David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Açougue’ tag

Café vegano chama a atenção ao lado de um açougue no Canadá

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Shirley: “As pessoas nos diziam: ‘Você vai ser vegetariano em Calgary? Você nunca vai conseguir!”

O açougueiro John Wilbourg se tornou um dos clientes do café vegano (Foto: Reprodução)

Um fato chama a atenção em Calgary, no Canadá. Desde o ano passado, um café vegano tem despontado em uma área de açougues. O Hearts Choices foi fundado pelo casal Eahly Shirley e Nan Thammanatr, que deixou Vancouver para fixar residência em Calgary, onde o consumo de carne é considerado mais elevado do que em outras grandes cidades do Canadá.

Em entrevista ao CBC News, Shriley contou que assim que chegaram a Calgary eles perceberam que havia poucas opções vegetarianas: “As pessoas nos diziam: ‘Você vai ser vegetariano em Calgary? Você nunca vai conseguir!” Ainda assim o casal aceitou o desafio de promover o vegetarianismo e o veganismo em meio a uma forte cultura cowboy.

“Estávamos andando um dia pelo mercado de agricultores de Calgary e vimos um pequeno estande de 10×10 vazio. Então pensamos: “Ei, talvez poderíamos começar um negócio aqui vendendo produtos vegetarianos.’ E foi assim que começamos, com um minúsculo freezer e um pequeno estande, lucrando, por exemplo, 30 a 40 dólares por dia”, relatou Eahly Shirley que, assim como a esposa, é vegano.

Em 2017, o café Hearts Choices foi instalado ao lado do açougue Master Meats, onde pouco tempo depois um episódio se tornou inesquecível – o carro “veggie” do café se chocou acidentalmente contra o carro do açougue. Os clientes aproveitaram para tratar o incidente como um conflito entre bacon x facon e bisteca x tofu.

Apesar de tudo, o relacionamento entre os proprietários do café e John Wildenbourg, o proprietário do açougue que tem uma filha vegetariana, é bem amigável. Inclusive o açougueiro é cliente da cafeteria vegana. Pelo menos seis opções do cardápio estão entre os seus alimentos preferidos na atualidade – com destaque para as “asinhas de couve-flor”. Além disso, o Hearts Choices já não é mais visto como um estranho no ninho. O negócio cresceu e o casal possui mais dois empreendimentos veganos em Calgary.





Written by David Arioch

June 19th, 2018 at 3:30 pm

Faltou carne no açougue (versão reduzida)

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Diante do balcão, Luiz acenou para o açougueiro Nino e pediu um quilo de coxão mole.
— Não tem, o senhor me desculpe.
— Como assim? Nunca faltou coxão mole aqui.
— Então me vê alcatra.
— Também não tem.
— Pode ser patinho.
— Também não.
— O que você tem de carne aí, afinal?
— Nada.
— Nada?
— Isso mesmo.
— Então por que diabos o açougue está aberto?
— Aqui vai ser açougue ainda, mas sem carne. A gente iria fechar até receber a mercadoria, mas o patrão mandou deixar aberto, pra freguesia ir se acostumando.
— Se acostumando com quê?
— Com a falta de carne.
— Você é louco? Açougue sem carne não é açougue.
— Vossa opinião.
— Como?
— Isso mesmo.
— Isso não existe, amigo. Nunca me acostumaria com isso. Onde já se viu açougue sem carne?
— Se o senhor diz, mas tem gente que não está reclamando da mudança.
— Eu não sou os outros.
— Ok…
— Logo mais chega bastante variedade de frutas, legumes, verduras. O senhor gosta de batata beauregard? Chega hoje mesmo.
— E daí, amigo? Por acaso, eu lá quero saber disso?
— Mais opções para o seu paladar, para a sua saúde e para a saúde dos bichos.
— Você acha que tenho cara de quem vai parar de comer carne?
— Aí não sei. Cara não costuma dizer muita coisa, a não ser quando alguém abre a boca, né?
— Você tá de sacanagem comigo, rapaz! Você acha que sou coelho pra comer folha?
— Não, mas dizem que é boa fonte de minerais, fibras e vitaminas.
— Não interessa! Não vim aqui pra isso. Meu negócio é carne, proteína de verdade! Olhe, rapaz, diga ao seu patrão que nunca mais piso os pés aqui. Vocês perderam um cliente de longa data.
Nino ficou em silêncio e assistiu a partida do freguês enquanto uma de suas mãos percorria o balcão com uma flanela. Luiz hesitou por instante. Parou sobre a soleira, bateu com zanga a sola da botina, apontou o dedo cominador em direção ao balcão sem carne, mordeu os lábios inferiores e logo desapareceu.
— Esse aí é capaz de matar um por causa de um pedaço de carne – monologou Nino na sua típica fleuma.
De volta aos afazeres, abriu uma caixa recém-chegada e começou a mimosear uma porção de maçãs. Ele sorria para elas, e elas sorriam para ele – maçãs felizes – com carinhas e tudo o mais.
Vocês vão fazer alguém muito feliz – comentou Nino admirando o rubor das maçãs.





