David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for October, 2018

Vou apertar o 13

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Foto: Ricardo Stuckert

Vou apertar o 13 com a consciência tranquila de que fiz minha parte, independente do resultado nas urnas. Estou votando em um professor, alguém que se opõe ao discurso da intolerância, da raiva, ódio e violência. Alguém que não precisa se refugiar em discursos de supostos valores familiares porque a sua própria história de vida é um reflexo da essência de valores familiares reais – sem necessidade de propaganda, de maquiagem.

Voto hoje em alguém que não precisou se promover com um discurso fragilizado e populista que na realidade remete ao autoritarismo conveniente de movimentos políticos como o integralismo, salazarismo, franquismo e nazismo. Haddad não se espelhou em algumas das piores figuras da nossa história humana, não criou uma mixórdia ideológica e indefinível de incongruências que representam a tolhida de direitos, de coexistência pacífica, de respeito.

Ele não diz que “as minorias devem se curvar à maioria”. Não precisou construir sua imagem baseada em declarações controversas e reprováveis sob a perspectiva filosófica do justo. Não precisou usar o desprezo pelo “politicamente correto” para agradar uma parcela pretensiosa da população que desconhece a própria história, que se inclina sobre si mesmo, mas não enxerga a necessidade do outro – e que há muito parecia sentir falta de exteriorizar seus pré-conceitos e preconceitos, rejeitando as consequências da banalização.

Não, o Brasil não está acima de tudo, e você sabe disso. Afinal, declarou que a Amazônia não é nossa, bateu continência à bandeira dos EUA. Não engane a si mesmo, e mais importante ainda, não tente enganar os outros. Não diga que a bandeira brasileira é de uns, mas não de outros. Não se fala em fortalecimento de unidade obliterando a coletividade. O papel de um candidato a governante é unir, não segregar. Uma nação, diversa historicamente como a nossa, deve ser construída sob a égide do respeito à singularidade e à pluralidade. Por isso, meu voto é 13.

Written by David Arioch

October 28th, 2018 at 1:30 pm

Diferença entre civilidade e barbárie

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Diferença entre civilidade e barbárie. Vi o vídeo do Mano Brown criticando o PT em meio a muitos petistas e apoiadores, e permitiram que ele dissesse tudo que tinha pra dizer e sem vaiá-lo, até porque ele fez observações bem contundentes. Agora me deparo com essa declaração do Haddad. Honestamente? Duvido muito que o Bolsonaro permitisse algo assim. Quando alguém começa a criticá-lo, na primeira frase ele já interrompe a pessoa e eleva o tom de voz. Claramente uma pessoa intransigente e incapaz de ouvir críticas. Fico imaginando um cara desse lidando com opositores e líderes de outras nações. Capaz de conquistar boicotes, sanções e até mesmo ameaça de guerra contra o Brasil.

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October 25th, 2018 at 12:17 pm

Reflexão sobre uma situação preocupante

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Você sabe o que a manchete acima significa? Publicada hoje no Diário do Litoral e na Folha de S. Paulo. Eu vou compartilhar contigo a minha leitura. Quem fez isso acredita que o Bolsonaro já vai ser presidente, e como o candidato nutre desprezo pelo Ibama e pelo Instituto Chico Mendes, o responsável por esse crime acha que está tudo bem em atacá-los. Esse é o poder do discurso de detração, desprezo e desconsideração saindo da boca de um candidato a presidente visto como salvador da pátria. Pessoas suscetíveis têm facilidade em dissimular a realidade para atingir fins pessoais que são nocivos a terceiros. Inclusive recomendo que pesquisem sobre o culto da personalidade, que é uma das coisas mais perigosas da história política da humanidade, porque permite que quando uma pessoa é visceralmente enlevada, todos os seus discursos soam como verdades irrefutáveis (ainda que vazios em sentido) e um chamamento para a ação, mesmo que não signifique nada disso; porque aquele que é enlevado não pode ser questionado e está acima de todos os outros na visão de seus seguidores. Para muitos, Bolsonaro representa a antítese do poder político vigente, um ponto de ruptura na consciência tacanha dos iludidos, impressionáveis e preconceituosos, e isso para tais pessoas justifica inclusive ações criminosas que parecem uma forma de defesa de um nome e de um suposto ideal, mesmo que refratário e distorcido. A primeira vez que notei o quanto a situação é séria foi quando vi aquelas dancinhas, pessoas caracterizadas e fazendo apologia ao uso de armas em apoio ao Bolsonaro. Me desculpe, mas aquilo não me parece normal nem de longe. Há uma evidente vituperação da realidade baseada em uma idealização inconcebível, totalmente desconectada da realidade.

