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Tecnólogo cria um acessível sistema de captação de água da chuva
Projeto de Alan Azambuja levou 20 horas para ficar pronto com a ajuda do filho de 13 anos
Preocupado com as crises hídricas que têm assolado o Brasil, principalmente o estado de São Paulo, o tecnólogo e tecnoartista Alan Verissimo Azambuja, do Rio de Janeiro, desenvolveu há pouco tempo um simples e prático sistema de captação, armazenamento e distribuição de água da chuva que requer poucos gastos.
Recentemente, aproveitando a laje que cobre o teto da casa de máquinas dos elevadores do prédio onde residem, Azambuja e o filho Victor, de 13 anos, construíram um eficiente sistema que capta, armazena e distribui água da chuva para dentro de casa. “A grande vantagem é o baixo custo de materiais, já que todos os componentes são de plástico”, explica.
A captação começa no orifício de saída da água de chuva que cai sobre o teto de 30 metros quadrados da casa de máquinas do edifício. De lá, a água é transferida por meio de encanamento a uma caixa d’água fechada, evitando assim contaminação e proliferação de doenças como a dengue. Na prática, Alan Verissimo descobriu que em duas horas de chuva de intensidade média é possível encher tranquilamente uma caixa com capacidade de mil litros.
“Aproveitando que a superfície de captação da água é limpa, fizemos canalização para nossos banheiros, tanque e máquina de lavar roupa. Agora as águas pluviais só descem pelo ralo quando a caixa fica cheia”, conta e adianta que a intenção é ampliar o sistema para atender também mais oito andares do prédio, aproveitando a área de 360 metros quadrados do terraço.
Para quem precisa de uma instalação emergencial, Alan Azambuja sugere a implantação de uma tubulação simples, sem causar danos em paredes. Basta abrir uma passagem para a canalização interna de uma torneira que deve ser ligada por um tubo à canalização externa que transfere a água da chuva armazenada na caixa d’água.
“A tubulação pode passar através da parte inferior de uma janela. Se for de vidro, é só fazer a retirada temporária da lâmina fixa. Para o serviço, você vai precisar apenas de uma serra de cortar alumínio ou uma furadeira. Use tubo, T e joelho que tenham comprimento compatível com a largura do peitoril”, destaca e acrescenta que os tubos horizontais se apoiam no peitoril para garantir a distribuição de peso e facilitar a fixação.
A sugestão acima é ideal para a implementação de torneiras nos corredores dos andares dos prédios. Debaixo de cada torneira, para evitar o desperdício, Azambuja recomenda a colocação de baldes e “pires” improvisados. Ou seja, caixas pretas de plástico que os pedreiros usam para preparar pequenas quantidades de massa de cimento. “É um trabalho que não exige participação governamental nem contratação de firmas especializadas. Um ‘professor Pardal’ e alguns adolescentes com tempo livre conseguem instalar esse sistema. Eu e o meu filho Victor levamos 20 horas”, garante Alan Verissimo.
Caso o interessado consiga reunir um grupo para a criação do sistema, o idealizador propõe que os materiais sejam comprados coletivamente, barateando custos “Façam reunião de moradores para planejar rateios, divisão de tarefas, higienização, reparos e adaptações. Um amigo que entende de hidráulica pode ser um grande aliado nessa hora. O mais importante é obter água abundante e grátis para as descargas dos vasos sanitários. Não faz sentido comprar uma água tão cara para este fim”, pondera.
Com a experiência de quem já conheceu a realidade de muitos países, Alan Azambuja considera o Brasil uma nação promissora em segurança hídrica. Justifica que o brasileiro é solidário, criativo e talentoso para a realização de trabalhos manuais. Outro ponto alto do sistema de captação de água é que em grande escala o projeto pode reduzir o impacto das chuvas. Tem grande potencial em evitar a saturação das galerias pluviais, minimizar o surgimento de buracos nas malhas viárias e também coibir novas erosões hídricas. “Não tenho dúvidas de que teremos menos problemas com alagamentos nas ruas”, enfatiza Azambuja.
