David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for January, 2017

Tim McIlrath: “Foi como se eu não tivesse mais estômago para isso [comer carne]”

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“Eu era um cara do tipo: ‘Foda-se isso. Nunca vou parar de comer carne.”

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McIlrath teve um choque de realidade ao receber informações sobre a exploração de animais (Foto: Reprodução)

O vocalista e guitarrista da banda estadunidense de hardcore melódico Rise Against, Tim McIlrath, contrariando todas as possibilidades, já que ele se via como alguém que jamais abandonaria o consumo de carne, tornou-se vegetariano. Isto porque acidentalmente McIlrath teve um choque de realidade ao receber informações sobre a exploração de animais na indústria alimentícia.

Em entrevista a Big D, do zine The Black & Blue Press, ele contou que aos 17 anos saiu para comprar um CD e uma camiseta quando alguém colocou um panfleto sobre a exploração de animais em seu bolso. À época, ele não via o vegetarianismo com bons olhos, mas ainda assim teve uma reação inesperada.

”Eu era um cara do tipo: ‘Foda-se isso. Nunca vou parar de comer carne.’ Esse panfleto ficou no meu bolso por dias. Até que um dia, enquanto eu esperava o ônibus, senti algo no bolso e pensei: ‘O que é essa porcaria?’ Então comecei a ler e de repente: ‘Puta merda!’ […] Foi como se eu não tivesse mais estômago para isso. Era como colocar um garfo na minha boca e eu ficar: “Aaaaah, não posso comer isso mais’ Então me tornei vegetariano e nunca mais olhei para trás”, relatou em entrevista a Big D em outubro de 2006.

O panfleto que fez McIlrath abandonar o consumo de carne foi criado pela organização Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (Peta). Segundo o músico, clipes como “Meat is Murder”, do The Smiths, e bandas como Earth Crisis e Snapcase fortaleceram ainda mais a sua decisão, assim como vídeos da realidade dos matadouros e livros sobre como os animais não humanos são tratados pela indústria alimentícia.

Em entrevista ao expert em punk rock Ryan Cooper, do portal About.com, o vocalista da banda Rise Against citou a baixa qualidade dos produtos de origem animal e qualificou como nojento o sistema de produção de carnes e laticínios. “Não tive mais estômago e condição física para seguir adiante. […] Agora me sinto responsável em passar isso para as próximas gerações, assim como outras bandas fizeram antes”, disse a Cooper. Tim McIlrath realiza campanhas voluntárias para a Peta, visando incentivar principalmente os jovens a aderirem ao vegetarianismo ou ao veganismo.

Referências

http://punkmusic.about.com/od/interviews/a/McIlrath.htm

http://theblackandbluepress.blogspot.com.br/2006/10/interview-rise-against-tim-mcilrath-joe.html

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Fatalismo x Veganismo

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Arte: Sue Coe

O fatalismo é um dos obstáculos do veganismo, porque a partir dele surge uma consciência obtusa ou de conveniência em que se acredita ou finge acreditar que é preferível não fazer nada do que fazer alguma coisa, atribuindo ao destino comum a morte dos seres vivos não humanos. Ou seja, se considero impossível salvar todos os animais, então não vou fazer nada. Afinal, finjo acreditar que eles vão morrer de qualquer jeito. Imagino o que seria das outras formas de escravidão se os abolicionistas tivessem sido fatalistas.





Written by David Arioch

January 29th, 2017 at 7:47 pm

A exploração animal na arte barroca de Rembrandt

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Obra de Rembrandt chocou os espectadores em 1655

Em 1655, o holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn, ou simplesmente Rembrandt, um dos maiores pintores europeus de todos os tempos, pintou o quadro “Boi Abatido”. A obra-prima apresenta um grande pedaço de carne pendurado em uma construção de madeira em um quarto sombrio que funciona como matadouro.

O boi foi esfolado e aparece decapitado, sem órgãos e cascos, simplesmente um oco cadavérico. A carcaça é iluminada por uma fonte de luz que não pode ser identificada pelo espectador. Na porta, há uma mulher com um chapéu branco, e ela parece observar tanto o boi morto quanto o espectador.

Para transmitir a aspereza e a contumácia da situação, Rembrandt pintou a obra com traços espessos, garantindo mais realismo à pintura, e talvez fazendo uma referência à brutalidade do açougueiro.

“Boi Abatido” é um exemplo da genialidade do pintor barroco que, com uma porção de traços grossos, conseguiu chocar os espectadores no século 17 ao registrar uma situação tão funesta e ao mesmo tempo recorrente, não somente naquele tempo como na atualidade, já que sua obra até hoje gera repercussão e controvérsias.

A atmosfera sepulcral, que transmite pesar e ao mesmo tempo frieza, assim como a distribuição de cores que fazem referência aos vestígios de sangue ainda fresco do animal, deixa evidente que ali não há nada mais importante do que a carcaça de um ser que horas antes respirava.

Saiba Mais

A obra de Rembrandt está em exposição no Museu do Louvre, instalado no Palácio do Louvre, em Paris.

