Archive for the ‘Musculação’ Category
Waldemar Guimarães defende veganos e vegetarianos
Waldemar Guimarães, um dos caras mais respeitados da musculação e do fisiculturismo brasileiro, publicou recentemente um texto no Instagram defendendo veganos e vegetarianos, e explicando que ele mesmo está indo pelo caminho da abstenção do consumo de animais. Para falar sobre isso em um meio onde as pessoas comem toneladas de carne, ovos e laticínios tem que ser realmente guerreiro. Minha admiração pelo cara aumentou instantaneamente. Tipicamente, os marombeiros e atletas que defendem que “não existe musculação e fisiculturismo sem o consumo de carne” fizeram chacota de seu posicionamento. O clássico e clichê “te respeito até o momento que concordo com você”.
Relato de um vegano que pratica musculação
Como sou vegano e pratico musculação, me perguntaram o que tenho feito no “cutting”, na fase de queima de gordura. Me alimento e treino – sem aeróbicos, termogênicos ou suplementos pré-treino. Não consumo nem cafeína nem guaraná. Não uso recursos ergogênicos sintéticos. Atualmente, nessa fase, consumo de 1,5 a 2 gramas de carboidratos por quilo corporal/dia, em torno de 2 gramas de proteínas por quilo corporal/dia, e cerca de 0,5 grama de lipídios por quilo corporal/dia. Como treino diariamente há 12 anos, acho que conheço um pouquinho das minhas necessidades nutricionais.
Como sempre digo, meu treino não muda nessa fase hipocalórica, porque não acredito nas tais teorias de treinos diferentes para cada objetivo. Meu corpo corresponde a apenas uma coisa – minha disciplina e força de vontade. Quando se treina há um bom tempo e possui uma razoável massa muscular, seu metabolismo te favorece (tanto para ganhar massa muscular quanto para queimar – claro, desde que você seja uma pessoa realmente disciplinada).
Não uso esteroides anabolizantes. Não uso nenhuma droga farmacológica, mesmo não esteroidal. Há pessoas que recorrem a broncodilatadores para amplificar a termogênese e queimar gordura. Não faço isso e não gosto disso, porque acredito que isso pode trazer consequências para o organismo. Também evito estimulantes. Não acho que devo brincar com medicamentos como se fossem coisas inofensivas. Fármacos são criados com uma finalidade específica, e ainda assim são controversos.
Compensa usá-los com uma finalidade para a qual não foram criados? Será que isso vale a pena em longo prazo? Para mim, não. Além disso, infelizmente diversos dos grandes laboratórios farmacêuticos costumam testar seus produtos em animais, e há ainda aqueles que não testam, mas compram insumos testados. É algo abstruso e pouco claro. Há também laboratórios “underground”, que além da possibilidade de colocarem a saúde do consumidor em risco por questões sanitárias, compram matéria-prima chinesa, onde o teste em animais é um padrão.
Mas cada um sabe de si e pesa na balança o que é melhor em acordo às suas metas. Como sempre tive objetivos modestos, assim como muita gente, e me exercito por prazer, treinar tendo como base simplesmente a alimentação é uma opção minha da qual não abro mão.
Um vegano subnutrido
Eu hoje de manhã, um vegano subnutrido. Atualmente estou em fase de queima de graxa, o que significa que estou seguindo uma dieta hipocalórica. Nessa fase, ao contrário do que muitos pensam, não corto carbos, apenas diminuo volumes e quantidade de refeições. Passo a fazer quatro refeições em vez de cinco ou seis. E mantenho um jejum de no mínimo 12 horas diárias. Ah, mas como você consegue perder gordura sendo vegano, já que vegano parece que só come carbo?
Não, isso não é verdade, basta consumir na proporção adequada ao seu peso corporal, e claro, sem negligenciar proteínas e lipídios. Proteínas vegetais? Sim, isso mesmo, nada de origem animal! Você está perdendo peso? Sim, claro, não há como queimar graxa sem perder peso. Não existe isso de substituir gordura por músculo, então é normal que as pessoas notem isso, principalmente no meu caso que não uso esteroides. Você faz aeróbico? Não, não tenho feito nenhum, só musculação.
