaz, ele voltou de São Paulo com uma pasta cheia de dinheiro, daí o gerente mandou a gente depositar e refazer todo o relatório. A noite foi longa. Tinha vela e lampião por todos os lados”, destaca.
Em uma ocasião, Adelchi Ferrari confidenciou à esposa Mercedes que iria pedir demissão porque não estava mais suportando a intensa jornada de trabalho. “Tinha muita pressão. Certa vez, terminei um relatório meia-noite e apareceu um cara lá com dinheiro para pagar. Fiquei nervoso e esbravejei: ‘Não vou pagar merda nenhuma!’”, relata.
Pelo menos para os funcionários do Banco Noroeste de Paranavaí, a situação começou a melhorar nos anos 1960. Um dia, por volta das 8h, chegou ao banco um senhor de São Paulo conhecido pelo sobrenome Godoy. “Entrou, veio em minha direção, perguntou meu nome e função”, conta Adelchi.
Na tarde daquele dia, o movimento era tão intenso que havia dezenas de cavalos amarrados nas grades ao lado da entrada. Por volta das 16h, Godoy se aproximou do caixa e disse: “Pode virar o carimbo e continuar amanhã”, o que na linguagem da época significava não atender mais nenhum cliente.
Irritado com a cena, o gerente Raul Piccinin se aproximou e desafiou o homem. “Não, senhor! Sou o gerente aqui e quem manda sou eu. Vocês vão trabalhar até a hora que eu quiser!”, narra Ferrari, citando as palavras usadas pelo chefe.
Godoy então perguntou a Piccinin se ele pagava hora extra aos funcionários. Imediatamente respondeu que não. “Não? Então o que você é mesmo?”, questionou o homem. Quando Raul confirmou que era o gerente, Godoy se apresentou como auditor e disse que veio a Paranavaí justamente por saber que os funcionários estavam sendo explorados no Banco Noroeste.
Antes de retornar para São Paulo, o auditor ficou mais 15 dias em Paranavaí acompanhando a situação dos bancários. “Qualquer coisa que ele exigir, vocês podem me telefonar que eu resolvo a situação”, prometeu Godoy. Após as advertências do auditor, nenhum funcionário do Banco Noroeste recebeu ameaças ou foi obrigado a fazer hora extra. De acordo com Adelchi Ferrari, funcionários do Banco Comercial, Banco América do Sul e Bradesco também sofreram trabalhando no período da noite. “A única exceção era o Banco do Brasil”, frisa.
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O Banco Noroeste se situava onde é hoje o pátio do Banco Bradesco.
Adelchi Benedito Ferrari nasceu em 23 de fevereiro de 1930 em Promissão, interior de São Paulo.
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Periferia, sonho, funk e invisibilidade social
Ontem, na Vila Alta, na periferia de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima, o Tio Lú, preparou um almoço para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social que participam de uma oficina de artesanato em madeira. Aproveitei a oportunidade para conversar algumas horas com a garotada, já que normalmente a turma se divide no decorrer da semana.
Após o almoço, perguntei a cada um dos 15 garotos quais são seus sonhos. Eric, um garotinho de 12 anos, me respondeu com um sorriso tímido: “Ah, meu sonho mesmo é ser MC.” Então interpelei: “Sério? Que tipo de MC? Me dê um exemplo, só pra eu ter uma ideia. A resposta foi a seguinte: “Igual o MC Daleste!” Ingênuo e sonhando com um futuro melhor, Eric não sabia que o seu ídolo, MC Daleste, foi assassinado em 2013. Ficou surpreso quando contei.
Sobre o conteúdo das letras do MC, Eric disse apenas que nunca entendeu muito bem, mas que o estilo sempre o agradou pela “batida” e também porque fala de “coisas” que ele gostaria de ter um dia. Tem gente que prefere generalizar e dizer que quem gosta de funk é isso ou aquilo. Quando se conhece a realidade desses jovens, por exemplo, você percebe que a identificação com o funk tem a ver com um mundo de sonhos, a ingênua vontade do ter para poder existir. “Se eu ganhar um bom dinheiro, não serei mais humilhado”, comentou Tales, de 15 anos.
“Não tenho nada, então as pessoas não me enxergam”, disse outro garoto de 14 anos. Robson, de 12 anos, que adotou um visual de MC e descoloriu os cabelos para ficar parecido com um ídolo, explica que quando um pobre faz sucesso com funk significa que eles também têm uma chance de conseguir se destacar. O gênero também é condenado por quem vive na Vila Alta, mas lá muitos reconhecem que é sim uma forma de cultura, mesmo que famigerada, já que dita paradigmas, tendências, costumes e até mesmo linguagens.
Dos 15 garotos com quem conversei, só um me disse que acredita que um dia vai para a faculdade. Felipe, de 15 anos, que também adotou um visual de MC, gosta do estilo, mas não quer saber de virar funkeiro. Ele sonha em ser engenheiro. A maioria afirma acreditar que não vai conseguir terminar o ensino médio. “Não sei até onde vou chegar, mas aqui muitos pais falam que estudar é perda de tempo”, comenta Robson que tatuou sozinho os nomes dos pais nos braços, apesar de ter sido deixado na rua pela mãe quando tinha só três anos.
