Archive for November, 2016
A vaca e o bezerro
Na estrada, vi um bezerro brincando com uma vaca perto da mangueira. Desci do carro e observei os dois por alguns minutos. A forma como aquele animal observava com satisfação o seu filhote, em nada difere da ternura com que uma mãe humana observa o seu filho. E o bezerro, feliz em contato com a mãe, tentava dar pulinhos intervalados.
Uma manhã com Frei Jerônimo
Fiquei muito feliz de conhecer o alemão George Karl Brodka (Frei Jerônimo), que sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e à dominação soviética. A conversa rendeu algumas horas e agora já penso em transformar isso não apenas em uma reportagem, mas algo muito maior. Inclusive me comprometi em retornar mais vezes. Logo abaixo, segue uma prévia do bate-papo com Frei Jerônimo que vive no Seminário Imaculada Conceição desde o início da década de 1960. (Na foto, ele está segurando o primeiro dicionário de alemão/português que comprou antes de se mudar para o Brasil)
Suas impressões da Segunda Guerra Mundial são narradas sob a ótica de uma criança, já que na época ele não tinha mais que dez anos. Brodka se emociona ao contar que seu pai, assim como muitos outros alemães, entraram para o exército porque suas famílias estavam passando fome, e era o único tipo de trabalho disponível na Alemanha nazista. “Participei de um encontro de oficiais da Alemanha na década de 1950, e meu pai chorou ao dizer que nunca matou ninguém e jamais deu alguma ordem de assassinato.”
Brodka diz se envergonhar e não entender como na infância ele e muitas outras crianças tiveram coragem de andar sobre os cadáveres dos soldados mortos, retirando distintivos para compor suas coleções. Crente de que o filho de 14 anos não teria futuro na Alemanha Oriental, o pai de George Karl forjou documentos para que ele pudesse atravessar a fronteira. “Tive que percorrer uma grande selva, e depois acabei preso. Fui preso duas vezes na minha vida”, narra.
Outro relato surpreendente é o do dia em que os tchecos amarraram sua mãe com uma corda no capô de um jipe e percorreram toda a cidade fazendo piadas e a exibindo como um troféu. “Eles também nos obrigavam a comer borra de café e depois faziam piadas dos nossos dentes pretos. Eles odiavam os alemães”, declara. Seu tio, um pregador, foi capturado pelos poloneses e enforcado em uma árvore diante de uma plateia porque transportava uma bíblia. “Em algumas regiões a circulação da bíblia era proibida”, enfatiza.
Brodka conta que pelo fato de ter vivido muitos anos na Alemanha Oriental, quando ele decidiu se tornar carmelita sofreu muito preconceito. “Na Alemanha Ocidental, na própria Ordem do Carmo, não me chamavam pelo nome, mas apenas de comunista. Até mesmo quando cheguei em Paranavaí, e os outros padres ficavam sabendo que vivi na Alemanha Oriental, sempre se referiam a mim como ‘o comunista’. Era muito triste”, lamenta.
Algumas frases ditas por Frei Jerônimo e que ainda continuam ecoando na minha mente:
“Um dia, na Alemanha, um Bernardino, um cachorro que ajuda a encontrar pessoas perdidas nas montanhas, escapou do seu tutor e correu em minha direção. Quando ele se aproximou de mim, coloquei as mãos nas costas, abaixei a cabeça e conversei com ele. Depois veio o tutor dele correndo e disse que o cachorro era bravo. Eu falei que não, que ele não era bravo. Então olhei pro cachorro e expliquei: ‘Não vou bater em você e você não vai me morder.” O homem achou que eu estava louco: ‘Como?’ Expliquei que falei com o cachorro e ele entendeu. Sempre me entendi muito bem com cachorros.”
“Não gosto de gente que bate em cachorro. Não gosto de gente que não aceita cachorro. Dá pra desconfiar de gente assim…”
“Uma coisa que acho estranha em brasileiro é que brasileiro gosta de dizer que é descendente de italiano, alemão, português…que é descendente disso ou daquilo. Por que não apenas gostar de ser brasileiro?”
Frei Jerônimo é o fundador do Grupo Escoteiro Guy de Larigaudie, de Paranavaí, que este ano completou 50 anos.
