Archive for the ‘Trabalhos Sociais’ Category
Uma terapia em forma de alegria
Grupo Pausa para o Riso leva diversão e esperança para crianças da Santa Casa de Paranavaí
Fundado em 2014, o grupo Pausa para o Riso nasceu de uma iniciativa de três atores de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que são apaixonados por circo e teatro. Em 2005, eles criaram um grupo de doutores palhaços chamado Amigos do Riso. Com o passar dos anos e algumas mudanças, hoje a trupe de oito voluntários se reveza nas visitas à Santa Casa de Paranavaí, onde leva alegria, diversão e esperança às crianças internadas na ala pediátrica.
“Também visitamos os adultos quando temos tempo”, explica a fundadora Karina Lima que prevê em breve a inclusão de asilos e abrigos na agenda do grupo. Além das visitas semanais com duração média de duas horas, os integrantes do Pausa para o Riso se reúnem uma vez por mês para compartilharem experiências. “Nosso grupo trabalha de forma espontânea. Quando vemos que alguém se enquadra no perfil do grupo, fazemos um convite para ingressar na trupe”, conta.
O convidado ou a convidada responde a um questionário e participa de uma simulação, começando a se familiarizar com o trabalho dos doutores palhaços. “Fazemos com que tentem imaginar como será quando estiverem no ambiente hospitalar”, argumenta Karina. Em média, o Pausa para o Riso atende pelo menos 200 pessoas por mês. Além dos internos, eles interagem com acompanhantes e funcionários da Santa Casa de Paranavaí.
“Logo no início percebemos que o ambiente hospitalar é o local ideal para levarmos a alegria proporcionada pelo circo”, comenta Karina Lima, acrescentando que muitas pessoas já passaram pelo grupo, mas as mudanças são naturais quando alguém decide trilhar um novo caminho. Como o Pausa para o Riso é 100% voluntário e não tem fins lucrativos, a maior recompensa dos integrantes é o sorriso das crianças, o agradecimento das mães e as amizades que surgem com as visitas.
“Muitas mães aproveitam as nossas brincadeiras com seus filhos para se ausentarem por alguns minutos, respirar um ar que não seja o do hospital e restabelecer a energia. Lá somos palhaços, amigos, companheiros, confidentes. Também somos um abraço, um sorriso, um detalhe que faz a diferença na vida de quem passa por nós”, declara Karina. Quem quiser contribuir com o Pausa para o Riso, realizando algum tipo de doação, pode ligar para (44) 9927-4486.
Formação
Doutora Naninha – Karina Lima, Doutor Tramela – Cristiano Oliveira, Doutor Clavinho – Bruno Alécio, Doutora Soninho – Tais Fernanda, Doutor Goiabinha – Paulo Queiroz, Doutora Leãozinho – Kátia Batista, Doutora Frida Não Kalo – Gislaine Pinheiro.
O triste fim de quem não quer ser ajudado
Na última terça-feira, dia 26 de janeiro de 2015, fiquei sabendo de um fato que me deixou chocado. No ano passado, eu e mais alguns amigos nos mobilizamos para ajudar um casal que estava passando por uma situação extremamente crítica – aparentemente de miséria, já que viviam em um barraco. Com o tempo, estreitamos o contato com eles e descobrimos que eles não foram tão sinceros conosco. Ainda assim ajudamos do mesmo jeito. Afinal, o que custa fazer o bem a alguém?
Quem ajuda por solidariedade ou empatia não espera nada em troca. Porém, ficamos sabendo mais tarde que essas pessoas, mesmo depois de receber até mais do que tínhamos prometido, começaram a espalhar boatos sobre o nosso trabalho. Supostamente dando a entender que tínhamos arrecadado muito dinheiro e não repassamos a eles, o que por sinal, não fazia o menor sentido, já que investimos até tempo e dinheiro do nosso próprio bolso. Afinal, iríamos roubar nos mesmos? Mas até aí tudo bem.
Os dois eram alcoólatras e se recusavam a mudar de vida, apesar dos nossos conselhos. Inclusive nos recebiam em sua casa embriagados. Na realidade, em algumas situações chegavam a rir e quase cair diante de nossos pés. Um dia, liguei para eles e foram surpreendentemente agressivos. Então amenizei a situação dizendo que ajudaríamos mais um pouco, mas não iríamos mais visitá-los, já que eles poderiam seguir em frente tranquilamente.
