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O influente Achilles Pimpão
Delegado de Londrina tomou decisões que marcaram a história de Paranavaí
Um personagem que faz parte da história de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, mesmo sem nunca ter residido na cidade, é o destemido major Achilles Pimpão Ferreira. O homem ajudou a impor ordem na região quando os problemas não podiam ser resolvidos apenas por autoridades locais.
Na época da Fazenda Brasileira, quando surgia algum grave infortúnio, era comum os pioneiros viajarem até Londrina, no Norte Central Paranaense, para pedirem ajuda ao tenente Achilles Pimpão, então delegado de polícia. Até mesmo a ordem para a construção do primeiro cemitério de Paranavaí partiu de Pimpão. O homem, mais tarde nomeado capitão e depois major, foi quem trouxe a Paranavaí o gaúcho Telmo Ribeiro. Pimpão e Ribeiro se conheceram em Londrina, por intermédio do engenheiro Natel Camargo, pioneiro local.
À época, o delegado gostou de Telmo Ribeiro e decidiu apresentá-lo ao interventor (função que equivalia a de governador) Manoel Ribas. Após uma conversa, Ribeiro foi designado a abrir as estradas que ligavam Paranavaí ao resto do Paraná. Assim pode-se dizer hoje que se não fosse por Achilles Pimpão, Telmo Ribeiro nunca teria se mudado para a Fazenda Brasileira.
Pioneiro em Londrina, o paranaense Achilles Pimpão, de família tradicional de Palmas, no Centro-Sul do Paraná, acompanhou a evolução de Paranavaí por intermédio de pioneiros como o Capitão Telmo Ribeiro e o administrador da colônia Hugo Doubek. Nos anos 1930, 1940 e até em 1950 foram muitas as vezes que Achilles Pimpão veio a Paranavaí estabelecer a ordem, principalmente quando a situação envolvia grileiros nas glebas que compreendiam todo o território atual da Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense (Amunpar).
Os pioneiros consideravam Pimpão um homem poderoso, pois sua influência ia de Paranavaí até Curitiba, e nem mesmo posseiros e capangas ousavam afrontá-lo. “Foi ele quem expulsou os jagunços da Gleba 21 [atual território de São Pedro do Paraná que pertencia a Colônia Paranavaí]”, enfatizou o pioneiro italiano Zaqueo Casarin em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas. Todas as decisões do delegado tinham o apoio de Manoel Ribas. O interventor confiava completamente em Pimpão, segundo o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles.
As boas recordações dos pioneiros
Durante toda a vida, Salles jamais esqueceu do dia em que viajou até o Porto São José com o delegado Achilles Pimpão. “A gente estava construindo umas casas lá e o Pimpão me ajudou a puxar algumas vigas. Ele podia só mandar, não precisava fazer nada, mas mesmo assim fazia”, relatou em antiga entrevista à Prefeitura de Paranavaí. Para o alfaiate londrinense Alceu Napoli, o delegado Achilles Pimpão também deixou boas recordações.
De acordo com Napoli, que na infância era vizinho do Cadeião, onde funcionava a Delegacia de Polícia de Londrina, um dia, ele e outros garotos estavam carpindo um terreno para fazer um campinho de futebol, mas foram expulsos por carroceiros que deixavam os cavalos descansando na propriedade. “O doutor Pimpão foi lá com uma escolta policial e ficou com a gente até terminar de carpir tudo. Mais tarde, aquele campinho virou o Estádio Vitorino Gonçalves Dias [VGD]”, revelou Napoli.
Um fato curioso é que o delegado tinha o hobby de criar antas em uma de suas propriedades em Londrina, embora poucas pessoas tenham tido a oportunidade de vê-las de perto. Ao longo da vida, Achilles Pimpão recebeu inúmeras condecorações, inclusive internacionais. Entre as de grande destaque está uma recebida do presidente do Paraguai. No governo Manoel Ribas (1932-1945), Pimpão dirigiu a Penitenciária do Estado, em Curitiba, de 1935 a 1936. Foi o terceiro homem a comandar o primeiro presídio do Paraná. Mais tarde, em 1941, ocupou o cargo de chefe da Casa Militar.