Um exemplo a ser seguido
Esta semana, eu e minha mãe visitamos a horta orgânica do senhor Gabriel Esperidião Yousseff. Mesmo com alguns problemas de saúde, ele segue labutando e investindo no seu sonho de ver a horta crescer. Muito legal ver que ainda há pessoas que priorizam a qualidade em vez da quantidade. Gabriel é um exemplo de pessoa que não se deixa abater pelas próprias limitações.
Élisée Reclus :“Não é um equívoco relacionar os horrores da guerra com o massacre do gado”
“A porca chorava sem cessar, e de vez em quando soltava gemidos tão desesperadores que parecia simular a fala humana”
Considerado um dos maiores geógrafos do século 19, o francês Élisée Reclus é o autor da obra-prima “Nova Geografia Universal: a Terra e os Homens”. Composto em 19 volumes, o trabalho exigiu quase 20 anos de dedicação. Embora sua principal contribuição tenha sido na área da geopolítica, Reclus foi um ativista vegetariano que em 1901 publicou “À propos du végétarisme”, um ensaio impactante sobre o vegetarianismo e os direitos animais.
Modesto, Élisée Reclus diz que escreveu o ensaio para transmitir suas impressões pessoais que, de algum modo, coincidem com a de muitos vegetarianos. “Me moverei dentro do círculo de minhas próprias experiências, parando aqui e ali para fazer alguma observação sugerida pelos pequenos incidentes da vida”, informa.
Quando o francês ainda era um garotinho, ele foi enviado para buscar um pedaço de carne no açougue da aldeia. Com toda sua inocência, procurou alegremente fazer o que lhe pediram. “Entrei no pátio onde estavam os matadouros. Ainda me recordo desse lúgubre quintal onde homens assustadores andavam de um lado para o outro com grandes facas. Eles enxugavam o sangue em suas próprias blusas. Pendurada sob um alpendre, uma enorme carcaça me parecia ocupar um espaço extraordinário. De sua carne branca, um líquido avermelhado escorria pelas sarjetas”, conta.
Tremendo, Reclus notou que o pátio estava repleto de sangue. Se viu incapaz de seguir adiante ou de fugir. Mais tarde, soube apenas que desmaiou e um açougueiro o levou até sua casa. O francês narra que ele não pesava mais do que um dos cordeiros que o homem abatia todas as manhãs. As cenas vividas no matadouro jamais foram esquecidas, assim como as lembranças dos porcos criados pelos camponeses que atuavam como açougueiros amadores. Segundo Reclus, eles conseguiam ser mais cruéis que os açougueiros profissionais. “Lembro-me de um deles sangrando o animal lentamente, de modo que o sangue escorria gota a gota, pois para fazer pudins negros, eles dizem que é preciso que o animal tenha sofrido bastante. A porca chorava sem cessar, e de vez em quando soltava gemidos tão desesperadores que parecia simular a fala humana. Era como ouvir uma criança”, relata.
Élisée Reclus não conseguia evitar de enxergar o ser humano como um animal traiçoeiro na sua relação com os animais. Cita como exemplo os porcos criados como membros de família por um ano ou um pouco mais antes de serem enviados para o abate. “Mimado, ele cresce gordo e retribui com afeição sincera todo o cuidado dispensado a ele. Mal sabe que sua criação tem apenas um objetivo – muitos centímetros de tiras de bacon.[…] Quando o afeto é retribuído pela boa mulher que cuida do porco, acariciando-o, e conversando carinhosamente com ele, ela é considerada ridícula, como se fosse absurdo e até degradante amarmos um animal que nos ama”, reclama.
O francês dizia que não era necessário ir longe para contemplar os horrores dos massacres que constituem a diária alimentação humana. Segundo o geógrafo vegetariano, especialmente quem viveu em cidades provincianas, teve a oportunidade de ver esses atos bárbaros cometidos em nome do consumo de carne. Se a princípio são imagens que chocam na tenra idade, com o tempo tal sentimento desaparece. As pessoas cedem diante da infeliz influência da educação diária, que tende a conduzir o indivíduo a reconhecer como normal algo que não deveria ser.
