“Também num gosto de carne”
Enquanto eu aguardava atendimento em um escritório de advocacia, um garotinho bastante animado, com seus cinco ou seis anos, me observava com um olhar de curiosidade.
— Qual é o seu nome, tio?
— David e o seu?
— Bruno…
— Você é forte, né, tio?
— Eu tento…
— É sim!
— Você deve comer muita carne pra ser forte assim…
— Por que você acha isso?
— Por que minha mãe diz que a gente precisa de carne pra ficar forte. Ah, então acho que você come muita carne.
— Não como não…
— É?
— É sim…
— Não precisa?
— Não, não preciso, ninguém precisa. Só que tem que comer direitinho pra não faltar nada, porque se você não come carne e fica doente as pessoas vão falar que é porque você não come carne. Então tem que se cuidar.
— Também num gosto de carne. Vou falar de você pra minha mãe, tio, e ver se ela deixa eu não comer também.
A secretária assistiu tudo e achou graça da nossa conversa. Quando os pais de Bruno saíram de uma das salas, ele se aproximou deles:
— Mãe, olha aquele tio ali, ele é forte e não come carne. Você disse que quem não come carne morre.
Com um sorriso amarelecido, a mãe não disse nada e o pai riu. Em segundos, atravessaram a recepção em direção à saída. Bruno sorriu mais uma vez.
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