Inocência e carência
Quando eu estava indo embora, Yuri, de seis anos, e Gabriel, de oito anos, chamaram a minha atenção: “Ô tio, dá uma carona pra gente até ali em cima.” Então respondi: “Claro, podem entrar!” Yuri e Gabriel sorriram e abriram as portas do carro. Tive que estender a mão para o Yuri subir porque ele é bem pequeno. Os dois se ajeitaram no banco traseiro e começaram a rir, segurando dois pratos de plástico que levaram para participar do almoço na casa do Tio Lú.
Duas quadras depois, Gabriel falou: “É aqui, tio! A gente mora logo ali.” Os dois agradeceram, mas antes de fechar a porta, Gabriel perguntou: “Ô tio, quando é que você volta? Você vai voltar, né?” Respondi que sim e saíram rindo, balançando os pratos de plástico. O que eles queriam não era exatamente a carona, mas passear de carro, mesmo que por um minuto, e também receber mais um pouquinho de atenção antes de partirem para casa.
Quando o punk rock transforma vidas
Banda finlandesa formada por portadores de síndrome de down e autismo usa o gênero como forma de conscientização
Pertti Kurikan Nimipäivät é uma banda finlandesa de punk rock old school formada em 2009 por quatro homens com mais de 40 anos que sofrem de síndrome de down e autismo. Apesar das dificuldades e adversidades que tiveram de enfrentar para se tornarem músicos, perseveraram e lançaram em 2010 o split Ei yhteiskunta yhtä miestä kaipaa em parceria com a banda Kakka-hätä 77.
Na sequência, gravaram o single Päättäjä on pettäjä e os EPs em vinil Osaa eläimetkin pieree, de 2011, que faz parte da coletânea Punk & Pillu (da Mauski Records), e Asuntolaelämää, de 2012, ano em que lançaram também o primeiro álbum, intitulado Kuus kuppia kahvia ja yks kokis. Após a duradoura parceria com as gravadoras Airiston Punk-Levy e Hikinauhat Records, o Pertti Kurikan Nimipäivät assinou um contrato com a Sony Music e lançou no dia 13 de janeiro o single Aina mun pitää.
Distante das novas tendências do rock, o Pertti Kurikan Nimipäivät tem como principais influências alguns grupos do cenário underground que entraram para a história do punk rock finlandês há 30 anos ou mais. Exemplos são as bandas Karanteeni, Kollaa kestää, Ratsia, Sensuuri, Eppu Normaali, Ypö-Viis e Pelle Miljoona ym.
Mesmo trabalhando com uma proposta pessoal e diferenciada de conscientização sobre a síndrome de down e o autismo, a banda que usa a música como forma de manifesto só começou a ganhar boa visibilidade na Europa em 2012, quando os documentaristas Jukka Kärkkäinen, J-P Passi e Sami Jahnukainen lançaram o filme The Punk Syndrome.
Inspirado no cinema-verdade, o documentário não recorre a comentários e posicionamentos de especialistas para despertar a conscientização sobre os problemas dos integrantes. Muito menos tenciona ser um baluarte institucional ou a favor de alguma organização não-governamental. É um filme que surpreende pela simplicidade e maneira bem-humorada de destacar que a música pode ser o principal combustível motivador na vida das pessoas.
Nesse contexto, a célebre frase de Nietzsche que dizia que a vida sem música seria um erro se aplica ao gênero punk rock no universo pessoal e coletivo de Pertti Kurikka (guitarrista e compositor), Kari Aalto (vocalista e letrista), Sami Helle (baixista) e Toni Välitalo (baterista).
Ao mesmo tempo que é revelador, The Punk Syndrome consegue ser dúbio, enigmático e subjetivo. Não há explicações para muitas das situações registradas no filme justamente porque os autores preferem deixar aos espectadores à livre interpretação. No documentário, o punk rock é uma entrada e uma saída. A entrada para um mundo de liberdades e de manifestações sensoriais longe de regras e padrões. É também uma saída de um mundo de pré-conceitos, privações, limitações inconclusivas e diagnoses obtusas.
A banda cresce ao longo do filme e ganha luz numa grande projeção de entendimento e esclarecimento. Há uma gradação do princípio da obscuridade para um reencontro com a luminância. O que ratifica a ideia é o momento em que Pertti, Kari, Sami e Toni começam a se apresentar fora da Finlândia, sua terra natal.
Há que se ponderar também sobre o fato de que ainda é gritante a diferença entre como um autista ou portador de síndrome de down se vê e como nós os vemos. Talvez ainda nos falte a sensibilidade de enxergar as suas potencialidades de forma mais justa, honesta e menos piedosa.
The Punk Syndrome foi premiado na Finlândia, Suíça, Estados Unidos e Ucrânia. Recebeu elogios de revistas como Variety e Empire, além do jornal britânico The Observer. Por enquanto, a meta do Pertti Kurikan Nimipäivät é se apresentar no EuroVision, um dos maiores festivais de música da Europa. A banda disputa uma das vagas com outros 17 classificados.
Conheça o som da banda:
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Zelo aos animais
Ao lado da sede administrativa do Cemitério Municipal de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, é fácil encontrar pela manhã inúmeros pratinhos com ração. Todos os dias, o administrador Amilcar Pereira dos Santos alimenta dezenas de gatos. Alguns moram no local, outros apenas aproveitam a tranquilidade do ambiente.