David Arioch – Jornalismo Cultural

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Archive for the ‘Realidade da Periferia’ Category

Quando a união faz a força

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Idoso da Vila Alta precisa de ajuda para reformar a própria casa

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Seu Zé tem alguns problemas de saúde e recebe menos de um salário mínimo por mês (Foto: David Arioch)

O aposentado José Rodrigues, mais conhecido como Seu Zé, é morador da Vila Alta, em Paranavaí, e está passando por uma situação muito difícil. Com vários problemas de saúde e recebendo menos de um salário mínimo por mês, o idoso de 71 anos vive em uma casa que precisa de reforma urgente. Além de um telhado visivelmente comprometido, as vigas precisam ser substituídas. O banheiro, que há muito tempo foi construído de forma improvisada, já não pode ser utilizado devido a uma série de problemas.

As rachaduras nas paredes da casa também chamam a atenção, assim como os graves problemas de infiltração. Por isso, Seu Zé está fazendo um apelo para que as pessoas o ajudem na aquisição de materiais para a reforma da sua residência. José Rodrigues já tem garantida uma contribuição para ajudar na compra das telhas, mas ainda precisa de recursos principalmente para a aquisição de 20 metros de piso, cinco sacos de argamassa, quatro quilos de rejunte, um metro de areia, dois sacos de cimento, três sacos de cal, um conjunto de peças para o banheiro – vaso sanitário e lavatório e encanamento. Um pedreiro foi até a casa do idoso, avaliou tudo e cobrou R$ 2 mil pelo serviço.

Seu Zé também tem dificuldades para caminhar e a visão parcialmente comprometida. Outro problema é que como não há rede de esgoto, na entrada da casa há uma fossa aberta há quatro anos que já está cedendo. No geral, o idoso não tem uma boa perspectiva do futuro, mas gostaria que a sua realidade não fosse tão amarga. José Rodrigues não tem telefone fixo nem móvel, mas pode ser localizado na Rua E, a última rua da Vila Alta, onde não há asfalto, em uma residência sem número – sentido à Farinheira Cassava.

Saiba Mais

Você pode obter mais informações sobre a situação do Seu Zé indo até a casa dele ou ligando para (44) 99909-2513 (David) ou (44) 3062-1961 (Tio Lu).

 

 

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February 19th, 2018 at 2:02 pm

Um exemplo de simplicidade e sensibilidade

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Arte: John Lautermilch

Fui na Vila Alta conversar com uma senhora que teve o marido assassinado com um tiro na cabeça em um bar. Ele foi usado como escudo em um acerto de contas entre jovens envolvidos com o narcotráfico. Me surpreendeu a simplicidade dela, uma pessoa de fala mansa que não sente raiva nem ódio de ninguém, mesmo depois de uma tragédia. Me disse que gostaria apenas que as pessoas parassem de se matar em vez de destruir a própria vida e a dos outros.





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July 26th, 2017 at 9:38 pm

Quando levo pessoas de outras realidades para a Vila Alta

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Quando levo pessoas de outras realidades para a Vila Alta, na periferia de Paranavaí, consigo ver o receio em seus olhos. É um medo que também vem do estranhamento em não perceber que aquela realidade só existe porque não apenas os governantes e legisladores são passivos, mas também nós mesmos.

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July 19th, 2017 at 12:17 am

O desabafo de uma criança

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Registro do fotojornalista Steve McCurry, em uma favela em Alto Churumazu, no Peru

Na Vila Alta, ouvi uma coisa que voltou a me surpreender, e esse é um dos motivos pelo qual quero voltar a frequentar a periferia com mais frequência. Enquanto conversávamos com a Dona Maria, uma das lideranças do bairro, ela disse que uma criança de sete anos fez um desabafo doloroso no final de semana.