Você está perdendo gordura em quais partes do corpo? Nele todo. Nosso organismo não escolhe onde queimar gordura, então isso acontece de forma geral. Por isso não acredito na tal da perda de gordura localizada de forma natural. E como você se alimenta? Todas as minhas refeições atualmente têm carbos e proteínas, e em alguns momentos do dia boas fontes de gorduras/lipídios. Você se sente menos disposto nessa fase?
Não, mas como estou comendo bem menos normalmente sou mais cuidadoso no treino porque o risco de lesões pode aumentar nessa fase hipocalórica, então não é bom forçar muito as articulações. Porém, sinto sim um pouquinho de perda de força, o que é natural em decorrência da alimentação. Mas nada que me incomode. Você está usando algum termogênico? Não, nada.
Minha base é só alimentação e treino. E meu treino é praticamente o mesmo também. Minha prioridade é a exaustão. Mesmo sendo vegano e não usando qualquer e esteroide ou recurso farmacológico, não vejo impossibilidade em alcançar qualquer objetivo em relação a isso. Tenho vontade o suficiente, e isso me basta, independente do que os outros pensam.
“Ô irmão, vi que você é forte, será que pode me tirar uma dúvida?”
No mercado, um funcionário se aproximou.
— Ô irmão, vi que você é forte, será que você pode me tirar uma dúvida?
— Posso sim. Pode perguntar.
— Então, é que estou fazendo musculação e queria umas dicas.
— Dicas de que exatamente? Musculação ou alimentação?
— Os dois.
— Você já segue alguma dieta?
— Sim.
— Treina há quanto tempo?
— Tem pouco mais de três meses.
— Você procura dica de suplementação para ganho de massa muscular?
— É…
— Imaginei. Vou ser honesto contigo. A princípio, não vejo necessidade de suplementação, até porque você já está seguindo uma dieta. Mas se você estiver com dificuldade para consumir a quantidade de proteínas que seu organismo demanda, uma boa pode ser a inclusão de algum suplemento proteico.
— E o que você me indica?
— Cara, vou ser sincero. Sou vegano, então naturalmente não vou te indicar nada de proteína animal. Minha sugestão é proteína isolada de soja, de arroz, de ervilha, que é o que eu consumo. Mas suplementos devem ser consumidos de acordo com as suas necessidades individuais. A isolada de soja tem um bom custo/benefício, é só você comparar com o preço das proteínas de origem animal. E não é difícil encontrar proteína vegetal não transgênica, apesar do que muita gente diz. Proteínas vegetais também fornecem boa quantidade de aminoácidos essenciais, são de fácil digestão, muitas não contêm aditivos químicos, o que significa que costumam ser mais “naturais”, e dependendo do tipo há a vantagem de serem hipoalergênicas.
— Muito bom saber disso. Não conhecia essas proteínas, só ouvia falar de whey. E vou ver melhor esse negócio de veganismo.
— Pois é. Existe muita publicidade sobre whey protein. Mas há opções vegetais que não deixam a desejar em nenhum aspecto.
— Legal mesmo. Obrigado!
Como você descobriu onde eu moro?
O cara chega na sua casa depois das 22h pedindo dicas de musculação. Você nunca o viu na vida.
— Como você descobriu onde eu moro?
— Me falaram por aí.
— Como assim por aí? Você vai me desculpar, mas isso é muito estranho.
— Como?
— Vir na minha casa essa hora sendo que nunca te vi.
— É que eu só tinha esse horário livre pra falar contigo, fora que a noite é mais silenciosa.