Já em 1947, membro do Partido Social Progressista (PSP), Pimpão tentou seguir carreira política em Londrina e se candidatou a prefeito. Perdeu para Hugo Cabral, do Partido Libertador (PL), por uma diferença de 273 votos. Naquele tempo, Achilles Pimpão já não tinha mais a mesma influência. Além disso, o amigo Manoel Ribas tinha falecido no ano anterior.
Mito ou verdade?
Pioneiros garantem que a fama do delegado Achilles Pimpão era grande em todo o Paraná. O delegado tinha o hábito de percorrer as ruas de Londrina com um caminhão. Só parava em bares, onde recolhia aqueles que não portavam documentos de identificação. Por noite, carregava cerca de quinze pessoas na carroceria.
Pimpão levava todos para a delegacia e mandava alguns subordinados os chicotearem. Em seguida, os obrigava a tirarem os cintos das calças e beberem uma dose de óleo de rícino. O efeito do laxante surgia tão rápido que as vítimas tremiam enquanto seguravam as calças. Depois o delegado ordenava que subissem novamente na carroceria do caminhão e os deixava às margens do Rio Tibagi.
Lá, exigia que entrassem na água, forçando-os a atravessarem o rio a nado até Jataizinho, na Região Metropolitana de Londrina. Quem se recusasse era advertido a tiros. Conforme palavras de testemunhas, a iniciativa do delegado tinha como meta livrar Londrina de marginais e vagabundos. No entanto, há quem acredite que muitos caixeiros-viajantes e funcionários de empresas paulistas tenham sido, não se sabe se por engano ou não, vítimas dos métodos estrambóticos de Achilles Pimpão.
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O medo da onça!
Paranavaí surgiu em meio ao habitat das onças
Nas décadas de 1930 e 1940, era comum os moradores da Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, no Noroeste do Paraná, se depararem com cobras, antas, jaguatiricas, catetos, queixadas, macacos e veados-campeiros por causa da proximidade da área urbana com a mata. Mas nenhum desses animais assustou tanto a população quanto as onças-pintadas e pardas que viviam na região.
“Tinham que tocar elas para continuarem o trajeto”
Paranavaí surgiu em meio ao habitat de uma população de onças. A justificativa está em um fato corriqueiro percebido no início dos anos 1940, quando muitos migrantes que vinham para cá viveram a mesma experiência. Durante a viagem para cá, motoristas de ônibus e caminhões eram obrigados a parar os veículos porque as onças não davam passagem.
“As pessoas [até mesmo os passageiros] tinham que dar um jeito de tocar elas para continuarem o trajeto. A gente via também anta e cascavel na estrada”, relatou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho.
Nem todos queriam afastar as onças. Alguns pioneiros que se arriscavam como caçadores, mesmo inexperientes, tentavam conquistar prestígio adentrando a mata para abater os animais. Contava-se muito com a sorte, algo que nem sempre os acompanhava. Quem aprendeu isso na prática foi um caçador amador do Povoado de Guaritá (atual Nova Aliança do Ivaí), antiga Derrubada Grande, vitimado por duas onças nos anos 1940.
“Tiraram carne de algumas partes para colocar em outras”
O rapaz estava caçando em companhia de alguns cães quando viu três onças empoleiradas em uma árvore. Não pensou duas vezes e atirou em uma. Ao ser atingido, o animal caiu e foi atacado pelos cães. “As outras duas onças pularam em cima do homem e começaram a rasgar as suas costas e nádegas. Quando os cachorros chegavam perto, aí que elas mordiam. Nisso, o rapaz já tinha jogado a espingarda e ficou lá deitado, então as onças correram pro mato”, frisou Palhacinho.
Quem socorreu a vítima foi o pioneiro Lourencinho Barbosa que o trouxe de carroça até Paranavaí. “Tiveram de tirar carne de algumas partes para colocar em outras. Ele passou por uma cirurgia em Curitiba e voltou aqui depois de três meses, todo deformado”, lembrou José Ferreira. O pioneiro mineiro Enéias Tirapeli jamais esqueceu o dia em que um homem chegou a Paranavaí com uma onça morta, deitada sobre o cavalo. “Até os animais se espantaram. O bicho tinha doze palmos de comprimento”, assegurou.