O garotinho disse que seu pai já lhe causou tanto mal que ele quer crescer logo para descontar tudo isso nas outras pessoas. Que elas vão ter que sentir toda a dor que ele sente. Achei aquilo bem pesado, mas, frequentando a periferia desde 2009, já ouvi crianças do bairro dizendo coisas parecidas.

E muitas vezes elas não têm nenhuma referência, alguém para lhes dar alguma direção, conhecer a realidade deles. E eles precisam de pessoas de confiança, em quem possam confiar, que não estejam lá apenas para desempenhar um trabalho, cumprir um papel profissional; mas que realmente façam questão de conhecer suas mentes e seus corações.

 





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June 28th, 2017 at 8:48 pm

Nem todos os jovens que cometem delitos são irrecuperáveis

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Arte: Banksy

Me recordo que na minha adolescência eu e alguns amigos assistíamos aqueles filmes em que professores realizavam trabalhos de recuperação social dos piores estudantes em escolas dos Estados Unidos. Alguns alunos eram usuários de drogas, ladrões, entre outros. Isso emocionava toda a gente.

Achavam lindo ver aquela transformação na telinha. inclusive quando os filmes eram exibidos nas escolas, todo mundo ficava emocionado. Alguns até choravam. As pessoas amavam esse tipo de filme. Será que é porque era apenas ficção e se passava nos Estados Unidos? Quero dizer, se for algo real e próximos de nós, não devemos cogitar a possibilidade de um trabalho de recuperação?

Acredito que podemos sim. E posso citar como exemplo a minha experiência. Frequento a Vila Alta, um dos bairros mais pobres de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, desde 2009, onde tento contribuir como posso, e de forma voluntária. Quero dizer, não ganho nada pra isso. Nunca ganhei. Claro, a não ser satisfação em contribuir. Inclusive fiz reportagens, artigos e documentários sobre essa realidade.

Lá, conheci dezenas de garotos que já cometeram delitos, e muitos são recuperáveis. Posso citar inúmeros que não praticaram mais nenhum crime. Um deles mudou de vida depois que conseguimos uma mochila e uma porção de materiais escolares. Então, sim, em oito anos mantendo contato com jovens que já se envolveram em “coisas erradas”, posso dizer com alguma propriedade que vale a pena acreditar nessa molecada, nem todos estão perdidos. Se você não acredita, que tal se perguntar o que você pode fazer para ajudar a mudar isso?

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June 18th, 2017 at 8:52 pm

A lição de Dona Maria

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Dona Maria cuidando de seus companheiros animais (Fotos: David Arioch)

Em março de 2014, comecei a produzir um documentário sobre a realidade da periferia. Durante as filmagens, conheci a Dona Maria, uma senhora que trabalhava recolhendo materiais recicláveis.

Em uma manhã, testemunhei o estado lastimável de sua casinha, atingida por uma forte enxurrada. Ela me contou que perdeu quase tudo. Apesar da situação extremamente difícil, a sua maior preocupação era com os animais com quem ela convivia. 

No interior do casebre, sobre uma pequena cama, estava uma cadelinha, a quem ela tratava como se fosse uma filha. Dias antes, a cachorrinha tinha passado mal e ela percorreu quilômetros a pé, até encontrar um médico veterinário.

No casebre, moravam também outros dois cães que gostavam de ficar perto da única porta, como se fossem responsáveis pela segurança do lar. Em cima de um colchão, me deparei com o que mais me chamou a atenção – três pratinhos com ração.

Dona Maria não ganhava nem o suficiente para a subsistência, chegando até a passar fome, e dois dias antes quase perdeu a casinha construída com as próprias mãos. Apesar de tudo, ela afirmou que o mais importante era cuidar de seus três companheiros animais.

 

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June 15th, 2017 at 3:03 pm

Idoso precisa de ajuda para tratamento de doença infecciosa aguda

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Seu Juvenal sofre em decorrência de erisipela, uma doença que causa inchaço extremo nos pés e nas pernas (Foto: David Arioch)

O aposentado Juvenal Ferreira, que sobrevive com apenas um salário mínimo, e há muito tempo deixou de andar em decorrência de graves problemas de saúde, passa o dia em uma cadeira de rodas. Morador da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, ele sofre em decorrência de uma doença infecciosa aguda chamada erisipela, que provoca extremo inchaço nos pés e nas pernas.

