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Hoje é feriado
Hoje é feriado, aniversário da cidade celebrado em data diferente, e eu nem me recordava. Saí de casa às 7h50 para visitar um amigo e me deparei com chuviscos, céu brumoso, ruas desertas e silêncio. Não chovia dentro de mim, melhor assim. Essa é a realidade de quem vive em dois mundos. Às vezes um deles se torna alheio ao outro.
Hoje é aniversário do Tio Lu
Hoje é aniversário do Tio Lu, da Oficina do Tio Lu. Fui até a Vila Alta dar um abraço nele e conversar um pouco. Ele está muito feliz de chegar aos 87 anos com pique para trabalhar e para ajudar a garotada do bairro. Tio Lu, que foi tema do meu documentário “Oficina do Tio Lú“, usa a arte como meio de afastar crianças e adolescentes das ruas, das drogas e do crime.
O castelo pula-pula
Na festa de aniversário da minha sobrinha, a criançada quase destruiu um castelo pula-pula. Então alguém achou que seria uma boa me chamar para impedir que o castelo esvaziasse completamente, caindo murcho sobre o gramado.
Enquanto eu tentava resolver o problema, uma das crianças puxou minha barba e gritou: É de verdade! É de verdade! É barba mesmo! As outras vieram ver, também querendo colocar a mão. Uma delas pulou de cima do castelo e quase caiu em cima das minhas costas.
Outras duas correram em torno de mim e gritaram: “Vai explodir! Vai explodir!” Naquele momento, não sei se falavam de mim ou do pula-pula, aí depende da malícia e da inocência.
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De mãe para filho
Todo ano, minha mãe escreve uma carta que recebo somente no dia do meu aniversário. É uma tradição. Assim como tenho feito nos últimos anos, faço questão de compartilhar o conteúdo, afinal trata-se de um dos melhores presentes que um filho pode receber:
Sou mãe de três filhos maravilhosos. Já passamos por muitos momentos tristes. Perdemos muitas pessoas queridas, então me apeguei com Deus e meus filhos. Devo dizer que minha força vem da nossa união familiar. Aprendemos a ter gratidão por tudo, mas principalmente por aqueles que estendem a mão, semeando de alguma forma a felicidade.
Só que hoje quero falar de você, David. Hoje é seu aniversário e eu não poderia deixar de escrever uma nova carta. Hoje fiquei lembrando do dia em que o médico o mostrou para mim, tão pequenino e com dois olhos grandes que mais pareciam duas jabuticabas. Um cabelo tão preto que cintilava como se fosse veludo. E o mais incrível é que nasceu com cabelo comprido! Sim, cabeludo de verdade!
Antes de completar um ano já observava tudo ao seu redor e tentava contar histórias. Quando aprendeu a falar, todo dia narrava uma história diferente. Inventava a partir das coisas que via na rua quando saía para brincar ou passear. Já dava sinais de que seria jornalista e um dia escreveria livros.
Obrigado por ser esse filho maravilhoso, meu amigo e meu confidente. Por ser esse ser humano realmente HUMANO e generoso, sempre preocupado com os outros. Sei que se alguém te pedir um tênis na rua, e você tiver somente um par naquele momento, é capaz de você tirá-lo do pé e entregá-lo a quem pediu.
Também se preocupa com os animais como ninguém, e é assim desde criança. Tem um desapego muito grande de coisas materiais. É apaixonado pela profissão de jornalista, por história, literatura, cinema…Sempre falo que você tem o dom da palavra, da escrita. É um devorador de livros.
Está sempre disposto a escrever matérias para ajudar quem precisa. Transformou isso numa ferramenta capaz de transformar vidas. Tenho muito orgulho de você. Sou sua fã. Sou testemunha do quanto você batalha para realizar seus sonhos. Você já é um vencedor e vai conseguir tudo que você merece. Você é uma pessoa do bem. Eu sei que quando se é honesto tudo é muito difícil, mas não impossível para quem crê.
Te amo muito, meu filho.
De sua mãe, Má.
28 de setembro de 2016.
“Ô tio, não leva meu pai! Por favor!”
Há um tempinho, após uma entrevista, saí de uma residência no Conjunto Dona Josefa, na periferia de Paranavaí, e lá fora fui abordado por uma criança que morava na casa vizinha. “Ô tio, não leva meu pai! Por favor! Não leva ele hoje. Ele não teve nem tempo de ficar com a gente”, disse o garotinho de quatro anos com olhos marejados.
Enquanto falava, a criança usava sua trêmula mão esquerda para segurar sem jeito dois dedos da minha mão direita. Expliquei a ele que eu não estava atrás do pai dele. “Por favor, tio! Por favor, deixa ele com nós! Hoje é meu aniversário! Juro que nunca mais faço arte na minha vida!”, continuou repetindo. Depois cruzou os dedos indicadores das mãos e os beijou num estalo sem igual fazendo promessa em forma de sinal.
Só se acalmou quando mostrei meu caderno, meu gravador e minha caneta. O garotinho sentiu um alívio tão grande que seu sorriso se transformou em uma gargalhada. De repente, começou a saltar sobre um pedaço de toco queimado rente ao portão.
