“Tu é do Estado Islâmico, né não?”
Enquanto eu conversava com um amigo em frente à sua casa na Vila Alta, um rapaz embriagado se aproximou e ficou me olhando atentamente, sem dizer palavra. Ele passou duas vezes por mim, ensaiou falar alguma coisa, desistiu e caminhou até a esquina. Na terceira vez, estufou o peito e retornou cambaleante. Subiu na calçada, inclinou o corpo de um lado para o outro e falou em tom baixo, como se quisesse confidenciar algo muito sério:
“Aqui na Vila já vi gente do PCC, TCP, Comando Vermelho e Yakuza, mas do Estado Islâmico é a primeira vez. Tu é do Estado Islâmico, né não? Tu veio recrutar alguém? Como faço pra participar da Jihad? O senhor pode me ensinar a fazer bomba? Quero uma coisa leve, só pra assustar a sogra que não me deixa em paz com a birita.” Respondi que não, mas me segurei para não rir, até para não decepcioná-lo. E o rapaz continuou:
“Já sei! É segredo! Não pode falar disso assim. Você já degolou alguém? Tem quantas mulheres? Aposto que cê tem um harém. Já matou quantos? É fácil andar de camelo? Gosto de calor, kibe, tempestade de areia. Alguma chance de me levar pra Síria? Iraque? Aqui tá muito parado. Me ajude, meu senhor! Mas e a bomba? Vai me ensinar mesmo? E flor de papoula, cê pode me arrumar um pouco?” Reconhecendo uma oportunidade, eu disse que poderia ajudá-lo, desde que ele abandonasse a bebida. Fiquei sabendo que faz 21 dias que Galego não bebe.
Republicou isso em shitaragahara.
shitaragahara
11 Jan 17 at 10:59 am