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“Doutor, vou estourar os miolos dele”
Em 1966, o então governador Paulo Pimentel veio a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, com uma grande comitiva. Acompanhado de quase todos os secretários, o político “lotou” Paranavaí com carros oficiais do governo, de acordo com Augustinho Borges que à época era gerente da Reta Táxi Aéreo e recepcionou a comitiva no Aeroporto Edu Chaves.
Ao longo de três dias em Paranavaí, Paulo Pimentel aproveitou para conhecer o comércio local e as opções noturnas de lazer. À noite, em um dos momentos de descontração, Augustinho levou a comitiva até uma boate local. Chegando lá, o secretário estadual de comunicação Pedro Washington cordialmente se aproximou de uma moça muito bonita e disse: “Ô menina, tudo bem aí?” Um homem que estava perto ficou muito irritado e em tom ameaçador foi pra cima do secretário. “Você chegou agora e já vem metendo o bico?”, esbravejou o rapaz.
Sem entender o motivo da raiva, Washington apenas respondeu: “Não, filho! Estou apenas sendo educado.” Tonico, um jovem de Paranavaí que tinha fama de matador e trabalhava como segurança para a comitiva do governador, entrou na frente extremamente encolerizado. Depois de balançar uma pistola Parabellum, Tonico gritou: “Doutor, vou estourar os miolos dele agora mesmo. Deixa eu matar, deixa eu matar!”
Preocupado que uma discussão banal terminasse em tragédia, Pedro Washington deu alguns tapinhas nas costas de Tonico e suplicou: “Pelo amor de Deus, não faça isso! Não faça isso!”, lembra Augustinho Borges aos risos. O homem então abaixou a arma e desistiu de matar o rapaz.
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Quando Zé Boca Mole correu atrás do avião do governador com um pedaço de pau
No início dos anos 1960, o gerente da Reta Táxi Aéreo de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, Augustinho Borges, tinha um funcionário que era o responsável por limpar e polir os aviões. Conhecido como Zé Boca Mole, o homem morava em uma casinha construída no Aeroporto Edu Chaves. “Sempre foi um sujeito gente boa, mas que um dia passou por uma situação muito engraçada”, explica Augustinho.
O ex-gerente da Reta não se esquece do episódio em que um avião Douglas DC-3 estava chegando ao aeroporto quando o piloto teve de arremeter por causa de alguns cavalos que invadiram a pista. Como a esposa de Zé Boca Mole estava grávida e descansando em casa, a poucos metros de distância, ele ficou irritado com o barulho provocado pelas turbinas da aeronave. “Foi um som terrível. Parecia que ia acabar o mundo. Então o Zé veio com um pedaço de pau e correu atrás do avião”, lembra Augustinho Borges às gargalhadas.
Depois que o avião se afastou, o auxiliar de serviços gerais se aproximou do ex-gerente da Reta. “Vou tirar satisfação com esse cara. O que ele tá pensando? E se ele mata a minha mulher? Vai ter que me explicar porque fez isso!”, esbravejou enquanto balançava o pau e cerrava os dentes.
Assim que o Douglas DC-3 pousou, Boca Mole ficou de prontidão, batendo o pé no chão e aguardando alguém abrir a porta do avião. De repente, Zé soltou o pau no chão, sorriu e disse: “Oh, doutor! É o senhor que tá aqui.” Em seguida, abraçou efusivamente o governador Moisés Lupion que logo o interpelou: “O que você quer?”
“Paga uma sodinha pra mim?”, indagou. Enquanto Boca Mole bebia o refrigerante, Augustinho questionou o motivo de Zé não ter brigado com homem. “Você é besta? O sujeito é o governador!” A visita a Paranavaí foi a última de Lupion antes de entregar o cargo em 31 de janeiro de 1961.
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O assassinato de Raphael Azambuja na Areia Branca do Tucum
Amigo de Leonel Brizola e primo de Erico Verissimo, empreendedor foi assassinado em 1962 durante negociação de terras na região de Paranavaí
Em 1962, o empreendedor gaúcho Raphael Verissimo Azambuja costumava vir a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, pelo menos uma vez por mês para comprar terras e investir no desenvolvimento da Gleba Areia Branca do Tucum, às margens do Rio Paraná. Sempre telefonava do Rio Grande do Sul pedindo que o gerente da Reta Táxi Aéreo, Augustinho Borges preparasse um avião para levá-lo até o local.
“Ô Augustinho, e no domingo, tal hora, você me pega lá pra eu tomar o avião da Varig para o Rio Grande do Sul, mas antes ligo confirmando”, lembra Borges, reproduzindo as palavras de Azambuja na primeira semana de julho de 1962. O então gerente estranhou que o final de semana terminou e não recebeu nenhum telefonema de Raphael Verissimo.