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Não preciso de proteínas de origem animal
Assim como muitos praticantes de musculação, já achei essencial o consumo de proteínas de origem animal (eu consumia mais ovos e laticínios – incluindo albumina, whey protein, caseína e outros tipos de proteína time-release). Afinal, nada melhor do que se empanturrar de proteína animal para ganhar massa muscular, não é mesmo? Já fazia exames periódicos, e tudo ia bem, claramente. Sendo assim, eu pensava:
“Estou no caminho certo! Saúde 100%.” Mas a diferença é que eu era muito jovem. E do tipo que consumia no mínimo 40 gramas de proteínas de origem animal por refeição, mas chegando a 60 gramas, dependendo. Parece muito? Tem gente que consome muito mais do que isso e pesando inclusive menos do que eu pesava. E quem disse que as consequências de se empanturrar de proteína animal surgiriam em curto prazo?
Mesmo que esse não seja o motivo de eu ter me tornado vegetariano e depois vegano, optei por me manter bem distante das proteínas de origem animal também por entender que não preciso disso para alcançar qualquer objetivo que custe a vida dos animais, além de consequências desnecessárias que não quis conhecer em longo prazo. Claro que tem muita gente que pratica musculação e que não dá a mínima para a própria saúde, se limitando a uma motivação estética. Então para essas pessoas, a crença predominante é de que “mais é sempre mais”, se isso as levar a algum lugar.
Mas eu sou do tipo que nunca colocaria isso acima da saúde. Fora que o consumo acentuado de proteína não beneficia ninguém mais do que a indústria alimentícia e os fabricantes de suplementos alimentares. Afinal, como vender proteína sem fazer a população acreditar que ela sempre precisa de mais do que o necessário? Quem critica o culto ao consumo acentuado de proteína são pessoas que não ganham nada com isso. Afinal, eles estão te incentivando a economizar dinheiro, não a gastar, como faz a indústria da proteína animal.
Vivemos numa época em que proteína animal virou um símbolo romântico do ser humano capaz de romper barreiras genéticas e superar a si mesmo simplesmente consumindo muita proteína animal. Esse é o lema de muitos jovens que povoam as academias do mundo afora. Eu? Não acredito em nada disso, porque sei que não é verdade. Talvez faça sentido se você conciliar muita proteína animal com esteroides anabolizantes, mas daí é um risco de dois espectros que cabe a você decidir se vale a pena. Conheço meus limites naturais, e eles são tranquilamente satisfeitos com a riqueza do mundo vegetal.
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Considerações sobre musculação, fisiculturismo e veganismo
Não é raro encontrar pessoas que dizem que veganos não conseguem chegar ao nível de fisiculturistas que não são veganos. O que acho? Talvez. Bom, acredito que há fatores a se considerar. Um deles é o fato de que claro que é mais fácil uma pessoa se empanturrar de proteína animal e alcançar o necessário para o ganho de massa muscular, até porque é mais cômodo. É exatamente por isso que a maioria dos que competem comem muita proteína animal. Por outro lado, não é tão difícil alcançar as necessidades individuais com proteína vegetal, com uma alimentação vegetariana. É preciso um pouco de interesse, boa vontade, paciência e empatia.
Mas claro que somente comida pode não ser o suficiente. Digo isso porque quando se fala em competição, as pessoas sempre pensam no nível dos grandes fisiculturistas internacionais, em atletas que competem no Mr. Olympia, Arnold Classic, e que obviamente não consomem poucos esteroides anabolizantes, nem mesmo fazem meros ciclos de EAs. São pessoas que, claro, se dedicam muito ao que fazem, dão a vida por isso. Mas não dá pra negar que jamais chegariam onde chegaram sem muitos recursos farmacológicos, e obviamente comem o que for necessário para acelerar o ganho de massa muscular.
Não serei hipócrita de dizer que uma pessoa pode ter um físico monstruoso simplesmente comendo comida, e isso independe se estamos falando de alimentação onívora ou vegetariana. Ninguém fica gigante só com comida, e aqui falo de alguém com quantidade imensa de massa muscular e baixo percentual de gordura. O ser humano tem um limite natural.