Sobre Alan Azambuja
Alan Azambuja é tecnólogo e tecnoartista com especial interesse na história das técnicas, das invenções e em tecnologias alternativas para obtenção de energia elétrica. Ao longo de 20 anos, trabalhou criando e operando sistemas de sonorização em shows musicais em teatros, ginásios esportivos e ao ar livre. É especialista em ALS (Approach Lighting System), sistemas de iluminação que facilitam o pouso de aeronaves em aeroportos de médio e grande porte. Também já atuou como diretor cenográfico em projetos de arte-ciência, criando sistemas de iluminação e peças de tecnoarte. Além disso, é colaborador do grupo de pesquisa científica interdisciplinar Anatomia das Paixões (http://anatomiadaspaixoes.blogspot.com.br/) que reúne artistas, neurocientistas, filósofos, designers e anatomistas. O grupo é dirigido por Maira Fróes, PHD em biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e esposa de Azambuja.
Para mais informações sobre o projeto de captação de água, acesse: http://alanverissimoazambuja.blogspot.com.br/2015/07/proposta-de-campanha-envolvendo.html
O assassinato de Raphael Azambuja na Areia Branca do Tucum
Amigo de Leonel Brizola e primo de Erico Verissimo, empreendedor foi assassinado em 1962 durante negociação de terras na região de Paranavaí
Em 1962, o empreendedor gaúcho Raphael Verissimo Azambuja costumava vir a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, pelo menos uma vez por mês para comprar terras e investir no desenvolvimento da Gleba Areia Branca do Tucum, às margens do Rio Paraná. Sempre telefonava do Rio Grande do Sul pedindo que o gerente da Reta Táxi Aéreo, Augustinho Borges preparasse um avião para levá-lo até o local.
“Ô Augustinho, e no domingo, tal hora, você me pega lá pra eu tomar o avião da Varig para o Rio Grande do Sul, mas antes ligo confirmando”, lembra Borges, reproduzindo as palavras de Azambuja na primeira semana de julho de 1962. O então gerente estranhou que o final de semana terminou e não recebeu nenhum telefonema de Raphael Verissimo.
Na segunda-feira de manhã, logo depois de levar alguns pilotos e passageiros para o Aeroporto Edu Chaves, o telefone tocou. Era o governador do Rio Grande do Sul. “Ô meu jovem, é o seguinte: Falei com a diretoria da Reta em Londrina e eles recomendaram que eu entrasse em contato com você. Preciso que me faça um grande favor”, disse Leonel Brizola.
O governador explicou que o seu amigo Raphael Verissimo Azambuja foi assassinado no sábado. “Perguntei o que ele queria que eu fizesse. ‘Olha, arruma o corpo, põe dentro do avião e manda ele pra mim. Pago todas as despesas aqui’”, prometeu Brizola após detalhar a situação.
Surpreso com a educação e cordialidade do governador que preferiu resolver tudo por conta própria em vez de transferir a responsabilidade para alguém, Borges se tornou fã do político. “Levei um susto. De todos os homens públicos com quem conversei até hoje, o Brizola foi o que mais se destacou pra mim. Tinha grandes valores e conversava com todo mundo de igual para igual”, justifica Augustinho Borges.
Naquele tempo, Azambuja tinha uma fazenda que ficava próxima a Nova Londrina e Marilena. Acostumado a viajar pela região, o empreendedor de 53 anos não imaginava que seria assassinado por um amigo na manhã do dia 7 de julho de 1962. A traição aconteceu quando o homem percebeu que as terras que vendeu a Raphael Verissimo conquistaram um bom valor de mercado em pouco tempo. “O sujeito de sobrenome Volpato ficou enciumado e desferiu cinco tiros à queima-roupa contra meu pai, um homem de bem e que andava desarmado”, afirma Alan Verissimo Azambuja.
Sobre o episódio, o conceituado escritor Erico Verissimo declarou que a discussão começou quando o suposto amigo de Azambuja exigiu um reajuste de preços por compensação. “Meu primo disse que o negócio estava feito e pronto. Quando se recusou a concedê-lo, o outro meteu-lhe vários balaços no corpo, matando-o quase instantaneamente”, escreveu Verissimo na biografia Solo de Clarineta, lançada em 1973.