Na segunda-feira de manhã, logo depois de levar alguns pilotos e passageiros para o Aeroporto Edu Chaves, o telefone tocou. Era o governador do Rio Grande do Sul. “Ô meu jovem, é o seguinte: Falei com a diretoria da Reta em Londrina e eles recomendaram que eu entrasse em contato com você. Preciso que me faça um grande favor”, disse Leonel Brizola.
O governador explicou que o seu amigo Raphael Verissimo Azambuja foi assassinado no sábado. “Perguntei o que ele queria que eu fizesse. ‘Olha, arruma o corpo, põe dentro do avião e manda ele pra mim. Pago todas as despesas aqui’”, prometeu Brizola após detalhar a situação.
Surpreso com a educação e cordialidade do governador que preferiu resolver tudo por conta própria em vez de transferir a responsabilidade para alguém, Borges se tornou fã do político. “Levei um susto. De todos os homens públicos com quem conversei até hoje, o Brizola foi o que mais se destacou pra mim. Tinha grandes valores e conversava com todo mundo de igual para igual”, justifica Augustinho Borges.
Naquele tempo, Azambuja tinha uma fazenda que ficava próxima a Nova Londrina e Marilena. Acostumado a viajar pela região, o empreendedor de 53 anos não imaginava que seria assassinado por um amigo na manhã do dia 7 de julho de 1962. A traição aconteceu quando o homem percebeu que as terras que vendeu a Raphael Verissimo conquistaram um bom valor de mercado em pouco tempo. “O sujeito de sobrenome Volpato ficou enciumado e desferiu cinco tiros à queima-roupa contra meu pai, um homem de bem e que andava desarmado”, afirma Alan Verissimo Azambuja.
Sobre o episódio, o conceituado escritor Erico Verissimo declarou que a discussão começou quando o suposto amigo de Azambuja exigiu um reajuste de preços por compensação. “Meu primo disse que o negócio estava feito e pronto. Quando se recusou a concedê-lo, o outro meteu-lhe vários balaços no corpo, matando-o quase instantaneamente”, escreveu Verissimo na biografia Solo de Clarineta, lançada em 1973.
De acordo com Augustinho, Azambuja era um sujeito excepcional, de caráter inquestionável. No entanto, foi iludido pela própria ingenuidade, pois não sabia que a Gleba Areia Branca, nas imediações do Porto São José, tinha uma das piores famas do Paraná. “A demanda de terras naquele lugar era tão grande quanto a criminalidade. Era violência em cima de violência. Pra você ter uma ideia, meus parentes moravam lá e chegavam a juntar sacos de cápsulas de balas”, confidencia Borges.
Após o crime, os funcionários da fazenda de Azambuja encaminharam o corpo para uma funerária de Nova Londrina. De lá, Augustinho o trouxe a Paranavaí, onde preparou um quadrimotor de Havilland DH.114 Heron para 16 passageiros. “O avião tinha o apelido de Constellation Baiano. Aluguei ele com piloto e copiloto para levar o caixão porque naquela época não tinha aeronave própria pra esse tipo de transporte”, explica Borges que contou com a ajuda da Star Taxi Aéreo, de Londrina.
Como não podia se ausentar do trabalho, Augustinho relatou a situação para o Major Valle, responsável por comandar o trabalho policial na região de Paranavaí. “Falei que veio um pedido do Brizola para que o major acompanhasse o transporte do corpo. Então o comandante contou que tinha medo de andar de avião, tanto que nunca entrou em um”, destaca.
Para convencer o Major Valle a embarcar na aeronave, Borges o levou até um boteco em frente ao Aeroporto Edu Chaves. Lá, garantiu que o homem ganharia coragem depois de tomar algumas doses de uma pinga com cascavel. “O couro da cobra chegava a balançar no fundo da garrafa. Consegui arrumar tudo e coloquei ele dentro do avião. Mas, rapaz, quando era mais ou menos 6h recebi um telefonema”, enfatiza.
Augustinho despertou com os berros do Major Valle. O homem gritava: “Filho da puta, você vai me pagar quando eu chegar aí. O avião pegou fogo na descida, perto de uma mangueira. Esfumaçou tudo!”, recorda Borges às gargalhadas. Apesar dos imprevistos, o comandante cumpriu a missão. Em Porto Alegre, entregou o corpo de Raphael Azambuja para o governador Leonel Brizola que o agradeceu pessoalmente e cobriu todas as despesas.
Ainda assim, o Major Valle se recusou a voltar de avião e embarcou em um ônibus. Chegou bravo em Paranavaí, mas se acalmou e convidou Augustinho para tomar chimarrão. “Só me deu uns tapas na cabeça por ter que ficar mais de oito horas passando medo dentro da aeronave”, conta sorrindo.
