David Arioch – Jornalismo Cultural

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O sangrento faroeste à Tarantino

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Django Unchained mistura bang-bang, drama e comédia em um cenário de violência extrema

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Christoph Waltz e Jamie Foxx interpretam uma dupla de caçadores de recompensas (Foto: Reprodução)

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Samuel L. Jackson rouba a cena como o ruidoso nigger house Stephen (Foto: Reprodução)

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Leonardo DiCaprio incorpora o cruel Calvin Candie (Foto: Reprodução)

Django Unchained, do cineasta estadunidense Quentin Tarantino, é uma obra audaciosa com quase 2h50. Mesmo longa, é capaz de cativar a atenção do espectador do início ao fim. Memoráveis as interpretações do austríaco Christoph Waltz, Jamie Foxx, Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson. Me diverti muito com o personagem Big Daddy, interpretado pelo multifacetado Don Johnson que incorpora a comicidade, a sátira e a estupidez dos latifundiários sulistas estadunidenses nos tempos da escravidão – é uma bela caricatura da ignorância.

Surpreendente a maneira como Tarantino consegue costurar bang-bang à americana, drama, comédia e ao mesmo tempo brincar com elementos da cultura pop, transportando a música contemporânea e urbana dos EUA para o Velho Oeste Pré-Guerra da Secessão. Tarantino é ousado e acredito piamente que ele faz filmes para si mesmo, mas nessa de ser autoral, de fazer um cinema híbrido, que homenageia os gêneros e cineastas com quem muito aprendeu, acaba sempre, de algum modo, traduzindo os anseios do público que frequenta as salas de cinema do mundo todo. Um exemplo?

Django Unchained foi lançado mundialmente no final de dezembro e conseguiu desbancar milhares de obras que ganharam o mercado estadunidense no ano passado. Ainda assim, foi eleito nos EUA um dos dez melhores filmes do ano. Quentin Tarantino 2012 continua criativo, experimentador, filosófico e não tem medo de conduzir o público ao nonsense. Justo, já que nem todo personagem, assim como ser humano, tenta ou precisa fazer sentido o tempo todo. Talvez por isso, o trabalho do homem seja sucesso de público e crítica.

O filme tem uma estética incandescente que remete ao western spaghetti e casa magistralmente com o objetivo do personagem principal, Django (Jamie Foxx), um ex-escravo que se torna um caçador de recompensas e parte em busca de sua Broomhilda, numa livre interpretação do mito germânico e islandês de Brunhilde e Siegfried. A exemplo de Inglourious Basterds e da franquia Death Proof, Tarantino explora com muita violência audiovisual – é sangue do início ao fim, o tema retaliação. O cineasta presta tributo ao cinema B que para cobrir as lacunas das falhas orçamentárias apelava para o gore ou splatter. Entre os personagens, não posso deixar de destacar o old house nigger Stephen, interpretado ruidosamente pelo inconfundível Samuel L. Jackson.

O homem é fiel apenas ao seu “dono” e, embora tenha uma autonomia de pensamentos, age como se fosse um animal de estimação. Em uma das extremidades da hipocrisia, trata os demais escravos como se não fossem iguais a ele – nem mesmo humanos. Interessante como Quentin Tarantino expõe através do caçador de recompensas alemão King Schultz (Christoph Waltz), personagem que qualifica Django para o trabalho, a origem negra do escritor francês Alexandre Dumas na biblioteca do fazendeiro francófilo Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), um cruel escravocrata. Como não poderia deixar de ser, a música incidental do filme é assinada pelo lendário Ennio Morricone, o maior compositor de trilhas sonoras do cinema western.

Teddy Bear mostra como as aparências enganam

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Filme rebate os clichês sobre o perfil de um fisiculturista

Teddy Bear foi premiado no Sundance Film Festival (Foto: Reprodução)

Idealizado pelo cineasta dinamarquês Mads Matthiesen, Teddy Bear é um filme sobre o fisiculturista Dennis, de 38 anos, que vive no subúrbio de Copenhagen, na Dinamarca. Apesar da postura hermética e intimidante, baseada no grande físico, o atleta é um cara tímido e que tem dificuldade para conversar com mulheres.

Um dia, Dennis, personagem do dinamarquês Kim Kold, conhece uma garota com quem sai. Quando volta para casa, onde vive com a mãe, é obrigado a mentir e dizer que estava com um amigo. O protagonista tem motivos para não revelar a verdade a mãe que só se sente satisfeita quando o filho está em casa, sem companhias femininas.

Por sugestão do tio, Dennis viaja para a Tailândia, onde conhece inúmeras mulheres. Logo se frustra ao perceber que elas só se aproximam dele por causa dos seus músculos. Mais tarde, após um tempo treinando em uma academia frequentada por fisiculturistas locais, Dennis é convidado para jantar com alguns colegas. Na oportunidade, conhece a proprietária do ginásio, Toi.

Pela primeira vez em muito tempo, Dennis percebe uma conexão recíproca. A profundidade desperta o interesse em contar a verdade para a mãe, a quem mentiu antes dizendo que viajaria para uma competição na Alemanha. Ao final da revelação, a mãe diz que ele precisa escolher entre ela ou Toi. O fisiculturista se sente confuso, pois as duas são importantes em sua vida, mesmo que de formas distintas.

O nome Teddy Bear é uma crítica ao estereótipo no qual Dennis se enquadra; reflete a representação do personagem que em muitos momentos parece um grande urso de pelúcia pela inocência e atitudes sensíveis. O filme rendeu a Mads Matthiesen o prêmio de melhor diretor no Sundance Film Festival deste ano, considerado o maior evento do cinema independente nos EUA. A obra é baseada no curta-metragem Dennis, lançado pelo cineasta em 2007.