 

A primeira vez de Rubinho no açougue

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“Hog Heaven”, de Susan Jenkins

Rubinho foi ao açougue pela primeira vez. Nunca tinha visto nada parecido. No seu ideário meninil, o açougueiro era como um mágico que concebia a carne a partir de dotes sobrenaturais. Bastaria reunir alguns ingredientes, e voilà, assim surgia a carne, corada e sem violência.

“Falaram que a carne de boi aqui é a mais fresca da cidade”, “Sim, meu tio fornece carne pra eles, tão matando bem.” Um quadro na parede branca mostrava três bois descansando sobre o pasto verdejante.

“Nem imagina o que os espera, a faca é o destino final”, comentou um rapaz com voz lamuriosa ajeitando o boné sobre a cabeça. Sim, o choque foi tremendo. Rubinho preferiu não falar nada. Observou tudo. Facas e serras fatiando carnes e ossos, pessoas de um lado para o outro carregando sacolas de carne.

Ao fundo, o líquido glutinoso dava um aspecto desagradável que incomodava Rubinho. “Parece catchup, só que ralinho”, monologou. Mas o que mais chamou a atenção do menino foi um leitãozinho prostrado sob a vitrine. Rubinho insistiu tanto que sua mãe concordou em comprá-lo.

— Tem certeza que você quer isso, Rubinho?
— Tenho, mãe! Tenho sim.
— Não sabia que você gostava tanto assim de carne de porco.

O menino não disse nada.

Mais tarde, já em casa, a mãe de Rubinho correu até o quarto para chamar o marido.

— Você não vai acreditar no que eu vi — disse espaventada e com as mãos trêmulas.

Depois de enrolar o leitãozinho em uma mantinha, Rubinho lançou a última colher de terra sobre o corpo do animalzinho no quintal. Afofou a terra com as mãos, na tentativa de deixá-la bem homogênea, e ainda ajoelhado olhou para as nuvens:

— Não pude te salvar, mas pelo menos agora você vai chegar inteiro no céu.





Promoção no açougue

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“Será que vou conseguir levar alguma coisa?”

Promoção no açougue. Fila imensa. Pessoas sorrindo. Pessoas apreensivas. Medo de não sobrar nada. “Será que vou conseguir levar alguma coisa?”, se perguntavam.

Alguém se acotovelou? Sim, sutilmente e bruscamente. O cheiro da câmara fria amenizava o calor de mais de 30 graus. Trazia um cheiro glacial de osso, de carne. Cheiro de morte? Sim, mas isso não sei se alguém considerou. Menos ainda se a fome dominou.

Faca que corre pelo corpo despedaçado. Serra, serra que não para. E não para mesmo. Vamos ensacar. Sorriso, churrasco, gargalhada. Gargalhada, churrasco e sorriso. Era o assunto do momento. Sem traços de vida. “Não saio daqui com menos de 30 quilos”, comentou um homem de meia-idade. Respirava com dificuldade. Fôlego fraco. Hipertensão? Doença coronariana? Pode ser.

— Com licença, posso lhe mostrar algo rapidamente? Preciso apenas de uma breve opinião.
— Sim, sem problema.
— Que merda é essa? Você é louco? Mostrar isso pra mim na fila do açougue.

Agradeci e caminhei até o próximo da fila. Mais um pedido.

— Que isso, menino! Me respeite que eu poderia ser sua mãe.
— Ok.

Mais um.

— Ah, piá sem noção! Tá maluco? — disse uma moça.

Outro.

— Respeite minha família. Estou com minha esposa e filhos aqui.

Mais.

— Acabou com o meu apetite. Tá satisfeito agora, seu infeliz?
— De modo algum, senhor.

Continuei.

— Ô açougueiro, faça alguma coisa aqui. Chame a gerência, sei lá. Esse cara aqui tá perturbando todo mundo na fila.
— Não, senhor. Pedi licença todas as vezes, e vocês concederam. Bom, acho que já cumpri o meu papel.
— Papel? Isso aí deve ser tudo mentira, coisa encenada. Ou se for verdade, coisa rara que acontece só nos piores lugares.
— Ok.
— Só isso que você tem a dizer?
— Sim. Agradeço a atenção de todos. Não tenho do me que queixar.
— É? Mas nós temos, de você sendo inconveniente.
— Obrigado. Tenham uma boa tarde.

