Escritores carregam um mundo sem fronteiras
Não é incomum eu me deparar com pessoas criticando quem lê mais literatura estrangeira do que brasileira. Até entendo que é uma forma de valorizar autores brasileiros, mas por outro lado há sempre um discurso desconcertado da realidade. Penso, por questões até óbvias, que a literatura brasileira não se fez sozinha. Machado de Assis era fã do romancista espanhol Miguel de Cervantes, assim como Augusto dos Anjos reconheceu o princípio da própria identidade poética no simbolismo francês de Baudelaire e Rimbaud – dois nomes que inclusive estão entre os mais influentes da poesia brasileira desde o século 19.
Leiam “São Bernardo”, de Graciliano Ramos, e percebam quantas referências podem ser encontradas à “Eugenia Grandet”, do francês Honoré de Balzac, que curiosamente também foi um dos escritores estrangeiros que mais influenciou a literatura russa, mas principalmente Dostoiévski. Literatura é um exercício de hibridismo e a partir dele reconhecemos ou não as influências do autor, de acordo com nossa bagagem cultural. Acredito que os bons escritores carregam um mundo sem fronteiras geográficas. Ele é cosmopolita mesmo quando não quer ser.
E, claro, a literatura brasileira contemporânea é essencial como meio de compreensão da nossa realidade. Aí não há como discordar, porém, na minha opinião, não é irrelevante conhecer os clássicos estrangeiros, mesmo depois de tanto tempo, e não apenas para entender a nossa literatura da atualidade, mas o mundo, a humanidade e sua relação com a vida. Ademais, acredito que seja sempre imprescindível evitar o ufanismo para não cairmos em contradição. Independente de origem, o mais importante são as dúvidas e as reflexões que um livro consegue despertar.
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