Manoel de Oliveira, 83 anos dedicados ao cinema
O cineasta português lançou o primeiro filme em 1931 e o último em 2014
Falecido aos 106 anos, o cineasta português Manoel de Oliveira não teve tempo de produzir seus próximos três filmes – “A Igreja do Diabo”, “A Ronda da Noite” e uma obra sem nome sobre o papel das mulheres no cultivo das videiras portuguesas. O seu último trabalho que assisti foi “O Velho do Restelo”, um média-metragem lançado em 2014 sobre um hipotético encontro de Camões, criador do personagem que empresta nome ao filme, Dom Quixote de La Mancha, Pascoaes e Castelo Branco. Em síntese, uma viagem por reflexões sobre o passado, presente e futuro.
Foram 83 anos trabalhando como cineasta. Passeava por gêneros, tanto que nem mesmo a idade avançada o impedia de se lançar no cinema como um aventureiro redescobrindo a sétima arte em tempos de cinema digital. Gostava muito de trabalhar com atores como Miguel Cintra, Diogo Dória e Leonor Silveira. Ao mesmo tempo, intrigou e atraiu estrangeiros de renome internacional como Marcello Mastroianni, John Malkovich, Catherine Deneuve e muitos outros artistas que surpreendeu pela versatilidade e amor ao que fazia, independente de imposições e limitações.
Oliveira, que nasceu em 11 de dezembro de 1908 e faleceu em 2 de abril de 2015, sempre me intrigou por ser menos conservador do que cineastas com menos da metade de sua idade e não mais do que 1/5 de sua longeva experiência profissional. Impossível e injusto listar as suas melhores obras, assim como é inadequado dissociá-las de sua própria natureza.
O cinema português, e não somente ele, não seria o que é hoje se não fosse Manoel de Oliveira, um artista livre de amarras que passeava por formatos e se dedicou a fazer com que refletíssemos sobre as nossas incertezas e a nossa condição humana, mesmo quando estas pareçam perpetuadas por décadas e séculos.