Written by David Arioch

October 21st, 2018 at 11:17 pm

Passagem do livro “Infância Roubada: Crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasil”

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Página 17 do livro “Infância Roubada: crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasil”, lançado em 2014 pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo:
 
“A repressão política não poupou nem crianças nem mulheres grávidas. Muitas mulheres abortaram nas dependências dos DOI-CODIs de tanto apanharem e levarem choque na barriga, vagina e demais partes do corpo. Assim como existiram mulheres que tiveram seus partos, na mais ferrenha clandestinidade, outras tiveram seus filhos na cadeia, como Hecilda, Crimeia Schmidt, Linda Tayah. Todas foram presas grávidas e, mesmo sendo muito torturadas, permaneceram grávidas e seus filhos nasceram sob a ameaça de torturas sendo que algumas dessas crianças sofreram a tortura ainda na barriga de suas mães. Nessa seara, temos o caso do Joca, João Carlos Schmidt de Almeida Grabois. Sua mãe, Criméia, foi presa com sete para oito meses de gravidez. Levou choques elétricos, foi espancada em diversas partes do corpo e sofreu socos no rosto. Quando os carcereiros pegavam as chaves para abrir a porta da cela e levá-la à sala de tortura, o seu bebê ainda na barriga começava a soluçar. Nasceu na prisão e, mesmo anos depois, quando ouvia o barulho de chaves, voltava a ter soluços.”

Written by David Arioch

October 21st, 2018 at 9:01 pm

Bolsonarismo daria um bom livro do Ray Bradbury e um bom filme do Truffaut

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Bolsonarismo daria um bom livro do Ray Bradbury e um bom filme do Truffaut. “Fahrenheit 451” sobre a emergência da sonhada utopia transformada em distopia é a prova disso. O cerceamento da liberdade sob o pretexto da preservação da “tradição-maior” (“O que é tradição se não um arremedo em construção?”, já diziam os antigos) ou de valores incertos e questionáveis em uma sociedade diversa são sempre marcados pelo anti-intelectualismo na história das sociedades. O anti-intelectualismo é a guarida do despotismo, e surge sempre sob a pretensão de um “bem maior”, “da proteção de valores que nem mesmo são valores.

Se vale da ignorância combinada aos destemores de uma massa indouta, inculta para determinar e escolher por você o que é bom ou não, sem possibilidade de livres escolhas, porque segundo essa crença não há o que escolher, apenas ceder. Em “Fahrenheit 451” há queimas de livros, assim como muitos adorariam fazer hoje com os chamados “livros doutrinadores”. Ou seja, a crença na libertação baseada na privação. Intrigante, não? Atualmente, todos os dias nos deparamos com um sem-número de Montags, bombeiros que não apagam fogo, mas que adorariam incendiar e amplificar a incoerência da ignorância e da intransigência humana.

 

Written by David Arioch

October 20th, 2018 at 1:06 am

Há um documentário chamado “O Dia que Durou 21 anos”

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Há um documentário chamado “O Dia que Durou 21 anos”, do Camilo Galli Tavares, de 2013, inclusive recomendo, que é sobre o período da ditadura militar. Nesse filme um general é questionado sobre como seria a implantação do “regime militar” hoje. Ele enfatiza que para fazer a ditadura acontecer não seria preciso matar, torturar ou violentar ninguém, já que vivemos na era da guerra da informação. O general deixa subentendido que a implantação desse “regime” seria feita de forma silenciosa, e com a conivência da própria população que, imersa em um cenário de dúvidas e descrença, não resistiria, muito pelo contrário, agradeceria; mesmo sem ponderar as implicações desse incentivo que custaria a democracia e a liberdade em diversos aspectos.

Written by David Arioch

October 20th, 2018 at 12:09 am

Quando a extrema direita chega ao poder?