Na última conversa, a mulher chegou a fazer algumas acusações, dizendo que eu tinha conseguido o que queria. Eu, como jornalista, não recebo e nunca recebi nada por registrar a realidade da periferia. É um trabalho que faço porque gosto, me interesso, me identifico com tudo isso e acho que vale a pena ser partilhado com outras pessoas e divulgado. Na realidade, se vocês entrevistarem jornalistas, acredito que pelo menos uma boa parte vai dizer que os trabalhos mais gratificantes foram aqueles que menos lhe trouxeram retorno financeiro.
Bom, mas continuando. Fui acusado pela mulher de ter me dado bem ao contar a história deles – só não entendi como isso seria possível. Respondi tranquilamente que ela estava equivocada e tentei me justificar. Mas sua malícia desconsiderou todos os meus argumentos. Fui insultado pela mulher, só que ainda a ajudei mais uma vez. E aquele foi nosso último contato. Nunca mais tive notícias deles.
Então ontem fiquei abismado e até triste ao saber que ela faleceu há 15 dias em decorrência de cirrose hepática. A mulher tinha cerca de 40 anos. E o seu marido teve outro AVC e agora está quase em estado vegetativo. Para cuidar dele, não restou ninguém. Sobrou apenas as visitas esporádicas de filhos e enteados viciados em crack que normalmente os visitavam para buscar dinheiro e alimentos. Os amigos de boteco também desapareceram.
ONG mexicana constrói moradias com embalagens Tetra Pak
Desde 2008, nas comunidades de Oaxaca, um dos estados mais pobres do México, situado na região Sudeste, a ONG Techamos Una Mano, formada por estudantes, constrói pequenas moradias para famílias carentes. O que surpreende também é que as principais matérias-primas são embalagens Tetra Pak e garrafas de plástico recicladas, assim atendendo a dois objetivos – social e ambiental.
Acesse: www.tum.org.mx
A primeira etapa da recuperação de Jessé Piedade
Ex-morador de rua começa sua trajetória para se livrar do alcoolismo
Demoramos um pouco para achar hoje de manhã a Casa da Misericórdia, em Apucarana, no Norte do Paraná, onde o ex-morador de rua Jessé Piedade começou uma nova trajetória para se livrar do alcoolismo. Inclusive penso até em escrever uma crônica sobre a aventura até encontrarmos o lugar certo. No mais, a viagem foi tranquila. Chegando lá, nos surpreendemos. A Casa da Misericórdia me parece um santuário, inclusive em muitos momentos me recordei do livro homônimo de William Faulkner sobre a face bucólica do cenário rural do Sul dos Estados Unidos.
Ao lado da rodovia, à esquerda, na saída de Apucarana para Curitiba, atravessamos um elevado trilho de trem, onde um sinal verde permitia a nossa passagem, mas não uma visão clara do que estava por vir. Ainda assim continuamos descendo, sem qualquer certeza de que finalmente encontraríamos por aquelas bandas a Casa da Misericórdia. Depois de percorrer quilômetros de um cascalho misturado a pedregulhos, observamos em meio a um cenário campestre, muito bem arborizado, por onde despontavam araucárias de proporções colossais, algumas edificações brancas como neve.
Subimos por uma estradinha ladeada por uma lagoa, passamos por uma ponte de madeira, um pomar e uma horta. Logo vimos muitos homens nos observando nos mais diversos pontos da casa de recuperação. Havia desde jovens a idosos – papeando, lendo, literalmente pastoreando ovelhas e curiosos para saber quem chegava.
Descemos do carro, cumprimentei os que nos observavam, e alguns metros acima fiquei admirado com a maneira como a vegetação nativa envolve a Casa da Misericórdia, reafirmando sua condição de santuário. Lá, onde parece impenetrável o sol escaldante, a realidade urbana chega a ser desinteressante, ofuscada por um frescor amarante. Mais ao alto, notei uma igrejinha de moldes clássicos, onde um senhor barbudo de mais de 60 anos se inclinava sobre um violão e dedilhava as cordas, atraindo um pouco de atenção e sorrisos.
Me aproximei do lugar mais movimentado da casa e perguntei se alguém poderia me dizer onde encontro Henrique, diretor da Casa da Misericórdia. “Ah, o Henrique saiu, mas ele me avisou que você viria. Já está tudo certo”, disse Canarinho sorrindo, um ex-alcoólatra que abandonou o vício há anos e hoje ajuda na coordenação da casa. Apresentei Jessé Piedade e falei um pouco de sua história. Canarinho o motivou, mas deixou claro que a recuperação vai depender da própria força de vontade de Jessé.
