Uma pequena história sobre avareza
O artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima, da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, vai viajar hoje para Campinas, em São Paulo, e só retorna na semana que vem, então passei lá no período da manhã para conversar um pouco com ele. De repente, chegou um homem em uma moto, a quem chamo de Gaúcho. Começou a relatar experiências envolvendo pessoas mesquinhas. Contou que um dia o patrão o chamou até o escritório para ajudar a contar algumas centenas de milhares de reais que seriam usados na compra de uma fazenda.
“Olha, estou chamando você porque não confio em nenhum dos meus filhos”, justificou o sujeito que não permitia que mulheres sentassem à mesa com ele. Em seguida, o homem pediu que Gaúcho fosse até a padaria comprar três pães, mesmo ciente de que havia mais de três pessoas na casa. “Traga só três. Um pra mim, um pra minha mulher e outro pra empregada”, advertiu. Assim que Gaúcho voltou, o patrão brigou com ele porque faltou R$ 0,25, o obrigando a retornar até a padaria para buscar a ninharia.
Dias depois, num final de tarde, quando alguns empregados estavam na lida com o gado, inclusive sem almoço, o patrão mandou entregar uma garrafa pet de guaraná quente – dos mais baratos, mortadela quente e alguns pães velhos. Constrangido diante da situação, Gaúcho não teve coragem de alimentar os trabalhadores com aquele lanche. Ligou para um açougue, comprou carne e preparou um churrasco para recompensar os peões.
Multimilionário, o sujeito avarento, que já esteve entre os mais ricos que viveu em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, anos atrás foi até a casa de Luiz Carlos e encomendou cabos de faca personalizados e uma boa quantidade de carros de boi. Apesar da difícil situação financeira do artista plástico na época, o homem não se sensibilizou em momento algum. Reclamou tanto que Prates de Lima acabou vendendo as peças por um preço especial.
Mais tarde, Luiz Carlos ficou sabendo que o homem comprou as peças para revender, lucrando até cinco vezes mais. Esses dias, completou um ano que o tal sujeito faleceu. Quando estava internado em um hospital, recebeu a visita de um homem de quem foi amigo há muitas décadas, porém se desentenderam por causa de dinheiro. Rancoroso, antes do último suspiro, disse o seguinte: “Suma daqui! Tirem esse filho da puta da minha frente!” Sem dúvida, morreu extremamente rico, mas incapaz de usufruir de sua fortuna e de reencontrar a própria humanidade perdida em algum ponto da vida.