David Arioch – Jornalismo Cultural

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Archive for the ‘Realidade da Periferia’ Category

Sobre a Campanha de Natal na Vila Alta

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Momento inesquecível da entrega de presentes para as crianças da Vila Alta (Foto: Douglas Alves)

Tem algumas pessoas fazendo comentários estranhos sobre a campanha de Natal que realizamos na Vila Alta, na periferia de Paranavaí. Bom, só para esclarecer, eu e meus amigos que decidimos fazer esse trabalho, não vamos à periferia somente no Natal.

Na realidade, tentamos ajudar de alguma foma o ano todo, e já tem anos. A diferença é que pela primeira vez decidimos fazer uma campanha de Natal, isto porque percebemos que mesmo com tantas campanhas realizadas nessa época do ano ainda existe carência em relação a isso.

Já produzi inclusive alguns documentários sobre a realidade da periferia, então sugiro que procurem conhecer o trabalho das pessoas envolvidas em campanhas antes de julgá-las de algum modo. Tem muita gente que não faz isso somente no Natal. Ademais, não divulgo fotos e textos sobre o assunto para me promover, mas sim para mostrar que qualquer um é capaz de ajudar, o que pode motivar mais pessoas.

Outro ponto positivo é que serve como um gratificante registro de nossas ações e também uma boa lembrança para os moradores do bairro que também usam Facebook, acessam blogs e outras mídias.

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December 24th, 2016 at 7:00 pm

Campanha de Natal na Vila Alta

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Sem dúvida, o Natal já valeu a pena

Sem dúvida, o Natal já valeu a pena

Hoje, distribuímos mais de 700 presentes para crianças e pré-adolescentes na casa do Tio Lu, na Vila Alta, na periferia de Paranavaí. Fiquei muito feliz em fazer parte disso. Foi uma iniciativa que contou com a ajuda de muitos doadores, muita gente boa. Eu seria até injusto de citar nomes de doadores porque não tenho dúvida alguma de que alguém acabaria por ficar de fora.

Mas preciso destacar que nada disso seria possível sem a parceria de grandes amigos como Luzimar Ciríaco Andrade e João Henrique de Andrade, além da minha mãe e do Tio Lu, pessoas que fizeram parte de todo o processo iniciado em novembro. Também agradeço meus irmãos Guimarães Jvnior e Douglas Alves que ajudaram muito, assim como minha cunhada Adri e sua mãe Lina.

Como o período que antecede o Natal é marcado por muitas campanhas, fiquei preocupado com a possibilidade de não conseguirmos alcançar a meta. Mas com a ajuda de tanta gente legal, foi tolice de minha parte tal insegurança. É difícil acreditar que mais de 600 pessoas foram beneficiadas com um trabalho realizado ao longo de um mês.

Também tive o grande e inédito privilégio de ser o Papai Noel da vez. Fiquei emocionado em ver crianças felizes só pelo fato de serem lembradas. É isso. Acredito que o Natal não poderia ser melhor, pessoas se unindo para fazer algo pelos outros. Posso dizer que meu Natal foi hoje, e claro que valeu a pena.

Written by David Arioch

December 23rd, 2016 at 11:36 pm

Bandido bom é bandido morto?

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Vocês nunca me verão reproduzindo o discurso “Bandido bom é bandido morto”, até porque penso que toda generalização é equivocada. Acompanho a realidade da periferia de Paranavaí de perto desde 2009. Nesse período, conheci muitas crianças e adolescentes que se afastaram do crime e das drogas graças à intervenção de voluntários, pessoas que decidiram ajudar em vez de criticar. Se ninguém tivesse feito nada, esses jovens teriam morrido, rendidos às drogas ou assassinados por desafetos, já que é mais comum a morte entre eles do que em confrontos com a polícia.

Na periferia de Paranavaí, a polícia costuma atuar de forma bastante consciente e são mais comuns e recorrentes os casos de prisões, não de mortes, o que acredito ser muito positivo. Ademais, falando no geral e baseando-me na minha própria experiência, quero dizer, de alguém que acompanha a realidade da periferia há quase sete anos, inclusive estudando e escrevendo sobre isso, posso dizer que a maioria das crianças e adolescentes que conheci e que se envolveram com o mundo do crime praticavam pequenos delitos. Creio que esse seja o momento mais crucial para fazer um trabalho de recuperação social.