Ele estava eufórico e queria dividir isso até com quem não notava sua existência por causa da pequenez. Quando parou de pular, ficou rubro de vergonha e correu para dentro de casa arrastando um par de chinelinhos com elástico junto aos calcanhares. Naquela noite, mais do que uma festinha, ele teria seu pai dormindo em casa.
De mãe para filho
É interessante como uma carta sempre diz mais do que um e-mail ou mensagem por mídia social
No dia 28 de setembro de 2015, data do meu aniversário, recebi uma carta da minha mãe, escrita com tinta azul marinho num papel branco fino, quase transparente como sua intenção. É interessante como uma carta sempre diz mais do que um e-mail, do que uma mensagem por mídia social. Talvez o motivo seja o fato de que o próprio papel já chega até a mão embutido de um significado específico.
O formato elevado e relevado das letras parecem mais carregados de intenção e emoção, até mesmo independente da construção e combinação das palavras. Não sou um saudosista, mas há coisas e hábitos que merecem ser preservados. Como minha mãe é aquela com quem tenho o privilégio de ter o relacionamento mais longo da minha vida, faço questão de compartilhar o conteúdo que interpreto como um presente para a vida toda, mas principalmente para os momentos de dúvida. Que mais pais sejam diáfanos com os filhos como minha mãe.
“David, cada semana que passa você me surpreende mais com seu dom de pensar a vida. Você é um pensador. Tem uma capacidade rara de sabedoria e de sensibilidade em enxergar o que as outras pessoas não veem. Sei que tem um gosto muito apurado por histórias. É um apaixonado pelas letras e pela escuta. A leitura é o alimento da sua alma e tenho muito orgulho de você, do ser humano que é, algo raro hoje em dia, em um mundo onde as pessoas se preocupam apenas com si mesmas. Você é alguém que está sempre preocupado com os menos favorecidos. Abre mão de muitas coisas pelos outros. Faz o possível e o impossível para ajudar de algum modo. Sei que só não faz mais por falta de incentivo e sei também que por isso fica chateado às vezes. Só que nunca esqueça que as histórias que você escreve são as suas próprias lições de incentivo. Você é um vencedor. É incrível ver como você faz tantas coisas sozinho, sem ajuda de ninguém. Sou sua fã número 1. Te desejo toda a felicidade do mundo. Que Deus te proteja e te ilumine sempre.”
Te amo.
Sua mãe.
60 Anos de Paranavaí
Paranavaí, 14 de novembro de 2012.
São 60 anos de um município com uma história que ultrapassa os cem. Paranavaí não seria o que é hoje se não fosse por centenas de peões que criaram uma estrada com mais de 110 quilômetros de extensão ligando a velha Fazenda Ivaí ao Porto São José; se não fosse por pessoas que resistiram a 40 dias e 40 noites de chuvas dormindo em um barracão de bicho da seda. Além disso, reconstruíram uma ponte e atravessaram a nado o Rio Paraná para conseguirem chegar à Vila Montoya. Nem a Revolução de 1930, que culminou em desemprego para toda uma população que teve de caminhar mais de 220 quilômetros, impediu a colônia de renascer novamente sob o signo do café.
Nem mesmo uma série de incêndios criminosos que atingiu os cafezais e centenas de moradias em 1931 inviabilizou a sobrevivência do povoado. Paranavaí também não seria o que é hoje se não fosse a iniciativa do interventor federal Manoel Ribas para que o engenheiro Francisco Natel de Camargo diminuísse a influência paulista, abrindo novas estradas e ampliando a relação da Velha Brasileira com o restante do Paraná. Paranavaí tem uma extensa história de obstáculos, até mesmo por parte do poder público que só voltou a se preocupar com a localidade em 1935.
Infelizmente, muitos personagens importantes são praticamente desconhecidos da população. Falo do marceneiro Hugo Doubek, o curitibano que se tornou o primeiro administrador de Paranavaí. Doubek não apenas administrava a colônia, mas cuidava de toda a população. Quando houve um surto de leishmaniose em Paranavaí, passou dias na selva tentando encontrar ervas que pudessem lhe auxiliar na cura dos enfermos.
Não dormiu por semanas, prestando atendimento numa época em que a colônia não tinha médicos. Evitou a morte de muita gente, desde crianças a idosos. Fez muito mais; impediu assassinatos envolvendo brigas por terras. Como era um mestre marceneiro, até construiu casas para os moradores de Paranavaí. Em 1944, Hugo Doubek e Ulisses Faria Bandeira demarcaram toda a área da colônia a pé. Percorreram centenas de quilômetros até as fronteiras com São Paulo e Mato Grosso.
O ex-vereador Otacílio Egger é outra figura de destaque que todo paranavaiense deveria saber quem foi. O primeiro político eleito pela colônia, Egger fazia questão de participar de todas as sessões da Câmara Municipal de Mandaguari em 1948. À época, não se importava em sair de Paranavaí a pé num dia para estar em Mandaguari no outro para defender os interesses da população. Temos muitos personagens ainda anônimos, mas esses são alguns que faço questão de enaltecer neste dia em que comemoramos mais um aniversário.
Amo Paranavaí porque a conheço, e acho que não há nada mais incompleto que amar no desconhecimento.