Por que animais criados para consumo chegam a praticar canibalismo
Você já pensou em quais circunstâncias um animal domesticado e criado pelo ser humano com finalidade de consumo pratica canibalismo?
Quando ele passa por um processo visceral de despersonalização, de completa perda de identidade e individualidade. Ele se torna algo desconhecido para os outros e para ele mesmo. E como isso acontece? Como consequência de níveis constantes e excruciantes de privação, ansiedade e estresse, entre outros fatores que podem envolver ou não agressão física.
Animais não humanos, diferentemente de nós, não verbalizam o que sentem e por isso podem sofrer mais perante a incomunicabilidade no contato com seres humanos. Afinal, o seu desespero e ânsia pela vida podem ser facilmente desconsiderados levando em conta as diferenças no código de comunicação. E, evidentemente, podem ser interpretados ou distorcidos à revelia.
Essa incomunicabilidade com o ser humano, logo animal de outra espécie, amplifica o desespero e o sofrimento no esteio de uma vida não natural que tem como consequência ordinária a figuração da violência em suas mais diferentes formas. Afinal, a violência contra um animal está muito além de espancá-lo ou de matá-lo.
A violência pode ser manifestada a partir do simples e iterado ato de privá-lo de sua natureza, do trivial e pernicioso ato de não permitir que ele seja ele mesmo; de não permitir que ele crie vínculos sociais à sua maneira, nem mesmo desenvolva uma rotina condizente com seus anseios inerentes ou atávicos.
A natureza de um animal criado para consumo, logo objetificado, é comumente suplantada para dar lugar a uma natureza de viés mecanicista, em que ao animal não é permitido nenhum direito de escolha no decorrer de sua vida, nem mesmo o direito de escolher com quem se relacionar, como se alimentar. Enfim, nenhum direito em relação a nada.
Assim, seus hábitos são precocemente suprimidos e sua natureza inerente gradualmente obliterada. Dependendo do nível de obliteração, ele pode praticar ou não o canibalismo, que neste caso talvez seja um dos símbolos maiores do aviltamento e da degradação não humana em uma sociedade imersa na desconsideração e na negação de direitos não humanos.