David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Sempre que você mostrar alguma denúncia de crueldade contra animais, alguém dirá que não é necessário se preocupar

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Sempre que você mostrar alguma denúncia de crueldade contra animais, alguém dirá que não é necessário se preocupar, porque isso é exceção. Porém, acho importante não desconsiderar que muitas das desgraças que a humanidade viveu no passado e ainda vive no presente foram endossadas pela aceitação. A partir do momento que normalizamos qualquer ação que prejudique outras vidas, logo não deveria ser naturalizada, estamos dando o nosso aval para que essas práticas não sejam abolidas.

Não é raro alguém usar o argumento de que o problema da crueldade pode ser resolvido com boa fiscalização. Bom, vivemos em um país com mais de 207 milhões de pessoas, imerso em corrupção, desigualdades e outros tipos de injustiças, e que mata 191 animais por segundo. Estou citando apenas criaturas criadas para consumo. Tem certeza que quer falar sobre fiscalização? Não é preciso recorrer a nenhuma organização para concluirmos que é impossível evitar que animais sofram ou passem por algum tipo de privação. Até porque são criaturas que, assim como nós, não desejam sofrer e morrer, independente de tratamento e circunstância.

Muitas vezes, a construção conceitual da exceção no nosso ideário é apenas uma forma de nos eximirmos de culpa, e seguirmos nossas vidas como se estivéssemos dando o nosso melhor. Mas a realidade é que não fazemos isso, apenas nutrimos tal ilusão; perpetuamos uma relação de conveniência que se arrasta por séculos. Se as possibilidades para uma vida mais justa em relação aos outros surgem a cada ano, com um número cada vez mais crescente de alternativas, por que não devemos abraçá-las, nos esforçarmos para não impactarmos tanto na vida de outras criaturas?

Não é difícil fazer isso quando há genuína boa vontade. Se a você isso parece difícil, acredite, talvez o seu esforço não seja lídimo. Claro que viver como sempre vivemos nos parece sempre mais sedutor e confortável. Afinal, as pessoas não gostam tanto de mudanças quanto dizem gostar, e principalmente se isso faz com que questionem o seu estilo de vida, a sua concepção de mundo e de valores. A simples verdade que muitos rejeitam é que não somos tão bons quanto nos julgamos na nossa relação com vidas não humanas, e isso é uma consequência natural da nossa displicência.





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