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“É um exercício de poder falarmos que os animais são simplesmente máquinas”
É um exercício de poder falarmos que os animais são simplesmente máquinas, que não pensam, que não têm raciocínio e assim por diante; que agem só por instinto, porque assim eu posso usá-los ao meu bel-prazer. Então o fato de não admitir essa dimensão chamada de mente e alma nos animais é o mesmo mecanismo de exercício de poder que se usava em relação aos escravos na época de escravatura aqui no Brasil, que faz pouco mais de cem anos. Como é que o clero e outras instituições religiosas conviviam com isso? Afirmando que os escravos não tinham alma. Era uma estratégia de exercício de poder.
Irvenia Prada, então professora titular de anatomia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, no documentário “A Carne é Fraca”, de 2005.
Um exemplo de como animais reduzidos a alimentos são sensíveis, e nada têm de amorfos, é a arte “The Price” do artista estadunidense “Jackson Thilenius”. A obra é inspirada na realidade dos porcos que vivem em regime de confinamento. Distantes de uma vida natural e diante de muito estresse e outros transtornos psicológicos e emocionais, eles enlouquecem e acabam por matar os próprios companheiros. Infelizmente, essa é uma consequência da suinocultura intensiva visando a produção de bacon, lombo, presunto, pernil, picanha e costela, entre outros chamados produtos que as pessoas consomem no cotidiano.
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A angústia do boi a caminho do abate

“A parte mais estressante são os últimos minutos dele, porque ele vê o amigo dele caindo, escuta o mugido”
O processo de abate começa na fazenda, na hora que o pecuarista separa o lote dele para o frigorífico. Daí já começa o manejo para o abate. [Quando chegam ao matadouro o desespero dos bovinos é tão grande que eles se prensam na saída da carroceria do caminhão]. Na hora do abate, eles são tocados. Quanto menos usar choque nessa hora, menos prejudicial [bois sendo eletrocutados e mugindo]. A parte mais estressante são os últimos minutos dele, porque ele vê o amigo dele caindo, escuta o mugido.
Mesmo estando confinado em um lugar muito apertado, que tem gente em cima, pra mim, aquela parte é a mais angustiante. [Nesse momento o boi reconhece que algo de muito ruim está acontecendo com o seu amigo e então ele recua, tentando fugir]. Aquela angústia dele na rampa, nos últimos minutos, me marcou até hoje. Não olho nem pro osso deles.
É chamado de pistola pneumática o equipamento que a gente usa para insensibilizar. Tem um êmbolo mais ou menos da grossura do meu dedo. Na hora que o operador aperta o gatilho, esse êmbolo sai, lógico que entra na cabeça e volta. E daí dá aquele abalo no cérebro e faz ele ficar insensível. Daí cai na praia de vômito, é içado e depois de um minuto no máximo ele tem que ser sangrado porque senão ele acaba morrendo. Então ele tem que estar com a circulação funcionando para sangrar e escoar o máximo de sangue. Daí já pode fazer todas as operações – esfola, abertura da barriga, evisceração, serragem.
Muitos deles, a quase totalidade deles, quando já percebe o que está acontecendo com os outros lá na frente, eles entram em midríase, ou seja, eles ficam com a pupila dilatada. Então esses animais com certeza estão com taquicardia, com aumento de pressão arterial.
E nessa hora eles descarregam na circulação uma série de substâncias altamente tóxicas por medo, por pavor, por impossibilidade de fuga. E isso caracteriza o fato deles estarem em pânico. E essas substâncias, elas ficam na carne, e depois o homem vai se alimentar com isso. Seja a morte deles em um desses frigoríficos modelo ou em um matadouro comum.
Giovana Mondelli, responsável pelo controle de qualidade do Frigorífico Mondelli.
Irvenia Prada, professora titular em anatomia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.
Fernando Travi – psicólogo e higienista
Excertos do documentário “A Carne é Fraca”, lançado pelo Instituto Nina Rosa em 2005.
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