David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Uma tentativa de furto

without comments

Vi um cara de costas tentando abrir a porta do meu carro

No sábado, quando eu estava perto da rodoviária, esqueci meu celular no carro. Quando voltei para buscar, vi um cara de costas tentando abrir a porta do meu carro.

— Cara, o que você está fazendo aí?

— Ô parceiro, foi mal mesmo. Deixei cair algo aqui perto da porta. Perdão…

— É mesmo? Então me mostre aí o que você perdeu.

— Peraí. Tô procurando aqui.

— Não estou vendo nada.

Quando cheguei mais perto, reconheci o sujeito. Era um garoto que conheço há anos.

— Cara, você estava tentando abrir o a porta do meu carro. Sério mesmo que você achou que isso fosse uma boa ideia?

— Ah, mano! Não é nada disso não. Te disse.

— Rapaz, meu carro é legal, pode até render uma grana, mas você acha que ele vale mais do que sua vida? Sua liberdade? Conheço sua família. Seu pai vive em uma cadeira de rodas e sua mãe ganha a vida trabalhando até anoitecer fazendo faxina. São gente boa. Não merecem isso. O que tem de errado contigo?

— Ah, mano! Que se foda! Ninguém dá emprego, então tô arriscando.

— E valeu a pena se arriscar? E se eu fosse um desconhecido armado? Um cara agressivo poderia atirar em você ou te matar a pancadas por causa disso. Não se importa de ser preso também?

— Sei lá, mano! Só vi o carro de longe e colei aqui. Não pensei em nada não. Nem sabia que era seu.

— Não faça isso não, cara. Não sabia que você tinha virado ladrão. Tem quanto tempo isso?

— Tô sem trampo tem meses, doido. E a mulher lá já disse que vai mandar prender se não pagar a pensão da criança de novo. Então prisão por prisão, tá tudo na merda mesmo.

— Você já cometeu outros crimes?

— Só coisa pouca, tipo radinho, duas, três vezes.

— Você tem que idade?

— 21…

— Rapaz, sai dessa vida porque isso vai ficar caro pra você.

— E vou fazer o que?

— O que você sabe fazer? Terminou o ensino médio?

— Terminei sim, mano. Mas só trabalhei como servente de pedreiro até hoje, mas ninguém tá pegando.

— Sei, cara. Vou aliviar essa pra você, mas se eu souber que você tem aprontado, não vou deixar quieto não. E vou procurar me informar sobre o que você anda fazendo por aí. Outra coisa, segunda-feira você vai aparecer nesse endereço aqui às 7h30 sem falta. Já vou deixar avisado. Se você der mancada comigo…

Hoje, passei em uma obra no final da tarde para falar com um amigo que é construtor.

— O rapaz realmente leva jeito. Se ele mantiver o ritmo, vamos ver se colocamos ele num curso de pedreiro.

— Boa notícia. Bom saber disso.

Contribuição

Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:





Written by David Arioch

May 30th, 2017 at 1:16 am

Leave a Reply