“Isso tira tudo o que se destina à formação de uma personalidade original. Os pais, professores, oficiais, médicos, amigos, para não falar do poderoso indivíduo que chamamos de ‘todos’, trabalham juntos para endurecer o caráter da criança com respeito a este alimento de quatro patas que, no entanto, ama como nós, sente como nós e, sob nossa influência, progride ou regride como nós”, defende.
Os animais reduzidos à carne estão tão distantes de sua vocação natural que muitos deles talvez nem se reconheçam como parte genuína de uma espécie. Para corroborar essa reflexão, Reclus faz referência ao bovinos que, com muitas dificuldades de locomoção, habitam os pastos do mundo: “Eles foram transformados pelos criadores de gado em massas ambulantes de formas geométricas, como se projetados de antemão para a faca do açougueiro. É para a produção de tais ‘monstruosidades’ que aplicamos o termo ‘reprodução’. É assim que o homem cumpre a sua missão como educador, em relação aos seus irmãos, os animais.”
Observando e estudando o comportamento animal, o geógrafo francês chegou à conclusão de que para a manutenção do nosso hábito de comer carne, até mesmo a inteligência animal é visceralmente degradada. É inevitável por causa do estilo de vida antinatural imposto a eles. Ademais, Reclus via uma grande contradição estética nos açougues. Em tempos de festas, era comum se deparar com carcaças desarticuladas e pedaços de carne decorados com guirlandas rosas.
“Não é um equívoco relacionar os horrores da guerra com o massacre do gado e os banquetes de carne. A dieta dos indivíduos corresponde precisamente às suas maneiras. O sangue exige sangue”, declara Élisée Reclus, referindo-se à ferocidade humana e a irreflexão na hora de suplantar o inimigo. Traçando um paralelo, ele faz menção ao fato de que na guerra é muito comum os feridos serem mortos e os prisioneiros serem obrigados a cavarem suas próprias sepulturas antes de serem alvejados a tiros.
“Quem são esses espantosos assassinos? São homens como nós, que estudam e leem como nós, que têm irmãos, amigos, esposa ou namorada. Mais cedo ou mais tarde, corremos o risco de encontrá-los, de tomá-los pela mão sem ver nenhum vestígio de sangue nela. Mas não há alguma relação direta de causa e efeito entre os alimentos desses carrascos que se chamam de agentes da civilização?”, questiona.
Valendo-se de suas pesquisas, o geógrafo vegetariano argumenta que aqueles que incentivavam as guerras tinham o hábito de elogiar a carne que sangra, a considerando geradora de saúde, força e inteligência. Essas mesmas pessoas entravam nos matadouros, onde o pavimento era sempre vermelho e escorregadio, sem sentir qualquer repugnância. Lá, respiravam o doentio e doce odor do sangue.
“Existe então tanta diferença entre o cadáver de um novilho e o cadáver de um homem? Os membros amputados, as entranhas que se misturam umas às outras, são muito parecidos. A matança do primeiro facilita o assassinato do segundo, especialmente quando a ordem de um líder soa, de longe, como as palavras de um mestre coroado: ‘Seja impiedoso!’”, enfatiza Reclus.
No ensaio “À propos du végétarisme”, quando discorre sobre a violência nas guerras, o geógrafo compara o racismo com o especismo. Usa como referência as invasões ocidentais no oriente, principalmente na Ásia, onde a vida de um oriental não tinha o mesmo valor que a vida de um homem branco, na perspectiva predominantemente europeia. “Não é nossa moralidade, como aplicada aos animais, igualmente elástica? Ouvir cães rasgando uma raposa ensina ao cavalheiro como fazer seus homens perseguirem um fugitivo chinês. Os dois tipos de caça pertencem a um mesmo ‘esporte’”, lamenta.
Saiba Mais
Élisée Reclus nasceu em 15 de março de 1830 em Sante-Foy-la-Grande, no Departamento de Gironde, e faleceu em Torhout, na Bélgica, em 4 de julho de 1905 em decorrência de uma doença cardiovascular.
Referências
Reclus, Elisée. À propos du végétarisme (1901). Mazeto Square (2016).
Cornuault, Joël. Élisée Reclus, géographe et poète. Eglise-Neuve d’Issac (1995).
Chisholm, Hugh. Reclus, Jean Jacques Elisée. Encyclopædia Britannica. Cambridge University Press (1911).