“Aqui a gente não segura ninguém. A pessoa tem que gostar de estar aqui. Eu, por exemplo, moro aqui há mais de três anos. Não quis mais partir. Agora quando a pessoa desiste do tratamento, o que fazemos é avisar quem o trouxe aqui”, garante num tom de voz cordial e sincero.
Jessé deixou claro que entendeu o recado e comentou que se identificou muito com o lugar, praticamente um pedaço de paraíso onde a fragilidade pode ser substituída por força e segurança. Lá, também encontramos Everton Luiz Rodrigues, um rapaz que já conhecíamos. Artista de rua e sem residência fixa, ele está passando uma temporada na Casa da Misericórdia enquanto aguarda um novo chamado da direção do Hospital Regional João de Freitas, de Arapongas, onde faz tratamento cardíaco.
Pouco tempo depois, Henrique chegou, me apresentei e repeti a história de vida de Jessé Piedade. Quando falei da cobra chamada Sogra, com quem Jessé circulava pelas ruas de Paranavaí, o diretor da Casa da Misericórdia achou graça. Em seguida, declarou que ficou feliz em recebê-lo e deixou claro que agora os bons resultados vão depender do recém-chegado.
Ao sairmos do local, percebemos um certo pesar de Jessé, já preocupado com a chegada de visitas. Entretanto, ele admitiu que vai lutar para provar que a vontade de renascer é maior do que o destemor de morrer. Confortante também foi ver de longe, quando descíamos pela mesma estradinha que nos trouxe, Jessé rindo, conversando com Everton Luiz. Agora o ex-morador de rua tem mais um amigo e um motivo a mais para se sentir feliz na nova casa.
Saiba Mais
Jessé Piedade é bem conhecido em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, onde há alguns anos se tornou morador de rua em decorrência do alcoolismo.
APDE faz a diferença em Paranavaí
No dia 15 de dezembro de 2015, passei quase a manhã toda conversando com o pessoal da Associação dos Portadores de Doença Especial (APDE), entidade que atende vítimas de câncer em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. A primeira vez que estive lá foi em 2006. É muito bom retornar e ver quanto amor eles dedicam a tantas pessoas passando pelo momento mais delicado de suas vidas. Nas poucas horas que estive lá, presenciei a chegada de inúmeros voluntários entregando doações. Em síntese, assisti pessoas recebendo não apenas atendimento de boa qualidade, mas também muitos abraços.
Hugo e Matheus
Os irmãos Hugo e Matheus, um tem sete anos e o outro tem dez, são os novos alunos da Oficina do Tio Lú, na Vila Alta. Moradores do Jardim São Jorge, eles percorrem quilômetros de distância para aprender artesanato em madeira. “Em mais de dez anos de oficina, é o primeiro caso de pais que trazem os filhos nas minhas aulas. Isso me anima muito porque quase sempre as crianças chegam aqui sozinhas ou por iniciativa minha”, conta Tio Lú.
Para conhecer o trabalho do Tio Lú, acesse: https://davidarioch.com/2014/02/22/oficina-do-tio-lu/
Olha o cafezinho do amor…
Voluntárias da Igreja Internacional Emanuel preparam café da manhã para 1,2 mil pessoas toda semana
São 7h30 e na Igreja Internacional Emanuel seis senhoras bem animadas estão reunidas na cozinha preparando café, leite, chá e pão. Entre conversas, sorrisos e muita disposição em fazer a diferença, elas embalam os alimentos e armazenam as bebidas em garrafas térmicas. Essa é a rotina do grupo de voluntárias da igreja na segunda, terça e quarta-feira.
A partir das 8h, colocam tudo dentro do carro e levam ao Centro Regional de Especialidades (CRE), na Rua Rio Grande do Sul, ao lado da Santa Casa de Paranavaí. Usando coletinhos azuis, elas caminham sorrindo e distribuindo bom dia para todas as pessoas ao seu redor. Na entrada do CRE, são recepcionadas por uma jovem segurança que retribui a gentileza.
No local, o tratamento que recebem de funcionários e pacientes aguardando atendimento mostra que elas já fazem isso há um bom tempo. Algumas são chamadas até pelo nome quando passam carregando as garrafas térmicas, os copos brancos descartáveis e os pãezinhos.
