David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Artes’ Category

Um papo com Pedro Mirabete

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Foto: David Arioch

Hoje, bati um papo com Pedro Mirabete, que conheci no final do ano passado quando ministrei uma palestra em que falei um pouco sobre veganismo na Escola Curitiba. Pedro usa o desenho como sua principal forma de expressão. Já foi premiado em dois concursos. Além da satisfação, a atividade o ajuda a lidar com a ansiedade.

Written by David Arioch

March 21st, 2018 at 8:05 pm

O vegetarianismo na vida de Nikolai Ge, um dos mais importantes pintores russos da história

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Nikolai Ge não concordava com a exploração animal nem humana (Pintura: Nikolaj Alexandrowitsch Jaroschenko)

Em 1913, quando o 1º Congresso Vegetariano Russo foi realizado em Moscou, fazia quase 20 anos que o pintor realista russo Nikolai Ge havia falecido. Ainda assim, em sua homenagem, a “exposição vegetariana”, que ficou em exibição entre os dias 16 e 21 de abril, foi baseada em suas pinturas.

Foi uma justa homenagem a um dos vegetarianos russos mais respeitados pelo escritor Liev Tolstói. Em 8 de junho de 1910, Ge escreveu, em referência ao ensaio “Первая ступень” , “O Primeiro Passo”, de Tolstói, que “para que o primeiro passo se torne realmente um primeiro passo é necessário que outras etapas venham em seguida, porque o vegetarianismo em si é apenas uma limpeza que leva à hipocrisia e à exaltação da autoestima se não assumir a forma primordial de uma vida humana mais justa e inteligente.”

O ensaio, em que Tolstói qualifica a abstenção do consumo de animais como um sinal da aspiração séria e sincera da humanidade em direção a uma evolução moral que beneficie seres humanos e não humanos, atraiu a atenção de Ge no início de junho de 1892, quando ele o leu pela primeira vez. O pintor russo, que já se correspondia com Tolstói, passou a elogiar a sua defesa de uma vida moral que rejeita a exploração animal por entender as implicações dessa violência para a vida humana e não humana. Em uma das cartas, informou que estava satisfeito com suas modestas plantações de milho, batata e feijão.

A identificação de Nikolai Ge com Tolstói começou em 1882, quando o pintor leu um artigo de Tolstói sobre o censo em Moscou, publicado no jornal “Sovremennye Izvestia”. Após visitar adegas e observar o comportamento de seus infelizes frequentadores, o escritor russo escreveu uma passagem jamais esquecida por Ge: “Nosso desagrado e indiferença pelos desfavorecidos é a causa de seu estado de pobreza”. O pintor então se aproximou de Tolstói e os dois se tornaram amigos e confidentes. Nos seus últimos doze anos de vida, Nikolai Ge visitou Tolstói em Moscou e depois em Yasnaya Polyana, no Oblast de Tula.

Tatiana Sukhotina-Tolstaya, a filha mais velha de Tolstói, registrou que Nikolai Ge, que foi um bom amigo de seu pai, era um sujeito bastante peculiar – um vegetariano estrito completamente indiferente ao dinheiro, e se vestia não raramente como um indigente. De modestas predileções alimentares, o pintor russo gostava de kasha de trigo mourisco preparado com água e milho cozido.

“Muitas vezes, minha irmã e eu precisamos remendar as suas roupas. Minha mãe costurou um par de calças que o deixou muito orgulhoso. Ele vestia camisas simples e uma blusa velha e desgastada. Ficou conhecido por ir de Moscou a São Petersburgo assim, e nunca mudou seus hábitos, mesmo transitando por diferentes círculos sociais. Fiz um colete que ele usou na ocasião de seu falecimento”, narrou Tatiana.

Depois que se tornou vegetariano em 1885, e aparentemente por influência de Tolstói, Ge se preocupou em ir um pouco mais além, evitando usar mão de obra assalariada ou requerer o serviço de servos ou camponeses sob os padrões da época. Ele chegou a construir fogões para que os campônios mais desafortunados pudessem preparar pães em suas próprias casas. No início, esse novo estilo de vida singelo gerou grande desconforto na casa do artista, já que suas ações não eram muito bem vistas por sua família acostumada a um padrão mais elevado.

