David Arioch – Jornalismo Cultural

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A aversão à exploração de animais do filósofo Apolônio de Tiana

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“Sou acusado e submetido a julgamento, ó deuses, porque me alimento de frutos secos e iguarias puras desse tipo”

Nascido em Tiana, na província romana da Capadócia, no ano 15 do século I, o filósofo grego neopitagórico Apolônio de Tiana se recusou a continuar tomando parte na exploração de animais quando completou 16 anos. Em um diálogo com Euxenus, um de seus professores na infância, Apolônio relatou que estava preparado para dar início a um estilo de vida mais pacífico.

Segundo informações da biografia “A Vida de Apolônio de Tiana”, de autoria do filósofo Flávio Filóstrato, Apolônio declarou ao seu professor que a carne é impura e nociva à mente, e que ele se alimentaria apenas de vegetais e frutos secos, porque os frutos da terra são limpos e isentos de violência. O filósofo também se recusou a usar roupas feitas a partir de animais, vivos ou mortos. Ainda se posicionou contra o sacrifício de animais, alegando que isso seria manchar os altares com o sangue dos inocentes.

Influenciado por Pitágoras, que também condenava o consumo de carne, Apolônio dizia que a abstenção de alimentos de origem animal o levou a um novo nível de consciência sobre o seu papel enquanto ser humano. “Ele se aproximou dos altares em estado de pureza, e não permitia que a sua barriga fosse profanada pelo partilhar da carne de animais. Manteve o seu corpo distante de todas as peças de roupa tecidas de refugo de animais mortos”, registrou Filóstrato.

Sobre essa mudança, Apolônio de Tiana explicou que ele não era o engenheiro da sua própria sabedoria, e que essa aversão à exploração animal não veio como uma descoberta, mas sim como uma herança que emergiu naturalmente. Na biografia, Filóstrato contou que Apolônio era costumeiramente malvisto por não tomar parte na exploração de animais, por preferir frutos secos e vegetais à carne.

“Embora eu não condene ou julgue aqueles que fazem parte do luxo de consumir pássaros de plumas vermelhas ou as galinhas de Phasis ou da terra dos Paeones, que são engordadas por aqueles que não negam nada às suas barrigas […] sou acusado e submetido a julgamento, ó deuses, porque me alimento de frutos secos e iguarias puras desse tipo. […] A terra que me alimenta também me veste, e não gosto de incomodar os pobres animais”, desabafou Apolônio, segundo Flávio Filóstrato.

Em relação ao uso de animais enquanto matéria-prima para o vestuário, argumentou que nunca houve razão para extrair lã dos animais tendo tantas fontes vegetais para a fabricação do linho. “A lã não foi tirada da parte de trás dos animais mais gentis, de uma criatura amada pelos deuses? Por outro lado, o linho é cultivado e semeado em qualquer lugar. […] Porque não é arrancado da parte de trás de um animal vivo, os indianos consideram o linho puro, assim como os egípcios, e eu mesmo, assim como Pitágoras”, justificou.

Embora tenha nascido em uma família rica, Apolônio de Tiana levava uma vida simples, o que pode ser percebido não apenas na biografia escrita por Filóstrato, mas também nas obras “A Vida Pitagórica”, de Jâmblico, e “A Vida de Pitágoras”, de Porfírio, que fazem menção à sua história e estilo de vida.

Saiba Mais

Apolônio de Tiana, que também foi um matemático, faleceu no ano 100 do século I.

Referência

Philostratus, Flavius. The life of Apollonius of Tyana. Createspace Independent Publishing Platform (2009).





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