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O menino que matava porcos
Quando eu tinha oito anos, viajamos para Batayporã, no Mato Grosso do Sul. Lá, conheci outros familiares do meu avô. Mas naquela viagem só uma pessoa me chamou a atenção – um primo de terceiro grau. Ele tinha sete anos e olhos avermelhados.
Na fazenda, o vi de longe, expulsando alguns animais que circulavam pela casa principal. Me falaram que ele matava porcos desde os cinco anos, e que gostava de eviscerá-los com um punhal resguardado por gerações. “Mato mesmo!”, confirmou o menino rindo e ouvindo o comentário do sobrinho do meu avô.
Caminhando pela fazenda, eu evitava ficar sozinho, e sempre olhava ao meu redor, na tentativa de saber se o menino de olhos avermelhados estava por perto. Criança, eu nunca tinha visto ou ouvido falar de alguém que tivesse matado um porco.
Com o cair da tarde, e o sol despontando baixo e avermelhado no horizonte, assim como os olhos do menino, fiquei sabendo que meus pais pretendiam passar a noite na fazenda. Me aproximei de minha mãe e a questionei, garantindo a nossa partida: “Não quero dormir aqui. Se esse menino mata porco, um bicho que não fez nada pra ele, quem garante que ele não é capaz de fazer o mesmo comigo de madrugada?”
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Há coisas na vida que independem de conhecimento
Às vezes, me pergunto de que adianta alguém ter tanto conhecimento e ao mesmo tempo ser raso em sensibilidade. Posso estar equivocado, mas não vejo vantagem em ter tanta cultura e ao mesmo tempo não ter a sensibilidade de mergulhar na essência humana, na essência das coisas. Soa inócuo demais, como uma forma infinita de incompletude. Há coisas na vida que independem de conhecimento, mas sim de sensações, emoções.
Quando Antunes Filho chocou o Brasil
Antunes Filho chocou o Brasil em 1969 quando deu ao ator Zózimo Bulbul um grande papel no filme “Compasso de Espera”. Na obra, Zózimo beija uma mulher branca. Aquela foi a primeira vez que os brasileiros viram um homem negro beijando uma mulher branca em um filme nacional. A obra gerou tanta comoção que descortinou a propaganda do Brasil como um país onde supostamente se vivia a democracia racial.
O encontro
Lembro da primeira vez que conheci uma criança cega. Foi em frente à igreja. Ela tinha a minha idade, não mais que seis anos. Ficamos os dois nos observando. Eu com meus olhos, ela com suas mãos cheirando à hortelã colhida na horta da paróquia.
Respondendo perguntas sobre veganismo
Me perguntaram qual seria a melhor forma de reverter a exaltação ao consumo de alimentos de origem animal na atualidade. Qual a melhor estratégia para ajudar os animais?
É importante se aprofundar cada vez mais nessas questões, até porque acho importantíssimo ampliar sempre as possibilidades de argumentação. Mas, a princípio, acredito que o primeiro passo, sem dúvida alguma, é a conscientização. Mostrar para as pessoas que elas não dependem da exploração animal, que isso é um fator cultural, não essencial.
Talvez pareça “essencial” hoje para muita gente porque elas não levam em conta que os animais sempre foram vistos como matérias-primas de alta disponibilidade, logo eles são explorados porque a indústria deu a entender que sem esse tipo de exploração a vida como conhecemos hoje não seria possível. Mas isso é um grande engano. Exploramos os animais por comodismo e facilidades; porque quando começamos a reduzi-los à comida, o ser humano percebeu que seria ainda mais rentável aproveitar mais do que sua carne.
“Se já fazemos comida com os animais, se eles vão morrer de qualquer jeito, por que não usar inclusive os cascos e os chifres?”, alguém pensou, e assim a vida animal acabou sendo ainda mais desvalorizada do que já era antes da Revolução Industrial. Todos esses produtos criados a partir de animais como fonte de matéria-prima existem basicamente porque a indústria viu nisso um negócio altamente lucrativo, de baixo custo.
A maior prova disso é o processo de fabricação de artigos de couro. Uma peça de couro cru de pouco mais de um metro pode custar menos de R$ 50 no varejo hoje em dia. Esse é o valor da pele de um animal que um dia respirou, assim como eu e você. Com essa peça, não é difícil obter um lucro de 1000% dependendo do produto a ser feito.