Um homem imerso em princípios, Ge, que foi considerado um dos maiores pintores de seu tempo, dizia que a arte não pode ser um meio de renda porque a arte não deve ser negociável sob o risco de ser maculada pelas implicações da mercantilização. Curiosamente, esse mesmo raciocínio foi partilhado no século XI pelo poeta sírio Al-Ma’arri, que também condenava a exploração e o consumo de animais e se recusava a escrever panegíricos, odes aos ricos patronos, por considerar isso uma forma de “prostituição artística”. Então Nikolai Ge adotou como profissão o trabalho de agricultor e o ofício de “fabricante de fogões”, atividade que exerceu em várias localidades. Assim ele poderia dar continuidade à sua arte em seu tempo livre, sem ter de se submeter a ninguém.

Em 1876, antes da amizade com Tolstói, Ge abandonou o conforto de sua casa em São Petersburgo e migrou para a aldeia de Ivanovo, na Província de Chernigov, no Oblast de Chernihiv, atual Ucrânia. Sobre o motivo dessa mudança, ele escreveu que quatro anos conciliando a arte e a vida agitada e cara em São Petersburgo mostrou que não valia a pena continuar vivendo daquela maneira. “Qualquer coisa que pudesse constituir meu bem-estar material estava em franca oposição ao que senti no fundo de minha alma. Como amo a arte como ocupação espiritual, tenho que encontrar um caminho para mim, independente da arte. Fui para a aldeia e pensei: “Com uma vida mais barata e mais fácil, conseguirei viver essa realidade, e a arte será livre’”, justificou.

Com o crescimento da amizade entre Tolstói e Ge, os dois se tornaram cada vez mais semelhantes no que diz respeito à aspiração de uma vida voltada à evolução moral e espiritual. Em agradecimento a Tolstói, o pintor fez um retrato do escritor em 1884 na famosa casa em Kharmovniki, em Moscou, obra que pode ser vista na Galeria Tretyakov, em Moscou, nas proximidades do Kremlin.

Na pintura reconhecida como uma das mais simples e verdadeiras do autor, Tolstói está sentado diante de uma mesa. Em suas pinturas que fugiam à recorrente pretensão de muitos artistas da época, Nikolai Ge passou a imprimir um realismo cada vez mais bucólico, que remetia ao despojamento e lhaneza – traduzindo as transparências de sua própria essência artística e anseio em transmitir nada mais do que a singeleza.

Até mesmo temas espirituais eternizados em seus quadros descortinavam e quebrantavam a ideia de uma realidade em que o ser humano está acima de tudo e de todos. Ainda assim, jamais deixou de revelar esperança no ser humano ou de direcionar sua energia para a fé utópica em um tipo de protesto espiritual que vê no sofrimento humano, físico ou não, um chamado para a renovação e evolução. Ge transmitia o conceito de uma unidade que habita todos nós, humanos, não humanos e a própria natureza.

Nikolai Ge ficou conhecido em seu tempo como um “pregador da beleza espiritual” que manipulava com rara habilidade as cores, as sombras, a composição e a complexidade do despertar humano. Por causa dessas características, que fatalmente o colocavam na contramão do apreço em voga, Ge era visto como uma figura solitária não apenas da arte russa como da arte europeia em geral. Se por um lado, ele evocava em certas obras um romantismo inabalável em relação à sua interpretação espiritual da natureza, por outro, Ge retratava também uma natureza inexpugnável, concreta ou mutável, e completamente diferente. Em 1886, ele renunciou à sua propriedade e comunicou a sua decisão à esposa Anna Petrovna e aos filhos, assim vivendo os seus últimos anos despojado de qualquer bem material.

