Um bate-papo com o alemão Georg Karl Brodka
O alemão Georg Karl Brodka (Frei Jerônimo) lendo o rascunho da maior reportagem que escrevi até hoje (mais de 30 páginas), sobre a sua vida durante a Segunda Guerra Mundial, no campo de refugiados da Tchecoslováquia e mais tarde tentando entrar na Alemanha Federal. Conversamos novamente no sábado e ele me relatou mais fatos interessantes de sua vida, e que farão parte da grande reportagem que pretendo publicar até a semana que vem:
“A primeira vez em que fui preso eu era só um menino, a polícia da fronteira me levou ao pequeno quartel, recebi uma janta boa, um quarto com beliche. No dia seguinte, dois policiais me levaram de novo na ferroviária e me colocaram num trem para voltar à minha cidade, na Alemanha Comunista. Quando o trem entrou em movimento, pulei do outro lado e entrei no outro trem de gado. Não sabia o que iria acontecer, mas aquele outro trem foi na outra direção.
Então, fora da Alemanha Comunista, para a Alemanha Federal. Lá cheguei e o trem parou. Passei meus dedos nas fendas onde o gado estava preso. Bem perto tinha um policial com outro uniforme. Esse policial levou um susto, viu meus dedos e gritou. Ele entrou no vagão e perguntou: ‘O que você está fazendo aqui?’ Então eu disse que iria para Bamberg. Recebi o café de manhã e ele arrumou um caminhão que iria justamente para Bamberg. Foram mais ou menos 350 quilômetros de carona. O caminhão me deixou na frente do Convento dos Carmelitas, onde me tornaria seminarista.
Na oitava série era obrigado a preencher um papel para dizer o que você queria ser no futuro. E eu escrevi que queria ser padre, sacerdote da Igreja Católica. E no outro dia o professor da nossa sala começou a zombar. Aí começaram a rir, aquela gargalhada e o professor falou: “Aqui tem um que quer ser padre. Aí começou aquele bullying, como dizem hoje, na sala de aula.”