Azambuja queria transformar o Noroeste no celeiro do Brasil
Segundo o filho Alan Verissimo Azambuja, Raphael Verissimo Azambuja acreditou tanto no desenvolvimento da região de Paranavaí que abriu mão de ser ministro da agricultura quando o amigo João Goulart assumiu a presidência do Brasil. “Mesmo com os apelos dos mais próximos, meu pai preferiu dedicar-se integralmente ao grande projeto de sua vida que era transformar o Noroeste do Paraná no celeiro do Brasil. Seu empreendimento colonizador ia de vento em popa”, assinala.
No livro Solo de Clarineta, de 1973, o escritor Erico Verissimo narrou que nos últimos anos de vida a atenção e energia de Azambuja se voltaram para a região de Paranavaí. “Comprou terras de um sujeito de maus bofes que ele, Raphael, na sua boa-fé, julgava seu amigo. Organizou loteamento de terras e fez ruas com entusiasmo e esperança. Quando nos encontrávamos, me expunha seus planos para o futuro: novas cidades, fundação de um banco e construção de um grande edifício. Acreditou sempre no futuro do Brasil e costumava lançar longe o dardo de seus bem arquitetados sonhos”, registrou Verissimo, falecido em 1975.
No livro, o escritor relata que de uma das janelas da casa onde morava em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, avistava o cemitério onde o corpo do primo foi enterrado. “Raphael, assim como tantos outros amigos, como a minha própria mãe, na realidade não se encontra em seu túmulo. Com maior ou menor intensidade, continua ainda vivo dentro de mim. Por um desses milagres da memória, eu o tenho sempre ao meu lado”, poetizou.
Raphael Verissimo coordenou as campanhas de Brizola
Raphael Verissimo Azambuja nasceu em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, em 1º de março de 1909. Nos anos 1940, trabalhou como assistente do ministro João Alberto de Lins e Barros e desempenhou os cargos de chefe do Setor do Abastecimento Nacional e do Serviço de Fiscalização de Preços do governo federal. Atuou também na chefia de propaganda do Partido Social Democrático (PSD). À época, chegou a receber uma carta de agradecimento do presidente da República, Eurico Gaspar Dutra.
Em 1947, quando estava hospedado em um hotel em frente a um lago em Velden am Wörther See, na Áustria, Azambuja conheceu a jovem Marion Mitterling, antes chamada Doina Sturza. Era uma jovem romena que perdeu pai, mãe e seis irmãos na Segunda Guerra Mundial e na Ocupação Soviética da Romênia.
Marion trabalhava como assistente da rainha da Bélgica e estava de férias na Áustria no mesmo período em que Raphael Verissimo chefiou uma missão diplomática de seleção de estrangeiros dispostos a se mudarem para o Brasil. “Ele a convidou para um passeio de barco a remo e ela aceitou. Assim começou um grande romance”, frisa Alan Verissimo Azambuja, o primeiro filho, nascido em 1948.
Em 1950, o casal deixou Salzburgo, na Áustria, e se mudou para o Rio de Janeiro, onde Raphael Azambuja trabalhou no Ministério da Agricultura. Em 1955, se tornou chefe do jornal O Clarim, de Porto Alegre, e coordenador das campanhas eleitorais de Leonel Brizola.
A partir de 1956, desempenhou muitas atividades. Comandou o Departamento de Administração e Finanças do Instituto Nacional de Imigração e Colonização e, atendendo a um pedido do governador Brizola, assumiu a Comissão Interestadual para Estudos dos Problemas da Bacia Paraná-Uruguai. “Em 1960, ele foi chefe de assessoria técnica do Ministério da Agricultura e no ano seguinte o nomearam como ministro interino”, cita Alan Azambuja.
Um gaúcho à frente do seu tempo
Um gaúcho à frente do seu tempo é a expressão que melhor define o perfil de Raphael Verissimo Azambuja. “Foi o primeiro sujeito em Cruz Alta [no Rio Grande do Sul] a sair à rua sem chapéu, chocando os nativos. ‘Que desaforo!’, ‘Que desrespeito para com as famílias!’, exclamavam as comadres”, escreveu o primo e escritor Erico Verissimo na biografia Solo de Clarineta.
Azambuja era conhecido como um sujeito questionador, que herdou a inteligência do pai e a vivacidade e capacidade de fazer amigos da mãe. “Ganhou dos dois a coragem para opinar. Nunca deixou de manifestá-la livremente. Era ávido leitor e quando se tornou homem maduro passou a acreditar na vida e na capacidade do ser humano de traçar o próprio destino”, testemunhou Erico Verissimo na obra.