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(Foto: Paulo Whitaker / Reuters)

Na política, a extrema direita (representada hoje no Brasil pelo que já é chamado de bolsonarismo) depende de grande vulnerabilidade, e simplesmente porque sabe que não tem força se não houver descrença naqueles com quem rivaliza. Há algumas décadas, o mundo civilizado passou a ser formado principalmente por pessoas moderadas, e pessoas moderadas, mesmo conservadoras, não gostam de extremismo, porque em situações normais sabem que isso pode desencadear um cenário de surpresas mais desagradáveis, de mais medo, de mais perdas, de mais limitação ou de mais privação; e quando se trata de política isso é evidente.

Mas se temos um cenário de muitas dúvidas, incertezas, de desconfiança, de grande temor, esse se torna o cenário ideal para a extrema direita ascender, conquistar a confiança da população; e exatamente porque prega tudo aquilo em que os chamados políticos moderados fracassaram, segundo a perspectiva do descrente. Logo o eleitor já não se importa com boa conduta, não faz diferença se um candidato tem postura agressiva ou se maltrata alguém. Discursos de intolerância ou ódio, camuflados ou não, são absorvidos como fábulas, brincadeiras, marketing. Tudo é valido na busca por um “bem maior” e a permissividade se agiganta a níveis antes considerados inadmissíveis.

Se o representante desse espectro é visto como honesto, mesmo que não seja exatamente um exemplo, o que vale é que ele aparenta ser “mais sincero que os outros”, “fala na lata”; ainda que essa “franqueza” seja ofensiva ou até mesmo criminosa. Não importa sua origem, o que fez no passado, o que faz de inconsequente ou reprovável; se é paradoxal, contraditório, porque houve uma consolidação de sua imagem “benigna” a partir da “malignidade” representada pelos outros, que são vistos como muito piores em uma leitura ingênua e maniqueísta.

As pessoas deixam de considerar o valor das palavras, das ofensas, dos preocupantes discursos inflamados porque passam por uma perigosa “flexibilização moral” em que tudo é permitido à medida que nos afastem daqueles que qualificamos como “inadmissíveis”. Ou seja, algo como: “Queremos o oposto de tudo, seja visceral” No contexto político, o opositor passa a ser visto como “inimigo da pátria” e do “progresso”. O caráter de unidade se dilui ainda mais, e nos fragmentamos mais um pouco, amplificando as fragilidades e desconcertando as verdades. A nebulosidade nos entorpece para a realidade.

Então nasce um “mito”, sob um viés sem respaldo literal, que se formaliza e se consolida a partir de uma fé sustentada na idealização de um suposto redentor, e a razão questionadora é suplantada porque ele, para o bem ou para o mal, é o oposto, e se postula como o representante da chamada “maioria”, um “verdadeiro nacionalista”. Inclusive diz isso tantas vezes que até os mais moderados acreditam. Mas o que é uma maioria em um país mestiço e diverso que ainda sofre com a intolerância e com as desigualdades sociais? Uma maioria de que afinal?

Acredito que o discurso de que a “minoria” deve se curvar à indefinida “maioria” pode parecer interessante se você considera apenas os seus interesses, vê a si mesmo como parte da “maioria injustiçada”, portanto não deseja menos que reparação porque se considera mais especial. Por isso, não vê nada de errado em sacrificar as necessidades, interesses e direitos que não são seus, e não vê problema em ignorar que o maior indicativo de uma sociedade evoluída é o respeito à diversidade e o fato de que se você respeita um “diferente” você naturalmente respeita “um igual” – e não o oposto disso.

 

Written by David Arioch

October 19th, 2018 at 12:05 am

Na essência, não existe nada de errado com o socialismo ou com o comunismo

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Na essência, não existe nada de errado com o socialismo ou com o comunismo. O que existe de errado é com o ser humano mesmo, que não suporta a ideia de viver em uma sociedade igualitária, em que já não seria capaz de se destacar pelo que possui. Isso explica inclusive a apropriação ideológica maliciosa.

Até mesmo entre os que fazem caridade há muitos que o fazem porque gostam da ideia de que o outro depende dele, mas se esse outro ascende ao ponto de romper essa dependência, até mesmo o sentimento benevolente da caridade pode ser substituído pela inveja ou pelo desprezo se esse outro equivaler ao altruísta em termos econômicos. Agostinho de Hipona dizia que a caridade é a única verdade, e não duvido, porque desnuda muito sobre nós.

É difícil crer ou sonhar com a igualdade quando se vive em uma sociedade onde muitas pessoas não querem isso. Na realidade, muitas têm inclusive repulsa pela ideia da igualdade. Por isso que hoje eu vejo como padrão mais evoluído e possível politicamente a social-democracia porque sei que o ser humano não está preparado, e talvez nunca esteja, para ver o outro como um igual em tantos aspectos.

