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Em respeito à memória de parentes falecidos

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Minha bisavô Maria, meu tio-avô Lula, meu tio-avô João e a manilha (Fotos: David Arioch)

Em respeito à memória de parentes falecidos em 1962 e 1970, desde criança vou ao cemitério de Alto Paraná no Dia de Finados. É um costume sem conotação religiosa. Meus familiares, parte deles imigrantes, se mudaram para esta região na década de 1940, quando o Novo Norte do Paraná ainda estava em processo de colonização.

Embora eu não tenha nascido nem vivido em Alto Paraná, reconheço que é um lugar rico em histórias. O caminho até o cemitério é muito intrigante. Há casas de sítios e fazendas que foram abandonadas há muito tempo, mais tarde consideradas assombradas. Também há lugarejos, antes colônias, envoltos por narrativas insólitas, como a de um rapaz que dormiu por anos e a de famílias de mulheres que expulsavam invasores a tiros.

O cemitério de Alto Paraná é um dos mais antigos da região Noroeste do Paraná. Quando vou lá, visito primeiro o túmulo da minha bisavó, que fica logo na entrada. Depois, vou ao túmulo do meu tio-avô Renato, que tinha apelido de Sete Metros e Lula. Ele era policial e foi assassinado em Curitiba em 1970, aos 31 anos. Sua história também faz parte do meu livro “Areia Branca”.
O terceiro a ser visitado normalmente é o tio João, que cometeu suicídio aos 25 anos, em 1962. Quando ele faleceu, meu bisavô construiu um túmulo e colocou uma manilha. Pediu que quebrassem o topo dela, a deixando disforme, simbolizando a quebra do ciclo da vida, já que meu tio-avô tirou a própria vida na mocidade. Depois de perder dois filhos ainda jovens, minha bisavó parou de se alimentar, acabou por adoecer e faleceu em 1970.

Written by David Arioch

November 2nd, 2016 at 3:17 pm

One Response to 'Em respeito à memória de parentes falecidos'

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  1. Infelizmente nao te vi la. O cemiterio é longe e gera um pouco de receio ir la. Nao pelos mortos, mas pelos vivos. Mas ainda preciso voltar e passarei por estes tumulos. Tentando entender o significado da vida. E decepçao por ver que tem pessoas que fizeram tanto pelos filhos e a memoria delas é praticamente esquecida por eles.

    Ricardo Ferreira

    4 Nov 16 at 2:52 am

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