Para Tolstói, o ser humano não deve fingir ignorância sobre o sofrimento dos animais reduzidos a alimento
“Para nada serve, a não ser para desenvolver os sentimentos bestiais, a luxúria, a gula, a embriaguez”
Em 1892, o escritor russo Liev Tolstói escreveu que quando uma pessoa decide buscar o mais sincero caminho moral, o primeiro passo é a abstinência do consumo de carne, já que o consumo dela é um ato imoral, porque envolve o assassinato de um animal. Tolstói via a carne como uma excitadora das piores paixões, porque é algo que facilmente provoca a gula e a voracidade.
Para o escritor russo, a carne afasta o ser humano de uma série de virtudes. Por isso, ele defendia que quando uma pessoa busca evoluir ou se tornar um ser humano melhor uma importante decisão é abandonar o alimento de origem animal. O que não significa que apenas quem não come nada de origem de animal seja bom.
“Quero somente demonstrar que, para conseguir levar uma vida moral, é indispensável adquirir progressivamente as qualidades necessárias, e que de todas as virtudes, a que primeiro há que conquistar é a sobriedade, a vontade de dominar as paixões. Tendendo à abstinência […], a primeira virtude será a sobriedade na alimentação, o jejum relativo”, registrou o russo no ensaio “O Primeiro Passo”, em referência à alimentação de origem animal.
Segundo Liev Tolstói, o ser humano não deve fingir ignorância sobre o sofrimento dos animais reduzidos a alimento, e deve buscar entender as implicações de suas ações, mesmo que indiretas, no que diz respeito à exploração dos animais não humanos. Sobre o consumo de alimentos de origem animal, ele criticou: “Se pelo menos fosse necessário, ou sequer útil, mas não! Para nada serve, a não ser para desenvolver os sentimentos bestiais, a luxúria, a gula, a embriaguez.”
O escritor declarou que uma quantidade incontável de galinhas e frangos são sacrificados diariamente nas cozinhas, com suas cabeças cortadas e jorrando sangue enquanto estremecem e batem as asas de maneira terrível; e simplesmente para satisfazer um prazer efêmero e nefasto. Ainda assim, muitas pessoas tentam justificar a morte desses animais citando a garantia da própria saúde como parâmetro.
Há quem afirme que não seria capaz de suportar uma alimentação exclusivamente vegetal, e que por ter um débil organismo a carne é essencial. Por outro lado, se diz sensibilizado com a realidade dos animais, alegando inclusive a impossibilidade de testemunhar qualquer privação ou sofrimento animal. Para Tolstói, se uma pessoa está com a saúde debilitada e julga ser impossível viver sem carne, o maior erro subsiste no fato de que na verdade essa pessoa tem problemas de saúde exatamente por nutrir-se de alimentos contrários à natureza humana, ou seja, de origem animal.
Referência
Tolstói, Liev. O Primeiro Passo (1892).
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