“Não há nada de origem animal disponível ao consumidor que não tenha envolvido algum tipo de exploração”
— Por que você se refere à indústria que produz gêneros alimentícios e outros produtos de origem animal como indústria da exploração animal?
— Bom, acho importante ressaltar sempre que se trata, de fato, de exploração animal, já que estamos falando de criaturas que são condicionadas a viver de acordo com os interesses da indústria, logo a exploração é evidente, é a base. Basta considerarmos que a exploração de animais para fabricação de gêneros de consumo não contempla as necessidades dos animais para além do que é necessário para a fabricação de produtos. Usarei um exemplo clássico. Quando bois e vacas são criados para “fornecer’ carne ou leite, se surge alguma doença, seja febre aftosa, brucelose, carbúnculo, mastite, entre outras, a preocupação maior do criador e da indústria não é prioritariamente o bem-estar desse ser vivo de um ponto vista munificente. Ninguém pensa: “Ah, coitado dele, não quero que ele sofra. Ele não merece passar por isso, tem tanto pra viver”, até porque o seu destino, mais cedo ou mais tarde, é o matadouro. A preocupação é com a baixa na produtividade e a possibilidade de prejuízo no caso da não convalescença animal. Logo os interesses dos animais são claramente secundários, o que revela a óbvia faceta exploratória.
Não se cria massivamente animais com outra finalidade no mundo em que vivemos. Não temos essa cultura, tanto que a cada dia são realizadas novas experiências com animais geneticamente modificados que geram mais lucro em um curto período de tempo. E o que isso significa? Que o ser humano brinca com vidas como se elas não significassem mais do que cifrões. Temos uma quantidade infindável de animais sobre a terra que nunca existiram na natureza. Então, te pergunto, como não se referir a isso como indústria da exploração animal? Por que usar eufemismos, mitigações, suavizações, quando a realidade é tão clara? Animais reduzidos a produtos passam por privação, sofrimento e serão executados quando tornarem-se mais valiosos mortos do que vivos, porque esse é o retrato da mercantilização da vida, sem escusas, tergiversações. Fora que “indústria da exploração animal” é um termo consciencioso que induz à reflexão.
Afinal, não há nada de origem animal disponível ao consumidor que não tenha envolvido algum tipo de exploração, até porque os animais não existem, ou não deveriam existir, para atender as nossas pretensas necessidades. Também te convido a fazer um exercício. Converse com pessoas que lucram com a exploração animal e pergunte se alguma delas seria capaz de criar esses animais se eles não pudessem gerar um bom retorno financeiro. Assim você terá outra resposta que explica por que eu me refiro à indústria de produtos de origem animal como indústria da exploração animal. Quem explora animais pode alegar que “ama seus animais”, mas objetivamente sabemos que não matamos nem impomos conscientemente privação e sofrimento a quem amamos, logo isso é insinceridade. O que quem explora animais ama é o retorno financeiro que esses animais são capazes de proporcionar a partir de seu sofrimento e morte. Partindo de um construto moral e ético sob a perspectiva dos direitos animais, toda relação de exploração, por mais “bem tratado” que um animal seja, culmina em aleivosia, ou seja, traição, já que o animal, mais cedo ou mais tarde encaminhado a um matadouro, só reconhece a iminência do fim quando quem o criou o obriga a caminhar pela pista da morte.