David Arioch – Jornalismo Cultural

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A megalomania de Frankenstein

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Em 1931, a Universal Pictures lançou a primeira versão cinematográfica de Frankenstein

A criação deveria ser o arquétipo da negação do fim (Foto: Reprodução)

A criação deveria ser o arquétipo da negação do fim (Foto: Reprodução)

Lançado em 1931 pela Universal Pictures, o clássico Frankenstein, do cineasta britânico James Whale, é um filme que gira em torno da ambição do homem em criar vida artificial, o que funciona também como uma crítica sobre a megalomania.

No filme, Henry Frankenstein (Colin Clive) é um ambicioso cientista que tomado por um anormal desejo de poder decide brincar de deus e cria um ser humano. A consequência é uma criatura feita com tecido, carne e órgãos de vários mortos que deveria ser o arquétipo da negação do fim, mas em função das deficiências físicas e psicológicas torna-se um símbolo degenerado da vida post mortem.

No clássico, o monstro é interpretado pelo célebre Boris Karloff (Foto: Reprodução)

No clássico, o monstro é interpretado pelo célebre Boris Karloff (Foto: Reprodução)

Em Frankenstein, o cineasta James Whale conseguiu transportar para o cinema toda a magia inventiva da obra que consagrou a escritora britânica Mary Shelley. A construção de cada personagem, desde Henry Frankenstein ao monstro interpretado pelo antológico Boris Karloff, foi concluída sob influência do cinema expressionista alemão, assim como o cenário que também remete ao romantismo gótico.

Tais referências podem ser observadas na saturação das sombras durante os momentos em que a pouca incidência de luz simboliza o triunfo da escuridão. Cena que ilustra isso é a de Henry Frankenstein e o seu ajudante Fritz (Dwight Frye), extasiados pelo inédito, procurando cadáveres frescos no cemitério, como se fossem deglutidos pelas trevas.

Já se tratando dos personagens, o mais emblemático é o monstro. Inapta a falar, a criatura é impelida a transmitir sensações e emoções por meio de expressões faciais, gestos e grunhidos que embora instintivos transmitem a essência do homem antes do processo civilizatório. Em vários momentos, mesmo privado de sua humanidade e sem saber quem realmente é, a criação de Frankenstein demonstra benevolência e desejo em ajudar, como se manifestasse uma certa consciência de outra vida.

Personagem incorpora a essência humana antes do processo civilizatório (Foto: Reprodução)

Personagem incorpora a essência do homem antes do processo civilizatório (Foto: Reprodução)

A figura do cientista que luta contra as leis naturais da vida também é das mais inesquecíveis, graças ao paradoxo criado por Whale que confunde o espectador sobre quem seria realmente o monstro, criador ou criatura, já que toda criação representa a materialização de um anseio do inventor, mesmo disforme.

O filme considerado um dos maiores clássicos de horror de todos os tempos ainda traz no elenco mais alguns célebres atores dos anos 1930, entre os quais Mae Clarke, John Boles, Edward Van Sloan, Frederick Kerr, Lionel Belmore e Marilyn Harris. A trilha sonora é de Bernhard Kaun. Com um modesto orçamento de 262 mil dólares, Frankenstein arrecadou mais de doze milhões de dólares.

60 Anos de Paranavaí

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Paranavaí, 14 de novembro de 2012.

60 anos de um município com uma história que ultrapassa cem (Foto: Amauri Martineli)

São 60 anos de um município com uma história que ultrapassa os cem. Paranavaí não seria o que é hoje se não fosse por centenas de peões que criaram uma estrada com mais de 110 quilômetros de extensão ligando a velha Fazenda Ivaí ao Porto São José; se não fosse por pessoas que resistiram a 40 dias e 40 noites de chuvas dormindo em um barracão de bicho da seda. Além disso, reconstruíram uma ponte e atravessaram a nado o Rio Paraná para conseguirem chegar à Vila Montoya. Nem a Revolução de 1930, que culminou em desemprego para toda uma população que teve de caminhar mais de 220 quilômetros, impediu a colônia de renascer novamente sob o signo do café.

Nem mesmo uma série de incêndios criminosos que atingiu os cafezais e centenas de moradias em 1931 inviabilizou a sobrevivência do povoado. Paranavaí também não seria o que é hoje se não fosse a iniciativa do interventor federal Manoel Ribas para que o engenheiro Francisco Natel de Camargo diminuísse a influência paulista, abrindo novas estradas e ampliando a relação da Velha Brasileira com o restante do Paraná. Paranavaí tem uma extensa história de obstáculos, até mesmo por parte do poder público que só voltou a se preocupar com a localidade em 1935.

Infelizmente, muitos personagens importantes são praticamente desconhecidos da população. Falo do marceneiro Hugo Doubek, o curitibano que se tornou o primeiro administrador de Paranavaí. Doubek não apenas administrava a colônia, mas cuidava de toda a população. Quando houve um surto de leishmaniose em Paranavaí, passou dias na selva tentando encontrar ervas que pudessem lhe auxiliar na cura dos enfermos.

Não dormiu por semanas, prestando atendimento numa época em que a colônia não tinha médicos. Evitou a morte de muita gente, desde crianças a idosos. Fez muito mais; impediu assassinatos envolvendo brigas por terras. Como era um mestre marceneiro, até construiu casas para os moradores de Paranavaí. Em 1944, Hugo Doubek e Ulisses Faria Bandeira demarcaram toda a área da colônia a pé. Percorreram centenas de quilômetros até as fronteiras com São Paulo e Mato Grosso.

O ex-vereador Otacílio Egger é outra figura de destaque que todo paranavaiense deveria saber quem foi. O primeiro político eleito pela colônia, Egger fazia questão de participar de todas as sessões da Câmara Municipal de Mandaguari em 1948. À época, não se importava em sair de Paranavaí a pé num dia para estar em Mandaguari no outro para defender os interesses da população. Temos muitos personagens ainda anônimos, mas esses são alguns que faço questão de enaltecer neste dia em que comemoramos mais um aniversário.

Amo Paranavaí porque a conheço, e acho que não há nada mais incompleto que amar no desconhecimento.