Nos bailes, desde a mocidade atraía atenção pelo costume de dançar com todas as moças menos desejadas. “Ele as enlaçava e saia a rodopiar pelo salão. Dizia coisas agradáveis. Fazia elogios à beleza ou à elegância. Em suma, tornava-as felizes”, declarou o escritor que também fez menção à maneira impecável como o primo se vestia. Azambuja era habilidoso para escrever, mas nunca pensou em dedicar-se à literatura.
Frase de Erico Verissimo sobre o primo Raphael Azambuja
“Desde mocinho revelara uma grande generosidade, dessas que se manifestam nas menores coisas.”
Agradecimento especial
Alceu O. Annes, autor da Genealogia dos Annes Verissimo – material que serviu como principal fonte de pesquisa para a elaboração da reportagem.
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A importância do avião nos anos 1950
Precariedade das vias popularizou o avião em Paranavaí
No início dos anos 1950, o avião se transformou em um dos principais meios de transporte de Paranavaí, no Noroeste Paranaense, por causa da precariedade das vias. À época, toda semana, muitos voos partiam do antigo Aeroporto Edu Chaves, atual Colégio Estadual de Paranavaí (CEP), para os mais diversos destinos.
Hoje não há registros que informem com exatidão quantos voos eram realizados por semana em Paranavaí nos anos 1950. No entanto, estima-se que as viagens aéreas ocorriam diariamente no antigo Aeroporto Edu Chaves. “Por volta de 1953, isso já acontecia bastante. Não era assim o ano todo, mas tinha época que os aviões partiam de Paranavaí todos os dias. Era gente indo pra Londrina, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, pra todo lugar”, afirmou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que os aviões eram modestos, monomotores e até bimotores, mas cumpriam muito bem o trajeto.
Por causa da precariedade das estradas que faziam o carro balançar durante todo o trajeto, levando passageiros a sentirem-se mal, muitos optavam por viajar de avião. “Naquele tempo, o avião era muito popular, então uma viagem não era nada cara, era relativamente barata”, disse Mariano.
O padre alemão Henrique Wunderlich escreveu em uma carta à revista alemã Karmelstimmen, de Bamberg, no Estado da Baviera, publicada em 20 de maio de 1953, que se surpreendeu com a facilidade em encontrar campos de aviação na região de Paranavaí. “Normalmente o aeroporto se resumia a uma pista para pouso e outra para decolagem e tinha pouco mais de um quilômetro de comprimento”, relatou, acrescentando que onde ainda não havia um campo de aviação, logo trataram de construir.
Henrique Wunderlich teve a ideia de criar um avião
Os aeroportos se resumiam a grandes campos com gramados ou apenas barro, sempre ladeados por terrenos ondulados. Segundo Wunderlich, muita gente dependia dos aviões, inclusive os padres da Paróquia São Sebastião. “O avião era uma necessidade primária para quem precisava viajar muito”, comentou João Mariano.
Na carta à revista alemã, Frei Henrique frisou que as viagens de carro eram muito desgastantes e os longos caminhos a serem percorridos em estradas ruins eram por vezes desanimadores. “Além disso, o vento e os violentos aguaceiros já tinham dado início ao processo de erosão do solo”, revelou. Por esses motivos, e como a Paróquia São Sebastião não tinha dinheiro para investir sequer na compra de um monomotor, o padre teve a ideia de criar um avião.
Wunderlich, que também era paraquedista e piloto, frequentou a Escola de Aviação Alemã durante a Segunda Guerra Mundial e trouxe a Paranavaí um projeto de um avião. “Também quis realizar este sonho para entusiasmar o povo da cidade”, admitiu o padre que pretendia dispor o veículo à população. Infelizmente, por causa de outros compromissos, Henrique Wunderlich não teve tempo de criar o avião porque precisou retornar à Alemanha em 1957.
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A perspectiva alemã sobre Paranavaí
“Havia enormes plantações, prados, pastagens, tudo interrompido por grandes florestas”
O padre provincial alemão Jacobus Beck veio a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, em fevereiro de 1952 para conhecer o trabalho do frei Ulrico Goevert, responsável pela Paróquia São Sebastião. Na então colônia, Beck se surpreendeu e se identificou com alguns costumes. No mesmo ano, a experiência de três semanas foi registrada em várias edições da revista alemã Karmelstimmen, de Bamberg, no Estado da Baviera.
A curta passagem de Beck não permitiu que ele aprendesse a língua portuguesa. Por isso, pode-se dizer que o frei alemão está entre os padres germânicos que vieram a Paranavaí nos anos 1950 e não tiveram tempo de ter um profundo contato com a cultura dos moradores da colônia, fossem brasileiros ou estrangeiros. O fato fato foi o diferencial nos artigos publicados na Karmelstimmen, sob o título de “Meine Reise Nach Brasilien“.