Guardei o celular no bolso, mas antes li uma última mensagem que encerra o vídeo: “A consciência clama pelo que já não descansa.” Cinco pessoas abandonaram a fila.

— Já é alguma coisa — monologuei em direção à saída.

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“Me vê um pedaço daquele cadáver ali”

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Vintage Poster – A Trip To The Butcher Shop

Um senhor, o primeiro da fila que se estendia por mais de 50 metros, se aproximou do açougueiro.

— Me vê um pedaço daquele cadáver ali.
— Como?
— Aquele pedaço de bicho morto pendurado no gancho. Gostei daquele – falou apontando para uma costela bovina bem visível sob a vitrine.
— Que absurdo! O senhor não tem a mínima educação com a comida – disse uma senhora.
— Que homem grosseiro! Nojento! – comentou uma moça.
— Quer aparecer, irmão? Amarre uma melancia no pescoço – criticou um rapaz.
— E o que vocês pensam que estamos comprando aqui? Nada mais do que bicho morto. Ou vocês acham que esses pedaços de carne brotaram da terra? São cadáveres, ora! Deliciosos, mas ainda assim cadáveres.

Durante a discussão, algumas pessoas se entreolharam chocadas e saíram da fila sem dizer palavra.

— Mas o senhor não precisa falar assim — reclamou outra mulher.
— Falo a realidade, minha senhora, só a realidade.
— Quanto o senhor quer? — perguntou o açougueiro.
— Não tenho certeza. Quanto custa o quilo dessa morte?

O açougueiro respondeu e o homem acenou com a cabeça.

— O senhor deseja mais alguma coisa?
— Verei.
— Assassinaram esse leitãozinho aqui fora de época, meu amigo. Esse aqui deve ter uns dez dias pelo que vejo. Deu tempo de desmamar? Acredite, não deu. Coitado! Vocês compraram de quem?
— Não posso fornecer essa informação, senhor. Teria que ver isso com a gerência.
— Ok…obrigado.

Enquanto o homem deslizava os dedos pela vitrine levemente embaçada, observando outros tipos de carne, uma criança começou a chorar.

— Mãe, aquela carne na bandeja é bicho morto, cadáver? O que aquele homem disse é verdade?
— Não, filhinha, não é não. Ele estava brincando.
— Como, senhora? Brincando? Pra que mentir para as crianças? Se comemos, temos que comer com consciência, sem mentiras. Se compro e como é porque alguém mata a bicharada por minha causa, por sua causa, por causa de todo mundo nesta fila. Não temos porque iludir os pequenos. Os matadouros vivem lotados graças a nós.
— Seu velho grosso e sem noção!

Depois de tapar brevemente os ouvidos da filha, a mulher a pegou pela mão e a levou para longe do açougue, em direção ao setor de hortifruti.

— O senhor vai afastar toda a freguesia — comentou um rapaz.
— Amigo, desde que cheguei neste açougue só falei verdades. Não fui rude nenhuma vez. Fui honesto apenas. Não é culpa minha se tem gente que rejeita a realidade.
— Mas não tem porque se referir à carne dessa forma tão sombria…
— Não tem nada sombrio aqui, meu jovem. Sombrio é o que acontece nos matadouros. Mas o que os olhos não veem o coração não sente, não é mesmo? Ou até sente, mas não se importa. Afinal, depende de quem falamos, concorda?
— Sei lá!

Quando o homem deixou o açougue, havia poucas pessoas na fila, e um silêncio desconfortável tomou conta do lugar. Sem olhar para trás, passou na padaria, pediu alguns pães e caminhou até o caixa. No estacionamento, um segurança chamou-lhe a atenção.

— O senhor pode me acompanhar, por favor?
— Tudo bem!

Após uma curta caminhada, entraram em um escritório, onde foram recebido pelo gerente.

— Boa tarde. Tudo bem?
— Sim e o senhor?
— Estou bem também. Obrigado por perguntar – respondeu o cliente.
— Quero pedir um favor ao senhor.
— Diga.
— O senhor causou um alvoroço no açougue. Seria possível não fazer mais isso?
— Como?
— O senhor falando em cadáveres, bicho morto, matadouro, assustando a freguesia. Não trabalhamos assim e não aceitamos isso.
— Como assim? É apenas a realidade, sem eufemismos.
— Sim, mas isso é inaceitável, não está dentro dos nossos padrões, e as pessoas não gostam disso.
— Mas não falo dessa forma para que as pessoas gostem de mim ou do que falo. Não busco aplausos. Respeito sua política de trabalho, mas não sigo padrões. Afinal, sou cliente, não funcionário. Entenda, não desrespeitei ninguém.
— O que o senhor ganha agindo assim?
— Ao ser consciente das minhas ações, e dividir isso com os outros? Não sei…talvez um pouco de honestidade e menos permissividade. Afinal, refugiar-se na ilusão também pode ser uma forma de abraçar a exclusão.

