Sobre grilagem de terras e política
Estudei e escrevi durante alguns anos sobre a problemática da grilagem de terras no Extremo Norte do Paraná das décadas de 1930 a 1950, e o que mais me surpreende nisso tudo é que as pessoas que cometiam esse tipo de crime rapidamente se engajavam na política para se blindar; prática muito comum inclusive hoje.
Mais tarde, seus filhos, netos e bisnetos seguiram o mesmo caminho, gozando de um legado que não existiria sem grilagem de terras, expulsão de pessoas de suas casas e uso de violência. E não creio que o Paraná seja exceção. Mais tarde, as novas gerações migraram para outras regiões desabitadas do Centro-Oeste e do Norte do Brasil e fizeram o mesmo – desmataram áreas, dizimaram animais e expulsaram pessoas de suas terras.
Tenho um grande carinho pelo Paraná, mas sou totalmente contra o romantismo histórico, que vejo como um problema comum no Brasil, porque ajuda a perpetuar as mazelas. Sim, me agrada também histórias bonitas, mas desde muito cedo me satisfaz mais ainda aquelas que não são registradas oficialmente sob o suposto risco de “manchar a reputação histórica” de uma cidade ou região. Afinal, são essas que melhor representam a realidade histórica, mesmo que mais relegadas à oralidade do que aos livros.
E infelizmente vejo que é essa falta de memória das mazelas que também ajuda na perpetuação da miséria política. Quando não buscamos a história por vias próprias, e não a compartilhamos, estamos sempre fadados a nos contentar com aquilo que os outros querem que acreditemos. E esses outros, não raramente contam o que querem contar, em conformidade aos seus interesses, não o que deve ser contado.