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70 anos depois, episódio vira documentário em Paranavaí

No dia 23 de novembro de 1949, um avião Douglas DC-4, de Transocean Air Lines (EUA), perdeu a rota com destino a Asunción, no Paraguai, e teve de fazer um pouso forçado em Paranavaí (Acervo: Ivan Botelho)
No dia 23 de novembro de 1949, um avião Douglas DC-4, da Transocean Air Lines (EUA), perdeu a rota com destino a Asunción, no Paraguai, e teve de fazer um pouso forçado em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. A aeronave norte-americana em missão humanitária da ONU transportava 74 passageiros mongóis e oito tripulantes estadunidenses.
Sob o comando do piloto Harvey Rogers e do navegador John Roenninger, o objetivo era cruzar o Oceano Pacífico, levando refugiados para recomeçarem suas vidas na América do Sul, livres da perseguição política e das graves dificuldades econômicas em sua terra natal.
Naquele dia estava começando a anoitecer quando alguns moradores viram um avião de grandes proporções cruzando o céu de Paranavaí, perdido em decorrência da pouca visibilidade e ansiando por uma pista de pouso.
Esse episódio é tema do documentário “Paranavaí 1949: Douglas DC-4”, lançado nesta sexta-feira (22) pelo jornalista David Arioch no canal Colônia Paranavaí no YouTube. A data antecede os 70 anos da passagem do avião por Paranavaí, celebrada no sábado (23).
Com duração de 11 minutos, o filme traz relatos de quem testemunhou a chegada do Douglas DC-4 e acompanhou de perto toda a movimentação envolvendo o acontecimento que foi considerado o mais importante de 1949 em Paranavaí, quando ainda era distrito de Mandaguari.
Entre os entrevistados estão Pedro Carvalho, Ephraim Machado, Ivan Botelho, Persiliana Domingos, Joseplinia Domingos e Clara Francisco. David Arioch, que em 2011 teve o seu trabalho sobre a colonização de Paranavaí premiado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR), assina o roteiro, direção e edição. Já o cinegrafismo é de Amauri Martineli, fotógrafo, ator e produtor cultural.
O projeto é realizado pela Prefeitura Municipal de Paranavaí, Fundação Cultural e Conselho Municipal de Política Cultural e foi aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e está sendo financiado com recurso público oriundo do Edital de Apoio à Cultura 001/2019 – Fundo Municipal de Cultura de Paranavaí.
Quatro horas ministrando palestra sobre a história de Paranavaí
Hoje de manhã, ministrei uma palestra de quatro horas sobre a história de Paranavaí para professores de história e geografia. Falei um pouco da colonização e formação de Paranavaí. Depois enveredei pela história de importantes personagens locais e regionais, além de abordar a história e a realidade de bairros da periferia, como a Vila Alta.
Estou sem voz, mas a experiência foi muito boa. Boa interação e todo mundo prestando atenção; ninguém bocejando ou dormindo. Foi mais uma experiência gratificante. Sem dúvida, uma das melhores partes de uma palestra é quando as pessoas conversam com você ao final, elogiam o seu trabalho e pedem para tirar foto contigo. É um bom indicativo.
Minhas histórias sobre Paranavaí e seus personagens
Compartilho histórias sobre Paranavaí e seus personagens porque pesquisei e escrevi sobre isso ao longo de dez anos. Assim que entrei na verdadeira fase adulta, e influenciado pelo regionalismo literário e pelo jornalismo literário que teve e tem grande peso na minha vida, fui levado por esse caminho. Inclusive sou grato por ter conquistado alguns prêmios em decorrência disso, embora eu nunca tenha gostado de competição.
Desde criança, sou muito curioso. E sempre estranhava quando eu perguntava o nome de uma via, alguém respondia, mas não sabia dizer quem era aquela pessoa que foi homenageada com nome de rua. Mas acredito que a minha curiosidade em relação ao passado, tempos longínquos em que nem mesmo meus pais tinham nascido, começou com minhas visitas ao cemitério na infância.