Acredito sim que a mudança ainda é possível. Apostar todas as fichas no exercício máximo da violência, sustentada na premissa de que todo bandido deve ser morto, me parece radical demais, e não contempla todas as variáveis envolvendo a criminalidade no Brasil. Creio que a punição deve ter sempre o respaldo da lei, mesmo que ela ainda seja falha e precise de revisões. Há quem diga que crianças e adolescentes que se tornam bandidos merecem morrer, que entraram nesse caminho porque quiseram, mesmo consciente das implicações.

Bom, eu discordo. Minha contrariedade subsiste no fato de que quase todos os jovens delinquentes que conheci até hoje eram filhos de prostitutas, ladrões, usuários de drogas, traficantes ou foram criados nas ruas, sem família ou qualquer referência moral. Quando converso com jovens em bairros periféricos, percebo que muitas vezes o crime está tão naturalizado no universo deles, que eles têm dificuldade em ver isso como errado, mesmo que o preço a ser pago seja a prisão ou a vida. Eles encaram como uma aventura, um jogo de videogame, e veem suas próprias vidas como tão insignificantes que não se importam em se colocar em situação de alto risco.

“Se eu morrer ou ser preso, provavelmente ninguém vai sentir minha falta, então que assim seja”, já ouvi várias vezes de jovens com idade a partir de dez anos. Há um predomínio amoral, até pela falta de sólidas referências. O que posso dizer sobre isso? Por que não ir até a periferia da sua cidade e tentar contribuir de alguma forma em vez de reproduzir o discurso “bandido bom é bandido morto”? Não tenho dúvida alguma de que a sensação em contribuir para tirar alguém do mundo do crime ou das drogas é muito melhor do que aquela de comemorar a morte de um jovem desconhecido.

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November 20th, 2016 at 7:24 pm

A mudança de Nelson

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Nelson abandonou o vício e agora trabalha como catador de materiais recicláveis (Foto: David Arioch)

Em fevereiro, contei a história de Nelson Ferreira Filho, um ex-construtor da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, que se entregou ao álcool e ao crack. À época, consegui uma vaga pra ele em uma das melhores clínicas de reabilitação do Norte do Paraná. No dia em que planejei buscá-lo, ele desistiu, não quis mais saber do internamento. Fiquei desapontado e preocupado com o seu futuro. Mas algo incrível aconteceu.

Hoje, fui até a Vila Alta e o reencontrei. Conversamos um pouco, inclusive com outras testemunhas, e ele me relatou que abandonou o álcool e o crack. Nelson estava sóbrio e bem animado, tanto que voltou a trabalhar depois de anos. Me surpreendi tanto que quero fazer um pedido.

Se você ver o Nelson na rua, se aproxime, fale que conhece sua história, dê um aperto de mão e diga algumas palavras de incentivo, nem que seja um simples “parabéns”. Quem puder, faça uma doação em ferro e materiais recicláveis. A motivação agora é o melhor caminho para evitar que ele tenha algum tipo de recaída. Acredito que há uma grande chance dele se livrar do vício de uma vez por todas.

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November 3rd, 2016 at 11:02 pm

Uma manhã de sábado na Vila Alta

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Fotos: David Arioch

Fotos: David Arioch

Hoje de manhã, realizamos algumas atividades para crianças e idosos na Vila Alta, na periferia de Paranavaí. Foi uma experiência inesquecível. Tudo foi feito de forma voluntária, graças à parceria da professora Rose Freire e das alunas do 4º ano de Serviço Social da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), do Serviço Social do Comércio (Sesc), através da minha amigaTânia Mara Volpato, da atriz e professora de dança circular Gaty Rocha, da Farmácia Bipharma, do senhor Luiz Gonzaga e sua esposa (moradores do bairro que ajudaram na montagem de tudo e disponibilizaram o equipamento de som).