Sem demora, elas desaparecem pelos corredores lotados, onde as pessoas abrem espaço para os “anjos”, como são chamadas por muita gente, passarem. Entre pedidos de leite, café e chá, o sorriso no rosto de quem toma o primeiro gole é tão gratificante que emociona e justifica o trabalho iniciado na cozinha da Igreja Internacional Emanuel antes das 6h.
Junto às voluntárias, observo a reação de muita gente que vem de outras cidades receber atendimento em Paranavaí e normalmente não tem dinheiro para pagar por um cafezinho nos bares e lanchonetes mais próximos. “É muito bom isso. Já conhecia elas. São gente fina”, diz o aposentado Manoel Francisco da Silva, de São João do Caiuá.
A desempregada Tainara Venâncio da Silva, de Paraíso do Norte, relata que para quem sai de casa antes do dia clarear o cafezinho ajuda a suportar a espera. “Vou ser atendido lá pelas 10h, então é uma coisa boa ter elas aqui. Faz tempo que fazem isso”, comenta o motorista Celso Lepre.
Enquanto converso com pessoas na fila, as voluntárias não param. Percorrem todos os corredores e anunciam a plenos pulmões: “Olha o cafezinho do amor…olha o cafezinho do amor…” A cada passo alguém estende a mão para receber um copo. “Isso aqui é gostoso demais. Excelente! O dia que eu puder, quero contribuir também com esse projeto”, declara o atleta João Alexandrino, conhecido como Garrincha, da Associação de Corredores de Paranavaí e Noroeste do Paraná (Acorrenor), sentado em uma maca segurando um copo recém-esvaziado.
A fisioterapeuta do CRE, Luciara Fontana, não esconde o entusiasmo e sorri ao falar da importância do projeto Café do Amor. “Temos muitas pessoas carentes aqui e o café é uma forma de acolhimento. Acho o trabalho delas muito lindo”, enfatiza Luciara.
Depois do Centro Regional de Especialidades, que abriga o maior número de beneficiados pelo projeto, as voluntárias levam cafezinho para os pacientes da Santa Casa de Paranavaí, incluindo a Clínica de Olhos, e Pronto Atendimento Municipal (PA). “Nosso trabalho termina lá pelas 10h. São duas horas de preparo e duas de distribuição. Temos uma equipe de 11 pessoas, mas às vezes ficamos desfalcadas porque as voluntárias também têm outras responsabilidades”, informa a coordenadora Ilma Telles da Silva, acrescentando que o projeto foi criado há um ano e seis meses.
Projeto está precisando de doações e voluntários
Há um ano e seis meses, a coordenadora Ilma Telles da Silva apresentou a proposta de criação do projeto Café do Amor ao pastor Carlos Henrique Santos que gostou da ideia e ofereceu todo o suporte necessário. “Levamos 400 copos por dia. É um pouco difícil porque dependemos de doações, mas o projeto foi bem aceito desde o início e acho que outras entidades também poderiam fazer algo parecido”, avalia Ilma. As mulheres são unânimes em dizer que é muito gratificante e prazeroso participar do Café do Amor.
O que motiva mais ainda o trabalho das voluntárias é o vínculo criado com quem busca atendimento no CRE, Santa Casa e Pronto Atendimento Municipal. “Tem gente que chega aqui às 4h. Então já ficam na esperança de chegarmos lá por volta das 8h pra entregar o café. A expectativa envolve desde crianças até idosos”, garante Ilma que prevê a criação de um projeto para distribuição contínua de sopão em 2016, um trabalho já realizado esporadicamente na periferia de Paranavaí.
Questionada sobre o que as uniu em torno do projeto,
Ilma Telles argumenta que viu bastante gente percorrer longas distâncias para receber atendimento. Sem dinheiro, muitos chegavam a ficar até o dia todo sem comer nada. “É uma situação difícil e triste. Não podíamos ficar de braços cruzados. Hoje as pessoas dizem até que sentem nossa falta se ficarmos um dia sem fazer a distribuição”, revela Ilma sorrindo.
Atualmente o projeto mantido pela Igreja Emanuel e que recebe ajuda da Santa Casa de Paranavaí, por meio do diretor Héracles Alencar Arrais, e de alguns advogados, está aceitando doações e também o ingresso de novos voluntários. “Poderíamos preparar e distribuir o Café do Amor todos os dias se tivéssemos condições. Precisamos desde copos até embalagens e alimentos. Toda doação é bem-vinda”, pondera a coordenadora.
