Archive for the ‘Religião’ Category
Por que os muçulmanos usam barba
Segundo a lei islâmica, a barba só pode ser aparada quando atingir o tamanho de uma mão fechada
No mundo todo, é grande o número de pessoas que não sabem o motivo pelo qual os muçulmanos usam barba. Foi pensando nisso que o Mufti Afzal Hoosen Elias, jurisconsulto e intérprete do Alcorão, escreveu o folhetim “Sobre o Comprimento da Barba”.
Nele, Elias explica que o uso da barba é uma forma dos homens sentirem-se mais próximos dos ensinamentos do profeta Rasulullah (Maomé). “Para aqueles que veem a barba como algo trivial, que Alá possa guiá-los. Mas para aqueles que desejam aprender e praticar o que é certo, tenho provas suficientes da importância da barba. E elas foram extraídas do Hadith, do Alcorão”, escreveu o Mufti Elias.
Nas palavras registradas por Abu Darda no Hadith 501, do Alcorão, o profeta Maomé diz não ter nenhuma ligação com aquele que não tem barba. Segundo os ensinamentos de Hadhrat Ammar Bin Yaasir, Abdullah Ibn Umar, Sayyidina Umar, Abu Hurairah e Jaabir, a barba deve ser cultivada longa. Somente durante o Haji ou Umrah, quando os muçulmanos peregrinam até a Meca, que eles aparam suas barbas, mas sem deixá-las menores do que o tamanho de um punho.
“Aqueles que imitam os descrentes e morrem nesse estado, se juntarão a eles no Dia do Qiyamat (juízo final]”, escreveu Hadhrat Abdullah Ibn Umar em referência aos que abandonam, por exemplo, a barba. Em relato de Ibn Umar, no Hadith 498, Rasulullah recomenda que os homens mantenham o bigode curto, mas deixem a barba crescer. Recomendação parecida aparece no Hadith 500.
Maomé diz também que nenhum homem sem barba tem direito ao perdão de Alá, de acordo com transcrição de Ibn Abbas. Além disso, a recomendação de Al-Tirmidhi, registrada por Ibn Umar, é de que a barba seja aparada somente quando ela atingir o tamanho de uma mão fechada.
No contexto do islamismo fazer a barba se enquadra como haraam, ou seja, um ato proibido pela fé islâmica. O Muwatta, uma das primeiras coleções do Hadith, escrito por Imam Malik, o primeiro sheik do Islã, diz que os únicos que não usam barba são os hermafroditas, ou seja, pessoas que possuem tanto o órgão sexual masculino quanto o feminino.
Para a Hanbali, uma das quatro escolas sunitas ortodoxas, referência em jurisprudência islâmica, o crescimento da barba é fundamental e cortá-la é pecado. Tal defesa pode ser encontrada em livros como “Sharahul Muntahaa” e “Sharr Manzoomatul Aadaab”.
“Um homem sem barba é um sujeito injusto e legalmente falando jamais seria concedido a ele o direito de ser um imã [um estudioso do Islã]”, consta na página 523 do primeiro volume do livro islâmico “Shami”. Para os fundamentalistas, muçulmanos sem barba não devem ter o direito de votar ou de se candidatar a algum cargo no contexto da Charia. “A chave para a felicidade total encontra-se em seguir a Sunnah e imitar a vida de Rasulullah no que diz respeito a tudo, incluindo sua maneira de comer, dormir e falar”, escreveu o Imã Ghazzali.
“Santo é o ser rodeado de homens com barba e mulheres com tranças”, consta na página 331 do terceiro volume de “Takmela e Bahr al Raiw.”
Saiba Mais
Abu Darda era um dos companheiros do profeta Maomé.
O Hadith é o registro dos preceitos de Maomé.
Após o Alcorão, a Sunnah é a segunda fonte mais importante das leis islâmicas.
Referências
Elias, Agzal Mufti. From The Shari Length of the Beard.
http://www.islam.tc/beard/beard.html
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O mundo seria um lugar melhor sem religiões?
Não há como afirmar que o homem não encontraria outros meios de segregação que compensassem a ausência religiosa
Conversando sobre dialética com um amigo, ele me fez uma pergunta interessante. “Você acha que o mundo seria um lugar melhor sem religiões?” Respondi que acho que seria diferente, não sei se seria melhor. Então pediu que eu explanasse o que penso. Bom, o ser humano é segregacionista por natureza. A partir do momento que nasce, ele é instantaneamente inserido em um contexto social, logo se torna parte de um meio. Sendo assim, tudo que ele faz, de algum modo, tende a incluir e ao mesmo tempo excluir pessoas. Na realidade, todos nós somos segregacionistas.