Nikolai Ge

Nikolai Nikolaevich Ge nasceu em 15 de fevereiro de 1831 em Voronezh. Em 1841, ele foi levado a Kiev onde estudou a maior parte da sua juventude e ingressou na Faculdade de Física e Matemática da Universidade de Kiev. Depois transferiu os estudos para a Universidade de São Petersburgo, até que em 1850 ingressou na Academia de Artes, onde dedicou sete anos.

Em 1855, recebeu uma medalha de ouro, o seu primeiro prêmio como artista pela pintura “Aquiles lamenta a Morte de Pátroclo”.  Em 1857, foi novamente premiado – dessa vez com uma grande medalha de ouro e uma viagem para a França e para a Itália. Em 1860, deixou Roma e se mudou pra Florença, onde produziu diversas obras, até que decidiu retornar a São Petersburgo em 1870.

Então passou a se dedicar a temas históricos e lançou em 1817 uma de suas pinturas mais famosas – “Pedro O Grande interrogando o Tsarevich Alexei Petrovic”, que mais tarde alcançaria projeção internacional. Em 1875, Ge tomou a decisão de migrar para a área rural de Chernigov, na Ucrânia, onde, mais tarde rejeitou a exploração animal e humana, assumindo a sua responsabilidade de levar uma vida mais ética e mais espiritual. O artista viveu assim até falecer em 13 de abril de 1894.

Saiba Mais

Entre as suas obras mais famosas estão “O Julgamento de Sanhedrin”, “A Última Ceia”, “Quod Est Veritas?”, “Pedro O Grande Interrogando o Tsarevich Alexei Petrovich”, “Liev Tolstói”, “Consciência: Judas”, “Sophia Tolstói”, “Alexei Potechin” e “Calvário”.

Referências

Sukhotin-Tolstoy,T.L. Memoirs. Moscou. Páginas 262-263 (1976).

Golovko, Oxana. 10 картин Николая Ге, которые стоит увидеть Pravmir (2014).

Tolstói, Natalia. Николай Ге: жизнь в поисках истины. Наука и жизнь (2012).

Н. Н. Ге. Толстовец avant-la-lettre. Vegetarian.ru (2007).

Россия неизвестная. История культуры вегетарианских образов жизни от начала до наших дней (2006).

Ге Николай Николаевич. (1831-1894). Продолжение. Artsait.ru (2014)





 

Uma visita a Seu Antonio

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Foto: David Arioch

Hoje de manhã, visitei um amigo, o artista plástico Antonio de Menezes Barbosa, que trabalha principalmente com arte rústica. É um sujeito único, que sempre tem muitas histórias para me relatar sobre os tempos de colonização. O conheci por acaso em 2009 quando eu estava pesquisando sobre esculturas baseadas em aproveitamento e reaproveitamento de matérias.

Posso afirmar que não conheço pessoa que entende mais de árvores do que o Seu Antonio. Para se ter uma ideia da singularidade do seu trabalho, ele recolhe pedras, galhos e restolhos de madeira que seriam descartados e os transforma em obras de fruição, decoração ou utilitárias. Tem uma sensibilidade destacável.

Às vezes, ele simplesmente observa algo caído no chão e já imagina no que aquilo pode se transformar. Não apenas imagina, como idealiza e materializa. Há alguns anos, ele fez uma réplica do 14-Bis, de Santos Dumont, obra que viajou pelo Paraná.




 

Written by David Arioch

January 22nd, 2018 at 6:48 pm

A crítica ao consumo de animais na escultura “O Comedor de Cadáveres”, de Paolo Troubetzkoy

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“Il Mangiatori di Cadaveri” é uma crítica ao consumo de animais

A escultura “Il Mangiatori di Cadaveri” ou “O Comedor de Cadáveres”, chamou bastante atenção na Exposição Internacional de Roma em 1913. Criada pelo artista italiano de origem russa Paolo Troubetzkoy, que era vegetariano, a obra é uma crítica ao consumo de animais. Quando começou a concebê-la, a proposta do escultor era mostrar a realidade e as consequências desse hábito, assim criando um cenário que revela a predominância do paladar, a indiferença, o destempero, a crueldade e a morte. Atualmente a escultura está resguardada no Museu Del Paessagio, na comuna italiana da Verbania, na região do Piemonte.