E claro, do artista plástico Tio Lu ( Luiz Carlos), que é sempre a primeira pessoa que procuramos quando queremos realizar algo na Vila Alta. Também contamos com a participação do meu irmão Guimarães Jvnior, meu amigo Vinicius Vieira, do fotógrafo Elizeu de Moraes e do professor Carlos Alberto João, que também assumiu uma bela responsabilidade com o bairro. Além disso, fizemos doações de muitos livros cedidos pela Paranavaí Cidade Poesia – Fundação Cultural, por meio da Biblioteca Municipal Júlia Wanderley.

A Rose Freire e as alunas da Unespar prepararam um monte de kits para distribuir aos idosos, além de panfletos sobre seus direitos. Também percorremos casas distribuindo kits para aqueles que não tinham condições de se deslocarem até a Rua B, onde o evento ocorreu. Foi uma manhã muito agradável e de muito aprendizado. Tivemos muita música, pula-pula, pernas de pau, apresentações de dança circular, oficinas de artesanato, cuidados estéticos e diversas brincadeiras que hoje são pouco conhecidas pelas novas gerações. O maior presente foi ver tanta gente empolgada em ajudar, assim como tanta gente animada em se divertir.

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October 8th, 2016 at 9:14 pm

Um almoço na casa do Tio Lú

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Tio Lú convidou dezenas de crianças e adolescentes da Vila Alta para um almoço em sua casa (Foto: David Arioch)

Hoje, o artista plástico Tio Lú preparou um almoço para dezenas de crianças e adolescentes da Vila Alta, na periferia de Paranavaí. A garotada deveria chegar após às 12h, mas a fome falou mais alto e eles chegaram às 11h. Nesse ínterim, ficaram rindo e brincando, até o momento em que Tio Lú colocou uma panela de 60 litros de sopa de mandioca sobre uma mesinha improvisada. Enquanto ele dizia que a sopa não ficou tão boa quanto esperava, os convidados nem se importavam, comiam com alegria e satisfação.

Seguindo as diretrizes da casa, levaram colheres, copos e pratinhos ou vasilhas de plástico e alumínio. Presenciar um almoço na casa do Tio Lú significa ver crianças extremamente felizes comendo sopa de mandioca. E durante o encontro virei alvo das brincadeiras: “Ô tio, você vai ser Papai Noel agora? Quero meu presente de Natal!”, perguntou uma das crianças. William, de oito anos, o mais falante da turma, indagou como posso ter uma barba tão grande sem ser velho. “Ah, tio! Você comprou essa barba branca e pintou de preto. Pode falar!”, insistiu William. Depois começou a rir quando encostou a mão na minha barba e percebeu que não era de mentira.

Após às 13h, restavam poucos litros de sopa. E antes de partir, as crianças pediam para levar um pouco de sopa para casa, pensando em algum familiar. “Seu Luiz, posso levar um pouco pra minha avó?” “Seu Luiz, posso pegar um pouquinho pro meu pai?”, questionavam. E Tio Lú erguia uma concha gigantesca e enchia os pratinhos e as vasilhas. Os convidados saíam felizes, satisfeitos e repetiam a mesma frase de agradecimento: “O senhor é muito bom, Seu Luiz! Deus te abençoe!”

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July 23rd, 2016 at 7:40 pm

“Ô tio, não leva meu pai! Por favor!”

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“Não leva ele hoje. Ele não teve nem tempo de ficar com a gente”

Há um tempinho, após uma entrevista, saí de uma residência no Conjunto Dona Josefa, na periferia de Paranavaí, e lá fora fui abordado por uma criança que morava na casa vizinha. “Ô tio, não leva meu pai! Por favor! Não leva ele hoje. Ele não teve nem tempo de ficar com a gente”, disse o garotinho de quatro anos com olhos marejados.

Enquanto falava, a criança usava sua trêmula mão esquerda para segurar sem jeito dois dedos da minha mão direita. Expliquei a ele que eu não estava atrás do pai dele. “Por favor, tio! Por favor, deixa ele com nós! Hoje é meu aniversário! Juro que nunca mais faço arte na minha vida!”, continuou repetindo. Depois cruzou os dedos indicadores das mãos e os beijou num estalo sem igual fazendo promessa em forma de sinal.

