Esses dias me perguntaram o que eu acho do Paulo Coelho
— Acho que o Paulo Coelho é um escritor que se propôs a fazer o trabalho que está fazendo e se tornou bem-sucedido nesse nicho. Não endosso nenhuma opinião ou posição ofensiva ou desdenhosa em relação a ele. Particularmente, tenho predileção por outro tipo de literatura, mas reconheço que ele tem os méritos dele.
Existe algo que chamam de “literatura comercial”, que é o que as pessoas mais consomem no mundo todo se tratando de literatura, e isso, claro, é encabeçado por best-sellers que podem ter sido ou não planejados pensando em vendagem e alcance de um grande público.
No entanto, não cabe a mim dizer se uma pessoa escreve algo estritamente para vender, porque acredito que dificilmente uma pessoa se dedicaria a produzir qualquer tipo de literatura se aquilo não despertasse nela nenhum tipo de gáudio, ou anseio de externalizar uma manifestação conscienciosa em algum nível, seja rasa ou profunda na interpretação subjetiva ou não de alguém.
Um autor que vende muitos livros pode até ter seu trabalho desconsiderado no que diz respeito ao enredo, estrutura, linguagem, etc. Mas se ele alcançou popularidade, no mínimo responde aos anseios culturais de um público bem diverso. Agora se isso acrescenta algo na vida do leitor, isso eu não sei dizer, porque sou apenas um leitor em meio a uma miríade, e minha opinião ou posição não é universal.
Por isso, sempre acho crítica literária algo perigoso quando o autor imprime pessoalidade em vez de avaliar uma obra ponderando sobre o meio, o contexto ao qual ela pertence. Se isso acontece, o que temos diante de nós não é exatamente uma crítica, mas um emaranhado de opiniões e impressões que passam uma ideia de “não gosto desse autor porque ele não corresponde aos meus anseios”, e isso não é muito profissional.
Ao longo da minha vida, li pouco ou quase nada de fantasia, principalmente da adolescência em diante. De terror, se você se refere a Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, sim, li consideravelmente. Talvez eu poderia citar também alguns autores clássicos como John Polidori, Mary Shelley e Bram Stoker; e alguns outros mais contemporâneos como Guy Endore, Stephen King, Clive Barker e Anne Rice, de quem não conheço profundamente o trabalho também. E se me perguntar sobre autores das novas gerações, simplesmente acho que eu não saberia citar nenhum nome.
Não nego que há muita coisa relacionada à literatura que não desperta a minha atenção, e está tudo bem. Ademais, isso não significa que o que não leio não tenha nenhum valor. Se uma obra do chamado “pior autor do mundo” proporciona algo de bom aos leitores, na minha opinião isso é relevante. Borges, por exemplo, passou boa parte de sua vida lendo os mesmos livros, ainda que diante de uma imensa biblioteca. Ele nem mesmo se considerava um grande leitor tratando-se de diversidade literária. Afirmava que pouco ou quase nada conhecia da literatura contemporânea. Nem por isso dedicava tempo falando mal de autores ou os desmerecendo.
U sintezi, o que quero dizer com isso tudo é que o meu gosto não é baliza do que é bom ou ruim. É basicamente o meu gosto, e ele fala essencialmente sobre mim, não sobre os autores que leio ou não leio.