Claro, é possível ter um físico de qualidade sem usar EAs, ser visto como forte, grande e musculoso. Mas não no nível de atletas de elite, desses que são patrocinados ostensivamente por grandes marcas de suplementos alimentares importados. Como, por exemplo, um cara com 1,80m subindo no palco com mais de 100 quilos e 4% de gordura corporal. Esse é outro nível, outra realidade. Além disso, fisiculturismo não é sobre saúde, mas sobre desenvolvimento muscular.
Vivemos em um mundo onde tudo que é mais próximo do natural não tem grande espaço, não é admirado com o mesmo brilho do que não é. Não tenho nada contra quem usa esteroides anabolizantes, mas não é o que quero pra mim. Desde sempre treino por prazer. Sim, amo musculação, não é uma obrigação, e ela é parte importante da minha vida há mais de dez anos, até pelo fato de ter ter um papel terapêutico na minha vida. Ademais, ser vegano não me atrapalha em nada, até porque o que quero pra mim em relação a isso é o que o veganismo pode oferecer.
Se for pouco para os outros, tudo bem. Não sendo pra mim é o que me basta. Se alguém chegasse e dissesse: “Cara, tem uma substância de origem animal revolucionária que descobriram agora. Ela vai te levar a outro nível.” Eu simplesmente diria: “Não, obrigado.” Já cheguei onde gostaria de chegar. Se eu puder melhorar em algum sentido, tudo bem. Senão, bom também. Não tomar parte na exploração animal é tão importante pra mim que mesmo que eu tivesse limitações para melhorar a minha condição estética, ainda assim eu seguiria em frente, porque o meu físico não é mais importante do que a vida dos animais. E isso nunca vai mudar.
Acredito que qualquer pessoa que considera o veganismo de forma sincera tem isso em mente. Também é preciso ponderar o fato de que a maioria das pessoas que praticam musculação, sejam vegetarianas, veganas ou não, têm objetivos modestos. Querem apenas ganhar um pouco de massa muscular, diminuir o percentual de gordura ou garantir mais qualidade de vida. Sendo assim, são metas totalmente alcançáveis por veganos.
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Um breve papo sobre musculação
Cara 1 — Quem tem muita massa muscular normalmente não tem muito o que pensar. Não consegue pensar direito.
Cara 2 — Pra que ganhar massa muscular? Quer se mostrar?
Cara 3 — Consigo ganhar massa muscular muito rápido, mas não gosto. Não quero ficar grande. Isso seria ridículo e constrangedor.
Cara 4 — Musculação é de uma futilidade sem tamanho. Coisa de gente que não gosta muito de usar o cérebro.
Eu — Acho que não. Uma pessoa treinando uma hora por dia ou até menos consegue resultados incríveis com a musculação. Ou seja, ela ainda teria outras 23 horas por dia disponíveis. Não sei de onde as pessoas tiram que quem é musculoso passa o dia na academia. Além disso, musculação pode ser vista como uma arte. Em algumas correntes artísticas há obras que são criadas em curto prazo. Isto não existe na musculação porque a matéria-prima não é meramente estática, não é exata. Além das peculiaridades genéticas, perpassa pela volatilidade das questões fenotípicas e somatotípicas. E no contexto do fisiculturismo é algo que exige maturidade muscular e surge sob três conceitos estéticos: volume, simetria e definição. Na minha análise, há princípios semelhantes que encontramos na Grécia Antiga e na Roma Antiga, como bem registrado por muitos escultores; e também em períodos da cultura barroca. Claro, com um basilar e distinto critério, já que nos tempos da contrarreforma se exaltava a opulência.
Caras 1, 2 3 e 4 — O que você disse aí?