“Tenho outros problemas de saúde, mas esse é o pior. Tem dia que não consigo dormir, porque a dor é muito grande. O medicamento não é oferecido pelo SUS, então a gente tem que comprar na farmácia. Já estou endividado e não tenho mais condições de continuar comprando os remédios; e são caros pra gente. Não é fácil, meu filho”, explica.

Seu Juvenal conta com o apoio da esposa, Dona Neide, que é quem se responsabiliza por todas as suas necessidades diárias, já que ele não consegue andar. Os únicos medicamentos usados pelo aposentado até hoje e que deram bons resultados foram as pomadas SAF-Gel, um gel hidratante com alginato de cálcio e sódio, e Quadrilon – indicado para dermatoses causadas por infecção bacteriana ou fúngica.

“Gasto dois tubos de cada por mês. E quando falta, a minha situação piora”, garante Seu Juvenal. A pomada SAF-Gel custa de R$ 50 a R$ 60, e a pomada Quadrilon pode variar de R$ 22 a R$ 35. O sonho de Juvenal Ferreira, que quase teve as pernas amputadas por causa da doença, é voltar a andar ou pelo menos ficar em pé sem a ajuda de ninguém. Para mais informações, ligue para (44) 98837-5322.

Saiba Mais

O endereço do Seu Juvenal é Rua das Ameixas, Nº 19, Quadra 15, Lote 18, na Vila Alta.

 

Written by David Arioch

June 1st, 2017 at 1:38 pm

Jero: “Lá na cadeia você sempre encontra um inimigo. É ruim demais ficar preso”

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“Já peguei um lá pelos lados da Praça dos Pioneiros. Era só dar bobeira que eu passava na mão leve”

Conversamos em frente ao terreno baldio à esquerda (Foto: David Arioch)

Na Vila Alta, de bermuda, chinelos e sem camiseta, Jero diz pra esperar um pouco que ele vai buscar “um café”. Logo retorna com uma garrafa térmica e uma caneca plástica. “É pra você! Coloca aí!”, diz naturalmente, sem cerimônia. Não costumo beber café, mas tomo um gole em deferência. Embora muito jovem, Jero tem algumas cicatrizes no corpo que revelam conflitos e violência. É como se sua pele contasse sua própria história. Criado nas ruas, em meio à pobreza, foi preso pela primeira vez há dois anos, depois de roubar um “radinho”, como chama os smartphones.

“Já peguei um lá pelos lados da Praça dos Pioneiros. Era só dar bobeira que eu passava na mão leve”, conta. Por causa de pequenos delitos, Jero ficou preso quatro vezes. Três vezes foi encaminhado para o Centro de Socioeducação (Cense) de Paranavaí. Na quarta, o enviaram para o Cense de Cascavel, no Oeste do Paraná. “Gostei mais de lá porque a galera é mais humilde. Quem tá preso lá é mais de boa. Não tem tanta rivalidade como no Cense daqui. Aqui um fica querendo ferrar o outro. É briga de gangue, mano”, comenta esfregando uma das mãos pelos cabelos descoloridos.

Durante a conversa, em cada frase de Jero há sempre alguma palavra que nunca ouvi. O seu vocabulário é tão incomum que até mesmo quem é da Vila Alta tem dificuldade de entender – a não ser os mais jovens que passam o dia nas ruas. A linguagem de Jero é uma mixórdia de referências popularizadas na periferia, onde neologismos e regionalismos se misturam o tempo todo. Nas vezes em que foi preso por furto e roubo, o garoto não chegou a confrontar a vítima ou agredi-la no ato do crime. Não tem o costume de usar armas. “Só que é sujo isso aí. Não vale a pena. E lá na cadeia você sempre encontra um inimigo. É ruim demais ficar preso”, afirma enquanto acende um cigarro paraguaio e dá uma tragada, assoprando fumaça com o esmero de uma criança desenhando paisagem com o dedo no chão de terra.