Era um sábado, 9 de fevereiro de 1952, quando Jacobus Beck sobrevoou o Noroeste do Paraná. Observou ao longe os campos cortados por imensos rios. “Havia enormes plantações, prados, pastagens, tudo interrompido por grandes florestas. Mas foi só quando estávamos na região de Paranavaí que vi a mata virgem”, afirmou o alemão, acrescentando que tudo era tão belo que dava a impressão de que o céu se curvava diante do avião. Por volta do meio-dia, o padre se deparou com a colônia composta por um sem número de pequenas casas de madeira.
Logo o avião pousou no antigo Aeroporto Edu Chaves, atual Colégio Estadual de Paranavaí (CEP), ladeado por espessa mata primitiva. De lá, Beck pegou uma carona com o frei Ulrico Goevert em um jipe estadunidense. Foram para o centro da colônia, onde viviam mais de cinco mil pessoas. “Não era uma cidade ao modelo europeu com casas de pedras e ruas asfaltadas, mas também não lembrava nossas aldeias. As residências eram bem simples e remetiam às nossas barracas de feira. As vias pareciam os caminhos alemães que davam acesso aos areais”, comentou frei Jacobus.
O que chamou a atenção do alemão na Colônia Paranavaí foi a ordem e a limpeza, além da facilidade em se adquirir bens de consumo. De acordo com Beck, o povoado contava com muitos locais de lazer, carros e caminhões. “Isso já me lembrou a Alemanha, o tráfego dos veículos, os barulhos dos que vinham e dos que iam pelas ruas esburacadas”, frisou, rememorando que em 1952 três novas casas eram construídas por semana em Paranavaí. O padre também percebeu que a agricultura na colônia era voltada principalmente para a produção de café, algodão, arroz e milho.
“A terra de Paranavaí era muito fértil porque o solo era virgem”
Jacobus Beck estranhou o fato de não ter encontrado batata no povoado, um dos principais alimentos da culinária germânica. “Em Paranavaí se consumia a mandioca, uma hortaliça de raiz grossa que tem gosto e uso equivalente ao da batatinha”, avaliou o alemão que se surpreendeu com o tamanho do gado bovino criado na colônia, bem maior do que os animais alemães.
Nas passagens pelos pomares locais, entre as frutas tropicais que Beck experimentou e aprovou estavam banana, abacaxi, limão e figo. “A terra de Paranavaí era muito fértil porque o solo era virgem. Estava sendo trabalhado pelas mãos humanas pela primeira vez, então tinha uma umidade inacreditável. Apesar do calor tropical, chovia muito e acho que a proximidade com muitos rios e riachos ajudava”, enfatizou.
De acordo com o padre, o solo e as condições climáticas eram os principais fatores que atraíam tanta gente a Paranavaí. Havia brasileiros de outras regiões, europeus e japoneses. “Não cheguei a presenciar nenhum caso de racismo. Acho que todos viviam pacificamente”, destacou o frei que estranhou a maneira como a população local o cumprimentou, com abraços e tapas nas costas, embora admitiu que se acostumou.
Na Casa Paroquial, no quarto onde Jacobus Beck foi hospedado, o padre imaginou que encontraria janelas com vidraças e cortinas, ao melhor estilo alemão. “Foi uma procura em vão. Só havia uma grande abertura na parede e que era fechada à noite com janelas feitas de tábuas. Dormia na própria sacristia, com morcegos e camundongos “, ressaltou em tom bem humorado.
A hospitalidade dos moradores estava entre as melhores lembranças do frei. Segundo Beck, o que um tinha dividia com o outro. Além disso, os convidados de uma festa eram sempre tratados com muito carinho e atenção. “É claro que a maioria tinha pouco a oferecer, mas caso o agraciado não aceitasse, isso era entendido como uma ofensa”, observou.
“Ficamos com o jipe quase dependurado em muros de pedras”
À época, os padres eram vistos como autoridades de suma importância, tanto que por onde passavam ficavam rodeados de pessoas, como numa feira, na analogia de Beck ao perceber que a figura do vigário era muito estimada pela população. Até mesmo em casos de dores de dente, as pessoas procuravam o padre para dar uma solução ao problema ou então ofertar uma bênção.
Nas muitas vezes que percorreu as estradas de Paranavaí, achou o trânsito bastante intenso, até mesmo nas estradas por onde jipes e caminhões trafegavam dia e noite. “Isso ocorria porque muita gente era levada para as fazendas na mata virgem”, justificou.