De acordo com Augustinho, Azambuja era um sujeito excepcional, de caráter inquestionável. No entanto, foi iludido pela própria ingenuidade, pois não sabia que a Gleba Areia Branca, nas imediações do Porto São José, tinha uma das piores famas do Paraná. “A demanda de terras naquele lugar era tão grande quanto a criminalidade. Era violência em cima de violência. Pra você ter uma ideia, meus parentes moravam lá e chegavam a juntar sacos de cápsulas de balas”, confidencia Borges.
Após o crime, os funcionários da fazenda de Azambuja encaminharam o corpo para uma funerária de Nova Londrina. De lá, Augustinho o trouxe a Paranavaí, onde preparou um quadrimotor de Havilland DH.114 Heron para 16 passageiros. “O avião tinha o apelido de Constellation Baiano. Aluguei ele com piloto e copiloto para levar o caixão porque naquela época não tinha aeronave própria pra esse tipo de transporte”, explica Borges que contou com a ajuda da Star Taxi Aéreo, de Londrina.
Como não podia se ausentar do trabalho, Augustinho relatou a situação para o Major Valle, responsável por comandar o trabalho policial na região de Paranavaí. “Falei que veio um pedido do Brizola para que o major acompanhasse o transporte do corpo. Então o comandante contou que tinha medo de andar de avião, tanto que nunca entrou em um”, destaca.
Para convencer o Major Valle a embarcar na aeronave, Borges o levou até um boteco em frente ao Aeroporto Edu Chaves. Lá, garantiu que o homem ganharia coragem depois de tomar algumas doses de uma pinga com cascavel. “O couro da cobra chegava a balançar no fundo da garrafa. Consegui arrumar tudo e coloquei ele dentro do avião. Mas, rapaz, quando era mais ou menos 6h recebi um telefonema”, enfatiza.
Augustinho despertou com os berros do Major Valle. O homem gritava: “Filho da puta, você vai me pagar quando eu chegar aí. O avião pegou fogo na descida, perto de uma mangueira. Esfumaçou tudo!”, recorda Borges às gargalhadas. Apesar dos imprevistos, o comandante cumpriu a missão. Em Porto Alegre, entregou o corpo de Raphael Azambuja para o governador Leonel Brizola que o agradeceu pessoalmente e cobriu todas as despesas.
Ainda assim, o Major Valle se recusou a voltar de avião e embarcou em um ônibus. Chegou bravo em Paranavaí, mas se acalmou e convidou Augustinho para tomar chimarrão. “Só me deu uns tapas na cabeça por ter que ficar mais de oito horas passando medo dentro da aeronave”, conta sorrindo.
Azambuja queria transformar o Noroeste no celeiro do Brasil
Segundo o filho Alan Verissimo Azambuja, Raphael Verissimo Azambuja acreditou tanto no desenvolvimento da região de Paranavaí que abriu mão de ser ministro da agricultura quando o amigo João Goulart assumiu a presidência do Brasil. “Mesmo com os apelos dos mais próximos, meu pai preferiu dedicar-se integralmente ao grande projeto de sua vida que era transformar o Noroeste do Paraná no celeiro do Brasil. Seu empreendimento colonizador ia de vento em popa”, assinala.
No livro Solo de Clarineta, de 1973, o escritor Erico Verissimo narrou que nos últimos anos de vida a atenção e energia de Azambuja se voltaram para a região de Paranavaí. “Comprou terras de um sujeito de maus bofes que ele, Raphael, na sua boa-fé, julgava seu amigo. Organizou loteamento de terras e fez ruas com entusiasmo e esperança. Quando nos encontrávamos, me expunha seus planos para o futuro: novas cidades, fundação de um banco e construção de um grande edifício. Acreditou sempre no futuro do Brasil e costumava lançar longe o dardo de seus bem arquitetados sonhos”, registrou Verissimo, falecido em 1975.