Acredito que a reflexão sobre a questão animalista deve ser estimulada não apenas de forma passional, mas com argumentos, mostrando as falhas desse sistema e suas consequências. A conscientização, mais do que nunca, precisa estar acompanhada de pesquisas que apresentam alternativas para suprir as lacunas que devem ser deixadas pela indústria, até para realocação de recursos, empregabilidade, entre outras consequências que poderiam gerar crises econômicas.
Além disso, o aprofundamento é uma boa forma de rebater falsos argumentos disseminados por uma indústria que não poupa esforços, que patrocina a produção de muitos artigos acadêmicos com finalidades escusas, assim ampliando o escopo de desinformação. Sem dúvida, na atualidade muita gente depende do sistema de exploração animal, e claro que porque isso não se firmou agora.
Estamos falando de um sistema que começou a se desenvolver exponencialmente e nos moldes industriais no período da Revolução Industrial, ou seja, desde o século 18. É muito tempo incutindo na mente das pessoas uma quantidade absurda de falsas necessidades. Infelizmente, é um fator negativamente cultural, reforçado por meio de propaganda. E os meios de comunicação, como vetores, têm grande parcela de culpa nisso.
Creio que hoje a missão mais importante seja fazer o caminho reverso da indústria de exploração animal. As transformações, as mudanças, devem acontecer dia a dia. Por enquanto, é imprescindível a contínua disseminação de informações que induzem à discussão, à reflexão, à produção de soluções e de provas de que o abolicionismo animal busca e prevê o melhor futuro para a humanidade e os animais.
Também acho importante mostrar que os vegetarianos e veganos nunca estiveram sozinhos. A história do vegetarianismo e do veganismo precisa ser contada sempre, para mostrar que não se trata de uma tendência. Sempre tivemos bons representantes dos direitos animais e do vegetarianismo, e, desde 1944, do veganismo. Essa preocupação sempre existiu, ao contrário do que muitas vezes é veiculado de forma equivocada pelos meios de comunicação. Em síntese, quanto mais informação e mais pesquisa, melhor.
Super Interessante e a abordagem inverídica do vegetarianismo
Li uma matéria relativamente antiga da Super Interessante. Eu não sabia que eles já tinham publicado textos tendenciosos sobre vegetarianismo. Talvez porque eu não seja muito fã de revistas.
A matéria se chama “Fôssemos vegetarianos?” E a linha fina surpreende pela abordagem tendenciosa e inverídica: “Se fôssemos vegetarianos, nossos ancestrais não teriam evoluído para seres humanos e até mesmo o mapa do Brasil mudaria.” A jornalista faz a afirmação acima baseada em inconsistências e “argumentos” facilmente contestáveis, já que não há dados históricos que corroboram isso, até porque eles não existem.
Quero dizer, eles não existem como fatos, mas tão somente como inferências controversas. Achei válida a leitura, mas no texto não há fontes das informações mais importantes. Me parece relativamente superficial e até mesmo confuso, já que a autora acabou embaralhando as informações. Ademais, o final, assim como o início, ficou extremamente tendencioso:
“O fato é que, para abandonar a carne, precisaríamos saber mais sobre nutrição, porque viver sem bife exige cuidados, sob o risco de ficar anêmico. E teríamos que reeducar o paladar, porque muita gente não vive sem feijoada, moqueca ou churrasco.”
A jornalista diz isso baseado em quais estudos? Me parece simplesmente a opinião dela, sustentada naquilo que ela gosta e no que faria falta a ela. Generalizar isso é um grande equívoco. Tem pratos que ela citou que eu não comia nem antes de ser vegetariano, logo como ela pode chamar de essencial? A autora também teve a oportunidade de discutir sobre o assunto com um nutricionista vegetariano, mas não o fez, relegando a participação dele à curta figuração.
Ou seja, mais desinformação e mais desserviço. Em síntese me pareceu uma matéria patrocinada, a julgar por uma estratégia muito comum no jornalismo que é a de terminar um texto da forma como ele começa, assim fazendo com que o leitor fixe em sua memória exatamente as informações pretendidas.
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