À revista alemã, Jacobus Beck discorreu sobre um episódio em que foram até a Fazenda Santa Lúcia (situada em área que hoje pertence a Marilena) pela estrada da Água do 14, entre Piracema e Guairaçá, e tiveram de percorrer dezenas de quilômetros de mata a bordo de um jipe. “Nas subidas e descidas, muitas vezes ficamos com o jipe quase dependurado em muros de pedras. Chegamos a atravessar rios com o veículo. Encontramos animais selvagens, como répteis, e muitas plantações”, confidenciou o padre que enganou uma cascavel de cinco anos, com um metro e meio de comprimento, e cortou-lhe o guizo de cinco anéis para levar de lembrança à Alemanha.
Naquele tempo, às imediações do Rio Paraná, viviam um tenente e um pelotão de soldados do Exército Brasileiro dispersos por pequenas casas de madeira. Com eles, frei Ulrico e frei Jacobus tomaram chimarrão. O grupo era responsável por controlar as navegações fluviais, evitando contrabandos de produtos enviados à Argentina.
Curiosidades
Em artigo à revista alemã Karmelstimmen, Jacobus Beck escreveu que a mata primitiva que circundava o Rio Paraná era a maior floresta virgem do Brasil.
Nos anos 1950, por causa das dificuldades de tráfego, o avião era o meio de transporte mais usado pela população de Paranavaí, superando caminhões, jipes e carros.
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Comerciante se livrou da morte em São Paulo
Severino Colombelli foi um dos primeiros comerciantes de Paranavaí
Na década de 1940, o pioneiro e comerciante Severino Colombelli costumava viajar até São Paulo para buscar produtos que comercializava em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Certa vez, se livrou da morte ao perder o voo de retorno.
Para o gaúcho Severino Colombelli viajar fazia parte da profissão de comerciante numa época em que as mercadorias não eram entregues nas lojas. Por isso, era costume deixar a sua companheira, Inez Colombelli, cuidando da casa comercial em Paranavaí durante as frequentes viagens a São Paulo.
Em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas, Inez relatou que Colombelli embarcava no antigo Aeroporto Edu Chaves, localizado onde é hoje o Colégio Estadual de Paranavaí (CEP). “Como o Severino viajava muito, eu ficava sozinha com o nosso filho, mas na loja sempre havia algum funcionário pra me ajudar”, afirmou Inez Colombelli, acrescentando que quando conheceu o gaúcho, ele já buscava produtos em São Paulo.
Mesmo acostumada com as viagens de Severino, Inez não conseguia evitar a preocupação e apreensão. Nunca se esqueceu da vez em que o marido demorou nas compras e quando chegou ao aeroporto era tarde demais. “Não deu tempo de embarcar e soubemos que o avião que ele perdeu caiu e morreu quase todo mundo. Só uma criança sobreviveu”, revelou a comerciante.
A Família Colombelli se mudou para Paranavaí em 1946, mas antes Severino veio sozinho conhecer a região. Deixou São Sebastião do Caí, na região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e chegou aqui no dia 11 de junho. “A cidade já estava toda traçada. Tinha a casa de comércio do Faber, Otacílio Egger, Pupulin, Marsal, Tirapeli, Thomaz Estrada e Vicente Pernambuco”, relatou o gaúcho, acrescentando que a área comercial se limitava à Rua Getúlio Vargas, em frente ao atual Hotel Elite.
A ideia de fixar residência em Paranavaí surgiu por acaso, pois Colombelli tinha intenção de se mudar para o interior de São Paulo, onde lhe diziam que havia boas terras para a criação de gado. Entretanto, durante uma viagem de trem, o comerciante conheceu um homem que lhe falou que não havia terra melhor para a pecuária que a de Paranavaí.
A primeira impressão que o gaúcho teve da colônia foi muito ruim, se sentiu como se estivesse no cenário de um filme de faroeste. “Vim para montar comércio e encontrei tudo parado. Tinha umas sete casinhas cobertas com telhas e o resto era tudo rancho, cerca de 500. Logo depois fiz amizades com Thomaz Estrada, Dr. José Francisco, Doca, Renan e Celeste”, contou. Entre os pioneiros que já viviam há um bom tempo na colônia, embora distantes do perímetro urbano, estavam João de Moraes, Jota, Biomiro, Família Palmiano e Pereira Diniz, Zé Pretinho, Emílio Dias e Henrique Palma.
Casa comercial ficava aberta até a noite
Houve um período tão crítico para o comércio local no final dos anos 1940 que Severino Colombelli pensou em ir embora. “Todos que vão para o sertão tem vontade de vencer na vida. No fim, eu quis voltar, mas ninguém queria comprar o que eu tinha”, admitiu o pioneiro. Já na década de 1950, o progresso de Paranavaí foi retomado. De acordo com Inez, a casa comercial dos Colombelli chegou a ter 11 funcionários.
