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Um artista dos bastidores
Adauto Soares, do alto se sua cabine é sempre uma extensão de quem está no palco
Há oito anos, Adauto Soares é o responsável pelo Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, onde atua como iluminador, técnico de som, cenógrafo e maquinista. É um artista dos bastidores que leva mais vida aos espetáculos por meio de cenários, luzes e sons que manipula para transmitir sensações e sentimentos. “Tenho que me atentar ao figurino de quem está no palco. Preciso escolher a iluminação certa para transmitir a essência de um momento”, explica Soares que do alto de sua cabine é sempre uma extensão de quem está no palco.
Não é à toa que quando surge algum imprevisto ou problema na montagem de um espetáculo, Adauto é a pessoa mais procurada para resolvê-lo. Nem poderia ser diferente, pois é o único profissional da região de Paranavaí que tem o DRT, registro profissional, de todas as funções que exerce concedido pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (Sated) do Paraná. Admirador e aluno de Jorginho de Carvalho, considerado o maior iluminador do Brasil, conhecido como “O Velho da Luz”, Soares gosta da liberdade de criação, de surpreender o público e de brincar com cores quentes e frias. “Quando o diretor de um espetáculo deixa tudo por minha conta é mais fácil, faço a minha maneira. Quando ele vem com a ideia pronta é mais complicado”, comenta e acrescenta que a criação é a parte da produção que exige mais tempo.
Todo ano, Adauto participa da realização de dezenas de eventos. Já assinou a iluminação e parceria conjunta na criação de cenários de vários espetáculos de dança. “Além do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), as apresentações de dança são as que mais me dão liberdade. Sempre digo que meu trabalho é criar a moldura no quadro do artista, deixar algo mais bonito”, declara o profissional que recebeu três excelentes propostas de trabalho, mas recusou porque prefere continuar morando em Paranavaí.
Adauto Soares também cita como referência a iluminadora Nadja Naira e a cenógrafa Isabele Bittencourt, e se recorda que foi introduzido ao universo das artes quando na adolescência morava em Curitiba. “Tinha um amigo que era relações públicas da Petrobrás e sempre conseguia ingressos para os melhores espetáculos, então a gente não perdia um, fosse de música ou teatro. Assistia peças com o Matheus Nachtergaele, Giulia Gam, Wagner Moura, Luís Melo e muitos outros”, exemplifica.
Em cada apresentação, enquanto a maioria prestava atenção aos artistas, Adauto ia além, ficava maravilhado com os detalhes cenográficos. Ainda em Curitiba, assistiu a interpretação de “Morte e Vida Severina”, do Teatro Estudantil de Paranavaí (TEP). Anos depois, retornou a Paranavaí para dar continuidade aos estudos. Em 2003, ingressou no Grupo Tasp, do Sesc, atuando na peça “Quando as Máquinas Param”, de Plínio Marcos. “Gostava de dar palpites e logo decidi não interpretar. Percebi que gostava mais dos bastidores”, admite.
Esculpindo vidas
Jesus Soares descobriu a identidade artística na figura dos marginalizados
Em 1986, quem via o garotinho Jesus Soares esculpindo faces desconhecidas em barrancos, nem imaginava que ele se tornaria um dos grandes nomes das artes plásticas em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, com trabalhos expostos em diversos países da América Latina e Europa.
A relação de Jesus Soares com a arte começou por acaso, aos 11 anos, quando ele e os irmãos Paulo, Gílson e Adauto Soares se divertiam criando os próprios brinquedos e dando novas formas a alguns espaços. O que para a maioria era apenas um cenário ordinário e natural, na perspectiva de Jesus e seus irmãos era um universo de possibilidades de transformação.
“Uma vez vimos a capa de um livro e aquilo nos influenciou a criar algumas faces em barrancos”, conta o artista plástico Jesus Soares. O feito dos quatro irmãos pode ser interpretado como uma peculiar, mas ocasional concepção artística do Monte Rushmore, monumento rochoso situado nos EUA.
À época, ainda crianças, Jesus e os irmãos, que cultivavam uma profunda relação de amizade entre eles, produziam arte sem perceber, perdidos em uma realidade lúdica. “A gente fazia apenas porque gostava, era uma forma de divertimento”, afirma e acrescenta que encarou o próprio trabalho como arte somente a partir de 1998.
Naquele ano a artista Tânia Volpato foi até a residência do artista e se deparou com um presépio. “Quando disse a ela que fui eu quem fiz, a Tânia ficou surpresa, e eu mais ainda porque já tinha feito um monte de peças, mas nunca pensei que fossem arte”, admite Soares, que se destaca pelo talento em criar esculturas com as mais diversas matérias-primas, como arame, madeira, resina, gesso, sisal e fibra de média densidade (MDF).
Embora já tenha manipulado muitos materiais, Jesus é mais conhecido pelas esculturas em arame, sua marca registrada. “Nessa linha de trabalho, já atendi a Fundação Cultural, Rotary, Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí [Fafipa], Universidade Paranaense [Unipar], Secretaria Municipal de Esportes e Lazer e Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí [Aciap], além de outros”, acrescenta.
Quem conhece o trabalho de Jesus Soares, logo identifica características do realismo surgido no século XIX. É algo que se deve não ao fato do artista seguir tal tendência, mas sim ter descoberto a identidade artística na figura dos marginalizados. Soares tem o dom de eternizar pessoas com quem se depara no cotidiano, aquelas que parecem inexistir socialmente.
“Pra mim a escolha de um personagem a ser transformado em escultura depende muito do contexto. Além disso, quando me pedem algum trabalho sob encomenda, já me foco no tema, daí faço um esboço levando em conta questões sociais, históricas e econômicas”, revela o artista que encontra na arte de esculpir um exercício de introspecção e reflexão sobre a vida e o mundo.
É impossível mensurar quantas obras Jesus Soares já produziu, mas muitas estão espalhadas pelo Brasil, além das enviadas para exposições na Áustria, Alemanha, República Dominicana e outros países. “Há poucos dias, recebi o convite para enviar peças ao Chile”, enfatiza o artista.
Material embutido de significados
A escolha do material para se trabalhar a confecção de cada peça carrega alguns significados. Um exemplo são três obras criadas pelo artista sob influência de Guernica, pintura de Pablo Picasso. “Foi uma encomenda que me fizeram em Amaporã. Selecionei três personagens do quadro e criei as peças”, conta.
Em uma das obras recheadas de crítica social, é possível ver uma criança no colo da mãe. O bebê em óbito foi idealizado a partir de uma minúscula colher. Levando em conta o contexto da guerra, principalmente os bombardeios alemães a pequena cidade espanhola de Guernica em 1937, Soares usou o talher para destacar uma metáfora; a infância perdida como sobremesa germânica.
O artista plástico, que também trabalha com cenografia em parceria com os irmãos Paulo e Adauto Soares, está sempre atendendo pedidos de novas encomendas. “Pra ter uma ideia, recentemente fiz cenários para a peça ‘As Aves’, do Grupo de Teatro da Unipar, também criei três obras em MDF e ainda preciso entregar mais de 300”, assinala o artista que cobra de R$ 35 a R$ 150 por peças de 35 a 50 centímetros.
Serviço
Para entrar em contato com o artista plástico Jesus Soares, basta ligar para (44) 8806-9585.