David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Reflexões sobre o consumo de carne

without comments

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Pecuária (FAO), é preciso 15.400 litros de água para cada quilo de carne (Foto: We Animals/Jo-Anne McArthur)

Antes do surgimento da civilização, o ser humano caçava porque ele realmente acreditava que precisava disso para sobreviver. Hoje, há quem diga que essa alimentação era o segredo da força e da condição física humana da época, algo que se perdeu com o surgimento da agricultura.

Porém, não é correto dizer que ele era forte e resistente simplesmente porque comia carne, desconsiderando que ele se colocava em movimento durante as caçadas, e para ter um bom desempenho dependia primariamente de bons carboidratos, glicogênio, estoque de energia.

Ao contrário do que muitos dizem, o surgimento da agricultura não deixou o ser humano doente. O que o deixou doente foi o sedentarismo intensificado após a Revolução Industrial, quando a atenção voltou-se timidamente para as más consequências da má alimentação na modernidade.

Para piorar, na hipermodernidade, como o acesso à carne foi facilitado, o ser humano se entregou ao consumo excessivo. Naturalmente, que ele julgava um benefício e um avanço, se tornou um mal para ele mesmo. Uma prova? Dê uma olhada nos carrinhos à sua volta nos açougues dos mercados. Sempre há inúmeros abarrotados de carne.

Diariamente, as pessoas continuam criando pretextos para consumir dezenas de quilos de carne. Uso como exemplo um hipotético churrasco entre amigos. Eles compraram 20 quilos de carne para consumir em uma noite. Para a produção dessa carne, são necessários 308 mil litros de água, levando em conta que, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Pecuária (FAO), é preciso 15.400 litros de água para cada quilo de carne. Essa é a quantidade envolvida em todas as etapas do processo de produção industrial.

Quantas horas as pessoas levam para comê-la? Tenho certeza de que não muitas. Ainda assim, não raramente essas pessoas reclamam das mudanças no meio ambiente, ignorando a contribuição do consumo de carne nesse processo; o desflorestamento para formação de pasto e produção vegetal destinada à alimentação de animais de criação.

Com o alto consumo de carne, a produção tem se tornado cada vez mais insustentável. Nesse ritmo, vamos testemunhar perdas cada vez mais acentuadas de vegetação. Como isso pode não ser preocupante? Outro fato a se considerar é que se nossos ancestrais consumiam carne, eles o faziam por não ter escolha, comiam para sobreviver, e isso incluía tudo que estava ao seu alcance. Sendo assim, não é um bom argumento alguém dizer hoje que come carne porque seus antepassados também comiam. Nossos ancestrais faziam várias coisas erradas, nem por isso reproduzimos outros de seus hábitos.

Além disso, eles não tinham o entendimento e o acesso às informações que temos hoje, o que também acaba por ser um grande diferencial, inclusive derrubando mitos sobre a necessidade do ser humano precisar de proteínas de origem animal para sobreviver. Afinal, veganos e vegetarianos não existiriam se isso fosse verdade.





Written by David Arioch

January 13th, 2017 at 1:36 pm

Leave a Reply