Eu — Nada…
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Patrik Baboumian: “A força deve construir, não destruir. Minha força não precisa de vítimas. Minha força é a minha compaixão”
“Eu reprimia também o fato de que o meu próprio comportamento enquanto consumidor levava ao sofrimento animal”
Nascido em Abadan, no Irã, em 1º de julho de 1979, o atleta de strongman Patrik Baboumian, de origem armênia, se mudou com sua mãe e sua avó para a Alemanha quando ele tinha apenas sete anos. “Sempre tive fé em meus planos de construir uma carreira nos esportes de força, mas inicialmente eu era o único que acreditava nisso. Minha mãe era o meu maior obstáculo quando decidi ingressar em uma academia aos 15 anos. Ela estava preocupada que eu pudesse ter más influências. Agora ela está muito feliz por eu ter resistido a ela e corrido atrás do que acabou sendo o meu destino”, informou em entrevista a Lilly Torosyan, do Armenian Weekly, em 29 de agosto de 2012.
O que despertou em Baboumian o sonho de se tornar um atleta de força foi uma experiência que teve com seu falecido pai – assistir a série “O Incrível Hulk”, protagonizada pelo fisiculturista Lou Ferrigno. A ideia de um homem verde e forte rasgando a camiseta transmitiu a ele uma poderosa ideia de força. “Quando o bombardeio está acontecendo, você vê muitas pessoas gritando ao seu redor, e você não pode fazer nada porque você é pequeno. Então você só quer fugir disso e ser forte”, disse a Jessica McDiarmid, do The Star, em 8 de setembro de 2013, se referindo às consequências da Revolução Iraniana.
Depois de construir uma carreira sólida como atleta de força, um dia, Patrik Baboumian começou a refletir sobre o consumo de carne e concluiu que ingerir proteína animal era incompatível com a sua compaixão pelos animais. Ele não chegou a ser influenciado por fatores externos, nem mesmo pesquisou sobre o assunto. “O que percebi, depois de pensar sobre a minha vida, é que desde a infância sempre me senti compassivo em relação aos animais. Isso foi expresso em minha necessidade de ajudar os animais que estavam em perigo ou sofrendo”, contou ao Vegetarian Bodybuilding.
Em uma ocasião, o atleta cuidou de um pássaro ferido e o abrigou em sua casa durante todo o inverno. Também forneceu refúgio a um pequeno ouriço no outono. “Quando vejo um pássaro, tenho o desejo de ajudá-lo. Isso é incoerente comigo indo ao supermercado no mesmo dia para comprar peito de frango. Entendi que em um caso eu via o sofrimento diante dos meus olhos, e no outro não era visível para mim. Eu reprimia também o fato de que o meu próprio comportamento enquanto consumidor levava ao sofrimento animal, assim como a maior parte da nossa sociedade faz todos os dias”, lamentou.
Diante dessas reflexões, Patrik Baboumian viu apenas duas opções: continuar consumindo proteína animal e ignorar o sofrimento animal ou seguir sua compaixão e mudar de vida. Em 2005, ele tomou a decisão de banir todos os tipos de carne da sua alimentação. “Talvez não seja o suficiente você apenas parar de comer animais. Talvez você devesse boicotar toda a indústria animal, porque…não é o que você, como um ser compassivo, iria querer [financiar]. Então você deveria dar um passo à frente e se tornar vegano”, argumentou em entrevista ao The Star.
Em 2011, quando conquistou o título de homem mais forte da Alemanha, o atleta parou de consumir ovos e laticínios, e foi mais além – abraçou o veganismo. Mesmo sem saber se isso iria afetar o seu desempenho como atleta e o seu grande volume muscular, Baboumian não pensou duas vezes.
“Eu sofria de azia constante ao consumir produtos lácteos. É importante saber que proteína de origem animal contém quantidades especialmente elevadas de aminoácidos contendo enxofre. Isso leva a uma excessiva acidificação do corpo. Se torna evidente quando se tem azia, e a coisa diabólica sobre essa situação é que, a princípio, beber leite ajuda. O estômago tem algo a fazer nesse momento, e o ácido fica equilibrado. Eu não percebia que a azia era causada em primeiro lugar pelos laticínios”, declarou ao Vegetarian Bodybuilding.