Na época, vivia aqui José Belentani, conhecido como Balantam, que se tornou um dos maiores caçadores do Paraná depois que abriram a estrada para o Distrito de Piracema. Beletam matava até duas onças por dia. “Não esqueço quando ele chegou aqui com a onça debruçada no arreio do cavalo. Era tão grande que o focinho alcançava o chão”, contou o pioneiro cearense Raimundo Leite, acrescentando que Arlindo Baiano era outro grande caçador local.
“A onça arrancou cinco quilos de carne com uma mordida na nuca”
Se por um lado, alguns conseguiam prestígio e fama matando onças, por outro, a maioria preferia nunca encontrar o animal. Exemplo disso foi o pioneiro paulista Paulo Tereziano de Barros quando certa noite, retornando de viagem, parou em um rancho para descansar.
“As portas estavam fechadas e quando abriram perguntei do que eles estavam com medo. Aí me mostraram uma enorme porca de quem a onça arrancou cinco quilos de carne só com uma mordida na nuca”, enfatizou Tereziano de Barros que sentiu cheiro de onça durante todo o trajeto de volta a Paranavaí. Naquele tempo, o receio de encontrar o animal fazia muita gente pensar duas vezes antes de adentrar a mata ou sair de casa à noite.
Nos anos 1930 e 1940, foram registrados muitos casos de animais de criação mortos pela felina. “Uma vez o irmão do Pedro Palmiano foi ver a porcada dele e a onça estava comendo um porco. Ele ficou com tanta raiva que atravessou o animal com uma foice e um facão”, assinalou Paulo Tereziano. Também houve casos de mulheres que foram atacadas enquanto tomavam banho e lavavam roupas às margens do rio.
De acordo com o pioneiro catarinense Carlos Faber, os mais desatentos eram facilmente surpreendidos pelas onças. “Teve o caso de um rapaz que foi atacado por duas. Sorte dele que os companheiros vinham logo atrás e mataram os bichos”, ressaltou. O pioneiro paulista Valdomiro Carvalho perdeu as contas de quantas vezes ouviu barulho de onças na mata. “Eu usava uma carrocinha com dois cavalos e sempre carregava um encerado. Ouvia os bichos de noite quando eu pousava em algum lugar”, salientou Carvalho.
“Você já viu homem pegar onça assim?”
Nos anos 1940, o pioneiro José Ferreira de Araújo foi visitar o primo em Paraguaçu Paulista, interior de São Paulo. Em viagem a cavalo, passando por Santo Inácio e Guaraci, no Norte Central Paranaense, Araújo trouxe alguns cães de caça. O pioneiro seguiu pela Estrada Boiadeira, nas imediações de Santa Fé e Arapongas. “Era muito suja a Boiadeira, muito fechada. Tanto que eu tive que enrolar uns panos na cabeça porque tinha muitas abelhas e teias de aranha. Os cachorros até se enrolavam nos cipós. Na volta, a gente foi parar no Distrito de Sumaré”, disse.
A viagem que já era muito difícil ficava pior ainda quando escurecia e Palhacinho parava em algum lugar para dormir. O medo de onça era tão grande que o pioneiro colocava os animais de um lado e deitava “beirando o fogo”. Outro episódio jamais esquecido aconteceu quando ele e o companheiro Ulisses perseguiram uma onça ao final de uma corredeira no Rio Ivaí. “A água estava muito forte e ela nadava rio abaixo. O Ulisses me falou para correr e pular no bote. Liguei o motor e fomos atrás dela. Quando chegamos perto que vimos que era uma onça grande”, explicou.
Ulisses pediu que José Ferreira se aproximasse mais do animal para que pudessem pegá-la viva. “Aí eu falei: pegar nada! Você tá louco? Você já viu homem pegar onça assim?”, relembrou. Os dois continuaram seguindo o animal até que ele saiu do outro lado do Rio Ivaí. “O Ulisses passou a mão na espingarda e atirou, mas errou e ela sumiu”, revelou Palhacinho.
Saiba Mais
Na década de 1950, onças ainda invadiam propriedades rurais de Paranavaí.
Naquele tempo, não havia preocupação quanto à preservação de muitas espécies de animais.
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