Só se acalmou quando mostrei meu caderno, meu gravador e minha caneta. O garotinho sentiu um alívio tão grande que seu sorriso se transformou em uma gargalhada. De repente, começou a saltar sobre um pedaço de toco queimado rente ao portão.

Ele estava eufórico e queria dividir isso até com quem não notava sua existência por causa da pequenez. Quando parou de pular, ficou rubro de vergonha e correu para dentro de casa arrastando um par de chinelinhos com elástico junto aos calcanhares. Naquela noite, mais do que uma festinha, ele teria seu pai dormindo em casa.

Doações transformam residência de casal na Vila Alta

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Antes e depois na casa do Seu Juvenal e da Dona Neide (Fotos: David Arioch)

Hoje de manhã, fui até a casa do Seu Juvenal e da Dona Neide, o casal de idosos da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, que vivia em uma residência com telhado deteriorado e sem forro, por onde a água entrava sempre que chovia, molhando inclusive móveis e outros pertences.

Depois de receber doações de medicamentos, cestas básicas e um telhado novo, dentre outras contribuições, esta semana foi concluída a última etapa – a instalação do forro. Mais uma vez e com humildade singular, Seu Juvenal e Dona Neide demonstraram muita gratidão.

“Nem parece mais a nossa antiga casa. Ficou muito diferente. Até hoje a gente se emociona quando lembra como as pessoas se uniram para nos ajudar. É um grande presente. E alguns continuam nos visitando. Ontem choveu e pela primeira vez a gente nem escutou o barulho da chuva que caiu sobre o telhado. Antes dava muito medo”, declararam.

Aproveito também para agradecer a equipe da J & M Decorações que fez a instalação do forro e foi muito colaborativa em todo o processo, inclusive reorganizou o quarto do Seu Juvenal e da Dona Neide. Ou seja, os funcionários foram além da função deles. “Uma equipe maravilhosa!”, enfatizaram.

Written by David Arioch

May 21st, 2016 at 3:25 pm

Criança com doença rara precisa de ajuda no Conjunto Geraldo Felippe

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“O problema é que a área não tem piso e ele se machuca com facilidade, chegando a se cortar”

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Gustavo tem quatro anos e sofre de mucopolissacaridose (Foto: David Arioch)

Gustavo é um garotinho de quatro anos que mora no Conjunto Habitacional Geraldo Felippe, na saída de Paranavaí para Tamboara. Quando ele tinha dois anos, os pais Ana Paula Marques e Reginaldo Felix descobriram que ele sofre de mucopolissacaridose, uma rara doença provocada por disfunções metabólicas que causam o mau funcionamento de enzimas responsáveis por importantes reações químicas do corpo humano.

Como consequência da doença, Gustavo tem as pernas atrofiadas e não consegue andar. Também sofre com problemas no fígado, baço e coração. “O cérebro dele também é atrofiado. Toda semana o levo a Curitiba, onde ele recebe enzimas que o organismo dele não produz”, explica a mãe Ana Paula que se dedica ao filho em tempo integral por causa de suas necessidades especiais. Como o atendimento é realizado sempre na quarta-feira, eles saem de Paranavaí na terça-feira à noite.

Como a casa não tem piso na entrada, o garotinho já se machucou brincando (Foto: David Arioch)

Como a casa não tem piso na entrada, o garotinho já se machucou brincando (Foto: David Arioch)

As viagens entraram para a rotina da família há um ano e três meses, quando Gustavo iniciou o tratamento. “Ele está com um cateter há dois meses. É através dele que meu filho recebe as enzimas. Às vezes ele fica nervoso porque não gosta de ficar longe de casa”, relata a mãe.

Apesar das muitas limitações, a maior alegria de Gustavo é se arrastar e brincar ao lado da casa, de onde ele gosta de observar a rua e a movimentação de pessoas e animais. “O problema é que a área não tem piso e ele se machuca com facilidade, chegando a se cortar”, explica Ana Paula, acrescentando que o garotinho tem a pele dos pés muito fina.

Por isso Ana Paula pede ajuda para custear a compra de 34 metros de piso emborrachado ou outro tipo de piso antiderrapante, cinco sacos de cimento, oito sacos de argamassa e meio metro de areia média. Quem quiser contribuir pode ligar para (44) 9909-2513.

