David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Não existe justiça quando um animal é criado para ser explorado

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Arte: Sue Coe

Se um animal de uma espécie sofre em decorrência da má intervenção humana, o mínimo que posso fazer é tentar não contribuir com isso. Vejo muitas pessoas tentando rebater críticas à exploração animal com o seguinte suposto argumento: “Meu primo não faz assim com os animais, meu tio faz de tal jeito.” Ok, mas o ponto nevrálgico não é esse, mas sim que nem você, nem seu primo nem seu tio estão contribuindo para que os animais não sejam vistos como seres a serem explorados.

O fato deles não torturarem um animal não diz nada quanto a isso. Vejo a objetificação um problema-base da exploração animal, e essa objetificação que pode ser vista como positiva por quem não observa o problema como um todo, mas apenas levando em conta um universo diminuto de experiências isoladas, requer uma perspectiva mais abrangente. Até porque economicamente essa é uma realidade rasa, já que o grosso da economia baseada na exploração de animais vem do sistema industrial.

Considere apenas o fato de que 70 bilhões de animais terrestres são mortos por ano. Sendo assim, quando alguém cita um familiar que hipoteticamente não trata os animais da mesma forma que a maioria, isso a mim não diz nada, porque é simplesmente um caso pontual. E esses casos pontuais eram regra no passado, até o momento em que o ser humano viu que era possível lucrar muito mais criando animais em regime intensivo. Ou seja, mais tecnologia, menos espaço e mais dinheiro.

Os animais não terem sido confinados antes da Revolução Industrial não impediu que depois a maioria deles conhecesse o inferno terreno. Afinal, como usar outro termo para nos referimos a uma realidade em que todos os dias bilhões de seres vivos são privados de ser quem são? E isso começa logo no nascimento.

Além disso, se tivessem a oportunidade e o dinheiro para investir mais na exploração animal, quantos criadores que exploram hoje os animais de forma que chamam de “justa” e “respeitosa” não migrariam para um sistema que proporcionasse muito mais lucro, mesmo que isso custasse mais sofrimento aos animais? Será que quem alega isso realmente se preocupa em algum nível com os animais? Ou simplesmente age de acordo com a conveniência e as próprias condições financeiras? É algo a se ponderar.

É importante não desconsiderar o fato de que o primeiro ser humano a explorar os animais nas chamadas fazendas industriais, que muitos chamam inclusive de prisões, onde os animais passam por mais privação devido ao confinamento e sofrem muito mais em decorrência de transtornos psicológicos e emocionais, era alguém que antes os criou livremente no campo. Então, volto a afirmar, um animal ser criado “livre” ou sem “muito sofrimento” não diz grande coisa. Porque a existência de supostos animais “livres” não impede que muitos outros vivam uma realidade incontestável de privação que, ao final, normalmente culmina em morte precoce.

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