Troubetzkoy foi amigo do escritor russo Liev Tolstói, que o considerava um ser humano doce e inocente com grandes dons. A citação pode ser encontrada no livro “Tolstoy: A Life of My Father”, publicado em 1953 e em 1972, de Alexandra Tolstaya, filha de Tolstói. Quando o questionavam sobre o motivo dele não se alimentar de animais, Troubetzkoy respondia com parcimônia e voz tranquila: “Não posso me alimentar de cadáveres.” Em seu estúdio em São Petersburgo, ele produziu muitas obras captando a essência da importância da liberdade animal. O escritor George Bernard Shaw dizia que ele era um humanitarista extraordinário, incapaz de se alimentar de um animal.

O estilo de Troubetzkoy, marcado por intimismo e melancolia, deu origem a uma forma nervosa de impressionismo. Outras importantes personalidades de sua época e que viam uma qualidade rara em suas obras estavam o Barão de Rothschild, o conde Robert de Montesquiou, Gabriele D’Annunzio, Arturo Toscanini, Enrico Caruso e Giovanni Segantini.

O escultor lecionou na Academia Imperial de Belas Artes de Moscou e recebeu importantes prêmios – como o grande prêmio da Exposição de Paris em 1900. Além da Europa, suas obras também foram levadas para os Estados Unidos. “Como não posso matar, não posso autorizar os outros a matarem. Você entende? Se você compra [carne] de um açougueiro, você está autorizando a morte de animais – a morte de criaturas indefesas e inocentes, que nem eu nem você poderíamos matar”, declarou em entrevista registrada na página 22 da The Vegetarian Magazine em 1907.

Referências

Davis, Gail. Vegetarian Food for Thought. Página 69. New Sage Press (1999).

Tolstoy, Alexandra. “Tolstoy: A Life of My Father”. Octagon Books (1972).

The Vegetarian Magazine, Volume 11, página 22 (1907).

 





Roland Straller e a inversão de papéis entre animais humanos e não humanos

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Mulheres no lugar de vacas leiteiras, na perspectiva de Straller

Roland Straller é um artista vegano alemão que gosta de abordar a inversão de papéis na relação entre animais humanos e não humanos. Na série “Got Milk?”, ele convida os consumidores de leite a passarem um dia na pele das vacas leiteiras exploradas em regime industrial. Straller é satírico e suas obras de caráter quase sempre sepulcral destacam a perversidade semeada pela indiferença e pela legitimação de um caos que parece invisível aos olhos da maioria.





Written by David Arioch

August 26th, 2017 at 6:12 pm

Sue Coe e o sofrimento dos peixes

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Arte: Sue Coe

Uma vez, li uma entrevista da artista plástica vegana Sue Coe em que a questionaram sobre o motivo para ela ter criado obras em que retrata o terror vivido pelos peixes. O entrevistador fez tal indagação como se peixes estivessem abaixo dos outros animais de criação. Então Sue Coe foi enfática ao dizer que peixes sentem dor, medo da morte e fazem o que podem para evitar a captura. Ela fala isso com propriedade, já que todo o seu trabalho de artes visuais é baseado em pesquisas sobre a realidade dos animais, inclusive antes e depois do abate ou da captura.

Ela sugeriu que o entrevistador fosse até os grandes mercados de peixes capturados inclusive em áreas de proteção, como ocorre nas Ilhas Galápagos. Sue Coe comentou algo como: “Você verá a cor natural e cintilante desses peixes desaparecendo. No alvorecer de uma cidade cinzenta, é possível ver um peixe caindo na calçada e lutando pela vida.”

Em várias ocasiões a artista vegana disse que estamos destruindo a vida oceânica, e definitivamente. Entre as tragédias envolvendo animais marítimos, Sue Coe costuma citar a pesca com grandes redes em que até mesmo pássaros, baleias em extinção, golfinhos, botos e tartarugas são capturados acidentalmente e depois descartados como lixo.

