Por que você fez isso?
No mercado, enquanto eu lia cuidadosamente o rótulo de um produto, notei uma mulher bem perto de mim. Muito perto mesmo, tanto que por pouco não senti a respiração dela junto do meu pescoço. Então me afastei um pouco e continuei lendo. Ela se aproximou mais uma vez. Achei melhor caminhar até o outro corredor. Impossível. Levei um beliscão na bunda.
— Que isso? O que foi isso?
— Conheço essa barba, esse bumbum, esse corpão, de longe.
— Como é? Quem é você?
— Ah, vai fingir agora, é? Vai ficar de brincadeirinha?
— Nem te conheço, moça. Por que você fez isso?
— Ah, para, né? No ano passado você gostou.
— Nunca te vi, como tu diz uma coisa dessas?
— Ah, nem vem. Aquela vez você gostou e muito.
— Moça, creio que você está me confundindo com alguém.
— Não estou não…
— Tem certeza? Então diga qual é o meu nome.
— Ah, para, né, Yusuf?
— Yusuf? Quem é Yusuf aqui? Meu nome é David.
— Vai mentir o nome agora?
Tirei a minha CNH da carteira e mostrei meu nome. Pensei: “Agora tudo se resolve!“
— Então por que no ano passado você disse que seu nome era Yusuf?
— Quê? Eu nunca disse isso. Nunca disse porque realmente nunca a vi.
— Olha, cara, sei que faz tempo, que depois a gente não se viu mais, mas vamos parar de sacanagem.
— Como assim? Você beliscou a minha bunda e eu que estou de sacanagem?
De repente, uma amiga dela se aproximou.
— Berta, olha quem eu encontrei aqui. É o Yusuf, lembra dele?
— Paula, esse não é o Yusuf. O Yusuf está morando em Ankara, na Turquia.
— Tá de brincadeira comigo?
— Claro que não.
— Sério mesmo?
— Claro que sim.
— Desde quando?
— Desde o ano passado.
— Hummm…
— Olha, moço, nem sei o que dizer, só sentir. Mil perdões pela confusão…
— Moço, desculpe a minha amiga. Ela não é muito boa com fisionomias.
— Tudo bem…
— Mas toma cuidado, viu? Tem mais gente que pode te confundir com o Yusuf.
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