“Vendíamos muito e a maioria dos fregueses trabalhavam na derrubada de mata. Me recordo do baiano, um freguês muito bom. Ele fazia uma lista de pedido, pagava e não pechinchava”, exemplificou. O fluxo de clientes era tão grande que a loja não tinha hora para fechar. Às vezes, o atendimento passava das 20h porque alguns fregueses faziam compras logo após a procissão.
Não eram raros os dias em que os Colombelli tinham de abrir a loja de madrugada para vender cobertores, pregos e outros produtos úteis àqueles que iam para a mata. “O pioneiro Garbin Neves aparecia aqui de madrugada atrás de cobertor. Muita gente vinha fazer compras à noite. Paranavaí foi muito boa pra nós”, ressaltou Inez Colombelli.
Sem velar a nostalgia, a comerciante se emocionou em lembrar o período em que não era preciso se preocupar com segurança. “O alfaiate Gentini ia fazer refeição na casa do Herculano e deixava toda a alfaiataria aberta. Ninguém se preocupava em fechar as casas porque todo mundo era de confiança”, salientou. A violência começou a ganhar mais destaque entre os anos de 1950 e 1953, quando houve muitos conflitos que terminaram em assassinatos. “Uma vez no Hotel Real mataram três de uma vez”, enfatizou Severino Colombelli.
Saiba Mais
Conforme palavras do pioneiro Severino Colombelli, as autoridades em Paranavaí eram o Sargento Marcelino, o administrador Hugo Doubek e o Capitão Telmo Ribeiro.
Curiosidade
Severino Colombelli nasceu em 4 de setembro de 1915 em São Sebastião do Caí, Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Charretes se destacavam na década de 1950
Meio de transporte era muito usado pela população de Paranavaí
Nos anos 1950, o meio de transporte mais usado pela população de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, era a charrete. O serviço que tinha um custo baixo ficava disponível o dia todo em três pontos da cidade. Pioneiro lembra que os charreteiros tomavam conta de todas as ruas numa época em que os automóveis eram acessíveis a poucos.
As charretes surgiram em Paranavaí na década de 1940, mas se popularizaram em 1950, quando houve um bom crescimento populacional registrado a partir de 1948. Com o aumento do número de moradores, surgiu a necessidade de um serviço de meio de transporte que facilitasse a vida em comunidade. “Foi aí que alguns migrantes tiveram a ideia de trabalhar como charreteiros. Quase ninguém tinha carro, e como tudo ainda era longe, já que nem todo mundo tinha condições de morar na região central, o jeito era pagar pelo serviço de charrete”, relatou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que o preço de uma “corrida” era acessível.
Por volta de 1955, havia em Paranavaí mais de 80 charreteiros que se dividiam em três localidades: Ponto Azul, Avenida Paraná e Zona do Baixo Meretrício, quase em frente à Boate da Cigana [onde se situam os prédios Catuay e Guarapari]. Muitos dos pioneiros que atuavam no ramo eram ex-peões que trabalharam na abertura de estradas e derrubada de mata.
Aqueles que não deram certo como comerciantes e produtores rurais também usavam cavalos e bois para outra finalidade. “O serviço de peão era pesado e sofrido, então acontecia do sujeito guardar um dinheirinho, comprar um cavalinho, uma carroça velha, mandar reformar e transformar em charrete”, explicou Mariano. Outros compravam madeiras, procuravam materiais que podiam ser aproveitados e a construíam por conta própria.
Os charreteiros eram contratados principalmente para levar passageiros ao Ponto Azul e ao Aeroporto Edu Chaves [atual Colégio Estadual de Paranavaí (CEP)], além de transportar pessoas até a Zona do Baixo Meretrício. “Uma charrete chegava a fazer até dezenas de viagens num dia. Tinha época que tinha muito serviço, mas de vez em quando diminuía um pouco por causa de alguma crise agrícola”, relatou o pioneiro, acrescentando que o modelo da carroça variava conforme a situação financeira do carroceiro.
Enquanto algumas ofereciam o mínimo de conforto, como um assento estofado, muitas eram mais simples, com bancos de madeira. “Numa corrida curta quase ninguém se importava com isso, mas se o trajeto fosse um pouco mais longo ficava desconfortável. Tinha peão que chegava a descer da carroça com o corpo duro”, brincou João Mariano que nunca se esqueceu das muitas oportunidades em que viu as ruas da cidade tomadas por dezenas de charretes.