Há um equívoco muito grande quando se fala em segregação e logo se pensa em preconceito racial ou mesmo racialismo. Vai muito além disso. Até mesmo quando defendemos boas causas somos segregacionistas, pois levamos em conta nossas preferências, conhecimento e experiências de vida para definir o que merece e o que não merece a nossa luta e o nosso tempo. Claro que isso não deve minimizar o esforço de ninguém, mas obviamente merece uma reflexão.
No fundo, o que fazemos é isso, segregar pessoas, sob os mais diferentes aspectos. Temos uma tendência nada equitativa de uni-las e ao mesmo tempo separá-las. Vou citar um exemplo bem simples. Em algum momento da vida, quando alguém convida uma pessoa para fazer parte de um grupo, é possível que se perceba somente o lado positivo, a integração. Na contramão, você também pode estar trazendo a pessoa para um grupo com a intenção de privá-la de fazer parte de outro. Ou talvez algo assim aconteça até involuntariamente.
A verdade é que a partir de suas ações ao longo da vida, mesmo que indiretamente, você define quem vai conhecer, quem merece e quem não merece estar próximo de você. É comum as pessoas optarem por evitar alguém com quem nunca conversaram. No mundo que vivemos a segregação surge de muitas formas. Até mesmo no olhar. Todos os dias nos deparamos com pessoas sendo segregadas pelo gosto musical, visão política, religião, nível cultural, fisionomia, roupas, tipo de cabelo e postura, além de outras dezenas de exemplos que poderiam ser citados.
Como resultado de um meio, começamos a fazer isso logo na infância, quando excluímos uma criança por algum motivo banal. Parece que passamos a vida em busca de aceitação e de aliados, o que não deixa de ser uma forma de guerra social. É inerente ao ser humano encontrar meios de se sentir especial e diferente. Em um nível mais crônico, há ainda a ânsia por fazer parte de um grupo que o faça sentir-se “superior”. Existe um grande desejo de ser observado, de existir socialmente, mesmo em grupos considerados antissociais e até religiosos.
É exatamente o que acontece hoje em dia em mídias sociais. No Facebook, todos os dias vemos pessoas criando grupos, páginas, se empenhando em aumentar o seu círculo virtual de amizades e também em conquistar o maior número possível de “curtidas”. Por outro lado, vemos muita gente desprezando, insultando e banindo quem pensa diferente. Mas aí alguém pode perguntar. “Ok, mas qual é a relação disso com um mundo ser melhor ou não sem religiões?” Bom, na minha opinião, tem tudo a ver. Religiões unem e segregam pessoas há milhares de anos, mas elas não são as únicas a fazerem isso.
Claro, hoje temos mais de 10 mil religiões no mundo todo, segundo o Boletim Internacional de Pesquisa Missionária, publicado em 2012, o que é um indicativo de que a segregação cresce a cada ano e reforça sua posição multifacetada. Então o amigo em questão me perguntou se eu acredito que há alguma razão específica para um número tão alto. Muitas religiões e igrejas surgiram a partir de um viés curioso, a dissidência. Ou seja, novas formas de segregação que nasceram dentro das próprias instituições religiosas fizeram com que por incompatibilidade de ideias e condutas muitos optassem por criar suas próprias igrejas e religiões.
Vivemos uma época em que principalmente na internet muita gente critica todas ou algumas religiões, qualificando-as como os grandes males da humanidade. Há uma crença de que o mundo seria muito melhor sem igrejas e sem religiões. Supõe-se que as pessoas realmente viveriam em harmonia e se respeitariam, pois as diferenças diminuiriam ao ponto de renascer um mundo de paz. Em teoria, parece algo bonito, e que sem dúvida lembra a canção “Imagine”, de John Lennon.
No entanto, distante de uma visão romanceada e mais realista do mundo, acredito que isso seja não apenas utopia, mas também a simplificação e superficialização dos problemas do mundo. Na ausência das religiões, não há como afirmar que o homem não encontraria outros meios de segregação que compensassem essa ausência, até porque surgiria um embate com a questão existencialista humana que é a inerência à fé e à crença, mesmo quando não direcionada a Deus.
Em síntese, admito que as religiões também têm peso negativo sobre a vida em sociedade, mas não podem ser responsabilizadas por todos os males da humanidade, até porque desde o início da civilização vemos nossos ancestrais distorcendo bons preceitos coletivos para benefício individualista. Infelizmente, é algo que acontece em todas as esferas da vida em sociedade e não apenas na religião. Ao longo dos séculos, quantas teorias e ideologias que nasceram de boas intenções perderam o seu valor pela distorção conceitual ou popularização da sua pobreza prática?
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