Eu passava horas percorrendo túmulos, lápides e gavetas lendo datas e tentando imaginar como era o mundo daquelas pessoas. Também fui influenciado pelos contadores de histórias da minha família, como meu falecido avô. Bem distante de coisas como bairrismo, ufanismo ou coisa do tipo, sou apenas alguém que reconhece que todo lugar, independente de tamanho, tem muitas histórias; mas narrá-las de algum modo vai depender sempre da boa vontade humana.
Gosto da oralidade como fonte de escrita, porque posso ter contato com muitas bibliotecas em forma de gente. E claro, antes que elas partam e levem consigo todas as páginas que foram seus olhos, suas experiências, suas vidas. Afinal, sempre que um caixão se fecha, livros são enterrados.
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Pré-lançamento do meu livro “Areia Branca – Histórias de Paranavaí”
Hoje, às 20h, começa o pré-lançamento do meu livro “Areia Branca – Histórias de Paranavaí” na Unidade Central do Sesc. Atualmente o livro está em fase de diagramação. Como sou chato e tenho algumas pendências para resolver, vai levar um tempinho ainda pra ele ser lançado. Tenho muitas histórias legais e surpreendentes para contar. Apareçam por lá e fiquem à vontade para me fazer perguntas. É tudo de graça.
“A obra reúne em ordem cronológica dezenas de histórias sobre a colonização e formação de Paranavaí. A partir de fatos intrigantes e insólitos, envolvendo personagens lendários e anônimos, a obra conduz o leitor à imersão em um universo onde a realidade parece inspirada pela ficção.”
“Não aceito que um bicho morra para que eu possa me alimentar”
O aposentado José Francisco de Oliveira, o Seu Zé, sobrevive com um salário mínimo por mês e, mesmo com sérias limitações, se preocupa em cuidar dos animais que circulam pela sua pequena residência. Gasta cerca de sete pacotes de quirela por mês alimentando centenas de pássaros. “Tem dia aqui que chego a contar 200 rolinhas de uma vez. Fica tudo preto. Eu não mato um passarinho de jeito nenhum, nem que eu morra de fome. Não aceito que um bicho morra para que eu possa me alimentar. Teria vergonha de matar um animal pra comer”, conta.
Seu Zé começou a valorizar a liberdade dos animais em 1925, aos oito anos, quando morava em uma roça nas imediações do Rio Capivari, no interior de São Paulo. “Eu estava andando por aquelas bandas carregando quatro gaiolas cheias de passarinhos, daí, do nada, os bichinhos começaram a fazer ‘tiu, tiu, tiu’, ‘prim, prim, prim’, ‘tiziu, tiziu, tiziu’. Parei, fiquei olhando e escutando. Carreguei eles mais um pouco e quando cheguei em casa, abri cada uma das gaiolas e soltei todos. Nunca mais prendi nenhum passarinho. Se eu tivesse dinheiro, comprava tudo pra soltar”, garante Seu Zé.
José Francisco de Oliveira tem um estilo de vida simples, sem apego material, passa horas do dia em introspecção, envolvido em uma forma bastante pessoal de espiritualidade. Admite que diariamente divaga até um passado que lhe conforta a existência. “Sinto muita falta da minha mulher e da minha filha que faleceram, mas não tenho arrependimentos, nem medo de morrer”, confidencia.
Saiba Mais
José Francisco de Oliveira nasceu em 7 de agosto de 1917.
Ele vive em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, desde a década de 1940.
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Um bate-papo com Chicão Soares
Passei a primeira hora da minha manhã de trabalho batendo um papo sobre jornalismo histórico com o jornalista Chicão Soares. Uma figura ímpar que já entrou para a história do jornalismo paranaense – são 61 anos dedicados à profissão. “Já pensei em parar de escrever, mas não consigo. Além disso, na minha família a tradição é não morrer antes dos 100. Então tenho muito o que fazer”, enfatizou sorrindo.
Museu de Paranavaí vai ser reinaugurado no dia 5 de junho
Espaço reúne mais de 600 peças que remetem às mais diferentes fases da formação de Paranavaí
No dia 5 de junho, o Museu Histórico, Antropológico e Etnográfico de Paranavaí vai ser reinaugurado ao lado da Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, na antiga Estação do Ofício. Para comemorar a reabertura, a Fundação Cultural preparou uma programação para pessoas de todas as idades.
