O que você pensa sobre as desigualdades sociais?
Não é muito difícil descobrir ou pelo menos inferir o que uma pessoa pensa sobre as desigualdades sociais. Basta questioná-la sobre o que ela acharia de um mundo baseado em igualdade; onde uns não seriam absurdamente mais ricos do que outros. Até mesmo a hesitação, a expressão, pode dar um indicativo da resposta. Você já pensou sobre isso?
Estaria tudo bem para você não ter mais dinheiro do que os outros? Mais coisas do que os outros? Não poder se exaltar de suas aquisições materiais? E simplesmente porque o que você tem o outro também tem? Ou pelo menos ter o direito de ter se ele quiser. Ou imagine então um mundo onde as pessoas não dariam a mínima para coisas, porque coisas são basicamente o que são – em muitos casos, produtos aos quais atribuímos mais valor pelo que nos custam, pela exceção, pelo distanciamento que existe entre elas e os outros, do que pelo que são em um sentido funcional ou mesmo hedonista.
Há também pessoas com muito dinheiro que tendem a considerar seus chamados esforços, envolvam eles atividades ilícitas ou não, desrespeito ou não à vida e a dignidade humana e não humana, como sendo únicos, singulares, e por isso devem ser recompensados de forma dissemelhante, mesmo que isso signifique uma diferença do tipo: “O que você jamais ganhará a vida toda eu ganho em uma semana”. “Eu fiz o que você não seria capaz de fazer. Por isso estou onde deveria estar, onde não é o seu lugar.”
“Porque o meu esforço é muito maior que o seu, sou muito mais inteligente que você, então mereço, de fato, ganhar muito mais que você; e a você resta me servir, mesmo que para isso tenhamos que criar um simulacro de evolução para evitar que você ache que sua vida não está melhorando.” Em síntese, uma sutil estagnação oscilante. “Afinal, porque isso é o que cabe à sua limitada competência que está sempre longe de se igualar à minha”, diriam.
Muitas das mazelas que existem no mundo estão intrinsecamente relacionadas ao fato de que muitos daqueles que têm poder encaram sua força e distinção econômica como uma forma de certidão de superioridade, e o mundo diz que eles estão certos, por mais que leis que não valem na prática tentem informar o contrário. Porque leis são fundamentadas na plasticidade. Existem mais para parecer do que para ser.
E a sociedade e o sistema em que estamos imersos manda iterados sinais de que isso é pura vericidade. E o que dificulta qualquer mudança não é a incapacidade de reconhecer que isso não é benéfico para a maioria, mas sim que desde sempre, até mesmo entre os mais miseráveis há aqueles que não gostariam de um mundo justo, de igualdade; logo jamais lutariam por isso se desejam ocupar a posição daqueles que “estão no topo”, sejam eles criminosos ou não. Claro, porque a sua inexistência é uma consequência natural do que você não possui, segundo a perspectiva comum. Então perpetua-se a crença de que existirei à medida do que terei.