A transição para o veganismo foi mais fácil do que Patrik Baboumian imaginava. Duas semanas depois que ele se tornou vegano, o desejo por produtos lácteos, que ele consumia em grande quantidade, desapareceu. “Quando você é viciado em algo e fica em abstinência por muito tempo, o desejo desaparece”, explicou e acrescentou que o seu desempenho atlético se manteve estável, e depois melhorou em longo prazo. Segundo Baboumian, o veganismo o ajudou a se tornar mais forte, acelerou a sua recuperação após o treinamento e ampliou a sua sensação de bem-estar.
Além disso, ele não teve problemas em conquistar mais massa muscular. Mas, claro, é preciso levar em contar que o atleta é um sujeito consciente, e que sempre se preocupou em garantir a ingestão adequada de carboidratos, proteínas e gorduras. “A proteína é um fator chave para o desenvolvimento de um corpo que é capaz de suportar os eventos extenuantes que você precisa enfrentar como strongman”, ponderou em entrevista ao TheAllAnimalVegan em 5 de outubro de 2013.Também foi em 2013 que Patrik bateu o recorde mundial de yoke walk, carregando 550 quilos por mais de dez metros durante o Toronto’s Vegetarian Food Festival. Ao final, soltou um rugido e berrou: “Vegan power!” Em 2014, ele voltou a sua atenção para a publicação de um livro sobre nutrição esportiva intitulado “VRebellion”, em que responde perguntas frequentes sobre nutrição vegana e como ganhar peso, força e músculos.
“Quis fornecer uma pequena visão sobre as particularidades da minha dieta, porque simplesmente acho que faço certas coisas de forma diferente. Talvez eu possa dar uma ou duas dicas úteis para pessoas interessadas no estilo de vida vegano”, declarou ao Vegetarian Bodybuilding. Patrik Baboumian também encarou a publicação do livro como uma oportunidade de dizer o que muitos veganos gostariam – que muitas pessoas que consomem carne, já consomem muitos alimentos de origem vegetal, logo não há sentido em olhar com tanta estranheza para a alimentação de um vegano.
“Você deve pensar sobre o fato de que uma dieta vegana não consiste apenas de saladas e legumes. Batatas, aveia, arroz ou macarrão de sêmola de trigo durum – há uma abundância de incríveis fontes de energia para o corpo. Amendoins, por exemplo, são uma maravilhosa fonte de proteínas e gorduras vegetais”, enfatizou. Baboumian também citou feijões, lentilhas e ervilhas como boas fontes proteicas.
Desde que se tornou vegano, suas principais fontes de proteínas são leite de soja, proteína isolada de soja, tofu, nozes e feijões, e fez um alerta: “Se seu corpo é muito ácido, ele não pode digerir proteínas em ótimos níveis e, para um atleta de força preocupado com uma oferta suficiente de proteínas, isso é um pesadelo.”
Para obter energia, ele recorre a carboidratos como arroz, batata, aveia e frutas, além de verduras e legumes. “Uso shakes e smoothies para obter muitas calorias em forma líquida, porque para mim é difícil comer tudo que preciso para ganhar peso e manter o desenvolvimento de força”, confidenciou.
Em 2015, ele bateu o seu próprio recorde de yoke walk, ao carregar 560 quilos durante 28 segundos. De acordo com Baboumian, a sua vantagem em relação aos outros atletas é que ele prioriza tanto o seu aspecto físico quanto mental.
“Como sou muito pequeno para competir na divisão de pesos pesados, minha única chance de superar a desvantagem física é ser mentalmente mais forte. Um fato é que eu nunca desisto. Ganhei o título de homem mais forte da Alemanha três semanas depois de uma lesão muscular em minha panturrilha esquerda. Eu mal conseguia andar três dias antes da competição. Fiz tudo que estava ao meu alcance para me recuperar o mais rápido possível”, destacou.