Às 14h, começa uma apresentação de roda de capoeira, seguida pela abertura oficial do museu e visita monitorada. “Faremos um passeio pelo acervo da história de Paranavaí. Também vamos oferecer brincadeiras e jogos tradicionais como peteca, amarelinha, cinco marias, ciranda, pula-corda, elástico, dobradura e arte em papel, além de contação de histórias”, explica a coordenadora da Casa da Cultura, Rosi Sanga, que também administra o museu.
Uma biblioteca especial vai ser montada no local, onde o público pode ter acesso ao Cantinho da Leitura e a um sebo com venda de livros usados. “Às 16h, faremos um piquenique coletivo e às 17h30 o encerramento vai ficar por conta do forró pé de serra com a turma do professor de música Glau Ribeiro”, informa Rosi. Uma exposição de obras de arte, um varal literário com obras de escritores paranaenses e declamações de poemas também fazem parte da programação.
Um acervo com 2,8 mil fotos
O Museu de Paranavaí reúne mais de 600 peças que remetem às mais diferentes fases da formação de Paranavaí. Há inclusive objetos dos tempos da Fazenda Brasileira, como Paranavaí era conhecida nas décadas de 1930 e 1940, e um acervo com 2,8 mil fotos. Muitas já foram digitalizadas e devem compor o Memorial Digital do Pioneiro. O espaço pode ser visitado de segunda à sexta das 8h às 17h. Para mais informações, ligue para (44) 3422-5018.
A chacina das galinhas
“Se for troca de tiros, a gente derruba ele e quem mais vier”, garantiu José em tom sisudo

“Que diabos aconteceu aqui? Quem fez isso com as minhas galinhas?”, se perguntou José em 1956 (Foto: David Arioch)
Em 1956, o pioneiro José Alves de Souza vivia em um rancho nas imediações da Avenida Tancredo Neves, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, quando chegou em casa e encontrou as suas 15 galinhas mortas. Compradas em menos de uma semana, foram violentamente estraçalhadas e partes das vísceras estavam no chão de terra, misturadas às penas.
“Que diabos aconteceu aqui? Quem fez isso com as minhas galinhas?”, se perguntou José levando as mãos à cabeça. Na semana seguinte comprou mais 15 galinhas e outras vez foram mortas brutalmente. O objetivo de José era criar e vender animais. No entanto, ele não sabia que os cães de caça de Paranavaí tinham o hábito de invadir propriedades para comer as galinhas.
“Na época tinha muitos caçadores na cidade e isso significava muitos cães de caça. Eles eram violentos demais, invadiram uma fazenda e mataram todos os carneiros”, enfatiza. Irritado, José conversou com o irmão e decidiram comprar armas de fogo. Naquele tempo cada caçador tinha de 15 a 30 animais. Um homem conhecido como Nego possuía 26 cães de caça. “Alguns tinham mais de 30. Aquele mundo velho de cachorro acabando com tudo. Não dava pra criar nada”, desabafa.
Um dia o irmão do pioneiro chegou em casa com uma garrucha e duas espingardas. Juntos, treinaram tiro ao alvo no quintal, chegando a acertar caixinhas de fósforo à longa distância. “Quando aparecia cachorro a gente metia bala, até que começaram a sumir. Daí um valentão da cidade, que além de caçador estava concorrendo às eleições de 1956, mandou um dos seus capangas em casa pra dar um recado”, narra.
Numa manhã ouviram alguém batendo palmas e berrando em frente ao rancho. Era um homem forte, de má fama e expressão carrancuda que observava José. “Não mata o cachorro do patrão porque ele é bravo. Ele derrota vocês”, alertou enquanto alisava o gatilho de uma pistola presa à cintura. Sem hesitar, o anfitrião respondeu que seria mais fácil ele e o irmão vencer o invasor. “Se for troca de tiros a gente derruba ele e quem mais vier”, garantiu em tom sisudo. O visitante ficou espantado com a reação de José, de 24 anos, que teve o discurso endossado pelo irmão mais novo.
