David Arioch – Jornalismo Cultural

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A “Enchente de Arroz”

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Paranavaí ganhou destaque na produção de cereais em 1955

Arroz irrigado garantiu boa visibilidade à região de Paranavaí (Foto: Reprodução)

Em 1955, Paranavaí chamou a atenção de todo o Paraná ao alcançar um recorde na produção de cereais. A época ficou conhecida como “Enchente de Arroz”, quando cada produtor colheu de seis a pouco mais de oito mil sacas do produto.

Até a metade da década de 1950, muitos migrantes que se mudaram para Paranavaí não acreditavam no progresso da cidade. “Eu achava que isso aqui era de pouco futuro, que não ia dar em nada. Pensava que nem chegaria a ser como Pirajuí [cidade do interior paulista com menos de 25 mil habitantes]”, disse o pioneiro paulista João da Silva Franco em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

A afirmação teve respaldo numa dura realidade vivida no início da década de 1950, quando milhões de pés de café foram dizimados pelas geadas. “Em 1955, eu estava acabado. Perdi os 80 mil pés que restaram”, lamentou o pioneiro paulista Salatiel Loureiro em entrevista à prefeitura há algumas décadas.

Enquanto os produtores que investiram tudo na cafeicultura lamentavam as grandes perdas, aqueles que antes deixaram a monocultura cafeeira para investir em cereais alcançaram o auge no mesmo ano. O período conhecido como “Enchente de Arroz” proporcionou riqueza para muitos produtores rurais de Paranavaí. “Os fazendeiros colhiam pelo menos seis mil sacas de arroz, principalmente na região que hoje pertence a Amaporã, antiga Jurema”, relatou João Franco.

O agricultor Lázaro Vieira que tinha uma propriedade que atualmente se situa em Nova Aliança do Ivaí foi um dos que mais chamou atenção em todo o Paraná depois de colher pouco mais de oito mil sacas. “Foi uma fartura imensa”, sintetizou. A “Enchente de Arroz” trouxe benefícios a Paranavaí e região, mas não foi algo que se estendeu a toda população. “Quem se deu bem foram os migrantes paulistas que já tinham experiência no plantio de arroz”, comentou o pioneiro gaúcho Severino Colombelli em entrevista à prefeitura.

Com a fortuna também cresceram as desigualdades. Enquanto alguns enriqueciam, uma legião começava a viver às margens da sociedade. Muitos migrantes que trabalhavam nas colheitas nem sempre recebiam o salário combinado previamente. Na lavoura, se ganhava cerca de 20 mil cruzeiros por mês, uma quantia insuficiente para manter a família. “O jeito era levar todo mundo pra roça, até as crianças”, ressaltou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que muitas vezes viu trabalhadores serem expulsos do campo sem receber pelos serviços prestados.

O solo frágil que prosperou

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A redenção do Noroeste veio com a evolução do solo do arenito Caiuá

Solo que um dia foi considerado frágil (Foto: Iapar)

Jonez Fidalski: “Ficou claro que o potencial de produtividade do arenito Caiuá poderia ser igual ao do basalto” (Foto: Iapar)

Durante muito tempo, a região do arenito Caiuá foi estigmatizada como uma grande área de terras inférteis por causa da fragilidade do solo arenoso. Felizmente, o tempo e as técnicas adequadas se encarregaram de dar ao Noroeste do Paraná a merecida redenção.

No passado, muitos agricultores tentaram produzir na região do arenito Caiuá o que se produzia no basalto, nas áreas de terra roxa. O resultado foi um grande prejuízo e a crença de que o solo era infértil. A desinformação incutiu na mente da classe rural a ideia de que a solução seria ocupar o solo somente com pastagens, e assim logo o campo foi tomado pelo gado. Uma das grandes consequências foi o êxodo dos colonos, transformando a zona rural em um espaço pouco habitado. “Os grãos do arenito não proporcionavam bons rendimentos, então a escolha pelo pasto foi quase unânime”, conta o pesquisador Pedro Auler, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).

