Romance de Han Kang discute a repercussão social que surge quando uma dona de casa se torna vegetariana
Em 2007, a escritora sul-coreana Han Kang publicou um livro intitulado “Chaesikjuuija”, “A Vegetariana”, que conta a história de uma dona de casa que um dia, depois de um sonho, decide não consumir nem cozinhar mais nada de origem animal.
A partir dessa sua decisão, ela passa a enfrentar uma série de desafios, ou seja, toda a repercussão social que envolve a recusa em se alimentar de animais em um contexto onde todas as refeições do dia são baseadas na exploração de animais.
O romance é dividido em três partes, na realidade, três novelas. A primeira é narrada pelo marido, a segunda pelo cunhado e a terceira pela irmã. Os três têm perspectivas bem distintas da recusa da mulher em tornar-se vegetariana estrita.
“O que tinha agora na mesa à minha frente era uma desculpa para saltar uma refeição. Com a cadeira afastada da mesa e ligeiramente de lado, a minha mulher foi comendo a sopa de algas, que obviamente devia saber a água e nada mais. Espalhou arroz e massa de soja sobre uma folha de alface, depois a enrolou, trincou o wrap e o mastigou vagarosamente.
Não conseguia compreendê-la. Só depois é que me apercebi de que não conhecia aquela mulher. — Não comes? — perguntou distraidamente, lançando a pergunta para o ar como se fosse uma senhora de meia-idade a falar para o filho já crescido. Mantive-me sentado, em silêncio, assumidamente desinteressado daquela miséria de refeição, mordiscando kimchi durante o que pareceu uma eternidade.
Chegou a primavera, e a minha mulher ainda não tinha vacilado. Cumpria escrupulosamente a sua palavra – nunca vi um único pedaço de carne lhe passar pelos lábios – mas havia muito tempo que eu desistira de me queixar. Quando numa pessoa se opera uma transformação tão drástica, não há nada a fazer senão deixar andar.”
Excertos das páginas 17 e 18 de “Chaesikjuuija”. Em 2009, o romance ganhou uma versão cinematográfica dirigida por Woo-Seong Lim. O livro foi publicado no Ocidente em 2016 e venceu o Man Booker International Prize em 2016. A versão em inglês também foi eleita pela Publishers Week como um dos melhores romances de 2016.