“A gente era peão, sem conhecimento de nada. Não pensava nem em Deus, mas acreditava que ninguém deve abaixar a cabeça pra ninguém. Também sabia que já existia muita maldade no mundo”, relata. Dias depois receberam a visita inesperada do homem que ameaçou matá-los. O sujeito os cumprimentou e perguntou se jogavam carteado. “Catamos um baralho velho e começamos a brincar. Ficamos amigos e depois até a família dele passou a frequentar a nossa casa”, revela.
Museu de Paranavaí vai ser reinaugurado em abril
Nova sede vai abrigar mais de 600 objetos e 2,8 mil fotos sobre a história local
Fundado em 2007, o Museu de Paranavaí sempre funcionou nas dependências da Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade. Porém, a partir da segunda quinzena de abril, o museu começa a atender em um novo espaço – na antiga Estação do Ofício. Atualmente o local está passando por reformas e adaptações feitas pelos colaboradores da Fundação Cultural de Paranavaí.
“Estamos fazendo um trabalho com muito amor e carinho, baseado no improviso e na criatividade”, comenta a coordenadora do Museu Histórico, Antropológico e Etnográfico de Paranavaí, Rosi Sanga, que ao longo dos anos conseguiu reunir mais de 600 peças que remetem às mais diferentes fases da formação de Paranavaí.
Há inclusive objetos dos tempos da Fazenda Brasileira, como Paranavaí era conhecida nas décadas de 1930 e 1940, e um acervo com 2,8 mil fotos. Muitas já foram digitalizadas e devem compor o Memorial Digital do Pioneiro. “Assim que o Museu for reinaugurado, vamos continuar com nossas exposições. Elas são baseadas em histórias que começam na época dos índios, embora eles não tenham vivido exatamente onde a cidade surgiu. Também falaremos da derrubada da mata, da fase econômica do café e de outros ciclos. O mais interessante é que aqui cada objeto tem uma memória a ser narrada”, revela Rosi.

Uma das paredes do museu está abrigando quadros que ajudam a contar a história de Paranavaí (Foto: David Arioch)
Uma das paredes do museu já está abrigando quadros que ajudam a contar a história de Paranavaí através das pinturas da artista Cecília Tortorelli. Importante referência para quem quer aprender um pouco sobre a colonização local e regional, o museu possui coleções, objetos do cotidiano, itens numismáticos, documentos e instrumentos de trabalho. Visitar o museu é uma grande oportunidade para entender o surgimento de Paranavaí e o seu desenvolvimento, principalmente nas décadas de 1930, 1940, 1950 e 1960.
Outra novidade é que no entorno do museu vai ser criado um canteiro com ervas medicinais usadas nos tempos da colonização. “Do lado de fora, vamos exibir depoimentos de pioneiros sobre essas ervas. Também vamos deixar dois tipógrafos em exposição na parte externa”, enfatiza. A tradicional Sala de Imagem e Som, que funcionava na Casa da Cultura e reunia um bom acervo de materiais e equipamentos de rádio, TV e cinema, também vai funcionar nas dependências do museu.
“A partir da segunda quinzena de abril, se tudo der certo, vamos atender das 8h às 17h, mas caso alguém nos ligue com antecedência, querendo conhecer a exposição, podemos abrir também fora do horário comercial”, declara a coordenadora. O Museu de Paranavaí continua recebendo doações, desde que sejam itens com relevância histórica. Para mais informações, ligue para (44) 3422-5018.
Saiba Mais
O Museu Histórico, Antropológico e Etnográfico de Paranavaí é administrado pela Fundação Cultural de Paranavaí.
Casa de secos & molhados de Carlos Faber em 1944

Casa Faber, fundada em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, pelo comerciante Carlos Faber em 1944. Quando ainda vivia na Gleba Roland (Rolândia), no Norte Pioneiro do Paraná, o pioneiro, que na juventude cruzou mares a bordo de uma canoa, saía à noite ou de madrugada a pé para buscar mercadorias em Londrina. À época, atravessava a mata com um saco apoiado nas costas (Acervo: Fundação Cultural de Paranavaí)