David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Ronnie Lee conta a história da A.L.F, o mais famoso grupo de ação direta em defesa dos animais

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“Já éramos vegetarianos ou veganos e estávamos envolvidos em várias organizações de proteção animal”

Após o ataque, Lee declarou que o objetivo era impedir a “tortura e o assassinato de nossos irmãos e irmãs animais” (Foto: Animal Liberation Front)

Em 1973, Ronnie Lee e mais cinco vegetarianos e veganos fundaram a Band of Mercy em Londres, na Inglaterra. Em reação aos abusos praticados contra os animais, o grupo surgiu com a proposta de realizar ações diretas. A escolha do nome é uma referência a um grupo juvenil homônimo da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA), fundada em Strand, Londres, em 1824. No século 19, esses jovens destruíam armas que pertenciam a caçadores.

“Todos nós já éramos vegetarianos ou veganos e estávamos envolvidos em várias organizações de proteção animal. Compartilhávamos o sentimento comum de que essas organizações não conseguiriam fazer a diferença porque suas táticas não eram rígidas o suficiente”, relatou Ronnie Lee no artigo “The Formation of the Band of Mercy and A.L.F”, publicado na editoria “Direct Action History Lessons”, da revista “No Compromise”, número 28.

Lee relatou que sentiu que era vital embarcar em uma campanha de ação direta para tentar mudar alguma coisa, mesmo sem a certeza de que daria certo ou não. “Sentimos que não havia outra escolha e precisávamos tentar. Decidimos que nossa campanha deveria ser contra a propriedade e que nenhuma violência deveria ser usada contra pessoas, exceto em legítima defesa. Para alguns de nós, nossas ações tinham razões morais, e para outros era algo puramente tático. Eu, pessoalmente, me arrependo disso agora, porque sinto que poderíamos ter feito um uso limitado de violência contra os abusadores de animais”, declarou.

Os primeiros alvos da Band of Mercy foram os canis que davam suporte à caça às raposas, onde eles causaram danos aos veículos usados para transportar cães de caça. Mas foi em 1973 que o grupo chamou bastante atenção na Inglaterra, quando realizaram dois atentados com bomba em um laboratório de vivissecção que estava sendo construído. A ação foi seguida pela destruição de um barco usado no abate de focas bebês e por uma onda de ataques contra veículos usados no transporte de animais para laboratórios.

No verão de 1974, Ronnie Lee e Cliff Goodman, da Band of Mercy, foram identificados e presos por um atentado a um centro de pesquisa de vivissecção. Após o ataque, Lee declarou que o objetivo era impedir a “tortura e o assassinato de nossos irmãos e irmãs animais”. A justificativa não sensibilizou a opinião pública, a imprensa nem a justiça, e os dois foram sentenciados a três anos de prisão. Também passaram a ser vistos como “ecoterroristas”.

““Embora o número de ações tenha diminuído, sinto que a A.L.F se tornou mais eficaz do que nunca” (Foto: Animal Liberation Front)

À época, Lee achou que aquele poderia ser o fim do seu trabalho como ativista em defesa dos direitos animais. Imaginou que a repercussão da sua prisão marcaria o fim da Band of Mercy. Um ano depois, quando saiu da prisão, se surpreendeu ao encontrar muitos ativistas da proteção animal querendo se juntar ao grupo. Em 1976, a Band of Mercy passou a se chamar oficialmente Animal Liberation Front (A.L.F), nome que reflete com mais clareza o ideal do grupo.

Como a A.L.F contava com muito mais ativistas do que nos tempos da Band of Mercy, o trabalho de resgate de animais em laboratórios de vivissecção se tornou mais bem-sucedido. “O número de ações aumentou rapidamente, e grupos da A.L.F se estabeleceram em todo o país e no exterior”, declarou Ronnie Lee no artigo “The Formation of the Band of Mercy and A.L.F”.

E claro, com o tempo, mais ativistas foram presos; na realidade, chegando a centenas de prisões, segundo o fundador da Animal Liberation Front. O período em que a A.L.F realizou mais ações diretas foi na metade dos anos 1980. Os ataques do grupo atingiram diretamente o comércio de peles no Reino Unido. Sua fama e suas ações garantiram que as lojas de departamentos da Inglaterra se recusassem a estocar casacos de pele.

“Embora o número de ações tenha diminuído, sinto que a A.L.F se tornou mais eficaz do que nunca. Com apenas algumas notáveis exceções. Os ataques da A.L.F no passado eram de natureza bastante difusa, com pouca concentração em qualquer alvo específico. Isso significava que os estabelecimentos que lucravam com o abuso de animais podiam se recuperar e continuar os seus negócios com bastante facilidade”, confidenciou.

Ronnie Lee explicou que com o tempo a A.L.F começou a escolher melhor seus alvos, atacando principalmente empresas que já estavam sob pressão de outras campanhas e ações. Como resultado, os índices de ações bem-sucedidas cresceram substancialmente.

Saiba Mais

A Animal Liberation Front já atuou em mais de 40 países.

“No Compromise” é uma revista sobre direitos animais fundada em San Francisco, na Califórnia, em 1989, que chegou ao fim em 2005. O periódico sempre visou cobrir os aspectos globais dos direitos animais e a promoção do veganismo como estilo de vida.

Referência

Lee, Ronnie. The Formation of the Band of Mercy and A.L.F. Direct Action History Lessons. No Compromise. Número 28 (2005).





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