As dificuldades em se trabalhar com lavouras no arenito Caiuá perduraram por muito tempo, mas isso jamais significou que o solo fosse incapaz de evoluir. “Aos poucos, levando em conta condições diferenciadas de clima e solo para uma mesma cultura, ficou claro que o potencial de produtividade do arenito Caiuá poderia ser igual ao do basalto”, diz o pesquisador Jonez Fidalski, também do Iapar.

Os pesquisadores descobriram que as necessidades nutricionais do solo arenoso são mais fáceis de serem atendidas do que as da terra roxa. Fidalski explica que na região do arenito Caiuá é fácil reconhecer a deficiência nutricional da planta e repor o que ela precisa para produzir. “O nosso solo tem uma grande capacidade de resposta, ao contrário do solo basáltico”, avalia.

Pastagem era encarada como condição e não opção (Foto: Iapar)

Pedro Auler: “Escolha pelo pasto foi quase unânime” (Foto: Iapar)

Segundo engenheiros agrônomos e pesquisadores, os gastos para se produzir no solo arenoso e no basalto podem ser tranquilamente equiparados. No entanto, é importante tomar algumas precauções. “No arenito Caiuá, recomendo que não se faça o trato cultural com herbicidas, e sim na base da roçada porque mantém mais umidade e segura os micronutrientes dos insumos”, destaca o gerente da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Paranavaí, Valter Martins Pessoa.

O pesquisador Jonez Fidalski afirma que é muito seguro investir em lavouras na região do arenito Caiuá graças as novas técnicas de plantio direto. “Além de ser uma prática bastante cômoda, o sistema de adubação da técnica proporciona a renovação do solo”, complementa Fidalski. O engenheiro florestal João Arthur de Paula Machado declara que apesar dos contratempos vividos pelos agricultores no passado, a região do arenito Caiuá pode ser considerada altamente próspera. “Representa muito bem a agricultura do Paraná e do Brasil”, enfatiza.

A importância da classificação do solo

Segundo o pesquisador Jonez Fidalski, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), a partir do momento que um produtor rural conhece as classes de solo existentes em uma propriedade, ele evita principalmente a erosão hídrica. “A classificação de solos também é importante para se identificar qual é o tipo de cultura que melhor se adapta a determinada região. Por isso, levamos em conta o teor de argila”, justifica o pesquisador.

Classificação do solo previne erosão hídrica (Foto: Embrapa)

Classificação do solo previne erosão hídrica (Foto: Embrapa)

Segundo Fidalski, a melhor forma de definir as classes de solo é por meio da determinação granulométrica (areia, silte e argila) feita a partir da abertura de uma trincheira com dimensões de 1m por 1,50m. “É oportuno salientar que a região Noroeste do Paraná, com seus três milhões de hectares, apresenta outras classes de solos, principalmente nas áreas de transição com o basalto”, frisa o pesquisador.

Grama mato grosso é a ideal

A grama mato grosso ou batatais é a mais recomendada para agricultores da região Noroeste do Paraná. A planta oferece mais umidade do solo e também melhor taxa de fotossíntese, segundo estudos do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). “Ela age profundamente no solo, adquirindo mais nutrientes e usufruindo de recursos que outras plantas mais rasteiras não conseguem captar, como a leguminosa amendoim forrageiro”, explica o pesquisador Jonez Fidalski.

A escolha da grama inadequada para se trabalhar com determinada cultura na região do arenito Caiuá pode ter como consequência uma cobertura de solo comprometida. “O resultado é a grande perda de teores de carbono, o que culmina na incapacidade do solo em filtrar toda a água”, revela o pesquisador Pedro Auler.

Um pouco de história

O engenheiro civil Alcione Pacheco conta que nas décadas de 1960 e 1970, quando muitas cidades do Noroeste do Paraná estavam em expansão, faziam-se muitas construções errôneas, principalmente com espigões ou obras fluviais defletoras (dispositivos que servem para direcionar o fluxo de uma corrente e preservar ou recuperar a margem de um curso de água). O resultado a longo prazo foi a degradação do solo.