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“Mããããe, olha que lindo aquele boi!”

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“Por que será que ele parece tão feliz?”

No açougue do mercado, uma criança ficou eufórica ao ver um quadro de um boi sorrindo.

— Mããããe, olha que lindo aquele boi!

— É sim, querida.

A criança coçou a cabeça, olhou para os lados e estranhou o fato de que ninguém mais estava admirando o mesmo quadro que ela. Praticamente invisível. 

— Por que será que ele parece tão feliz?

— Não sei, filhinha.

— Já sei, mãe!

— O quê, filha?

— É porque ainda não mataram ele, né?

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Written by David Arioch

June 29th, 2017 at 9:06 pm

“Mas o boi tem que morrer? Ele não chora? E a família dele?”

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Arte de Thomas Sidney Copper – Art Gallery Collection

No mercado, perto da fila do açougue, ouvi uma garotinha conversando com a mãe. Com a naturalidade típica das crianças, perguntou por que ela tinha que comer carne.

— Porque você precisa de proteína pra crescer forte e saudável.

— Mas o boi tem que morrer? Ele não chora? E a família dele?

Constrangida, a mulher saiu da fila do açougue com a filha enquanto algumas pessoas riam e outras refletiam.





Nascem, crescem numa velocidade assustadora e morrem para tornarem-se comida

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Logo cedo, são privados do convívio familiar

Quando eu era criança, vez ou outra eu fazia algum comentário perto da fila do açougue. “É o lugar mais frio do mercado”, eu dizia para a minha mãe – conta ela. Às vezes, me sentia desconfortável, mesmo sem entender. Com o tempo, compreendi o que cada uma daquelas partes expostas na vitrine, dispostas em bandejas ou em grilhões representa de verdade, para além do romantismo da exploração animal.

Vejo pessoas nas filas, seguindo suas vidas, conversando e brincando. Acredito que poucos refletem sobre isso enquanto aguardam o açougueiro, até porque fomos condicionados a isso nos últimos séculos, e mais ainda nas últimas décadas. É um contraste muito grande com o destino daqueles animais que têm vidas muito curtas, e logo cedo são privados do convívio familiar. Nascem, crescem numa velocidade assustadora e morrem para tornarem-se comida.

Ocasionalmente, alguém me diz que fulano de tal matou um animal para ser consumido inteiramente em uma confraternização. Difícil não pensar que toda a vida de um animal foi resumida a algumas horas de comilança, e em um evento que celebra a amizade e o companheirismo. Onde está esse senso de companheirismo quando esse animal é privado de conviver com os seus? Somos animais conscientes e racionais que celebram a vida com a morte.

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O homem e o carrinho

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No mercado, vi um senhor fazendo um esforço hercúleo para empurrar um carrinho abarrotado de carne

No mercado, vi um senhor fazendo um esforço hercúleo para empurrar um carrinho abarrotado de carne. Havia tanta carne que por um momento ele parou de empurrá-lo. Em seguida, enxugou o líquido viscoso que escorria de um dos sacos de carne, lambuzando sua mão direita. Seu carrinho não era o único na mesma situação.

Antes que eu me afastasse, um de seus filhos se aproximou e o questionou se não havia carne demais no carrinho. Incomodado, o homem respondeu, num paradoxo ruidoso: “Carne é vida. Melhor sobrar do que faltar.” Por outro lado, ele sentia-se desconfortável porque uma de suas mãos estava grudenta. Sem velar a expressão de repulsa, na tentativa de limpá-la, ele acabou esfregando a mão em uma porção de belas laranjas.

Em menos de minuto, algumas testemunhas se aproximaram e viram as laranjas manchadas pelos glutinosos vestígios de carne. Então reclamaram: “Que sujeito nojento! Eu que não pego essas laranjas!” E partiram empurrando seus carrinhos cheios de peru, tender, pedaços de carne bovina e bandejas de presunto.

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O Natal e os açougues

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Com a proximidade do Natal, os açougues estão cheios, suas filas são quilométricas, mas muitos ainda não percebem que a desproporcionalidade entre vida e morte é gritante. Quem sorri do lado de cá, não pondera que sua satisfação custou o choro daquele do lado de lá.

Written by David Arioch

December 24th, 2016 at 7:20 pm