A primeira vez de Rubinho no açougue
Rubinho foi ao açougue pela primeira vez. Nunca tinha visto nada parecido. No seu ideário meninil, o açougueiro era como um mágico que concebia a carne a partir de dotes sobrenaturais. Bastaria reunir alguns ingredientes, e voilà, assim surgia a carne, corada e sem violência.
“Falaram que a carne de boi aqui é a mais fresca da cidade”, “Sim, meu tio fornece carne pra eles, tão matando bem.” Um quadro na parede branca mostrava três bois descansando sobre o pasto verdejante.
“Nem imagina o que os espera, a faca é o destino final”, comentou um rapaz com voz lamuriosa ajeitando o boné sobre a cabeça. Sim, o choque foi tremendo. Rubinho preferiu não falar nada. Observou tudo. Facas e serras fatiando carnes e ossos, pessoas de um lado para o outro carregando sacolas de carne.
Ao fundo, o líquido glutinoso dava um aspecto desagradável que incomodava Rubinho. “Parece catchup, só que ralinho”, monologou. Mas o que mais chamou a atenção do menino foi um leitãozinho prostrado sob a vitrine. Rubinho insistiu tanto que sua mãe concordou em comprá-lo.
— Tem certeza que você quer isso, Rubinho?
— Tenho, mãe! Tenho sim.
— Não sabia que você gostava tanto assim de carne de porco.
O menino não disse nada.
Mais tarde, já em casa, a mãe de Rubinho correu até o quarto para chamar o marido.
— Você não vai acreditar no que eu vi — disse espaventada e com as mãos trêmulas.
Depois de enrolar o leitãozinho em uma mantinha, Rubinho lançou a última colher de terra sobre o corpo do animalzinho no quintal. Afofou a terra com as mãos, na tentativa de deixá-la bem homogênea, e ainda ajoelhado olhou para as nuvens:
— Não pude te salvar, mas pelo menos agora você vai chegar inteiro no céu.