Os três exercícios mais importantes para Patrik Baboumian são multiarticulares – agachamento livre, levantamento terra e levantamento de tronco. A justificativa é que para ele são os mais eficazes quando se trata de construir massa muscular e força. “Como um atleta vegano lutando contra os estereótipos comuns de veganos como magros e fracos, me considero mais um guerreiro com propósito de atleta”, frisou.
Após se tornar vegano em 2011, outra mudança é que Baboumian parou de usar muitos suplementos que ele superestimava, reduzindo a lista à creatina, beta-alanina, levedura nutricional, vitamina B12, fenacho, canela-do-ceilão (como antioxidante) e glutamina. “Nunca me senti tão bem em toda a minha vida. Desde que escolhi esse estilo de vida por razões éticas, vou cumpri-lo independentemente da minha carreira. […] A força deve construir, não destruir. Minha força não precisa de vítimas. Minha força é a minha compaixão”, justificou.
À noite, Patrik Baboumian, que mora na área rural de Berlim, gosta de fazer longas caminhadas para relaxar e refletir, e normalmente acompanhado de um cão. “Adoro estar na natureza enquanto todo mundo dorme. Aprecio a atmosfera tranquila, sem o ruído da vida humana que é onipresente durante o dia”, narrou ao Vegetarian Bodybuilding.
Questionado se teria alguma sugestão a dar para quem está cogitando o vegetarianismo ou o veganismo, ele recomendou que as pessoas não deem ouvidos aos supostos gurus da nutrição e da indústria de suplementos que dizem que precisamos de carne, ovos e laticínios para conseguir proteínas o suficiente. “Há uma abundância de fontes de proteínas vegetais, e seu corpo vai agradecer por você parar de alimentá-lo com alimento morto. Go vegan and feel the power!”, sugeriu no Toronto’s Vegetarian Food Festival em 2013.
Saiba Mais
Desde que se tornou vegano, Patrik Baboumian tem participado de campanhas em favor dos direitos animais e do veganismo.
Em 2009, ele bateu o recorde mundial de levantamento de tronco, erguendo 165 quilos. Desde então, o atleta tem vencido o Campeonato Alemão de Levantamento de Tronco.
Referências
https://www.thestar.com/news/gta/2013/09/08/vegan_strongman_shoulders_550_kg_a_record_perhaps_at_vegetarian_food_fest.html
http://www.greatveganathletes.com/patrik-baboumian-vegan-strongman
Big Armenian Heart: An Interview with the ‘Strongest Man of Germany’
Vegan Badass Patrik Baboumiam: “I Compete to Change the World”
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Proteínas e musculação
Todos os dias, vejo pessoas se empanturrando de proteínas, algumas inclusive com baixas necessidades – e aqui faço questão de citar principalmente aquelas que pesam menos de 80 quilos. Mal sabem que isso na realidade não vai fazer nenhuma diferença no ganho de massa muscular ou se lá qual for o objetivo para se consumir tantas proteínas.
Vivemos em uma sociedade que exalta tanto as proteínas de origem animal que, pelo menos no meio da musculação, é mais fácil encontrar quem consome proteínas em excesso do que quem as consome em quantidade suficiente ou até mesmo inferior ao necessário. A indústria foi magistral em criar falsas necessidades simplesmente para gerar lucro. E falo disso com alguma propriedade porque anos atrás eu também acreditava que o caminho era consumir grande quantidade de proteínas.
Em academias, vemos inclusive mulheres leves, que fazem inúmeras refeições ao dia e, ainda assim, não abrem mão do shake de whey protein. Talvez seja um placebo que gere algum tipo de motivação, porque é ingenuidade crer que é preciso se empanturrar de proteínas para alcançar qualquer objetivo.
Conheça seu corpo, suas próprias necessidades e busque ajuda profissional se necessário, mas uma dica que dou levando em conta os meus mais de dez anos de musculação é: se distancie desse mito que faz as pessoas associarem musculação com quantidades estratosféricas de proteínas. A maior prova da força da indústria é a incapacidade da maioria em conversar sobre musculação sem citar proteínas na maior parte das frases sobre o assunto.
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