Uma vez por mês cinco voluntárias da Igreja Internacional Emanuel que participam do Café do Amor realizam um bazar beneficente. Todo o dinheiro arrecadado com a venda de roupas e calçados é destinado ao projeto. Para fazer doações ou tirar dúvidas, ligue para (44) 3045-4111 ou 9135-7665.
Equipe do Café do Amor
Ilma, Elza, Maria, Teresinha, Eurides, Marli, Célia, Val, Franciele, Sílvia e Natália.
Projeto de inclusão digital muda a vida dos moradores de Graciosa
Armando Lehmkuhl: “Estou aqui há três meses e antes eu só sabia apertar o botão de ligar”
São quase 19h, e na esquina da Avenida Osvaldo Cruz, em Graciosa, distrito de Paranavaí, alguns moradores atravessam a via em frente à Igreja Nossa Senhora das Graças, onde fazem o sinal da cruz em respeito à padroeira da pacata comunidade de aproximadamente três mil habitantes.
Do outro lado, o professor de informática Jáder Ragazzi abre uma porta de vidro e os recepciona na escola de inclusão digital mantida há dois anos pela cooperativa de crédito Sicredi com a parceria da Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná (Fatecie). No local, o clima que envolve professor e alunos com idade de 33 a 58 anos é de muita camaradagem.
Entre brincadeiras e lições, os dez estudantes que até então desconheciam o mundo da internet e da informática se sentem como se estivessem renascendo para uma nova realidade, a virtual. “Estou aqui há três meses e antes eu só sabia apertar o botão de ligar. Hoje uso o programa Excel pra fazer tabelas de custo. Me ajuda muito. Só demorei pra entrar no curso porque tinha uma fila de espera enorme. A procura é muito grande”, conta rindo o agricultor Armando Lehmkuhl, de 43 anos, apontando para o monitor e mostrando que agora se soma a milhões de pessoas que usam mídias sociais como o Facebook.
A modesta e acolhedora escola funciona em uma sala de paredes brancas que abrigava a antiga unidade de atendimento do Sicredi, onde mesas, cadeiras e computadores que seriam descartados ajudam a transformar a vida de agricultores, pintores, motoristas, mecânicos, costureiras, aposentados, autônomos e donas de casa. À vontade, e perto de casa, os alunos não precisam se preocupar com formalidades. “Cada um vem do jeito que quiser. É como estar em casa”, diz o professor Jáder Ragazzi rodeado de estudantes que aproveitam o calor da primavera para assistir as aulas usando camiseta, bermuda e chinelos.
O projeto que se tornou um sucesso em Graciosa despertou receio e hesitação por parte da população no início. Muitos curiosos passavam perto da escola para observar a movimentação, ver à distância como eram as aulas. “Eu sabia que o banco estava ensinando informática, só que só tomei coragem de participar quando minha cunhada fez e falou que gostou. Aqui é assim. Um vai falando e chamando o outro”, explica sorrindo a costureira Rita de Cássia Schuelter Silva, de 47 anos, que vê na internet uma grande oportunidade de se manter informada e fazer amizades.
O curso com duração de quatro meses e realizado sempre na terça e na quinta-feira atende hoje três turmas que somam 30 alunos em três horários. A maioria dos adultos admite que dificilmente aprenderia a usar o computador se tivesse que se deslocar até Paranavaí, a 17 quilômetros de distância. Além das despesas, outra preocupação era a exposição diante de estranhos e jovens afeiçoados à informática. “Tudo começou quando pensamos em fazer um programa de inclusão social com a terceira idade e acabamos atendendo todas as faixas etárias. A Fatecie se dispôs a ajudar e nos forneceu o professor e o material didático”, garante a gerente da unidade do Sicredi de Graciosa, Andreia Rodrigues Mendonça Viana.
No distrito, mais de 700 moradores são associados da cooperativa, o que significa que o benefício é estendido a praticamente todo mundo, até porque para ingressar na escola basta ter algum parentesco com um associado. “Muitos começaram do zero e veem também uma oportunidade de ter uma remuneração melhor”, comenta Jáder Ragazzi. O mecânico Devanir Perri aponta como uma das vantagens do curso o fato de conseguir emitir nota fiscal dos serviços prestados em sua oficina.