No livro, o escritor relata que de uma das janelas da casa onde morava em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, avistava o cemitério onde o corpo do primo foi enterrado. “Raphael, assim como tantos outros amigos, como a minha própria mãe, na realidade não se encontra em seu túmulo. Com maior ou menor intensidade, continua ainda vivo dentro de mim. Por um desses milagres da memória, eu o tenho sempre ao meu lado”, poetizou.
Raphael Verissimo coordenou as campanhas de Brizola
Raphael Verissimo Azambuja nasceu em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, em 1º de março de 1909. Nos anos 1940, trabalhou como assistente do ministro João Alberto de Lins e Barros e desempenhou os cargos de chefe do Setor do Abastecimento Nacional e do Serviço de Fiscalização de Preços do governo federal. Atuou também na chefia de propaganda do Partido Social Democrático (PSD). À época, chegou a receber uma carta de agradecimento do presidente da República, Eurico Gaspar Dutra.
Em 1947, quando estava hospedado em um hotel em frente a um lago em Velden am Wörther See, na Áustria, Azambuja conheceu a jovem Marion Mitterling, antes chamada Doina Sturza. Era uma jovem romena que perdeu pai, mãe e seis irmãos na Segunda Guerra Mundial e na Ocupação Soviética da Romênia.
Marion trabalhava como assistente da rainha da Bélgica e estava de férias na Áustria no mesmo período em que Raphael Verissimo chefiou uma missão diplomática de seleção de estrangeiros dispostos a se mudarem para o Brasil. “Ele a convidou para um passeio de barco a remo e ela aceitou. Assim começou um grande romance”, frisa Alan Verissimo Azambuja, o primeiro filho, nascido em 1948.
Em 1950, o casal deixou Salzburgo, na Áustria, e se mudou para o Rio de Janeiro, onde Raphael Azambuja trabalhou no Ministério da Agricultura. Em 1955, se tornou chefe do jornal O Clarim, de Porto Alegre, e coordenador das campanhas eleitorais de Leonel Brizola.
A partir de 1956, desempenhou muitas atividades. Comandou o Departamento de Administração e Finanças do Instituto Nacional de Imigração e Colonização e, atendendo a um pedido do governador Brizola, assumiu a Comissão Interestadual para Estudos dos Problemas da Bacia Paraná-Uruguai. “Em 1960, ele foi chefe de assessoria técnica do Ministério da Agricultura e no ano seguinte o nomearam como ministro interino”, cita Alan Azambuja.
Um gaúcho à frente do seu tempo
Um gaúcho à frente do seu tempo é a expressão que melhor define o perfil de Raphael Verissimo Azambuja. “Foi o primeiro sujeito em Cruz Alta [no Rio Grande do Sul] a sair à rua sem chapéu, chocando os nativos. ‘Que desaforo!’, ‘Que desrespeito para com as famílias!’, exclamavam as comadres”, escreveu o primo e escritor Erico Verissimo na biografia Solo de Clarineta.
Azambuja era conhecido como um sujeito questionador, que herdou a inteligência do pai e a vivacidade e capacidade de fazer amigos da mãe. “Ganhou dos dois a coragem para opinar. Nunca deixou de manifestá-la livremente. Era ávido leitor e quando se tornou homem maduro passou a acreditar na vida e na capacidade do ser humano de traçar o próprio destino”, testemunhou Erico Verissimo na obra.
Nos bailes, desde a mocidade atraía atenção pelo costume de dançar com todas as moças menos desejadas. “Ele as enlaçava e saia a rodopiar pelo salão. Dizia coisas agradáveis. Fazia elogios à beleza ou à elegância. Em suma, tornava-as felizes”, declarou o escritor que também fez menção à maneira impecável como o primo se vestia. Azambuja era habilidoso para escrever, mas nunca pensou em dedicar-se à literatura.
Frase de Erico Verissimo sobre o primo Raphael Azambuja
“Desde mocinho revelara uma grande generosidade, dessas que se manifestam nas menores coisas.”
Agradecimento especial
Alceu O. Annes, autor da Genealogia dos Annes Verissimo – material que serviu como principal fonte de pesquisa para a elaboração da reportagem.
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