Segundo o pioneiro, estranho era o som de um motor em meio a tantos animais trotando, galopando e relinchando. “Quando fazia muito calor, e no fim da tarde os charreteiros voltavam pro ponto, às vezes traziam um vento que levantava a poeira das ruas de chão batido. O céu avermelhava enquanto o solo arenoso as donas de casa castigava, sujando toda a roupa do varal, mas fazer o que se era mais um dia de trabalho normal?”, poetizou João Mariano.
1949: Refugiados aterrissam em Paranavaí
População ajudou a evitar tragédia com tripulação norte-americana e passageiros mongóis
No dia 23 de novembro de 1949, a população de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, ajudou a evitar um acidente ao facilitar a aterrissagem de um avião da Transocean Airlines. A aeronave de grandes proporções transportava nômades mongóis, refugiados do regime comunista sob influência soviética e chinesa, e tinha como destino a cidade de Assunção, no Paraguai.
Estava anoitecendo quando alguns moradores olharam para o céu e viram um avião circulando. “Provavelmente o piloto viu as luzes da cidade e ficou rodando até encontrar uma solução. Naquele momento, ele não tinha outro recurso”, conta o médico Otávio Siqueira Neto.
A partir das luzes da aeronave, a população percebeu que estavam com problemas; precisavam de ajuda para encontrar uma pista de pouso. Solidários com a situação dos desconhecidos, os frequentadores do Bar Líder foram os primeiros a tomar uma atitude. “Meu pai Otávio Marques de Siqueira, Hermeto Botelho, Andrelino Rocha, Durvalino Moreira e Luiz Lorenzetti pegaram os poucos automóveis e caminhões que tínhamos na cidade e foram direto para o aeroporto”, lembra Siqueira Neto.
Em menos de dez minutos, todos os veículos contornaram o campo do aeroporto com os faróis ligados. Uma atitude bastante simples que foi determinante para o avião aterrissar em segurança. “Lá de cima, o piloto conseguiu enxergar a pista e depois fazer uma descida perfeita”, avalia o médico.
Em terra firme, o piloto estadunidense informou que teve pouca visibilidade em função do mau tempo. Contudo, enquanto circulou sobre a cidade, a maior preocupação era ficar sem combustível.
Todas as testemunhas consideraram heroica a aterrissagem, ainda mais em uma época que um piloto não contava com seguros recursos aeronáuticos, principalmente se tratando de sinalizações. Era bastante comum uma situação de perigo durante o voo, caso surgisse qualquer imprevisto. “Mas ainda bem que deu tudo certo”, reitera Otávio Siqueira.
Naquele ano, o aeroporto de Paranavaí ainda não possuía uma boa estrutura e a pista se resumia a um gramado ladeado por pastagens. “O Edu Chaves era onde é hoje o Colégio Estadual. Era tudo muito precário. Claro que se comparado com um aeroporto de capital. Já na maior parte das cidades do interior aquele era o padrão”, frisa o pioneiro Ephraim Machado.
O avião que tinha capacidade para 120 passageiros foi comandado por uma tripulação de oito estadunidenses designados a cumprir uma ordem da ONU; levar os 74 passageiros asiáticos para a capital paraguaia, onde receberiam asilo e reconstruiriam suas vidas.
Douglas DC-4 ganhou o céu depois de uma semana
O pioneiro Ephraim Machado ainda lembra como foi difícil se comunicar com os nômades mongóis. “Como nenhum deles falava outro idioma e todo mundo estava curioso, fomos atrás de uma pessoa em Maringá que falava inglês”, enfatiza.
Em 1949, Paranavaí não tinha mais do que 10 mil habitantes, e conforto era uma palavra que ainda não fazia parte da realidade. Por isso, as acomodações para os passageiros tiveram de ser improvisadas. “Não havia hotéis o suficiente na cidade. Como meu pai era o diretor do Hospital do Estado [atual Praça da Xícara], ele resolveu hospedar os passageiros lá mesmo. Minha mãe se responsabilizou pelas refeições deles e tudo o mais”, explica o médico Otávio Siqueira Neto.
Só depois de uma semana, a tripulação, funcionários da Força Aérea Brasileira (FAB) e um grupo de voluntários conseguiram fazer a aeronave levantar voo. “No segundo dia, cheguei de Londrina e fiquei vendo o avião atolado no aeroporto. Nem se movia, mesmo com o combustível cedido pela FAB”, relembra Machado.
Os passageiros tiveram de abandonar o quadrimotor e ir de ônibus até Mandaguari. Precisaram levar todas as bagagens e aguardar a chegada do avião Douglas DC-4. “Naquela cidade, eles tinham um aeroporto melhor, com pista asfáltica. De lá mesmo, decolaram e foram para o Paraguai”, completa o pioneiro Ephraim Machado.
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A Mongólia se resume a planaltos e está situada no interior da Ásia Central, entre a China e a Rússia.
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