Serviço

Gustavo mora na casa 28 da quadra 6 do Conjunto Habitacional Geraldo Felippe. A residência é a décima a partir da entrada e fica ao lado de um ponto comercial.

As malandragens de Nebrão

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“Sofri tanto que nunca mais quis saber de me meter noutra roubada do tipo”

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Trecho percorrido por Nebrão quando furtou a ponte do Bosque de Paranavaí (Foto: Reprodução)

Há alguns anos, conheci na Vila Alta, periferia de Paranavaí, o jovem Nebrão. Hoje, ele leva uma vida pacata atuando como servente de pedreiro, mas nem sempre foi assim. Sua infância, um “misto de coisas boas e ruins”, como ele mesmo define, foi marcada por muita malandragem, assim como a adolescência e os primeiros anos da fase adulta.

“Eu era ‘terrorista’, quebrava as coisas da minha mãe, fazia bagunça e judiava da minha irmã. Depois ela se vingava de mim. Eu vivia brigando com a molecada na rua. Dos 8 aos 10 anos, todo dia eu batia em alguém e depois corria. Daí se juntavam para me pegar”, conta rindo.

Naquele tempo havia uma família no bairro que prometeu não dar paz a Nebrão depois que ele matou a coruja importada do patriarca. “O homem ficou louco quando soube. Eu era novo de tudo e uma vizinha que denunciou. Passei a mão no estilingue e matei o bicho. Rapaz, e a coruja não era do velho? Veio uma tropa de molecada e eu pensei: ‘Agora é perna pra quem tem. Saí no pau’”, relata às gargalhadas, acrescentando que no dia seguinte o espancaram em retaliação pela morte da coruja.

E a vingança continuou. Em dia de festa no bairro, caso algum familiar do dono da coruja morta visse Nebrão passeando, a recomendação era dar-lhe uma nova surra. “Já baguncei nesta Vila Alta, hein? Muito mesmo! Eu catava cavalo que tinha dono e saía por aí montando. Eles procuravam o bicho e nada. Aquela barragem lá embaixo tinha uma caixona fechada de concreto que dava pra gente nadar legal. Então tinha época que eu nem queria trabalhar. Só ficar na barragem, curtindo um sol de ‘arrancar o coriri’. Lá era o lugar. Só paramos de ir lá depois que começaram a matar gente”, reclama.

Malandro, Nebrão se envolveu em situações que quem não o conhece diria que não passa de invencionice. Um dia quando ele ouviu que um conhecido morador do bairro faleceu na Santa Casa de Paranavaí, não pensou duas vezes antes de subir na carroça para visitar a casa do homem. Chegando lá, Nebrão viu que não havia ninguém e fez “várias viagens” transportando todos os móveis do falecido na carroça.

Em casa, não conseguiu velar a alegria ao observar a bela mobília. Chegou a deslizar as mãos por ela como se estivesse tocando o corpo de uma mulher. A imaginou se destacando em sua humilde residência improvisada com tábuas. Em pouco tempo soube que mentiram para ele. O homem estava vivo e prestes a receber alta. Então correu para devolver todos os móveis. “Ele morava sozinho e não tinha família, por isso fiz o que fiz”, justifica Nebrão que admite ter se arrependido.

Mas as estripulias do rapaz não pararam aí. Uma vez ficou sabendo que havia uma madeireira em Paranavaí que comprava pontes desmontadas a “preço de ouro”. “Fiquei ambicioso e armei um plano. Fui até o Bosque Municipal de Paranavaí e desmontei sozinho a bela ponte de madeira que cobria o córrego. Fiz ‘várias viagens’ de carroça e fui entregar numa madeireira pra receber o meu. Só que alguém me denunciou e a polícia militar veio no meu encalço”, lembra.

Depois do flagrante, Nebrão teve de levar a ponte de volta para o bosque e os policiais que o acompanharam assistiram ele remontá-la. “O trabalho ficou supimpa, irmão! Comigo não tem erro. Serviço de primeira! Só que sofri tanto que nunca mais quis saber de me meter noutra roubada do tipo”, pondera rindo.