Written by David Arioch

January 29th, 2017 at 12:26 am

A mão que acaricia e envia para a morte

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Ao longo dos anos, algumas vezes testemunhei pecuaristas acariciando a cabeça do gado, posando para fotografias que estampariam matérias publicadas em jornais. Dóceis, os animais mantinham-se em silêncio, acatando todas as ordens. Esses mesmos animais que receberam afagos de seus “donos”, mais tarde foram enviados para os matadouros. Eu jamais seria capaz de acariciar um animal e depois enviá-lo para a morte. Não consigo associar isso a algo que não seja traição. Este é o mundo em que vivemos, e normal é aquele que vê beleza nesse tipo de foto no jornal.

Written by David Arioch

January 28th, 2017 at 8:39 pm

Jorge Luis Borges: “Comecei a perder a vista desde o momento em que comecei a enxergar”

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Borges: “Uma das primeiras cores que se perde é o negro” (Foto: Reprodução)

Em 1985, durante o programa Conexão Internacional, da TV Manchete, Roberto D’Ávila questionou o escritor argentino Jorge Luis Borges sobre a sua experiência com a cegueira. Então ele respondeu o seguinte:

“Uma das primeiras cores que se perde é o negro. Perde-se a escuridão e o vermelho também. Vivo no centro de uma indefinida neblina luminosa. Mas não estou nunca na escuridão. Neste momento esta neblina não sei se é azulada, acinzentada ou rosada, mas luminosa.

Tive que me acostumar com isto. Fecho os olhos e estou rodeado de luz, mas sem formas. Vejo luzes. Por exemplo, naquela direção, onde está a janela, há uma luz, vejo minha mão. Vejo movimento, mas não coisas. Não vejo rostos e letras. É incômodo mas, sendo gradual, não é trágico. A cegueira brusca deve ser terrível. Mas se pouco a pouco as coisas se distanciam, esmaecem.

No meu caso, comecei a perder a vista desde o momento em que comecei a enxergar. Tem sido um processo de toda minha vida. Mas a partir dos 55 anos, não pude mais ler. Passei a ditar. Se tivesse dinheiro, teria uma secretária, mas é muito caro. Não posso pagar.”

Written by David Arioch

January 28th, 2017 at 8:37 pm

Sobre “frescuras”

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Um sujeito me disse que acha que é frescura quando uma pessoa se recusa a comer carne. Então perguntei se ele também considera frescura quando um animal se debate em dor e desespero, lutando pela própria vida, enquanto é degolado. Ele não comentou nada.

Written by David Arioch

January 28th, 2017 at 8:34 pm

Muitos assassinos foram antes torturadores de animais

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Em 1872, o teólogo e exegeta (intérprete religioso) alemão David Strauss publicou o livro “Der alte und der neue Glaube”, que significa “A Velha e a Nova Fé”. Na obra, ele registrou que a história da violência e da criminalidade mostra que muitos torturadores e assassinos foram antes torturadores de animais. Para Strauss, a forma como uma nação trata outras espécies é um medidor do seu nível real de civilidade.

“E aí, dando muitas braçadas ainda?”

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Eu na academia, terminando meu treino de mobilidade. Várias vezes, notei um cara me observando. Quando levantei, ele comentou: “E aí, dando muitas braçadas ainda?” Não entendi muito bem, mas respondi numa boa: “Sim, tudo transcorrendo normalmente.”

Quando o rapaz se afastou, só consegui pensar: “Não tenho a mínima ideia de quem seja, mas tenho certeza que esse cara me confundiu com alguém que nada aqui. Será que ele acha que todos os barbudos são iguais?”

Written by David Arioch

January 28th, 2017 at 8:31 pm

Minha mãe, exploração animal e “A Fuga das Galinhas”

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Conversando com minha mãe, ela comentou que o primeiro filme que a fez refletir sobre a exploração animal na indústria foi “A Fuga das Galinhas”, no ano de 2000. Fiquei imaginando quantas pessoas não saíram do cinema naquele ano e foram diretamente para algum fast food comemorar “A Fuga das Galinhas” comendo pedaços dos personagens.

Um camarada me falou que jamais deixaria de comer carne…

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Um camarada me falou que jamais deixaria de comer carne porque seria muito difícil ganhar massa muscular. Além de dizer que isso não é verdade, já que o ganho de massa muscular depende de uma combinação de fatores, não especificamente do consumo de carne, acrescentei o seguinte:

— Digamos que hipoteticamente você esteja certo. Agora vamos avaliar isso sob uma perspectiva moral. Você quer dizer então que os animais merecem morrer simplesmente para você ganhar músculos? Sabemos que roubar é um meio mais fácil de ganhar dinheiro, mas nem por isso eu e você cometemos crimes, não é mesmo? Chamo isso de baliza moral, porque acredito que matar um animal para reduzi-lo à comida não deixa de ser um tipo de roubo, já que para que você possa comer carne alguém antes roubou a vida de um animal. Afinal, um animal não simplesmente se ofereceu para tornar-se comida, logo houve empenho de força e violência, sendo assim, um roubo.

— Mas essa perspectiva é dissemelhante, porque quem envia esses animais para o matadouro investiu tempo e dinheiro, logo merece ter o seu retorno.

— Pais também criam seus filhos, e investem tempo ou dinheiro, ou os dois dependendo do exemplo, mas isso não dá a eles o direito de explorar, violentar ou matar seus filhos. Talvez isso pareça visceral para quem está imerso em uma prospectiva homocêntrica. Porém, esperar retorno financeiro tendo a morte como premissa não me parece nem de longe algo moralmente apropriado, mesmo quando não falamos de seres humanos. Afinal, alguém será privado precocemente de existir.