Mas alguém pode dizer: “Mas eu não como animais do oceano.” Para esse comentário, Sue Coe provavelmente diria, como declarou outras vezes: “Fazendas de peixes [muito comuns hoje em dia, com a alta na produção de peixes em cativeiro] são outra praga no planeta. Os peixes nadam em produtos químicos e são então ‘colhidos.'” Fora o fato de que as águas dos rios há muito tempo estão contaminadas e muitas espécies estão desaparecendo. Obviamente que o argumento principal é baseado na senciência e no direito à vida desses animais.

“A única solução é não comer peixe”, defende Sue Coe. Esse assunto é abordado de forma impactante no seu livro “Cruel: Bearing Witness to Animal Exploitation”, publicado em 2012 e disponível na Amazon.com.

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Sue Coe e o bezerro no matadouro

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Arte: Sue Coe

“Inside the Abattoir” é um incrível e realista desenho da artista britânica Sue Coe. O contraste do bezerro hesitante e assustado, e as figuras humanas indiferentes ao temor animal, acostumados com essa realidade em que a criatura bovina não simboliza nada mais do que um objeto.

E nas laterais, de um lado alguns bezerros sobressaltados observam com olhos intumescidos e suplicantes a insensibilidade humana. Do outro, bezerros assistem a inação do bezerro na pista. Os bezerros à esquerda estão mais imersos nas sombras, talvez pelo choque com a última grande desilusão representada pelo homem que se distrai com um cigarro na boca, ignorando tudo que está logo atrás dele.

As paredes brutas, o isolamento, o ambiente soturno que não revela o que existe mais adiante também parece representar o fato de que o animal é morto de forma traiçoeira, já que ele é impossibilitado de ver o que aconteceu com aqueles que seguiram antes dele pelo mesmo caminho.

 

 

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“O Porco Abatido”, de Lovis Corinth

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“Geschlachtetes Schwein”, de Lovis Corinth

Um dos mais importantes nomes do impressionismo alemão, Lovis Corinth foi um dos primeiros artistas a registrar com um olhar humanizado a realidade dos animais mortos para consumo humano. Diversas de suas pinturas retratam o cotidiano dos matadouros, dos animais antes e após o abate.

Em “Geschlachtetes Schwein”, obra de 1906-1907, ele retratou a escuridão que permeia a morte de um porco recém-abatido. A única claridade é emanada do corpo do próprio animal. Ao seu redor parece restar apenas o vácuo da inexistência.





Paolo Troubetzkoy: “Se você compra [carne], você está autorizando a morte de animais”

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“Como não posso matar, não posso autorizar os outros a matarem”

Alexandra Tolstói: “O meu pai gostava muito dele. Era um doce e inocente ser humano com grandes dons” (Foto: Getty Images)

Considerado pelo escritor irlandês George Bernard Shaw como o escultor mais surpreendente dos tempos modernos, o escultor italiano de origem russa Paolo Troubetzkoy conquistou muita fama na Rússia nas primeiras décadas do século 20. Influenciado pelas obras de Auguste Rodin e Medardo Rosso, Troubetzkoy criou esculturas que se tornaram mundialmente famosas, como do imperador Alexandre III da Rússia, do pintor Isaac Levitan, do escritor Liev Tolstói, da princesa M.N. Gagarina com sua filha Marina e da grande duquesa Elizabeth Feodorovna.

Assim como Tolstói e Elizabeth, o escultor e pintor italiano de origem russa também era vegetariano. “O meu pai gostava muito dele. Era um doce e inocente ser humano com grandes dons. Ele praticamente não lia nada, falava pouco e passou toda a sua vida envolvido com esculturas”, declarou Alexandra Tolstói, a filha caçula de Liev Tolstói, reproduzindo memórias que seu pai preservou da amizade com Troubetzkoy, para quem posou de bom grado na criação de várias esculturas em sua homenagem. A citação pode ser encontrada no livro “Tolstoy: A Life of My Father”, publicado em 1953 e em 1972.