Além do “careta”, Jero também gosta de fumar maconha. Não todos os dias, mas ainda assim com certa regularidade. Relata que conhece todo tipo de droga, só que nunca se interessou em usar nada mais “pesado”. “Crack é pra quem quer virar escravo ou zumbi. Você cai numa noia tão zuada que esquece até quem você é. Deixa o cara louco. Quem vende crack também se lasca porque tem que aguentar gente colando no seu barraco até de madrugada mendigando pedra. Mano, tu acaba com a vida de muita gente e não ganha quase nada. O dinheiro é dos graúdos”, comenta.

Na terceira vez em que foi preso, Jero ficou sabendo que outro adolescente com quem tinha uma querela de longa data também estava no Cense. “O maluco me colocou na mira de um traficante, falando que eu estava de olho na boca de fumo do mano. Armou pra mim. Queria me ferrar. Inventou mais umas histórias”, garante. Crente de que mais cedo ou mais tarde algo aconteceria, Jero se antecipou.

Um dia pegou a própria escova de dente, quebrou a cabeça e começou a afiná-la, deixando-a pontiaguda. A escondeu dentro da bermuda, até que numa ocasião, após a aula, caminhou a passos leves até o seu desafeto. Enraivecido, gritou o nome do inimigo e ocultou sob os dedos o estoque feito com a escova de dentes. Quando o garoto se aproximou, ele o golpeou quatro vezes na barriga. “Ou eu dava nele ou ele dava em mim. Preferi sair na frente. A intenção não era matar. Fiz isso pra mostrar que não tenho medo dele. O papo é um só – se vier, vai levar!”, justifica, baseando-se em um senso de justiça particularista.

O sangue descia e Jero só assistia, até que a vítima foi socorrida e encaminhada à Santa Casa de Paranavaí com vários ferimentos, embora nenhum grave. Depois do ataque, Jero foi transferido para o Cense de Cascavel, onde cumpriu pena. Quando o soltaram, retornou a Paranavaí e decidiu se afastar do crime, opção que pouco pesou na consciência de seus inimigos. “Tem gente querendo me matar ainda. Sei disso”, admite com sorriso dúbio e plangente. De temperamento volátil, Jero foi convencido por alguns “amigos” a participar do furto de um “radinho” e de uma bicicleta.

Na última segunda-feira, fiquei sabendo que ele foi preso novamente. Minha intenção era fazer mais uma entrevista e tirar algumas fotos, mesmo que velando seu rosto. Não deu tempo. Há quem acredite que há males que vêm para o bem. No dia em que Jero retornou à prisão, um detento ganhou a liberdade – um traficante que jurou que o mataria no dia em que fosse solto. Na Vila Alta dizem que Jero se envolveu com a ex-namorada do sujeito. Por enquanto sua salvação está assegurada no ambiente que até então mais desprezava – a cadeia.

Saiba Mais

Jero é um apelido fictício para preservar a identidade do entrevistado.

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Written by David Arioch

May 10th, 2017 at 4:05 pm

Uma lição de Natal

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Dias atrás, comprando brinquedos em uma loja, vi algumas crianças mimadas submetendo os próprios pais aos seus caprichos. Bateu uma vontade de pedir autorização aos pais para levá-las para conhecer a realidade das crianças da Vila Alta.

Ontem, quando fiz papel de Papai Noel, alguns pequenos vieram descalços e sem camiseta, sorrindo em minha direção, para pegar um brinquedo. Quando perguntei o que eles queriam, um deles respondeu: “O que o Papai Noel quiser dar ou achar que mereço.”

Written by David Arioch

December 24th, 2016 at 7:12 pm