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Vida saudável, disciplina e abstinência

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Nunca é tarde demais para mudar (Foto: Reprodução)

Acredito que uma vida saudável deve envolver disciplina e abstinência de uma série de coisas, até porque vivemos rodeados de armadilhas. Muitas pessoas não se importam com isso porque ainda não sofreram as consequências de suas “escolhas”.

Porém, conversando com idosos enfermos nos últimos sete, oito meses, me surpreendi ao perceber como há um padrão de reflexão. Quase todos disseram que acreditam que não estariam em situação tão penosa se não tivessem cometido tantos excessos na vida. Alguns chegaram até a se emocionar e desejar a própria morte.

Written by David Arioch

September 17th, 2016 at 8:04 pm

Tolstói: “O vegetarianismo é um sinal da aspiração séria e sincera da humanidade”

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Sobre a carne como alimento, o escritor russo Liev Tolstói a desqualificava sob qualquer aspecto

Leo Tolstoy (1828-1910), Russian author and philosopher, 1926. As a fiction writer, Tolstoy is widely regarded as one of the greatest of all novelists, particularly noted for his masterpieces War and Peace and Anna Karenina. As a moral philosopher Tolstoy was notable for his ideas on non-violent resistance through works such as The Kingdom of God is Within You, which in turn influenced such twentieth-century figures as Gandhi and Martin Luther King, Jr. From An Outline of Christianity, The Story of Our Civilisation, volume 4: Christianity and Modern Thought, edited by RG Parsons and AS Peake, published by the Waverley Book Club (London, 1926). (Photo by The Print Collector/Print Collector/Getty Images)

Tolstói: “Não se pode duvidar que o vegetarianismo tem progredido dessa forma” (Foto: The Print Collector/Print Collector/Getty)

Um dos maiores nomes da literatura mundial, Liev Tolstói, além de romancista, filósofo, humanitarista e pacifista, também chamou a atenção e conquistou muito respeito nos séculos 19 e 20 por ser um grande defensor do vegetarianismo. Levando uma vida frugal, ele se alimentava basicamente de pães, frutas e vegetais.

Sobre a carne como alimento, Tolstói a desqualificava sob qualquer aspecto, e não apenas ponderando sobre o sofrimento dos animais, mas também a supressão da capacidade espiritual humana – que deveria se voltar para a simpatia e compaixão pelos seres vivos. “Ao violar esses sentimentos, o ser humano abre as portas para a crueldade. Mas afirmando que Deus ordenou o abate dos animais, o que acima de tudo é tão somente um hábito, as pessoas perdem inteiramente o seu sentimento natural”, escreveu Tolstói em ensaio publicado no livro Recollections and Essays, lançado em 1937, 27 anos após sua morte.

Na obra, há diversos textos raros em que ele aborda suas experiências com o vegetarianismo. E se alguns deles se voltam para a introspecção e interiorização, outros consistem em retratos da comezinha hipocrisia. Exemplos são os relatos sobre o que ele testemunhava tanto nas áreas urbanas quanto rurais da Rússia tsarista.

Segundo o escritor russo, o ser humano, por ter hábitos onívoros, ignora o fato de que o primeiro elemento da vida moral é a abstinência. “Não faz muito tempo que falei com um soldado aposentado. Ele ficou surpreso quando eu disse que é uma pena matar animais e reduzi-los à comida. Justificou que era a ordem natural das coisas. Falei que sentia mais pena ainda quando os animais surgiam silenciosos, como gado manso. ‘Eles vêm, coitados, confiando em ti. É muito lamentável.’ Até o final da nossa conversa, ele já estava concordando comigo”, narra.

Tolstói também relata uma experiência que teve quando decidiu visitar um matadouro em Tula, ao sul de Moscou. Naquele dia, ele convidou um amigo para acompanhá-lo. A proposta foi declinada e o homem alegou que não suportaria ver o abate dos animais. “Vale a pena observar que ele era também um desportista que caçava pássaros”, enfatiza o escritor, desvelando a contradição especista do amigo.

De acordo com o russo, em qualquer lugar, sempre há uma senhora refinada devorando a carcaça de um animal, crente de que está agindo corretamente. Ela é tão frágil que diz não ter condições de se alimentar somente de vegetais. Também é tão sensível que jamais conseguiria causar dor a si mesma ou a qualquer outro animal. Na realidade, seria incapaz até de vê-lo sofrer. E ela é fraca justamente porque foi ensinada a se alimentar daquilo que não é natural ao homem. E, ainda assim, ela não consegue evitar de causar dor aos animais porque prefere continuar comendo eles.

Para Tolstói, se alimentar de animais é uma injustiça e uma imoralidade que tem sido aceita pela humanidade durante toda a vida consciente dos seres humanos. Apesar disso, há séculos cresce o número de pessoas que não reconhecem o ato de comer carne como sendo certo. No século 19, o escritor russo percebeu que a humanidade já passava por um progresso moral lento, mas ininterrupto.

“Não se pode duvidar que o vegetarianismo tem progredido dessa forma. O progresso do movimento deve provocar especial alegria naqueles que se esforçam por trazer o verdadeiro reino de Deus à Terra. O vegetarianismo é um sinal da aspiração séria e sincera da humanidade em direção à perfeição moral”, defende Liev Tolstói em Recollections and Essays. Sua contribuição para o vegetarianismo foi tão significativa que desde a década de 1950 seus ensaios são usados em congressos realizados no mundo todo.

Referências

Tolstoy, Leo. Recollections and Essays. Nabu Press (2011).

IVU World Vegetarian Congress, Souvenir Book (1957).

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