Troubetzkoy: “Não posso me alimentar de cadáveres” (Foto: Getty Images)

Quando o questionavam sobre o motivo dele não se alimentar de animais, Troubetzkoy quase sempre respondia com uma voz tranquila e parcimônia peculiar: “Não posso me alimentar de cadáveres.” Em seu estúdio em São Petersburgo, ele produziu muitas obras inspiradas na vida selvagem. Inúmeras de suas esculturas foram criadas visando captar a essência da importância da liberdade animal.

O escritor George Bernard Shaw dizia que ele era um humanitarista extraordinário, incapaz de se alimentar de um animal. Sua contrariedade em relação à matança de animais era tão grande que, mesmo tímido, ele jamais deixou de se manifestar em relação a isso.

Talvez essa insatisfação também tenha influenciado o estilo de Troubetzkoy, marcado por um intimismo e melancolia que deram origem a uma forma nervosa de impressionismo. Além de Bernard Shaw e Tolstói, outros nomes importantes de sua época e que viam uma qualidade rara em suas obras estavam o Barão de Rothschild, o conde Robert de Montesquiou, Gabriele D’Annunzio, Arturo Toscanini, Enrico Caruso e Giovanni Segantini.

O escultor russo lecionou na Academia Imperial de Belas Artes de Moscou e recebeu importantes prêmios – como o grande prêmio da Exposição de Paris em 1900. Além da Europa, suas obras também foram levadas para os Estados Unidos. “Como não posso matar, não posso autorizar os outros a matarem. Você entende? Se você compra [carne] de um açougueiro, você está autorizando a morte de animais – a morte de criaturas indefesas e inocentes, que nem eu nem você poderíamos matar”, declarou em entrevista registrada na página 22 da The Vegetarian Magazine em 1907.

Saiba Mais

Paolo Troubetzkoy nasceu na comuna italiana da Verbania em 15 de fevereiro de 1866 e faleceu na comuna de Novara, também na Itália, em 12 de fevereiro de 1938.

Referências

The Vegetarian Magazine, Volume 11, página 22 (1907).

Davis, Gail. Vegetarian Food for Thought. Página 69. New Sage Press (1999).

IVU World Vegetarian Congress Souvenir Book. Warriors for Vegetarianism  (1957).

Tolstoy, Alexandra. “Tolstoy: A Life of My Father”. Octagon Books (1972).

 

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Tocando em frente com Fernando Bana

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” Temos casos de mãe e filho que fazem aula juntos, assim um vai incentivando o outro”

Fernando Bana com alguns dos alunos do projeto Tocando em Frente (Foto: Divulgação)

Em 2008, o músico Fernando Bana criou o projeto Tocando em Frente Arte-Musicalização, e desde então tem ministrado aulas em Paranavaí, principalmente de violão. O diferencial no trabalho de Bana é o uso da música como instrumento de inclusão social. Prova disso são os mais de 50 violões que ele adquiriu ao longo dos anos para beneficiar crianças e adolescentes de baixa renda.

A primeira oficina do projeto Tocando em Frente foi na Vila City, e depois no Jardim Morumbi e na Chácara Jaraguá, bairros da periferia. Hoje, Bana é professor de violão no Sumaré e na Biblioteca Cidadã Boulivar Penha, no Conjunto Tania Mara, onde dá aulas desde 2010.

“O projeto surgiu em 2003, mas acabei indo para a Europa e o retomei mais tarde. Tem gente tocando comigo desde a primeira oficina em 2008. Um exemplo é o Anderson Ribeiro que ainda é meu aluno. Ele tem ouvido absoluto e baixa visão – apenas 20%. Mesmo assim, se destacou e se tornou professor da oficina de violão do Jardim São Jorge”, conta Bana, acrescentando que a proposta para ele ministrar aulas em mais bairros de Paranavaí partiu do ex-presidente da Fundação Cultural, Paulo Cesar de Oliveira, que assumiu um compromisso de descentralizar as atividades da FC, levando arte para os bairros mais afastados do centro.