Written by David Arioch

October 17th, 2018 at 11:49 pm

Se alguém tivesse me falado há 15 anos…

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Se alguém tivesse me falado há 15 anos que chegaria um dia em que os brasileiros votariam em massa em um cara que não apenas vê a ditadura militar como um período lindo, mas que além disso fez apologia à tortura, disse que não veria problema em matar 30 mil pessoas para mudar o Brasil, e que homenageou o maior torturador da história moderna brasileira, eu nunca acreditaria. Juro mesmo.

Honestamente, não consigo ver da mesma forma diversas pessoas que votaram e vão votar nesse cara outra vez, ainda mais porque são pessoas que conheço e sei que sabem quem foi o Ustra e tudo que o Bolsonaro já disse a respeito do assunto. A tortura é inadmissível até mesmo contra os piores criminosos condenados à morte em países de “Primeiro Mundo”, vide Estados Unidos. Isso é uma prova de que devemos ser melhores, não piores. Inclusive sou contra a pena de morte.

Eu gostaria que essas pessoas que acreditam na violência como solução para os nossos problemas assistissem um filme do Werner Herzog chamado “Into the Abyss”, sobre a pena de morte, que me fez admirar ainda mais esse cineasta alemão. Não somos bárbaros para endossar tortura. Nada resta se assim como criminosos legitimamos o desrespeito à vida.

Written by David Arioch

October 16th, 2018 at 2:10 am

Manipulação da opinião pública durante as eleições

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Assisti hoje um vídeo (ao final do texto) sobre a manipulação da opinião pública durante as eleições. É realmente interessante. Vale a pena assistir. Eu só faria algumas observações como por exemplo o fato de haver no Brasil um desprezo crônico a um determinado espectro político hoje. Quando se fala em esquerda, há um preconceito e um desconhecimento visceral, e vindo de pessoas que na realidade nem sabem o que é de fato a esquerda, por isso há uma generalização crônica.

Na realidade, são pessoas que nem mesmo entendem o que são espectros políticos (confundem, por exemplo, centro com esquerda e vice-versa). E é fácil conduzir essas pessoas a uma visão equivocada da realidade e da história política nacional, principalmente se não a estudaram parcialmente ou integralmente – desde que o Brasil se tornou presidencialista, e como se deu as transições de poder no processo democrático e fora dele.

Estamos vivendo um momento de grande dissimulação e que tem como terreno fértil as fake news. Quem tem dúvidas, é só pesquisar e ver qual é o partido e candidato que mais tem espalhado fake news nessas eleições. Inclusive recusando-se a firmar um pacto ético. É claro que o PT errou bastante, foi negligente e parte da rejeição vem daí, mas é estranha a maneira como as pessoas desprezam o PT, mas não outros partidos ainda mais corruptos como é o caso do PP, que é o partido do qual Bolsonaro fez parte por 11 anos em dobradinha com Paulo Maluf.

E o que sem dúvida facilita a crença nas fake news é a rejeição e o desprezo. A passionalidade motiva as pessoas a não se importarem com a veiculação de inverdades. Afinal, a má predisposição e a rejeição que desconsidera até mesmo fatos já estava previamente instalada. Há algumas considerações no vídeo que achei interessante sobre como levar alguém com visões de extrema direita ao poder:

Anti-intelectualismo: Steve Bannon disse que é sobre emoção. Afinal, raiva leva as pessoas à eleição.

Você quer que a sua propaganda seja apelativa para as pessoas com limitada formação educacional.

Irrealidade: Você precisa destruir a verdade. Então razão é substituída por teorias da conspiração.

Na política fascista o grupo dominante é melhor que todos os outros. Eles foram os leais, as grandes pessoas do passado, que merecem respeito apenas porque são quem são.

Vitimismo: No fascismo, o grupo dominante são as maiores vítimas.

Lei e ordem: Eles são vítimas de que? Eles são vítimas do outro grupo, que são os únicos criminosos.

Realidade é a maior ameaça ao fascismo, porque o fascismo é construído por meio de um poder que depende da negação, da descrença na realidade.

Eles dizem algo como: “Apenas lembrem-se, o que vocês estão vendo e lendo não é o que está acontecendo.”

Written by David Arioch

October 16th, 2018 at 2:06 am