Omir de Oliveira, autônomo de 58 anos, segue na mesma esteira. “Consigo abrir firma pela internet e estou aprendendo a pesquisar tudo que quero”, destaca. Vilson Lourenço de Sousa, de 39 anos, que está se familiarizando com o programa PowerPoint e já faz compras online, justifica que com as novas tecnologias todo caminhoneiro precisa ter bons conhecimentos de informática. “Estou na mesma situação que eles. O meu trabalho de pintor exige que eu saiba pelo menos enviar e-mails e mexer com programas como o Word. Ainda bem que temos um professor calmo e que explica muito bem”, pondera Edilson Lino de Oliveira, de 33 anos, sem velar a satisfação.
A autônoma Janete Rodrigues de Almeida, de 46 anos, assim como a dona de casa Sandra Portela de Oliveira, de 53 anos, e a costureira Rita de Cássia Schuelter Silva, de 47 anos, quis aprender informática principalmente para usar mídias sociais e manter contato com amigos e familiares. “Minhas duas filhas moram fora e assim posso falar com elas com mais facilidade. Temos dificuldades de aprendizado, mas vamos indo. O curso é muito bom”, revela Sandra.
O que também ratifica o êxito do projeto é o baixo nível de desistência. A cada turma, no máximo um ou dois alunos deixam a escola. As causas normalmente são problemas sérios de saúde ou falta de tempo. “Fazemos o possível para evitar que desistam, tanto que oferecemos alternativas de horário”, confidencia Jáder Ragazzi.
Em Graciosa, onde a economia é essencialmente agrícola, a inclusão digital trouxe uma grande transformação social e cultural. Não é difícil ver homens e mulheres trocando a enxada no final da tarde pelo computador, o que é encarado com naturalidade, já que 50% dos participantes atendidos pelo projeto são trabalhadores do campo. “Também recebemos pessoas da área de comércio e indústria querendo aprender a entrar em contato com fornecedor pela internet”, assinala o professor.
Acostumado a trabalhar com pessoas experientes em informática, Jáder Ragazzi relata que se surpreendeu quando se dispôs a encarar o desafio de lecionar para adultos que nunca usaram um computador. “É um aprendizado bacana, tanto pra eles quanto pra mim. No geral, são curiosos e pacientes. É bonito ver o interesse de um em ajudar o outro. Aprendo inclusive valores com eles. Afinal, muitos são maduros, pessoas com mais experiência de vida do que eu”, avalia.
Quando não estão em sala de aula, os alunos se comunicam pelas redes sociais, onde trocam piadinhas e planejam reuniões esporádicas. “Sempre chamam para dar um pulo na casa deles ou no sítio. Então a gente vai lá e faz uma confraternização. É um pessoal muito bacana, com quem vale muito a pena trabalhar”, afirma Ragazzi.
Curso de informática tem lista de espera para 2016
Ao ingressarem no curso de informática oferecido pela cooperativa Sicredi em parceria com a Fatecie, os participantes passam por um processo de nivelamento para que o professor possa trabalhar adequadamente com todos os alunos ao mesmo tempo.
“Aqui eles aprendem a mexer com a internet e com o pacote Office, da Microsoft, que inclui Word, Excel e PowerPoint. Todo o material didático é entregue a eles em um pendrive. E nesse mesmo dispositivo eles armazenam as atividades”, detalha o professor Jáder Ragazzi, acrescentando que a apostila foi desenvolvida pelo professor André Dias Martins, coordenador do curso de sistemas para a internet da Fatecie.
Para não ficar datado, o material digital é constantemente atualizado. Com o Word, os alunos aprendem a editar texto e melhorar a digitação. Já o PowerPoint é usado mais como recurso preparatório para a inserção de imagens em mídias sociais. “Daí quando chega na internet, eles estão tinindo”, comemora Ragazzi, lembrando que deu aulas em Graciosa até para alunos de 80 anos, com quem mantém contato quase diário pelo Facebook.
Após os quatro meses de curso, os participantes recebem os certificados. Para 2016, a procura pelo projeto de inclusão digital deve crescer ainda mais. A maior prova disso é o fato de que existe uma grande lista de espera.
Saiba Mais
Em julho, a diretoria da Sicredi União embarcou para os Estados Unidos. Em Denver, no Colorado, o projeto de inclusão digital concorreu ao prêmio do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (Woccu).
A cada quatro meses 30 novos alunos ingressam na Escola de Inclusão Digital do Sicredi União PR/SP
As aulas são realizadas às terças e quintas-feiras em três horários: 14h às 16h, 16h às 18h e 19h às 21.
Os participantes também podem participar de mais de 800 cursos online disponibilizados pelo Sicredi.
Contato
Para mais informações sobre o projeto, ligue para (44) 3428-1371