Atualmente, Fernando Bana ministra aulas de violão no Núcleo de Cultura do Sumaré, na Biblioteca Cidadã Boulivar Penha e no Núcleo de Cultura do Conjunto Tania Mara. “São cinco vagas em cada horário, e os alunos precisam ter apenas sete anos ou mais”, explica e acrescenta que também dá aulas de violão na Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado.

Bana relata que mais de mil alunos já passaram pelo projeto Tocando em Frente ao longo de nove anos. “Nesse período, fizemos inclusive rifas e conseguimos doações, tanto de empresas quanto de pessoas, para a aquisição e doação de mais de 50 violões. Foi uma grande revolução cultural, até porque o violão é um instrumento popular, e sempre bem procurado por estudantes de música”, informa.

Outra informação legal é que também há adultos, inclusive idosos participando das oficinas no Conjunto Tania Mara e no Jardim São Jorge, onde Bana repassou a coordenação da oficina para o seu aluno Anderson Ribeiro. “É muito bacana dar aula nos bairros, ver a evolução desse pessoal. Temos casos de mãe e filho que fazem aula juntos, assim um vai incentivando o outro. No geral, a frequência é muito boa”, revela.

Atualmente, o Tocando em Frente, coordenado por Fernando Bana, está finalizando a gravação de um disco infantil que conta com a participação de 60 alunos que participam das aulas do projeto. “Estamos gravando canções populares de domínio público. Serão sete faixas. Vamos gravar também uma música regionalista do Grupo Gralha Azul e do Ariel, um de nossos alunos. Vamos terminar as gravações até o final do primeiro semestre, e com a participação de crianças a idosos”, adianta.

Um pouquinho de história    

O envolvimento de Fernando Bana com a música começou aos sete anos, quando ele ingressou no Grupo Escoteiro Guy de Larigaudie. À época, ele teve o primeiro contato com a flauta-doce. “Com 12 anos, eu e meus irmãos, que já eram músicos, montamos uma banda de rock e não paramos mais de tocar. Eu era o contra-baixista”, diz.

Mais tarde, ciente de que tocar violão poderia ser mais vantajoso em sua trajetória como músico, Bana, que foi baixista da formação original da banda Nômades, decidiu priorizar o violão. “Me profissionalizei com 18, 19 anos. Depois, com 23, 24 anos, conheci a música de João Gilberto e Tom Jobim, entre outros nomes da MPB. Então tive um entendimento musical mais abrangente, e fui por outro caminho”, enfatiza.

Além de se apresentar muitas vezes em barzinhos na noite paranaense, Fernando Bana tocou no Circo Voador e na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, com a banda Elemento Principal, que combina rock, reggae, rap e MPB. “Estamos juntos desde 2013. Éramos uma banda de estúdio, que se reunia somente para compor e gravar, mas a coisa foi mudando”, destaca.

Além de contra-baixista do Elemento Principal, sempre que a agenda permite, Bana toca com o músico Marquinhos Diet, amigo de longa data. Também já viajou como percussionista pelo Brasil afora com o artista popular Sergio Torrente e tem uma parceria com o palestrante Fabiano Brum, para quem toca contra-baixo sempre que necessário. “Trabalhei em banda de baile e estou na estrada há 15 anos”, declara o artista que já gravou com vários compositores e participou de festivais como Farpa, Femup e Fepam, chegando a ser premiado.

Fernando Bana, que sempre gostou de dar aulas na periferia, também já foi professor de música do Centro de Atendimento à Criança e ao Adolescente de Paranavaí (Cecap), classificando a experiência como uma das mais gratificantes de sua vida. Hoje, em meio a uma rotina atribulada, a prioridade do músico é o projeto Tocando em Frente que faz a diferença na vida de jovens a idosos.

Serviço

Caso queira saber se há vagas disponíveis nas oficinas de violão do professor Fernando Bana, ligue para (44) 3902-1128 ou (44) 3902-1090.

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Written by David Arioch

May 25th, 2017 at 11:46 pm